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terça-feira, outubro 23, 2012

MILAGRE, COISA SÉRIA E RARA

Dom Fernando Arêas Rifan*

Daí que as exceções a essas leis por sua intervenção - os milagres - são raras e extraordinárias. Em sua vida terrena, Jesus andou uma vez sobre as águas, mas não sempre; curou alguns cegos, paralíticos e leprosos, ressuscitou mortos, mas não todos. Ele usou de milagres para comprovar sua divindade e missão divina.

Notícia deste mês: uma religiosa italiana, Irmã Luigina Traverso, que sofria de paralisia ciática meningocele lombar, foi curada “miraculosamente” em Lourdes, França, “por intervenção extraordinária de Deus obtida pela intercessão de Nossa Senhora”, conforme reconheceu, no dia 11 de outubro passado, Dom Alceste Catella, Bispo de Casale Monferrato, diocese italiana onde reside a religiosa.

 Esta foi a 68ª cura “sem explicação” de Lourdes oficialmente reconhecida. O Bispo da diocese de Tarbes e Lourdes, Dom Nicolas Brouwet, assim como o Dr. Alessandro de Franciscis, presidente do Bureau des Constatations Médicales de Lourdes apresentaram os fatos em uma conferência de imprensa no último dia 12 de outubro.

O mais interessante é que essa cura ocorreu em 23 de julho de 1965, há, portanto, mais de 47 anos, mas só agora é que foi reconhecida pela Igreja.

Em Lourdes, onde Nossa Senhora apareceu a Santa Bernadete, muitas pessoas são curadas. Para o exame e constatação dessas curas, criou-se o Bureau Médical de Lourdes, do qual participam médicos de todos os credos religiosos, inclusive ateus, e os documentos ficam à disposição dos especialistas de qualquer parte do mundo. 

Um processo para declaração de milagre, feita no Bureau Médical de Lourdes, leva, pelo menos, 5 anos, com várias instâncias a percorrer. Na primeira instância, são feitos exames médicos e psiquiátricos rigorosos; qualquer explicação natural da cura leva o caso a ser encerrado. Ademais, só se aceitam doenças orgânicas e não apenas funcionais. Espera-se um ano, antes de dar a comprovação da cura definitiva. 

Na segunda instância, o caso é reapresentado à discussão. Na terceira instância, um relator leva o caso à Comissão Médica Internacional em Paris. Se o caso passar por esse crivo, declara-se que tal cura extraordinária não tem explicação na medicina, que o considera “milagre” e o entrega à Igreja para um processo canônico. 

Uma comissão, constituída pelo bispo do local onde mora a pessoa curada, examinará minuciosamente o caso sob todos os aspectos físicos e morais e os resultados médicos. Após todas as análises, o bispo confirmará, não só apenas com os olhos da ciência, mas também com os olhos da fé, o possível milagre.

Mais de onze mil casos já passaram da terceira instância com a confirmação médico-científica de que não há explicação para tal cura. No entanto, até hoje, apenas sessenta e oito de todos esses casos (incluindo o da Irmã Luigina) foram tidos como milagre pela quarta instância, ou seja, pela Igreja, que se mostra, nesses casos, mais rigorosa do que a própria medicina.

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney