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terça-feira, março 04, 2014

RETIRO 2º DIA


Esta evidência significa que, criados à imagem de Deus e chamados por ele, devemos levar uma vida “com toda a pureza” (RB 49,2), pois, na medida em que atingimos essa pureza de vida, haveremos de nos tornar, para nós mesmos e para os outros, uma proclamação de amor, uma proclamação de confiança, uma proclamação de fé em Deus; mais ainda: nos tornaremos para os homens um grito de alarme, uma advertência, uma luz, uma evidência. 

A QUARESMA NOS COLOCA DIANTE DE NOSSO DEVER E DE NOSSA RESPONSABILIDADE COMO FILHOS E FILHAS DE DEUS.

Devemos guardar uma vida com toda pureza, quer dizer, colocar a nossa vida essencialmente sob o olhar de Deus, tomando sua Palavra como luz, como referência, como crisol para testar e purificar tudo o que fazemos. É com base na Palavra de Deus que deveríamos fazer soar e ressoar tudo o que somos, tudo o que acontece conosco, tudo o que empreendemos, objetivando saber se esse conjunto de circunstâncias confere com o que Deus diz, se estamos puros.

O termo “quaresma” nos faz sempre lembrar os vocábulos penitência, privação... o que seria colocar a carroça diante dos bois. Com efeito, só podemos renunciar a alguma coisa quando temos em vista outra, algo que é mais importante, que será um ganho, uma alegria para nós. 
Quando um homem devia seu olhar das outras mulheres para olhar apenas a sua, o importante para ele não são aquelas de quem afasta o olhar, mas aquela que está olhando porque a preferiu às outras; o que importa não é o espaço vazio, a falta que ele não deixará de sentir por se ter esquivado das outras, mas aquela que, a seus olhos, se enriquece de tudo o que ele renunciou por causa dela. 

O perigo da “quaresma-privação” é enxergar somente este último aspecto, deter-se nele, chegando mesmo fechar-se nele em detrimento d'Aquele para o qual a privação deve nos conduzir.

A Quaresma deve ser para nós, antes de tudo, ocasião para uma retomada de consciência da presença de Deus, da preferência de Cristo, que são realidades fundamentais do cristão; ocasião de escolher novamente esta presença e esta preferência que relativizam, explicam, situam para nós todas as demais presenças. 

Ser puro é, fundamentalmente, guardar essa hierarquia de valores, é organizar a própria vida, os próprios atos em função dessa presença, dessa preferência.

Como fazer?
Em primeiro lugar, afastar-se do que lhe é contrário: “preservamo-nos de todos os vícios” (RB 49,4), renunciar a tudo o que nos conduz para o lado oposto dessa presença-preferência, tanto mais quem qualquer ato realizado em direção a Deus, apaga, pelo fato mesmo,”todas as negligenciais dos outros tempos” (RB 49,3). É isso que realça o caráter eminentemente positivo que a Quaresma deve ter em  nós.

Quando tomamos consciência dessas negligências, é coisa inútil nos determos nelas, nos lamentarmos por elas, pedir indefinidamente perdão. Basta fazer o contrário e o mal será varrido, substituído por um ato de amor. Nossa atenção deve se fixar no que é preciso fazer, ao invés do que não é preciso ou não mais deve ser feito. 
Tanto isso é verdade que, quanto mais absolutamente queremos evitar algo, acabamos por fazê-lo. Em sua caminhada para Deus, cada qual tem um ou mais de um espinho no pé: para um é seu caráter, para outro, sua gula, para aquele, a castidade, o fumo ou a televisão que ele não consegue deixar de lado, para outro ainda, a preguiça, a doença, a preocupação excessiva com sua saúde etc. Quando nos conscientizamos do nosso ponto fraco, a melhor coisa a fazer para lutar é nos lançarmos para fora, isto é, nos projetarmos particularmente diante dessa presença que nos unifica e por causa de QUEM tudo deixamos.

É  isso que São Bento aconselha: “Entregarmos-nos à oração com lágrimas” (RB 49,4); com lágrimas, porque amamos nossos espinhos, e renunciar a eles nos custa, nos custa lágrimas. Ousemos dizer a Deus, na oração, que não podemos renunciar aos nossos espinhos porque não queremos, porque os preferimos; ousemos dizer-lhe que nada poderemos fazer enquanto ele não vier querer em nosso lugar ou conosco, se ele vier renunciar em nós.

É A ORAÇÃO QUE ABRE EM NÓS O ESPAÇO QUE DEUS IRÁ OCUPAR E ONDE VAI AGIR; PARA CAVAR UM BURACO NA TERRA É PRECISO TEMPO, FORÇAS, FERRAMENTAS... É TAMBÉM O QUE ACONTECE NA ORAÇÃO.

 Nós nos queixamos porque não sabemos rezar; mas quando, com que empenho, com quais meios nos consagramos à oração?

Cf Dom Thierry Portevin, OSB
cf Revista Beneditina, Ano V Janeiro/Fevereiro 2008, número 25, tecto de Dom Matias Fonseca de Medeiros, OSB

05/03/2014
QUARTA FEIRA DE CINZAS - JEJUM E ABSTINÊNCIA DE CARNE

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