A liturgia de hoje apresenta nossa verdadeira vocação: ser luz e sal no
mundo. Isso
corresponde ao que os profetas do Antigo Testamento qualificavam de urgência
fundamental: praticar a justiça e viver o amor.
Na medida em que se vive a justiça, a caridade para com os pequeninos,
em que se é solidário, renuncia-se às obras das trevas para fazer resplandecer
em nós a luz de Deus.
“SAL E LUZ”
Homilia de Padre Marcos Belizário Ferreira
No Evangelho de João, Jesus declara: “enquanto estou no mundo, eu sou a luz do mundo” (Jo 9, 5). No Evangelho de Mateus temos esta afirmação:
“Vocês são a luz do mundo”. Para o povo da Bíblia, a luz recorda o primeiro ato do Criador (Gn 1,3), momento a partir do qual foi desencadeado o processo de harmonia do universo.
Por isso as mães judias celebravam, ao cair da tarde, o rito da luz, ao
acender a lâmpada que marcava o início da sábado, cercada dos filhos mais novos
e recitando extensa oração. Essa Lâmpada “faz o céu descer em todas as casa dos
judeus, enchendo-as de uma paz há muito esperada e saudada com alegria;
fazendo-se de cada casa um santuário, do pai um sacerdote, e da mãe que acende
as velas um anjo de luz”.
As comparações da luz e da cidade colocada sobre o monte são utilizadas
diversas vezes no Antigo Testamento, para indicar o significado salvífico
universal de Israel, o seu dever de ser um povo “sinal”de Deus diante de todos,
ponto de convergência e de encontro de toda a Humanidade.
Do
mesmo modo, segundo o Evangelho, a comunidade dos discípulos deve tornar-se
“profecia”: não com palavras, mas com obras. O trecho de Mateus sublinha
algumas características do testemunho cristão. A primeira é a publicidade.
Mateus quer dizer-nos que a luz, pela sua natureza, é feita para iluminar,
para se mostrar visível e pública, não para ficar escondida. Mateus teme o
anonimato.
A segunda característica é a “universalidade”: sal da terra e luz do
mundo. Mas trata-se da universalidade de Jesus que começa pelos últimos, não
para esquecer os primeiros, mas para dizer que também os últimos devem ser os
primeiros.
A terceira é a consistência. Não palavras , nem teorias, nem
discussões, mas obras. A comunidade de Mateus tem a tentação das palavras em
excesso.
O evangelista chama fortemente a atenção para consistência das obras, especialmente das obras de caridade. Deve-se depois lembrar que a caridade
evangélica se distingue pela partilha, não só pela eficiência. A última
característica é a “transparência”. Os discípulos devem praticar boas obras que
não concentrem a atenção sobre quem as cumpre, mas levem a dirigir o olhar para
o Pai: “Vendo as vossas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus”.
(Mt
5,16).
Jesus foi isso mesmo com as Suas palavras, nas Suas obras e na Sua pessoa: a transparência do Pai.
O discurso pode completar-se com a citação do profeta Isaías (primeira leitura). O profeta oferece-nos indicações mais exatas: “reparte o teu pão com o faminto, dá abrigo ao pobres, leva roupa ao que não tem que vestir”
(Is 58,7).
As “obras” de que fala Jesus no Evangelho de hoje são as obras de caridade, as mesmas obras enumeradas no grande quadro do juízo final de Mateus 25. Não somos “sal
e luz”com as palavras, mas com as obras; não com as obras do poder e do sucesso, mas do amor pelos pobres. Nesta linha de pensamento se exprime também a
segunda leitura. O caminho seguido pelo Apóstolo São Paulo não foi o do poder e
o da glória, mas o da fraqueza da Cruz.
cf. Casarin,
Giuseppe , Leccionário Comentado Tempo Comum Semanas I- XVII, Paulus.
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