Não entrarei aqui na discussão dos argumentos sobre a
legitimidade bíblica e histórica a respeito do uso ou não de tais símbolos,
mesmo porque, no meu entender, a questão já foi resolvida no II Concílio de
Nicéia, no ano de 787, e seria perder o tempo e a paz, ficar discutindo algo já
definido por cristãos do oriente e do ocidente.
No
caso atual em nosso país, trata-se de um problema sério que fere a legislação a
respeito da liberdade religiosa.
Não há dúvida que nossos governantes devem estar
atentos para que não se desenvolva um clima de odium religionis e isto venha a
terminar numa verdadeira guerra entre adeptos de crenças diferentes, o que não
interessaria a ninguém.
Quarta feira, dia 16 de julho, festa de Nossa Senhora
do Carmo, aconteceu mais um ato de vandalismo religioso, o terceiro em poucas
semanas, desta vez na cidade de Sacramento-MG. Um
rapaz de 20 anos que se apresentou como evangélico quebrou as imagens de uma
igreja, destruindo inclusive peças de grande valor artístico tombadas por
órgãos governamentais de proteção ao patrimônio histórico.
Aprisionado, o tal rapaz se disse doente mental, tendo
sido até mesmo internado em clínica para tratamento desta natureza. Geralmente,
quando acontecem estes desrespeitosos atos de violência e fanatismo, aparece um
advogado para defender o réu com tal argumentação e tudo fica por isso mesmo.
Certo é que os casos de agressão religiosa deste tipo,
e desrespeito à crença alheia, têm sido praticados por pessoas que se dizem
evangélicas.
Não temos notícias, s.m.j, de católicos que tenham
invadido igrejas não católicas para praticar agressões por motivos religiosos,
nem mesmo sendo doentes mentais saídos de alguma clínica.
Isto não quer dizer que os católicos sejam melhores
que os evangélicos e nem que os evangélicos sejam melhores que os católicos, mesmo
porque os evangélicos autênticos nunca fariam tais agressões, pois qualquer
vandalismo, desrespeito, atitudes violentas e preconceituosas não são
evangélicas e seriam um contra-senso.
As atitudes
iconoclastas praticadas em várias partes do Brasil ultimamente têm sido
condenadas por Pastores evangélicos e outros membros de várias correntes não
católicas, o que nos dá a certeza de que os vândalos que invadem igrejas ou
quebram imagens não são verdadeiros evangélicos, mas muito mais usurpadores
deste nome.
Estou convicto de que, se houver algum Pastor que
incentivasse isto, certamente não encontraria apoio em seus irmãos de crença
que sejam sérios. Seriam, inclusive, co-autores do
ato criminoso.
Tenho muitos amigos evangélicos, inclusive vários Pastores
de mentalidade aberta e de espírito respeitoso que se reúnem comigo para a
oração e para iniciativas inter-confessionais em favor da vida, dos bons
costumes e dos princípios cristãos.
O Movimento Ecumênico é belamente praticado hoje no
Brasil e no mundo por Igrejas Evangélicas, Ortodoxas e Católica através do
CONIC (Conselho Mundial das Igrejas Cristãs). A
ele a CNBB tem dado total apoio.
Também o movimento EnCristus, bem como outras
iniciativas, têm sido uma bênção de Deus neste caminho de respeitosos diálogo. Motiva-nos
a fé em Jesus Cristo e a certeza de que o que nos une é muito mais forte do que
o que nos separa.
ALÉM DO PERDÃO QUE NÓS CATÓLICOS OFERECEMOS AOS NOSSOS
AGRESSORES, PENSO QUE TODOS OS QUE CREMOS EM O NOME DE JESUS, DEVEMOS COLABORAR
PARA QUE ATITUDES COMO ESTAS SEJAM TOTALMENTE ELIMINADAS DENTRE NÓS.
Afinal Jesus nos ensina com sua oração: Pai, que todos
sejam um como eu e tu somos um, para que o mundo creia (Jo.17,21); e ainda:
Amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado.(Jo.15,12).
Além disso, que as autoridades governamentais tomem
atitudes que defendam o direito dos brasileiros de praticarem livre e
pacificamente a sua fé.
Dom
Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora
Juiz
de Fora, 18 de julho de 2014
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