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sexta-feira, novembro 30, 2012

A INFÂNCIA DE JESUS SEGUNDO BENTO XVI


       A intenção do autor não é tanto comentar, com erudição e estilo refinado, os fatos do passado, mas sim conduzir o leitor em direção a uma atualização da mensagem de salvação que os Evangelhos da infância de Cristo  trazem e revelam.  Alguns pontos são extremamente significativos no texto. 

      O tema da origem de Jesus aparece como inseparável da  revelação feita a Israel, da qual Jesus é a culminância. Deste modo, o Papa demonstra com clareza a importância da Bíblia judaica e do povo de Israel, no seio do qual nasceu o Salvador. 
Todo o desenvolvimento do mistério da encarnação, vida, morte e ressurreição de Jesus de Nazaré acontecerá em continuidade com a revelação feita ao povo de Deus através da boca dos profetas e que se exprime na espera do Messias.  De outro lado, o texto demonstra que a genealogia de Jesus apresenta um novo início, em Maria, com a qual termina e é relativizada toda a genealogia. 
A humilde moça de Nazaré, Maria, prometida a um homem justo de nome José, é portanto aquela na qual advém um novo início para a humanidade.  Nova Eva, é nela que o fato de ser uma pessoa humana recomeça de modo novo.

A raiz última e definitiva daquilo que encarna a presença de Deus no mundo se encontra “no alto”, em Deus que está na origem de todo ser.  E também no corpo fecundo de Maria de Nazaré. 
O livro abre diante do leitor a afirmação, bela e surpreendente ao mesmo tempo, de que em Jesus a humanidade recomeça.

A genealogia descrita nos Evangelhos exprime, de fato, uma promessa que não diz respeito somente à família ou ao povo no qual Jesus nascerá, mas à humanidade inteira.  Jesus assume em si toda a humanidade, toda a história da humanidade, e “lhe dá um novo giro, decisivo, em direção a um novo ser pessoa humana”.
A origem de Jesus se torna, então, a origem de todo homem e toda mulher que vem ao mundo.  Sua origem é nossa origem.  E Bento XVI o reafirma:  nossa verdadeira “genealogia” é a fé em Jesus, que nos faz nascer “de Deus”.
       Maria aparece ressaltando em sua pessoa as atitudes próprias do crente frente ao fato único da presença de Deus que se aproxima e se propõe.  É à sua liberdade de pessoa, de mulher, de crente, que se dirige a saudação do anjo, que a chama “cheia de graça” e a convida a alegrar-se.
       Maria dá uma resposta livre e confiante, mas não irracional.  Interpelada pelo anúncio do anjo, Maria procura compreender e permanece senhora de si.  E esta escuta honesta e obediente leva ao “sim” incondicionado daquela que se declara “a serva do Senhor”. Maria não conhece o futuro, mas conhece o seu Deus e não tem medo, crendo na palavra do anjo que lhe disse: “Não temas”. 

        Parece-me extremamente importante que Bento XVI, após haver apresentado o anúncio a Maria,   dê grande relevo também ao anúncio feito a José justo, fiel, crente, que “na lei do Senhor encontra sua alegria”, para o qual a lei “se torna espontaneamente ´evangelho´, boa notícia”, e que recebe também o anúncio do anjo, mas em sonho.
       A Maria e a José o anjo diz não ter medo.  O anúncio é dom e também tarefa.  Acolhendo-o, José se fará cargo do menino que nascerá da mulher que ama e que não lhe pertence.  Ele o amará e o protegerá e o chamará Jesus.

Graças à obediência livre de Maria, sustentada pela de José, tem então lugar na história a nova criação.  Evento universal, que, no entanto, se dá, muito concretamente como diz o Autor, em “um tempo exatamente datável” e em “um ambiente geográfico exatamente indicado: o universal e o concreto se tocam de perto.

“Chegando ao capítulo no qual propõe a reflexão sobre o nascimento de Jesus, o Papa chama a atenção sobre o fato de que Jesus nasce em um espaço “outro”, porque não havia espaço para ele. Por este motivo, sua mãe o acomoda em uma manjedoura.  Bento XVI, com grande sensibilidade, faz notar:  “Para o Salvador do mundo, para Aquele em vista do qual todas as coisas foram criadas (cf. Col 1,16), não há lugar”.  Deste modo, o Papa sublinha o mistério da pessoa de Jesus, portador de uma certa contradição: é o impotente, o sem lugar, e no entanto é Ele o verdadeiro poderoso; apresenta-se como um menino indefeso, mas neste menino repousa a salvação do mundo inteiro.
      Os capítulos seguintes mostram o menino crescendo em sabedoria e graça.  É obediente a seus pais, mas não hesita em colocar em primeiro lugar a obediência a Deus, a quem chama de Pai. Sua liberdade não é “a liberdade do liberal” mas a do Filho.  Em sua pessoa se  conciliam liberdade e obediência.
O Santo Padre termina seu livro sublinhando a verdadeira humanidade de Jesus: “Enquanto homem, Ele não vive em uma abstrata onisciência, mas se radica em uma história concreta, em um lugar e um tempo, nas várias fases da vida humana, e daí recebe a forma concreta do seu saber.  Assim aparece aqui, de um modo muito claro, que Ele pensou e aprendeu de maneira humana.
       Àquele que é verdadeiro homem e verdadeiro Deus, o Papa nos convida então, através de seu livro, a abrir um espaço.  Preparando-nos para celebrar a grande festa do Natal, este livro pode ajudar em modo muito profundo a abrir em nós um espaço, a fim de que o Salvador possa nascer e manifestar-se em um mundo como o nosso, que tanto necessita de seu Evangelho.


Maria Clara Lucchetti Bingemer, professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio
Autora de Um rosto para Deus (Ed. Paulus), entre outros livros.






LAICIDADE E LAICISMO


por Dom Fernando Arêas Rifan*
A festa de Cristo Rei, há pouco celebrada, foi instituída pelo Papa Pio XI. O Reino de Jesus Cristo, “que não terá fim” (Credo de Nicéia), se manifesta na mesma pessoa de Cristo (Lumen Gentium, 5), e foi confiado por ele à sua Igreja, preparando-nos para a sua plena realização no Reino do Céu, quando Deus será tudo em todos (cf. 1 Cor 15, 28). Esta solenidade foi instituída especialmente como remédio contra o laicismo (Pio XI, Encíclica Quas Primas, 15), tema que sempre volta à ordem do dia.

Para a doutrina moral católica, o sadio laicismo ou laicidade, entendido como autonomia da esfera civil e política da religiosa e eclesiástica – mas não da moral – é um valor adquirido e reconhecido pela Igreja, no mundo atual. “No domínio próprio de cada uma, comunidade política e Igreja são independentes e autônomas” (Gaudium et Spes, 76). “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, explica Nosso Senhor (Mt 22,21). Mas esta independência dos poderes da Igreja e do Estado que não isenta a “César” do dever de dar a Deus o que é de Deus, da obrigação de seguir a Lei divina, natural e positiva.

Laicismo, porém, como é entendido hoje, seria uma autonomia da esfera civil em relação a Deus, à Lei Natural e à moral, equiparando-se assim ao indiferentismo e ao relativismo religioso, terminando no ateísmo prático e teórico: “uma economia sem Deus, um Direito sem Deus, uma política sem Deus” (Pio XII, Alocução de 12/10/1952).

“Graves perigos atuais, que penetram nas legislações e comportamentos: relativismo cultural, pluralismo ético, decadência e dissolução da razão e dos princípios da lei moral natural. Reivindica-se a autonomia para as escolhas morais. Leis que prescindem dos princípios da ética natural, deixando-se levar exclusivamente pela condescendência com certas orientações culturais ou morais transitórias, como se todas as concepções possíveis da vida tivessem o mesmo valor”.

“Tal concepção relativista do pluralismo nada tem a ver com a legítima liberdade dos cidadãos católicos de escolherem, entre as opiniões políticas compatíveis com a fé e a lei moral natural, a que, segundo o próprio critério, melhor se coaduna com as exigências do bem comum. A liberdade política não é nem pode ser fundada sobre a idéia relativista, segundo a qual, todas as concepções do bem do homem têm a mesma verdade e o mesmo valor”.

“Há que acrescentar que a consciência cristã bem formada não permite a ninguém favorecer, com o próprio voto, a atuação de um programa político ou de uma só lei, onde os conteúdos fundamentais da fé e da moral sejam subvertidos com a apresentação de propostas alternativas ou contrárias aos mesmos. Uma vez que a fé constitui como que uma unidade indivisível, não é lógico isolar um só dos seus conteúdos em prejuízo da totalidade da doutrina católica. Não basta o empenho político em favor de um aspecto isolado da doutrina social da Igreja para esgotar a responsabilidade pelo bem comum” (CDF, Nota Doutrinal sobre questões relativas à participação e comportamento dos católicos na vida política, de 24/11/2002).

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney



quarta-feira, novembro 28, 2012

NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS


"Nossa Senhora das Graças que no céu junto a Deus
concede todas as bênçãos, aos humildes filhos seus!
Nossa Senhora das Graças estes cantos são louvores
aos teus sublimes desvelos com teus filhos pecadores.
Ó medianeira! De todas as graças que tudo consegues!
Junto a Deus, que é Pai! Tu que foste coroada com sua imensa sabedoria, os nossos lares… Abençoai!'
Em 1830, no dia 27 de novembro, Catarina de Labouré, noviça da congregação das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo em Paris, presenciou uma aparição de Nossa Senhora.
A Virgem de Nazaré apareceu-lhe sobre um globo e seus pés esmagavam uma serpente.  De suas mãos saiam raios de luz, que disse ser as graças que Maria alcançava para os homens.
 Após a Virgem proferir essas palavras, a frase “Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós” apareceu ao redor da imagem, formando um quadro. 
CAPELA AUXILIAR DA MÃE PEREGRINA DE SCHOENSTATT PARTICIPA DA PROCISSÃO
A imagem virou, então, e em seu verso apareceu um a letra “M”, com uma cruz e os corações de Jesus e de Maria.
A Virgem pediu, que fosse cunhada uma medalha com o modelo da aparição e todas as pessoas que a usassem receberiam graças especiais. Esta medalha passou a ser conhecida como Medalha Milagrosa e a devoção a Nossa Senhora das Graças estendeu-se ao mundo inteiro.

Aparição - Contemplamos a Virgem Imaculada, em sua primeira aparição a Santa Catarina Labouré. A piedosa noviça guiada por seu Anjo da Guarda é apresentada a Imaculada Senhora.
 Consideremos sua inefável alegria. Seremos também felizes, como Santa Catarina, se trabalharmos com ardor na nossa santificação.
Lágrimas de Maria - Contemplemos Maria, chorando sobre as calamidades que viriam sobre o mundo, pensando que o Coração de seu Filho seria ultrajado, a cruz escarnecida e seus filhos prediletos perseguidos. 
Confiemos na Virgem compassiva e também participaremos no fruto de suas lágrimas.
Proteção de Maria - Contemplemos nossa Imaculada Mãe, dizendo em suas aparições a Santa Catarina: " Eu mesma estarei convosco, não vos perco de vista e vos concederei abundantes graças. Sede para mim, Virgem Imaculada, o escudo e a defesa em todas as necessidades.
 Estando Catarina Labouré em oração a 27 de novembro de 1830, apareceu-lhe a Virgem Maria, formosíssima, esmagando a cabeça da serpente infernal; nesta aparição vemos seu desejo imenso de nos proteger sempre contra o inimigo de nossa salvação. Invoquemos a Imaculada Mãe com confiança e amor!
 Contemplemos Maria, aparecendo à Santa Catarina, radiante de luz, cheia de bondade, rodeada de estrelas, e mandando cunhar uma medalha, prometendo a todos que a trouxerem com devoção e amor, muitas graças. Guardemos fervorosamente a Santa Medalha e como escudo, ela nos protegerá nos perigos.
As Mãos de Maria - Contemplemos, hoje, Maria, desprendendo de suas mãos raios luminosos. "Estes raios, disse ela, são a figura das graças que derramo sobre todos aqueles que me pedem e aos que trazem com fé minha medalha".
Ó Virgem Milagrosa, Rainha excelsa, Imaculada Senhora, sede meu refúgio nesta terra, meu consolo nas tristezas e aflições, minha fortaleza e advogada na hora da morte.
Ó Virgem Imaculada da Medalha Milagrosa, fazei que esses raios luminosos que irradiam de vossas mãos virginais, iluminem minha inteligência para melhor conhecer o bem, e abracem meu coração com vivos sentimentos de fé, esperança e caridade.
Ó Mãe Imaculada, fazei que a cruz de vossa Medalha brilhe sempre diante de meus olhos, suavize as penas da vida presente e me conduza à vida eterna.
“Este globo que vês representa o mundo inteiro e especialmente a França, e cada pessoa em particular. 
Os raios são o símbolo das Graças que derramo sobre as pessoas que Me as pedem. Os raios mais espessos correspondem às graças que as pessoas se recordam de pedir. Os raios mais delgados correspondem às graças que as pessoas não se lembram de pedir.”
Misericordiosa distribuidora das graças divinas, Imaculada esposa do Espírito Santo Eterno, Maria Santíssima, tu que recebeste um coração participando das misérias humanas e consolando todos os que sofrem, tem compaixão da minha alma e dá-me a graça que espero, com toda confiança, da tua imensa bondade. Ave-Maria...
Sim, minha Mãe, Tesoureira de todas as graças, Refúgio dos pobres pecadores, Consoladora dos aflitos, Esperança dos desesperados, Auxílio poderoso dos cristãos, eu deposito em ti toda minha confiança e creio firmemente que obterás de Jesus a graça que desejo com toda esperança para o bem de minha alma. Salve Rainha..

Oh! Maria concebida sem pecado, rogai ao Pai para 
(pede-se a graça).
Oh! Maria concebida sem pecado, rogai a Jesus para 
(pede-se a graça).
Oh! Maria concebida sem pecado, rogai ao Espírito Santo para (pede-se a graça)














segunda-feira, novembro 26, 2012

SÃO CONRADO DE CONSTANCE


Conrado, nasceu em 901, no Lago de Constança, castelo dos pais, conde Henrique de Altdorf e condessa Beata de Honenwarth, da alta fidalguia. Fervorosos cristãos, foram eles que fundaram o convento de Weingarten.
PADRE MARCOS BELIZÁRIO FERREIRA - PÁROCO DA MATRIZ DE SÃO CONRADO
  Muito jovem ainda, foi Conrado entregue aos cuidados dos monges beneditinos do célebre convento de Saint Gall, o educandário mais avançado naquele tempo da Idade Média. 
ADNAEL E ADALTON AUXILIAM PADRE MARCOS
A TOCAR  O SINO NO AVISO DA MISSA SOLENE 
Na escola diocesana de Constança, completou os estudos, tendo por professor o famoso Padre Nothing, sagrado em 919 Bispo de Constança. Este, conhecendo a humildade, santidade e sabedoria de Conrado, não hesitou em sagrá-lo sacerdote nesse mesmo ano. Foi eleito Bispo auxiliar pelo Capítulo do Bispado de Constança. 
Rapidamente cresceu a sua fama de pastor ativo diligente, visitador assíduo das paróquias do Bispado, aliás um dos maiores do Império.
Foi amigo dos pobres e perseguidos. Tornou-se notável professor dos jovens clérigos. 
E em 934 faleceu o bom Bispo Nothing. Os fidalgos, os cidadãos e a totalidade do clero da diocese escolheram Conrado como sucessor do Bispo de Constança. Aplicou então toda sua fortuna e grandes proventos na função de novas paróquias, igrejas e ajuda aos pobres. 
Em Constança edificou as Igrejas de São Paulo, São João e São Maurício e também um hospital.Foi o Papa Calixto que o canonizou em 1123. 
Sua memória é festejada a 26 de novembro, na cidade de Constança e arredores e na Igreja São Conrado, no Rio de Janeiro dedicada ao santo.

Liturgia da Missa - Dt, 10, 8, 9 - Sl 88 - 1Pd, 5, 1-4 - Marcos 16, 15 – 20


Para os cristãos a “boa notícia” não é Augusto – o Imperador, mas Jesus, o Messias, Filho de Deus”.

E por isso, no seu evangelho, o mandato final do Ressuscitado é este: “ide pelo mundo inteiro e proclamai a Boa Notícia a toda criatura”.

“Boa notícia” é algo que, no meio de tantas experiências  más, traz às pessoas uma esperança nova. As “boas notícias” trazem luz, despertam a alegria, dão um sentido novo a tudo, animam a viver de maneira mais aberta e fraterna. 
Tudo isto e mais é Jesus, mas, como proclamá-lo hoje como Boa Notícia? O que Ele diz faz-lhes bem: tira-lhes o medo de Deus, faz-lhes sentir a sua misericórdia, ajuda-as a viver compreendidas e perdoadas por Ele. A sua maneira de ser é algo bom para todos: é compassivo e próximo, acolhe os mais esquecidos, abraça os mais pequenos, abençoa os enfermos, fixa-se nos últimos.
  Toda a sua atuação introduz na vida das pessoas algo bom: saúde, perdão, verdade, força interior, esperança. É uma sorte encontra-se com Ele!
São Marcos  diz-nos, que depois da Ascensão de Jesus, os Apóstolos “proclamavam o evangelho por toda a parte e o Senhor cooperava com eles”.
Esta fé leva-nos a confiar também hoje na Igreja: com atrasos e resistências talvez, com erros e debilidades  continuará sempre a procurar ser fiel ao evangelho.
 Leva-nos também a confiar no mundo e no ser humano: por caminhos nem sempre claros nem fáceis o reino de Deus continuará a crescer.
Hoje há mais fome e violência no mundo, mas há também mais consciência para tornar mais humano.
 Há muitos que não crêem em religião alguma, mas crêem numa vida mais justa e digna para todos, que é, definitivamente, o grande desejo de Deus.
Esta confiança pode dar um tom diferente ã nossa maneira de olhar o mundo e o futuro da Igreja.

domingo, novembro 25, 2012

SOLENIDADE DE CRISTO-REI


Francisco e Pe Marcos no
Condomínio Village em
preparação para Missa de Cristo Rei
Uma pergunta que pode vir – deveria vir! – ao nosso coração é esta: Jesus é Rei? Como pode ser Rei, num mundo paganizado, num mundo pós-cristão, num mundo que esqueceu Deus, num mundo que ridiculariza a Igreja por pregar o Evangelho e suas exigências?… Pelo menos do Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo o mundo não quer saber… Como, então, Jesus pode ser Rei de um mundo que não aceita ser o seu reinado?
 E, no entanto, hoje, no último domingo deste ano litúrgico, ao final de um ciclo de tempo, voltamo-nos para o Cristo, e o proclamamos Rei: Rei de nossas vidas, Rei da história, Rei dos cosmo, Rei do universo.
O texto do Apocalipse citado no início desta meditação dá o sentido da realeza de Jesus: ele é o Cordeiro que foi imolado. 
Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo - Condomínio Village - São Conrado
É Rei não porque é prepotente, não porque manda em tudo, até suprimir nossa liberdade e nossa consciência. É Rei porque nos ama, Rei porque se fez um de nós, Rei porque por nós sofreu, morreu e ressuscitou, Rei porque nos dá a vida. 
 Ele é aquele Filho do Homem da primeira leitura: “Foram-lhe dados poder, glória e realeza, e todos os povos, nações e línguas o serviam: seu poder é um poder eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá”. 
Com efeito, o reinado de Cristo não tem as características dos reinados do mundo.
 Ele é Rei não porque se distancia de nós, mas precisamente porque se fez “Filho do homem”, solidário conosco em tudo. 
Ele experimentou nossas pobrezas e limitações; ele caminhou pelas nossas estradas, derramou o nosso suor, angustiou-se com nossas angústias e experimentou tantos dos nossos medos. Ele morreu como nós, de morte humana, tão igual à nossa. Ele reina pela solidariedade.
Ele é Rei porque nos serviu: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). Serviu com toda a sua existência, serviu dando sempre e em tudo a vida por nós, por amor de nós. Ele reina pelo amor.

Ele é Rei porque tudo foi criado pelo Pai “através dele e para ele” (Cl 1,15); tudo caminha para ele e, nele, tudo aparecerá na sua verdade: “Quem é da verdade, ouve a minha voz”.
É nele que o mundo será julgado. A televisão, os modismos, os sabichões de plantão podem dizer o que quiserem, ensinarem a verdade que lhes forem conveniente… mas, ao final, somente o que passar pelo teste de cruz do Senhor resistirá. O resto, é resto: não passa de palha. Ele reina pela verdade. 

Ele é Rei porque é o único que pode garantir nossa vida; pode fazer-nos felizes agora e pode nos dar a vitória sobre a morte por toda a eternidade: “Jesus Cristo é a testemunha fiel e verdadeira, o primeiro a ressuscitar dentre os mortos, o soberano dos reis da terra”. Ele reina pela vida.

Sim, Jesus é Rei: “Eu sou Rei! Para isto nasci, para isto vim ao mundo!” Mas seu Reino nada tem a ver com o triunfalismo dos reinos humanos – de direita ou de esquerda! Nunca nos esqueçamos que aquele que entrou em Jerusalém como Rei, veio num burrico, símbolo de mansidão e serviço.

Como coroa teve os espinhos; como cetro, uma cana; como manto, um farrapo escarlate; como trono, a cruz. Se quisermos compreender a realeza de Cristo, é necessário não esquecer isso! A marca e o critério da realeza de Cristo é e será sempre, a cruz! 

Hoje, assistimos, impressionados, a paganização do mundo, e perguntamos: onde está a realeza do Cristo? – Onde sempre esteve: na cruz: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui”. O Reino de Jesus não é segundo o modelo deste mundo, não se impõe por guardas, pela força, pelas armas: meu Reino não é daqui! É um Reino que vem do mundo do amor e da misericórdia de Deus, não das loucuras megalomaníacas dos seres humanos. E, no entanto, o Reino está no mundo: “Cumpriu-se o tempo; o Reino de Deus está próximo” (Mc 1,15); “Se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus já chegou para vós” (Lc 11,20). O Reino que Jesus trouxe deve expandir-se no mundo! Onde ele está?

 Onde estiverem o amor, a verdade, a piedade, a justiça, a solidariedade, a paz. O Reino do Cristo deve penetrar todos os âmbitos de nossa existência: a economia, as relações comerciais, os mercados financeiros, as relações entre pessoas e povos, nossa vida afetiva, nossa moral pessoal e comunitária.
Sr Hugo Pradal
Celebrar Jesus Cristo Rei do Universo é proclamar diante do mundo que somente Cristo é o sentido último de tudo e de todos, que somente Cristo é definitivo e absoluto. Proclamá-lo Rei é dizer que não nos submetemos a nada nem a ninguém, a não ser ao Cristo; é afirmar que tudo o mais é relativo e menos importante quando confrontado com o único necessário, que é o Reino que Jesus veio trazer.

Num mundo que deseja esvaziar o Evangelho, tornando Jesus alguém inofensivo e insípido, um deus de barro, vazio e sem utilidade, proclamar Jesus como Rei é rejeitar o projeto pagão do mundo atual e proclamar: “O Cordeiro que foi imolado é digno de receber o poder, a divindade, a sabedoria, a força e a honra. A ele a glória e poder através dos séculos”. Amém (Ap 5,12; 1,6).

Fonte. presbiteros.com.br - D. Henrique Soares da Costa