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quarta-feira, setembro 03, 2014

EM 03.09.1914 O CARDEAL GIÁCOMO DELLA CHIESA É ELEITO PAPA E ESCOLHE O NOME DE BENTO XV

CEM ANOS ATRÁS, EM 1914, MILHÕES DE CRISTÃOS EUROPEUS SAUDARAM A CHEGADA DA GUERRA COM UM GRAU DE ACEITAÇÃO, OU MESMO DE REGOZIJO, QUE, OLHANDO-SE HOJE EM RETROSPECTIVA, PARECE MUITO DIFÍCIL DE ACREDITAR.

Sob o papado de Bento XV (1854-1922), o Vaticano se tornou um centro de eficaz ativismo cristão em prol da paz. Bento XV assumiu o pontificado em 3 de setembro de 1914, um momento de pesadelo na história europeia (a morte do seu predecessor, Pio X, tinha sido acelerada pelas tensões e pelos medos impulsionados pelo início da guerra). 

Enquanto a Primeira Guerra mundial começava a semear suas vítimas, os Cardeais se reuniram e elegeram, no dia 3 de setembro de 1914, o Cardeal Giácomo Della Chiesa, que tomou o nome de Bento XV. Era um homem de grande experiência nos setores da diplomacia internacional. Era o homem indicado para assumir o governo da Igreja num momento tão difícil como o do conflito mundial. Era de pequena estatura, mas piedoso e prudente como também dotado de grande capacidade de trabalho, de perseverança férrea e notável eloqüência. 
Quis ser coroado na simplicidade da Capela Sistina e não na grande nave da Basílica de São Pedro.  Disse que preferia a coroação mais modesta possível, para que, no luto da guerra fosse excluído todo o aspecto da festa.
Uma vez papa, Bento XV lançou um apelo a todos os governantes envolvidos no conflito para que procurassem solucionar as contendas por meios pacíficos e cessassem a guerra mas seus apelos foram em vão. Àquela altura,  nada mais podia deter a marcha dos acontecimentos. A guerra se ampliara e atingira nações distantes como o Japão, no Extremos Oriente, que entrou no conflito se apoderando das possessões alemãs do Pacífico. Em 23 de outubro daquele ano de 1914, o Sultão Mohamed V fez um acordo secreto com os alemães e o Império Otomano entrou no conflito ao lado da Alemanha e da Áustria-Hungria, iniciando o bombardeio dos portos russos do Mar Negro. Com isso, a guerra se alastrava também pelo Oriente.

Em Roma, o Papa Bento XV se prodigaliza em dar alívio aos que sofrem. Cria a Agência para a Procura dos Combatentes Dispersos e também a Organização para a Troca de Cartas entre os militares presos e suas famílias. O papa organiza também a distribuição e roupas aos países atingidos pela catástrofe, especialmente onde as batalhas são mais intensas como a Bélgica, a Polônia e a Sérvia. Em 1915  a Bulgária entrou na guerra ao lado da Alemanha, da Áustria Hungria e do Império Otomano contra as demais nações. Estas quatro nações passariam a se chamar, a partir de então, de Potências Centrais, enquanto as demais eram denominadas como "Aliados". Também a Itália entrou na guerra, em 1915, ao lado dos aliados. A guerra foi se tornando mundial à medida que, no mundo inteiro, as colônias dos países envolvidos começaram a participar.
Naquele ano de 1915, em meio aos horrores da guerra, uma tragédia à parte envolveu os cristãos da Armênia, dentro do Império Otomano: O governo turco de Constantinopla, com a aquiescência do Sultão Mohamed V, ordenou o massacre dos cristãos da Armênia. O horror que se abateu sobre a população cristã armênia foi indescritível. Homens, mulheres, velhos e crianças foram barbaramente massacrados pelo exército turco, numa matança onde pereceram cerca de um milhão de pessoas. Aldeias e cidades foram destruídas e muitos cristãos armênios foram obrigados a fugir. Estes alimentariam posteriormente um profundo ódio pelos turcos.
Em 1916 a luta parecia estar longe de uma solução. A guerra parecia um eterno empate. Mais nações haviam entrado no conflito contra as chamadas Potência Centrais. 
O Papa Bento XV lançou um apelo às nações que estavam fora do conflito que colaborassem com donativos, roupas e alimentos, através de suas paróquias e dioceses. Estes donativos seriam destinados, através da Cruz Vermelha, para as vítimas da guerra. Essas vítimas eram os órfãos, os desabrigados, os sem pátria e todos os demais desamparados por causa do conflito. A Igreja, sob Bento XV, teve um papel importante no auxílio aos desamparados pela tragédia. Através dela, nos países beligerantes era possível localizar este ou aquele desaparecido ou prisioneiro. Bento XV foi um herói no meio da guerra. Não havendo como impedi-la, lançou mão de todos os recursos para atenuar a sorte dos desvalidos e para isso a Igreja teve papel de suma importância.

Em 1917, em meio a guerra, a Comissão que trabalhava na codificação do Direito da Igreja, desde  1904, presidida  pelo Monsenhor Pedro Gasparri, encerrou seu trabalho e o Papa Bento XV promulgou o Código de Direito Canônico no qual se encerravam as leis da Igreja em geral. Também em Fátima, Portugal, a 13 de maio ocorre a aparição da Virgem Maria aos três pastorzinhos. Essas aparições se repetirão até outubro daquele ano quando então cessaram. No cenário da guerra mais nações entraram no conflito ao lado dos aliados, entre as quais o Brasil e também os Estados Unidos da América, cuja participação será decisiva para o desequilíbrio das operações bélicas.
Um outro acontecimento importante abalou o mundo naquele ano de 1917: a Revolução Russa, que se desenvolveu em duas etapas. No início daquele ano a Rússia estava em situação crítica, desgastada pelos 4 anos de guerra, com um frio de 40 graus negativos, sem gêneros, os trens atolados na neve, a derrota iminente e totalmente isolada dos aliados. O povo estava desalentado com a situação e via a chegada da morte certa, pela fome. Além disso um outro dado de arrepiar: a Rússia tinha perdido  nos quatro anos de guerra um total de três milhões e oitocentos mil homens entre mortos, feridos e prisioneiros. Em fevereiro e março aconteceu a Revolução Burguesa: O povo saiu as ruas amotinado, saqueando, as prisões foram arrombadas e o caos se instalou. O governo reagiu com violência mas aos poucos o exército imperial se desintegrava e aderia aos revoltosos. .
A Igreja condenou, posteriormente, o comunismo ateu. E mais tarde, após a Segunda Guerra mundial, quando o mundo se viu dividido em dois blocos (capitalistas e socialistas) a Igreja sofreu bastante nos países onde o comunismo se firmou.
Em 1918 o Papa Bento XV lançou um apelo ao mundo inteiro para que se rezasse e se comungasse na intenção do fim da guerra. Esta se arrastou ainda por  quase todo o ano. Novas armas haviam surgido no decorrer do conflito como os tanques, gases asfixiantes e o lança-chamas. As Potências Centrais ( Alemanha, Áustria-Hungria, Bulgária e o Império Otomano) lutavam juntas contra 32 nações. Contudo, a partir de setembro, o fim da guerra parecia estar próximo pois as potências centrais eram vencidas em todas as frentes. A Bulgária foi vencida e rendeu-se em setembro. Ingleses e franceses se voltaram sobre o Império Otomano e depois de conquistarem a Palestina e as possessões turcas no Oriente, o Sultão assinou a paz. Os Lugares Sagrados, com Jerusalém e toda a Terra Santa, há cerca de oitocentos anos (desde as cruzadas na Idade Média) nas mãos dos turcos, foram finalmente libertados pelos ingleses e franceses, após a conquista da Palestina.
Depois da derrota e rendição da Áustria-Hungria e da Alemanha, a guerra terminou em 11 de novembro de 1918. Foram quatro anos e meio de guerra que deixou a Europa arrasada, as nações falidas e mais de dez milhões de mortos.

Uma vez terminada a guerra os vencedores se reuniram na Conferência de Versalhes, na França para discutirem as condições do armistício. O Papa Bento XV pressente que estas negociações poderiam causar, futuramente, novas guerras se não fossem concluídas com justiça e por isso proclama que em toda cristandade se elevem preces para que a paz seja justa. Ao mesmo tempo, Bento XV pede aos bispos do mundo inteiro que angariem donativos e alimentos para as crianças esfomeadas da Europa Central destruída pela guerra. Também o coração do Pontífice se volta para lugares distantes onde outros povos sofrem de fome e vivem uma vida desordenada e convulsionada, pois a guerra modificou as fronteiras de muitas colônias fazendo-as passar para os vencedores e todas estas mudanças trouxeram tormentos para população local.
A atuação do Papa Bento XV durante o conflito, tentando amenizar o sofrimento de tantas almas através dos serviços da Igreja, rendeu-lhe uma homenagem no Oriente: Em Constantinopla, capital do Império Otomano, foi levantada uma estátua do Papa Bento XV com uma inscrição onde se lia o seguinte: "Ao grande Pontífice da tragédia mundial, benfeitor dos povos, sem distinção de nacionalidade ou de religião, em sinal de reconhecimento, o Oriente".
Depois da guerra, Bento XV viu o mapa da Europa ser modificado com o surgimento de novas nações. Procurou amparar o ex-Imperador Carlos I, da Áustria- Hungria, deposto do trono e exilado com toda a família, dando-lhe asilo em Roma e depois conseguindo um exílio na ilha da Madeira, em Portugal.
O Pontífice, preocupado com a evangelização dos povos nativos distantes, exorta os missionários a formar um clero indígena pois julga que os sacerdotes "pretos" ou "amarelos" conseguirão mais facilmente levar a Mensagem de Cristo a seus fiéis fazendo-os compreender que na Igreja não há diferença de raça ou de cor. Assim tem início a formação de sacerdotes e religiosos dos mais diferentes povos.
Bento XV ficará na memória dos homens como o intrépido Apóstolo da paz de Cristo durante a Primeira Guerra Mundial. Muito trabalhou em seu pontificado, que ocorreu num dos períodos mais turbulentos da história da humanidade, e muito mais teria feito. Todavia uma pneumonite o matou em 1922. Antes de expirar, o Papa Bento XV disse: "Se Deus quer que trabalhemos ainda, estejamos prontos mas se Ele diz: Chega! então que seja feita a Sua vontade!"

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