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quarta-feira, agosto 06, 2014

TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR NO MONTE TABOR

Jesus manifestou este mistério aos discípulos no monte Tabor. Havia andado com eles, falando-lhes a respeito de seu reino e da segunda vinda na glória. Mas talvez não estivessem muito seguros daquilo que lhes anunciara sobre o reino. Para que tivessem firme convicção no íntimo do coração e, mediante as realidades presentes, cressem nas futuras, deu-lhes ver maravilhosamente a divina manifestação do monte Tabor, imagem prefigurada do reino dos céus. 

Foi como se dissesse: Para que a demora não faça nascer em vós a incredulidade, logo, agora mesmo, eu vos digo, alguns dos que aqui estão não provarão a morte antes de verem o Filho do homem vindo na glória de seu Pai (Mt 16,28). 
Mostrando o Evangelista ser um só o poder de Cristo com sua vontade, acrescentou: E seis dias depois, tomou Jesus consigo Pedro, Tiago e João e levou-os a um monte alto e afastado. E transfigurou-se diante deles; seu rosto brilhou como o sol, as vestes se fizeram alvas como a neve. E eis que apareceram Moisés e Elias a falar com ele (Mt 17,1-3).

São estas as maravilhas da presente solenidade, é este o mistério de salvação para nós que agora se cumpriu no monte: ao mesmo tempo, congregam-nos agora a morte e a festa de Cristo. Para penetrarmos junto àqueles escolhidos dentre os discípulos, inspirados por Deus, na profundeza destes inefáveis e sagrados mistérios, escutemos a voz divina que do alto, do cume da montanha, nos chama instantemente. 
Para lá, cumpre nos apresarmos, ouso dizer, como Jesus, que agora nos céus é nosso chefe e precursor, com quem refulgiremos aos olhos espirituais – renovadas de certo modo as feições de nossa alma – conformados à sua imagem; e à semelhança dele, incessantemente transfigurados, feitos consortes da natureza divina e prontos para as alturas. 

Para lá corramos cheios de ardor e de alegria; entremos na nuvem misteriosa, semelhantes a Moisés e Elias ou Tiago e João. Sê tu também como Pedro, arrebatado pela divina visão e aparição, transfigurado por esta linda Transfiguração, erguido do mundo, separado da terra. 
Deixa a carne, abandona a criatura e converte-te para o Criador a quem Pedro, fora de si, diz: Senhor, é bom para nós estarmos aqui (Mt 17,4).
Sim, Pedro, verdadeiramente é bom para nós estarmos aqui com Jesus e aqui permanecermos pelos séculos. Que pode haver de mais delicioso,de mais profundo, de melhor do que estar com Deus, conformar-se a ele, encontrar-se na luz?

 De fato, cada um de nós, tendo Deus em si, transfigurado em sua imagem divina, exclame jubiloso: É bom para nós estarmos aqui, onde tudo é luminoso, onde está o gáudio, a felicidade e a alegria. Onde no coração tudo é tranquilo, sereno e suave. 

Onde se vê a Cristo, Deus. Onde ele junto com o Pai tem sua morada e ao entrar, diz: Hoje chegou a salvação para esta casa (Lc 19,9). Onde com Cristo estão os tesouros e se acumulam os bens eternos. Onde as primícias e figuras dos séculos futuros se desenham como em espelho.
Do Sermão no dia da Transfiguração do Senhor, de Anastásio Sinaíta, bispo (Nn.6-10: Mélanges d’archéologie ET d’histoire 67[1955],241-244 - Séc.VII)
“Na presença de testemunhas escolhidas,  Ele manifestou a sua glória  e na sua humanidade, em tudo semelhante à nossa,  fez resplandecer a luz da sua divindade  para tirar do coração dos discípulos o escândalo da cruz  e mostrar que devia realizar-se no corpo da Igreja  o que de modo admirável resplandecia na sua cabeça”.
O Mistério da Transfiguração (Pref.)

“Hoje, festa da Transfiguração do Senhor, celebramos o Santíssimo Salvador ou Senhor Bom Jesus, padroeiro de várias cidades e Dioceses do Brasil, e, especialmente, da nossa cidade e Diocese de Campos. "Feliz a nação cujo Deus é o Senhor”, reza o Salmo 32. Feliz, portanto, nossa cidade! Nosso padroeiro é o próprio Jesus Cristo, filho de Deus feito homem, enquanto considerado como nosso Redentor, aquele que pagou o nosso resgate, morrendo por nós na cruz, salvando-nos da eterna condenação.

  O grande dogma do “povo da primitiva aliança”, na introdução aos Mandamentos, começa com as palavras: “Ouve, Israel!
O SENHOR nosso Deus é o único SENHOR” (Dt 6,4). Obedecemos a Deus porque o reconhecemos como o Senhor. 

       O Papa São João Paulo II, na sua exortação apostólica “Ecclesia in Europa”, nos apontava Jesus Cristo como fundamento único e indefectível da verdadeira esperança, num mundo que, esquecido de sua herança cristã, mergulha no agnosticismo prático e no indiferentismo religioso, no nihilismo filosófico, no relativismo gnoseológico, moral e jurídico, no pragmatismo e hedonismo cínico na configuração da vida quotidiana, que constituem a apostasia silenciosa do homem saciado que vive como se Deus não existisse.
           O mesmo nos ensinava o Papa Bento XVI: “Não tenhais medo de Cristo! Ele não tira nada, ele dá tudo. Quem se doa por Ele, recebe o cêntuplo. Sim, abri de par em par as portas a Cristo e encontrareis a vida verdadeira. 

Quem faz entrar Cristo, nada perde, nada absolutamente nada daquilo que torna a vida livre, bela e grande. Só nesta amizade se abrem de par em par as portas da vida. Só nesta amizade se abrem realmente as grandes potencialidades da condição humana. Só nesta amizade experimentamos o que é belo e o que liberta” (24/4/2005).
        Esse é o nosso tesouro. “Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo!” (Papa Francisco, na chegada ao Rio,JMJ).
Que esta festa do Santíssimo Salvador sirva de reflexão de humildade e reconhecimento da soberania de Deus em nossas vidas, nossas leis, nossas instituições, na educação de nossos jovens e na convivência de nossas famílias.
Dom Fernando Arêas Rifan - Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney  - “UM SENHOR PADROEIRO!”  

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