I ESTAÇÃO
Jesus condenado à morte
O dedo em riste que acusa
O dedo em riste que acusa
Do Evangelho
segundo São Lucas 23, 21-25
«De novo Pilatos
dirigiu-lhes a palavra, querendo libertar Jesus. Mas eles gritavam:
“Crucifica-O! Crucifica-O!” Pilatos disse-lhes pela terceira vez:
“Que mal fez Ele, então? Nada encontrei n’Ele que mereça a morte. Por isso, vou
libertá-Lo, depois de O castigar”. Mas eles insistiam em altos brados, pedindo
que fosse crucificado, e os seus clamores aumentavam de violência. Então,
Pilatos decidiu que se fizesse o que eles pediam. Libertou o que fora preso por
sedição e homicídio, e entregou-lhes Jesus para o que eles queriam».
II ESTAÇÃO
Jesus é
carregado com a Cruz
O madeiro pesado da crise
O madeiro pesado da crise
Da
primeira Carta de São Pedro 2, 24-25
«Subindo ao
madeiro, Jesus levou os nossos pecados no seu corpo, para que, mortos para o
pecado, vivamos para a justiça: pelas suas feridas, fostes curados. Na verdade,
éreis como ovelhas desgarradas, mas agora voltastes ao Pastor e Guarda das
vossas almas».
Aquele
madeiro da cruz pesa, porque nele Jesus leva os pecados de todos nós.
Cambaleia sob aquele peso, grande demais para um homem só (Jo 19, 17).
Nele
está também o peso de todas as injustiças que produziram a crise
econômica, com as suas graves consequências sociais: precariedade, desemprego,
demissões, dinheiro que governa em vez de servir, especulação financeira,
suicídios de empresários, corrupção e usura, juntamente com empresas que deixam
os países ».
III ESTAÇÃO
Jesus cai pela
primeira vez
A fragilidade que nos abre ao acolhimento
A fragilidade que nos abre ao acolhimento
Do
Livro do profeta Isaías 53, 4-5
«Ele tomou sobre
si as nossas doenças, carregou as nossas dores. Nós o reputávamos como um
leproso, ferido por Deus e humilhado. Mas foi ferido por causa dos nossos
crimes, esmagado por causa das nossas iniquidades. O castigo que nos salva caiu
sobre ele».
É um Jesus
frágil, humaníssimo, Aquele que contemplamos, maravilhados, nesta estação de
grande sofrimento. Precisamente esta sua queda, no pó, revela-nos ainda mais o
seu amor imenso.
É empurrado pela multidão, atordoado pelos gritos dos soldados, sofre a ardência das chagas da flagelação, cheio de amargura interior pela imensa ingratidão humana. E cai. Cai por terra. Mas nesta queda, cedendo ao peso e à fadiga, uma vez mais Jesus faz-Se Mestre de vida. Ensina-nos a aceitar as nossas fragilidades, a não desanimar com os nossos fracassos, a reconhecer com lealdade as nossas limitações: «Querer o bem – diz São Paulo – está ao meu alcance, mas realizá-lo, isso não» (Rm 7, 18)
IV ESTAÇÃO
Jesus encontra a
Mãe
As lágrimas solidárias
As lágrimas solidárias
Do Evangelho de
São Lucas e da Carta de São Paulo aos Romanos
«Simeão
abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: “Este menino está aqui para queda e
ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; uma espada
trespassará a tua alma» (Lc 2, 34-35). «Chorai com os que choram.
Preocupai-vos em andar de acordo uns com os outros» (Rm 12, 15-16).
Carregado de
emoção e de lágrimas pungentes é este encontro de Jesus com sua Mãe,
Maria. Exprime-se nele a força invencível do amor materno, que supera todo o
obstáculo e sabe abrir qualquer estrada. Mas ainda mais vivo é o olhar
solidário de Maria, que se solidariza e dá força ao Filho. Assim o nosso
coração enche-se de maravilha, ao contemplar a grandeza de Maria precisamente
no fato de, sendo Ela criatura, se fazer o «próximo» do seu Deus e Senhor.
V ESTAÇÃO
Simão de Cirene
ajuda Jesus a levar a Cruz
A mão amiga que levanta
A mão amiga que levanta
Do Evangelho
segundo São Marcos 15, 21
«Para Lhe levar
a cruz, requisitaram um homem que passava por ali ao regressar dos campos, um
tal Simão de Cirene, pai de Alexandre e de Rufo».
Simão de
Cirene passa por acaso. Mas torna-se um encontro decisivo na sua
vida. Voltava dos campos. Homem de fadiga e de vigor. Por isso, foi forçado a
levar a cruz de Jesus, condenado a uma morte infame (cf. Fil 2,
8).
Mas, aquele
encontro transformar-se-á, de casual, num decisivo e vital seguimento atrás de
Jesus, carregando dia a dia a sua cruz, renegando-se a si mesmo (cf. Mt 16,
24-25).
Com efeito, Simão é recordado por Marcos como o pai de dois cristãos conhecidos na comunidade de Roma: Alexandre e Rufo. Um pai que, de certeza, imprimiu no coração dos filhos a força da cruz de Jesus. É que a vida, se a guardas demasiado para ti, torna-se pesada e árida. Mas, se a ofereces, floresce tornando-se espiga de trigo para ti e para toda a comunidade.
VI ESTAÇÃO
A Verônica limpa
o rosto de Jesus
A ternura feminina
A ternura feminina
Do Livro dos
Salmos Sal 27, 8-9
«O meu coração
murmura por Ti, os meus olhos Te procuram; é a tua face que eu procuro, Senhor.
Não desvies de mim o teu rosto, nem afastes, com ira, o teu servo. Tu és o meu
amparo: não me rejeites nem abandones, ó Deus, meu Salvador».
Jesus lá se
vai arrastando com dificuldade, ofegante. Mas a luz no seu rosto permanece
intacta. Não há ofensa que possa sobrepor-se à sua beleza. Os escarros não a
obscureceram. As bofetadas não conseguiram apagá-la. Aquele rosto apresenta-se
como uma sarça ardente, que quanto mais é ultrajado tanto mais consegue
emanar uma luz de salvação. Caem lágrimas silenciosas dos olhos do Mestre.
Carrega o peso do abandono. E no entanto Jesus avança, não para, não volta para
trás. Enfrenta a opressão.
Perturba-O a crueldade, mas Ele sabe que o seu
morrer não será em vão.
Então, Jesus
para diante de uma mulher que vem ao seu encontro, sem qualquer hesitação. É a
Verônica, verdadeira imagem feminina da ternura.
Aqui o
Senhor encarna a nossa necessidade de amorosa gratuidade, de nos sentirmos
amados e protegidos por gestos de carinho e cuidado. As carícias desta criatura
ficam banhadas pelo sangue precioso de Jesus e parecem cancelar os atos de
profanação que Ele recebeu naquelas horas de tortura.
VII ESTAÇÃO
Jesus cai pela
segunda vez
A angústia da prisão e da tortura
A angústia da prisão e da tortura
Do Livro dos
Salmos Sal 117, 11.12-13.18
«Rodearam-me
(...). Cercaram-me como um enxame de vespas, a sua fúria crepitava como
fogo entre espinhos, mas eu aniquilei-os em nome do Senhor. Empurraram-me com
violência para eu cair, mas o Senhor veio em meu auxílio. (...) O Senhor
castigou-me com dureza, mas não me deixou morrer».
Em
Jesus cumprem-se verdadeiramente as antigas profecias do Servo humilde e
obediente, que toma sobre os seus ombros toda a nossa história de sofrimento. N’Ele
reconhecemos a amarga experiência dos encarcerados de cada prisão, com
todas as suas desumanas contradições. Rodeados e cercados, «empurrados
violentamente para cair». Hoje, a prisão continua a ser demasiado
distante, esquecida, repudiada pela sociedade civil. Existem a lentidão da
burocracia e da justiça. Dupla pena é ainda a superlotação: é um sofrimento
agravado, uma opressão injusta, que consome a carne e os ossos.
Hoje, à vista
desta queda, como sentimos verdadeiras as palavras de Jesus: «Estive na
prisão e fostes ter comigo» (Mt 25, 36). Em cada prisão, junto de
cada torturado, está sempre Ele, o Cristo sofredor, preso e torturado.
VIII ESTAÇÃO
Jesus encontra
as mulheres de Jerusalém
Partilha e não comiseração
Partilha e não comiseração
Do Evangelho segundo
São Lucas 23, 28
«Filhas de
Jerusalém, não choreis por Mim, chorai antes por vós mesmas e pelos vossos
filhos».
Como tochas
acesas, nos aparecem as figuras femininas ao longo da via dolorosa. Mulheres de
fidelidade e coragem, que não se deixam intimidar pelos guardas nem
escandalizar pelas chagas do Bom Mestre. Estão prontas a encontrá-Lo e a
consolá-Lo. Jesus está ali na frente delas. Há quem O espezinhe no momento em
que cai por terra exausto. Mas, as mulheres estão ali, prontas a oferecer-Lhe
aquele palpitar caloroso que o coração já não consegue conter. Primeiro,
olham-No de longe, mas depois aproximam-se d’Ele como faz todo o amigo, todo o
irmão ou irmã, quando se apercebe da dificuldade que vive a pessoa amada.
Jesus é sensível
às suas lágrimas amargas, mas exorta-as a não consumirem o coração vendo-O
assim maltratado, a não serem mais mulheres lacrimantes, mas crentes! Pede uma
dor compartilhada e não uma comiseração estéril e lacrimosa. Não mais
lamentações, mas vontade de renascer, olhar em frente, avançar com fé e
esperança para aquela aurora de luz que surgirá ainda mais deslumbrante sobre a
cabeça de quantos caminham rumo a Deus. Choremos sobre nós mesmos, se ainda não
acreditamos naquele Jesus que nos anunciou o Reino da salvação. Choremos pelos
nossos pecados não confessados.
IX ESTAÇÃO
Jesus cai pela
terceira vez
Vencer a má nostalgia
Vencer a má nostalgia
Da Carta de São
Paulo aos Romanos 8, 35.37
«Quem poderá
separar-nos do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a
perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? (…) Mas em tudo isso saímos
mais do que vencedores, graças Àquele que nos amou».
São Paulo enumera
as suas provações, mas sabe que, antes dele, passou por elas Jesus, que, no
caminho para o Gólgota, cai uma, duas, três vezes. Destroçado pelas
tribulações, a perseguição, a espada, oprimido pelo madeiro da cruz. Exausto!
Parece dizer, como nós em muitos momentos sombrios: Não aguento mais!
É o grito
dos perseguidos, dos moribundos, dos doentes terminais, dos oprimidos sob o
jugo.
Aquele Jesus que
cambaleia e cai, mas depois Se levanta, é a certeza duma esperança, que,
nutrida pela oração intensa, nasce precisamente dentro da provação e não depois
da provação nem sem a provação. Seremos mais do que vencedores, graças ao seu
amor.
X ESTAÇÃO
Jesus é
despojado das vestes
A unidade e a dignidade
A unidade e a dignidade
Do Evangelho de
São João 19, 23-24
«Os soldados,
depois de terem crucificado Jesus, pegaram na roupa d’Ele e fizeram quatro
partes, uma para cada soldado, excepto a túnica. A túnica, toda tecida de uma só
peça de alto a baixo, não tinha costuras. Então os soldados disseram uns aos
outros: “Não a rasguemos; tiremo-la à sorte, para ver a quem tocará”.
Assim se cumpriu a Escritura que diz: Repartiram entre eles as minhas
vestes e sobre a minha túnica lançaram sortes”. E foi isto o que fizeram os
soldados».
Nem sequer um
pedaço de pano deixaram a cobrir o corpo de Jesus. Desnudaram-No. Não
tinha manto nem túnica, não tinha veste alguma. Desnudaram-No como ato de
extrema humilhação. Só o cobria o sangue, que borbotava das suas inúmeras
feridas.
A
túnica fica intacta: símbolo da unidade da Igreja, uma unidade que se
deve reencontrar num caminho paciente, numa paz artesanal, construída cada dia,
num tecido composto com os fios de ouro da fraternidade, na reconciliação e no
perdão recíproco.
Em Jesus
inocente, desnudado e torturado, reconhecemos a dignidade violada de todos os
inocentes, especialmente dos humildes. Deus não impediu que o seu corpo, nu,
fosse exposto na cruz. Fê-lo para resgatar todo o abuso, injustamente coberto,
e demonstrar que Ele, Deus, está irrevogavelmente e sem meios termos da parte
das vítimas.
XI ESTAÇÃO
Jesus é pregado
na Cruz
No leito dos doentes
No leito dos doentes
Do Evangelho
segundo São Marcos 15, 24-28
«Depois,
crucificaram-No e repartiram entre si as suas vestes, tirando-as à sorte, para
ver o que cabia a cada um. Eram umas nove horas da manhã, quando
O crucificaram. Na inscrição com a condenação, lia-se: “O rei dos judeus”.
Com Ele crucificaram dois ladrões, um à sua direita e o outro à sua esquerda.
Deste modo, cumpriu-se a passagem da Escritura que diz: Foi contado entre os
malfeitores»
E
crucificaram-No! A punição dos infames, dos traidores, dos escravos rebeldes.
Esta é a condenação reservada a Jesus, Senhor nosso: cravos ásperos, dores
pungentes, a angústia da mãe, as vestes divididas como despojo entre os
soldados, as zombarias cruéis dos transeuntes: «Salvou os outros e não pode
salvar-Se a Si mesmo (...), desça da cruz e acreditaremos n’Ele» (Mt 27,
42).
E
crucificaram-No! Jesus não desce, não abandona a cruz. Permanece, profundamente
obediente à vontade do Pai. Ama e perdoa.
XII ESTAÇÃO
Jesus morre na
Cruz
O gemido das sete palavras
O gemido das sete palavras
Do Evangelho
segundo São João 19, 28-30
«Depois disso,
Jesus, sabendo que tudo se consumara, para se cumprir totalmente a Escritura,
disse: “Tenho sede!” Havia ali uma vasilha cheia de vinagre. Então, ensopando
no vinagre uma esponja fixada num ramo de hissopo, chegaram-Lha à boca. Quando
tomou o vinagre, Jesus disse: “Tudo está consumado”. E, inclinando a cabeça,
entregou o espírito».
Desde o meio-dia
até às três horas da tarde, as trevas envolveram toda a terra. Cerca das três
hora da tarde, Jesus clamou com voz forte: Eli, Eli, lemá sabacthani?,
isto é: Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?».
Jesus está na
cruz. Horas de angústia, horas terríveis, horas de dores físicas desumanas.
«Tenho sede»: diz Jesus. E levam-Lhe à boca uma esponja ensopada em vinagre.
XIII ESTAÇÃO
Jesus é descido
da Cruz
O amor é mais forte do que a morte
O amor é mais forte do que a morte
Do Evangelho
segundo João 19, 38
Depois disto,
José de Arimatéia, que era discípulo de Jesus, mas secretamente por medo das
autoridades judaicas, pediu a Pilatos que lhe deixasse levar o corpo de Jesus.
E Pilatos permitiu-lho. Veio, pois, e retirou o corpo.
Maria vê morrer
seu Filho, Filho de Deus e também d’Ela. Sabe que é inocente, mas carregou
sobre Si o peso das nossas misérias. A Mãe oferece o Filho, o Filho oferece a
Mãe. A João, a nós.
Jesus e Maria,
eis um família que, no Calvário, vive e sofre a separação suprema. A morte
divide-os, ou pelo menos parece dividi-los, uma mãe e um filho com um vínculo
simultaneamente humano e divino inconcebível. Por amor, o oferecem.
Abandonam-se ambos à Vontade de Deus.
Na voragem que
se abriu no coração de Maria, entra outro filho, que representa a humanidade
inteira. E o amor de Maria por cada um de nós é o prolongamento do amor que Ela
teve por Jesus. Sim, porque, nos discípulos, verá o rosto d’Ele. E viverá para
eles, para sustentá-los, ajudá-los, encorajá-los, levá-los a reconhecer o Amor
de Deus, para que, na sua liberdade, se voltem para o Pai.
XIV ESTAÇÃO
Jesus é
depositado no sepulcro
O jardim novo
O jardim novo
Do Evangelho
segundo São João 19, 41-42
«No sítio em que
Ele tinha sido crucificado havia um jardim e, no jardim, um túmulo novo,
onde ainda ninguém tinha sido sepultado. (…) Foi ali que puseram Jesus».
Aquele jardim no
qual se encontra o túmulo onde Jesus é sepultado, lembra outro jardim: o
do Éden. Um jardim que, por causa da desobediência, perdeu a sua beleza e
tornou-se uma desolação, lugar de morte e já não de vida.
Os ramos
selvagens que nos impedem de respirar a vontade de Deus, como o apego ao
dinheiro, à soberba, ao desperdício da vida, devem ser cortados e
enxertados agora no madeiro da Cruz. É este o novo jardim: a cruz plantada na
terra!
Na morte de
Cristo, ruíram todos os tronos do mal, fundados sobre a ganância e a dureza do
coração. A morte desarma-nos, faz-nos compreender que estamos sujeitos a uma
existência terrena que tem um termo. Mas é diante daquele corpo de Jesus,
depositado no sepulcro, que tomamos consciência de quem somos: criaturas que,
para não morrer, precisam do seu Criador.
O silêncio que
envolve aquele jardim permite-nos ouvir o sussurro de uma brisa suave: «Eu sou
o Vivente, e estou convosco» (Ex 3, 14).
O
VÉU DO TEMPLO RASGOU-SE. FINALMENTE VEMOS O ROSTO DE NOSSO SENHOR. E CONHECEMOS
EM PLENITUDE O SEU NOME: MISERICÓRDIA E FIDELIDADE, PARA NUNCA MAIS FICARMOS
CONFUNDIDOS, NEM MESMO DIANTE DA MORTE, PORQUE O FILHO DE DEUS CAMINHA
LIVRE NO MEIO DOS MORTOS (cf. Sal 88, 6 Vulg.).
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