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segunda-feira, janeiro 07, 2013

PAPA BENTO XVI E A URGÊNCIA DA PAZ.

Bento XVI na Sala Regia, no Vaticano,  e o Corpo Diplomático 

Cidade do Vaticano (RV) - Paz, crise econômica, respeito pela vida: esses foram os três pilares do aguardado discurso que Bento XVI dirigiu na manhã desta segunda-feira, na Sala Regia, no Vaticano, ao Corpo Diplomático junto à Santa Sé, por ocasião das felicitações de início do ano.

O Papa renovou um veemente apelo em favor da paz em todos aqueles Estados, da Síria à República Democrática do Congo, onde as populações se encontram martirizadas pela guerra e pela violência.

Em seguida, falando sobre a crise econômica, disse que não se deve resignar-se à "contração (spread no original) do bem-estar social", ao tempo em que "se combate a contração da finança".Atualmente, 179 Estados mantêm relações diplomáticas plenas com a Santa Sé. Acrescentam-se a esses a União Europeia, a Soberana Ordem Militar de Malta e uma Missão de caráter especial: o Escritório da Organização para a Libertação da Palestina.
Desde a sua origem – foi a premissa do Santo Padre –, a Igreja está voltada para todos os povos: eis o motivo pelo qual seu empenho não é "uma ingerência" na vida das sociedades, mas uma contribuição "para o progresso do gênero humano".

Bento XVI partiu daí, da missão da Igreja para desenvolver a sua visão sobre os grandes desafios que hoje o mundo tem diante de si, a partir da urgência da paz.

Em primeiro lugar, o Pontífice recordou as suas viagens de 2012 ao México, Cuba e Líbano. Visitas, disse, para "reafirmar o compromisso cívico dos cristãos daqueles países", bem como "para promover a dignidade da pessoa humana e os fundamentos da paz". E justamente à paz dedicou a parte mais consistente de seu articulado discurso:

"Hoje – constatou –, por vezes se é induzido a pensar que a verdade, a justiça e a paz são utopias e que elas se excluam mutuamente." Aliás, parece que os esforços para afirmar a verdade acabem "muitas vezes na violência". Por outro lado, acrescentou, parece que "o empenho em favor da paz se reduza à busca de compromissos".

Pelo contrário, disse, "na ótica cristã existe uma íntima conexão entre a glorificação de Deus e a paz entre os homens". Por isso, "é justamente o esquecer Deus" que "gera a violência" – foi a sua advertência.
De fato, observou, "se se cessa de referir-se a uma verdade objetiva transcendente, como é possível realizar um diálogo autêntico?"

Na realidade, disse o Papa, "sem uma abertura ao transcendente, o homem cai facilmente presa do relativismo" e, portanto, é depois difícil "agir segundo justiça e empenhar-se em favor da paz".

Pode-se associar às manifestações do esquecimento de Deus, prosseguiu, "o pernicioso fanatismo de matriz religiosa", que é na verdade "uma falsificação da própria religião".

Bento XVI dirigiu assim o seu pensamento a todos os povos que sofrem por causa da guerra, começando pela Síria:

"Renovo o meu apelo a fim de que as armas sejam depostas e o quanto antes prevaleça um diálogo construtivo para por fim a um conflito que, se perdurar, não terá vencedores, mas somente derrotados, deixando para trás apenas uma extensão de ruínas." E pediu às autoridades políticas que sejam sensíveis à "grave situação humanitária".
Em seguida, dirigiu seu pensamento à Terra Santa. Recordando o recente reconhecimento da Palestina como Estado Observador não Membro da ONU, renovou os votos de que israelenses e palestinos "se empenhem em favor de uma convivência pacífica no âmbito dos dois Estados soberanos, onde o respeito pela justiça e pelas legítimas aspirações dos dois povos seja tutelado e garantido". Jerusalém se torne "Cidade da paz e não da divisão", foi a sua invocação.


O Santo Padre fez votos de reconciliação e estabilidade para o Iraque, auspiciou para o Líbano que os cristãos deem um testemunho eficaz "em favor da construção de um futuro de paz com todos os homens de boa vontade":

"Também no Norte da África é prioritária a colaboração de todos os componentes da sociedade e a cada um deve ser garantida a plena cidadania, a liberdade de professar publicamente a sua religião e a possibilidade de contribuir para o bem comum."


Em seguida, assegurou a sua oração aos egípcios, "neste período em que se formam novas instituições". Bento XVI dirigiu seu olhar também para a África subsaariana, onde muitos países são martirizados pela guerra.

O Pontífice indicou particularmente o Chifre da África, o leste da República Democrática do Congo, o Mali e a República Centro-Africana. Dedicou também um pensamento particular à Nigéria, "teatro de atentados terroristas que fazem vítimas", sobretudo, entre os "cristãos reunidos em oração", quase como se o ódio quisesse "transformar templos de oração e de paz em iguais centros de medo e de divisão".

O Papa disse ter sentido grande tristeza ao tomar conhecimento que também no Natal fiéis cristãos nigerianos foram "barbaramente assassinados". Em seguida, reiterou que a "construção da paz passa pela tutela do homem e dos seus direitos fundamentais". Dentre estes direitos, recordou, figura em "primeiro plano o respeito pela vida humana em todas as suas fases".

A esse propósito, o Pontífice disse alegrar-se "com a Resolução da Assembléia Parlamentar do Conselho da Europa que, em janeiro do ano passado, pediu a proibição da eutanásia, entendida como a morte voluntária, por ação ou omissão, de um ser humano em condições de dependência".

Ao mesmo tempo, Bento XVI disse ver com tristeza que em vários países, mesmo de tradição cristã, se procurou introduzir ou ampliar legislações que despenalizam o aborto:

"O aborto direto, ou seja, querido como um fim ou como um meio – disse –, é gravemente contrário à lei moral." Ao dizer isto, acrescentou, a Igreja Católica "não pretende faltar de compreensão e benevolência nomeadamente para com a mãe"; trata-se, antes, de "velar para que a lei não chegue a alterar, injustamente, o equilíbrio entre o igual direito à vida que possuem tanto a mãe como o filho nascituro".

E observou que, sobretudo no Ocidente, circulam "numerosos equívocos sobre o significado dos direitos humanos e seus correlativos deveres. Não é raro o caso de se confundir os direitos com manifestações exacerbadas de autonomia da pessoa, que se torna auto-referencial, deixando de estar aberta ao encontro com Deus e com os outros para se fechar sobre si mesma buscando satisfazer as suas próprias carências; ao passo que a defesa dos direitos, para ser autêntica, deve ao invés considerar o homem na sua integridade pessoal e comunitária". (RV)