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sábado, fevereiro 22, 2014

CARDEAL TEMPESTA


“Quando foi anunciado o ‘Consistório’, eu senti no Rio de Janeiro e no Brasil também que, de certa forma, todo mundo se sentiu nomeado junto comigo. Então eu trago o sentimento de quem não representa só a si mesmo, não só o Rio de Janeiro, mas muita gente no Brasil. 

Trago comigo muita gente que se sentiu agraciado com esse título e, é claro, alguém tem que representar este povo todo e coube a mim. Depois, uma grande responsabilidade, para a qual eu peço a Deus que me dê a capacidade de poder servir à Igreja e ao mundo, evidentemente a Igreja com sua responsabilidade mundial, para que possamos levar para frente esta grande missão”. Cardeal Tempesta 

Nessa solenidade com grandes momentos e ao mesmo tempo com simplicidade e recolhimento que caracterizaram o clima com que decorreu, na basílica de São Pedro, com a presença do Papa emérito, Bento XVI, aconteceu o primeiro consistório do pontificado do Papa Francisco para a criação de 19 cardeais, incluindo 16 eleitores. 
A celebração inclui o rito de entrega do barrete e do anel cardinalício (momentos unificados desde 2012, por decisão de Bento XVI), assim como a tradicional atribuição a cada um dos novos cardeais do “título” de uma igreja de Roma.
O Papa Francisco comentou o Evangelho proclamado (Marcos 10, 32-45), sublinhando duas afirmações do texto: “Jesus caminhava à frente deles” e “Jesus chamou-os”.
Também neste momento Jesus caminha à nossa frente. Ele está sempre à nossa frente. Precede-nos e abre-nos o caminho... E esta é a nossa confiança e a nossa alegria: ser seus discípulos, estar com Ele, caminhar atrás d’Ele, segui-Lo...

O Santo Padre evocou a primeira concelebração, há um ano, na Capela Sistina, após a eleição. Já nessa altura, recordou, "caminhar" foi a primeira palavra que o Senhor nos propôs: caminhar e, em seguida, construir e confessar. Hoje de novo volta esta palavra, mas como um ato, como a ação de Jesus que continua: "Jesus caminhava…"
Isto é uma coisa que impressiona nos Evangelhos: Jesus caminha muito e instrui os seus discípulos ao longo do caminho. Isto é importante. Jesus não veio para ensinar uma filosofia, uma ideologia... mas um "caminho", uma estrada que se deve percorrer com Ele; e aprende-se a estrada, percorrendo-a, caminhando. Sim, queridos Irmãos, esta é a nossa alegria: caminhar com Jesus.
Isso não é fácil, não é cômodo, porque a estrada que Jesus escolhe é o caminho da cruz. Enquanto estão a caminho, fala aos seus discípulos do que Lhe acontecerá em Jerusalém: preanuncia a sua paixão, morte e ressurreição. E eles ficam "surpreendidos" e "cheios de medo". 
Surpreendidos, sem dúvida, porque, para eles, subir a Jerusalém significava participar no triunfo do Messias, na sua vitória – como se vê em seguida pelo pedido de Tiago e João; e cheios de medo, por causa daquilo que Jesus haveria de sofrer e que se arriscavam a sofrer eles também.
Mas nós, ao contrário dos discípulos de então, sabemos que Jesus venceu e não deveríamos ter medo da Cruz; antes, é na Cruz que temos posta a nossa esperança. E, contudo, sendo também nós humanos, pecadores, estamos sujeitos à tentação de pensar à maneira dos homens e não de Deus.
E quando se pensa de maneira mundana, qual é a consequência? – interrogou-se o Papa. "Os outros dez indignaram-se com Tiago e João" (Mc 10, 41). Indignaram-se. Se prevalece a mentalidade do mundo, sobrevêm as rivalidades, as invejas, as facções… Assim, esta palavra que o Senhor nos dirige hoje, é muito salutar! 
Purifica-nos interiormente, ilumina as nossas consciências e ajuda a sintonizarmo-nos plenamente com Jesus; e a fazê-lo juntos, no momento em que aumenta o Colégio Cardinalício com a entrada de novos Membros.
Comentando depois a outra passagem do texto em que se refere: "Jesus chamou-os..." (Mc 10, 42). É o outro gesto do Senhor. Ao longo do caminho, dá-Se conta que há necessidade de falar aos Doze, pára e chama-os para junto de Si.
Irmãos, deixemos que o Senhor Jesus nos chame para junto de Si! Deixemo-nos “con-vocar” por Ele. E ouçamo-Lo, com a alegria de acolhermos juntos a sua Palavra, de nos deixarmos instruir por ela e pelo Espírito Santo para, ao redor de Jesus, nos tornarmos cada vez mais um só coração e uma só alma.

É isto de que a Igreja precisa – sublinhou o Papa Francisco, dirigindo-se aos cardeais presentes:
A Igreja precisa de vós, da vossa colaboração e, antes disso, da vossa comunhão, comunhão comigo e entre vós. A Igreja precisa da vossa coragem, para anunciar o Evangelho a tempo e fora de tempo, e para dar testemunho da verdade. A Igreja precisa da vossa oração pelo bom caminho do rebanho de Cristo; oração que é, juntamente com o anúncio da Palavra, a primeira tarefa do Bispo.
 A Igreja precisa da vossa compaixão, sobretudo neste momento de tribulação e sofrimento em tantos países do mundo.
Neste contexto, o Papa exprimiu “proximidade espiritual às comunidades eclesiais e a todos os cristãos que sofrem discriminações e perseguições”.
A Igreja precisa da nossa oração em favor deles, para que sejam fortes na fé e saibam reagir ao mal com o bem. E esta nossa oração estende-se a todo o homem e mulher que sofre injustiça por causa das suas convicções religiosas.
A Igreja precisa de nós também como homens de paz, precisa que façamos a paz com as nossas obras, os nossos desejos, as nossas orações: por isso invocamos a paz e a reconciliação para os povos que, nestes tempos, vivem provados pela violência e a guerra.

Após esta homilia e o profundo silêncio de recolhimento que se lhe seguiu, o Papa Francisco procedeu à leitura da fórmula de criação e proclamou solenemente os nomes dos novos cardeais, para os unir com “um vínculo mais estreito à Sé de Pedro”.
Teve depois lugar a profissão de fé e o juramento dos novos cardeais, de fidelidade e obediência a Francisco e seus sucessores, “agora e para sempre”. Um a um ajoelharam-se aos pés do Papa, para dele receberem o barrete cardinalício, imposto “como sinal da dignidade do cardinalato”, significando que todos devem estar prontos a comportar-se “com fortaleza, até à efusão do sangue", como refere o ritual
O Papa entregou depois aos novos cardeais o respectivo anel, para que se “reforce o amor pela Igreja”. E nessa altura, foi atribuído a cada cardeal uma igreja de Roma (título ou diaconia) - simbolizando a “participação na solicitude pastoral do Papa” na cidade -, recebendo ainda a bula de criação cardinalícia, momento selado por um abraço de paz.

Os novos cardeais são provenientes de 15 países: 4 da América do Norte e Central: Canadá, Nicarágua, Haiti e Antilhas: 3 da América do Sul: Argentina, Brasil e Chile; 2 da África: Costa do Marfim e Burkina Fasso; 2 da Ásia: Coréia e Filipinas.

Com a criação do novo cardeal brasileiro, Dom Orani João Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, o Brasil agora tem dez Cardeais:

1. Dom Cláudio Hummes, Prefeito emérito da Congregação para o Clero e Arcebispo emérito de São Paulo;
2. Dom Eusébio Oscar Scheid, Arcebispo emérito de São Sebastião do Rio de Janeiro;
3. Dom Geraldo Majella Agnelo, Arcebispo emérito de São Salvador da Bahia;
4. Dom João Braz de Aviz, Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica;
5. Dom José Freire Falcão, Arcebispo emérito de Brasília;
6. Dom Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo;
7. Dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo;
8. Dom Raymundo Damasceno Assis, arcebispo de Aparecida;
9. Dom Serafim Fernandes de Araújo, Arcebispo emérito de Belo Horizonte;
10. Dom Orani João Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro.






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