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terça-feira, março 12, 2013

A PRIMEIRA FUMAÇA DO CONCLAVE


Era preta e abundante. Exalou por mais de minutos. O fato de ter sido preta não foi motivo de nenhuma tristeza ou decepção para os presentes na Praça ou que acompanhavam através das imagens geradas pelo Centro Televisivo Vaticano ou pelas centenas de redes televisivas presentes em Roma para acompanhar o Conclave.
A forma como é realizada a eleição dos Papas, cercada de segredos e com rituais que atravessam séculos, enche de mistério todo o processo, que acaba se tornando um acontecimento planetário, não somente pela universalidade da Igreja Católica, mas pela peculiaridade destes ritos. A fumaça que sai pela chaminé instalada no telhado da Capela Sistina, indicando ou não a eleição do novo Pontífice em determinada votação, é um dos exemplos disto. 
CONCLAVE: ENTENDA AS ETAPAS QUE ANTECEDEM O TÃO ESPERADO “HABEMUS PAPAM”
O  porta-voz vaticano, pe. Federico Lombardi, dedicou a maior parte do briefing com os jornalistas a ilustrar os destaques deste evento que afeta não apenas a Igreja Católica, mas o mundo inteiro.
O diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé falou sobre a procissão dos 115 cardeais eleitores entre a Capela Paulina, depois de um breve momento de oração, e a Capela Sistina, na tarde desta terça-feira (16h30 no horário de Roma – 12h30 no horário de Brasília). A procissão segue as disposições pormenorizadas na Ordo Rituum Conclavis.
Abrirão a procissão a cruz e os castiçais, seguidos pelos cantores da Capela Sistina. Seguem alguns prelados e o secretário do conclave, o cardeal maltês Prosper Grech, que, depois, já dentro da capela, dirigirá a meditação dos cardeais após a proclamação do “Extra Omnes”, a fórmula em latim que significa “todos para fora” e que ordena a saída de todos da capela, exceto os cardeais eleitores.
MONSENHOR GUIDO MARINI SACERDOTE CATÓLICO 
ITALIANO E ATUAL MESTRE DAS 
CELEBRAÇÕES LITÚRGICAS PONTIFÍCIAS
Participam da procissão, naturalmente, todos os demais cardeais, por ordem inversa de precedência, ou seja: vão à frente os últimos na precedência estabelecida pelas diversas ordens (diáconos, presbíteros e bispos). Os primeiros, assim, são os cardeais Harvey e Versaldi. Com base neste mesmo critério, fecha a procissão o cardeal Re, o mais velho da ordem dos bispos, e, portanto, o primeiro na ordem de precedência. Re é o celebrante da procissão e da cerimônia de juramento na Capela Sistina. 
FÓRMULA DE ADESÃO AO JURAMENTO.
Quem o acompanha é o mestre de cerimônias, mons. Marini.
O momento da procissão se torna ainda mais solene com o canto da Ladainha dos Santos, de algumas invocações e do célebre Veni Creator Spiritus, o grande hino de invocação do Espírito Santo. Cantando, os cardeais entram na Capela  Sistina e se dirigem ao próprio lugar para pronunciar o juramento, conforme previsto na constituição apostólica.
Depois que o celebrante principal, cardeal Re, recita uma longa fórmula introdutória em latim, cada cardeal, de acordo com a ordem de precedência, vai até o púlpito no centro da Capela Sistina, sobre o qual repousa o evangeliário aberto. Com a mão sobre a Palavra de Deus, cada cardeal pronuncia o seu nome e a fórmula de adesão ao juramento.
Logo depois, “todos para fora!”: segue-se a fórmula “Extra Omnes”, pronunciada pelo mestre de cerimônias. Todos se retiram da Sistina, com exceção dos cardeais eleitores, do cardeal encarregado da meditação (Grech) e do próprio mestre de cerimônias. Uma vez fechadas as portas da capela, tem-se a meditação, após a qual os eleitores podem escolher se realizam de imediato a primeira votação.
“Esta votação”, explica o padre Lombardi, “sendo a primeira, dificilmente terá um resultado positivo”. A primeira fumaça, quase certamente, será preta. Os cardeais encerram o primeiro dia do conclave com a celebração comum das vésperas, antes de voltar para a Casa Santa Marta para jantar.
Na Capela Sistina, cada cardeal encontra em seu assento a Ordo Rituum Conclavis, uma cópia da constituição apostólica e o livro da Liturgia das Horas, para os diversos momentos de oração.
MISSA DE ABERTURA DO CONCLAVE

"Irmãos e irmãs no Senhor, o Evangelho de hoje reconduz-nos à última ceia, quando o Senhor disse aos seus Apóstolos: “Este é o meu mandamento: que vós ameis uns aos outros, com eu vos amei” (Jo 15,12). O texto se une assim também à primeira leitura do profeta Isaías sobre o agir do Messias, para recordar-nos que a atitude fundamental dos Pastores da Igreja é o amor. É aquele amor que nos impele a oferecer a própria vida pelos irmãos. De fato, Jesus nos diz: “ninguém tem um amor maior do que este: dar a vida pelos próprios amigos” (Jo 15,12)."
Homilia do Cardeal Angelo Sodano na Missa Pro Eligendo Romano Pontífice - 12 de Março de 2013
Lombardi explica ainda o que acontece quando é atingido o quórum de 2/3, que, na atual eleição, equivale aos 77 votos necessários para eleger o novo papa. Uma série de cerimônias curtas passa a ser realizada na Capela Sistina a partir desse momento.Primeiro, o “Rito de Aceitação”: o cardeal decano (neste caso, o presidente da assembleia, que é o cardeal Re) aborda o eleito com a pergunta: “Aceitas a tua eleição canônica para Sumo Pontífice?”. Segue-se a resposta e, em seguida, a segunda pergunta: que nome o candidato escolhe como papa.
As cédulas de votação são queimadas e, com elas, surge a esperada fumaça, que, se for branca, indica a aceitação do candidato escolhido. O novo papa se dirige então à Sala das Lágrimas, assim chamada porque, segundo a tradição, o papa recém-eleito pode ali dar vazão às suas emoções diante da importante missão que acaba de assumir. É nesta sala que ele receberá as vestes papais, já preparadas pelo alfaiate Gammarelli.
O pontífice retorna logo depois à Capela Sistina, onde acontece outra pequena cerimônia, com a leitura de uma passagem do Evangelho sobre o ministério petrino e uma oração feita pelos primeiros representantes da ordem dos diáconos, da ordem dos presbíteros e da ordem dos bispos. Todos os cardeais, então, realizam o ato de homenagem em que juram lealdade ao novo papa.
Contando-se todos estes diversos momentos, o diretor da Sala de Imprensa do Vaticano estima que “provavelmente transcorram 45 minutos desde a fumaça branca até o toque dos sinos e o anúncio feito pelo protodiácono”. Mais dez minutos e o novo papa aparece para a multidão.
Após o canto do “Te Deum” na Capela Sistina, chega-se ao momento culminante do conclave: o Habemus Papam. O protodiácono sai à sacada da basílica de São Pedro e anuncia, para a multidão de fiéis que está reunida na praça desde que surgiu a fumaça branca, o nome do novo pontífice.
Uma novidade neste ano, relatou o porta-voz vaticano, é que o papa recém-eleito, ao deixar a Capela Sistina antes de se dirigir à sacada de São Pedro, fará uma pausa na Capela Paulina, onde, diante do Santíssimo Sacramento, rezará de modo “breve, pessoal e silencioso”. Uma vez na sacada, o papa saudará o povo de Deus e dará a sua primeira bênção Urbi et Orbi. Nesta ocasião, o protodiácono anuncia também a concessão da indulgência, como na páscoa e no natal.
Uma última informação importante dada pelo pe. Lombardi é que a missa de inauguração do pontificado poderá ser celebrada mesmo em dia de semana. A primeira celebração do novo papa não precisa necessariamente acontecer no domingo: ela depende da duração do conclave e do tempo disponível para as delegações estrangeiras que queiram participar.

 CIDADE DO VATICANO, 12 de Março de 2013