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sábado, abril 04, 2015

PAIXÃO PSICOLÓGICA - SEXTA-FEIRA SANTA 2015


LEITURA DO LIVRO DO PROFETA ISAÍAS
Ei-lo, o meu Servo será bem-sucedido; sua ascensão será ao mais alto grau. Assim como muitos ficaram pasmados ao vê-lo — tão desfigurado ele estava que não parecia ser um homem ou ter aspecto humano —, do mesmo modo ele espalhará sua fama entre os povos. Diante dele os reis se manterão em silêncio, vendo algo que nunca lhes foi narrado e conhecendo coisas que jamais ouviram. Quem de nós deu crédito ao que ouvimos? 
E a quem foi dado reconhecer a força do Senhor? Diante do Senhor ele cresceu como renovo de planta ou como raiz em terra seca. Não tinha beleza nem atrativo para o olharmos, não tinha aparência que nos agradasse. Era desprezado como o último dos mortais, homem coberto de dores, cheio de sofrimentos; passando por ele, tapávamos o rosto; tão desprezível era, não fazíamos caso dele. 
 A verdade é que ele tomava sobre si nossas enfermidades e sofria, ele mesmo, nossas dores; e nós pensávamos fosse um chagado, golpeado por Deus e humilhado! Mas ele foi ferido por causa de nossos pecados, esmagado por causa de nossos crimes; a punição a ele imposta era o preço da nossa paz, e suas feridas, o preço da nossa cura. Todos nós vagávamos como ovelhas desgarradas, cada qual seguindo seu caminho; e o Senhor fez recair sobre ele o pecado de todos nós. 
 Foi maltratado, e submeteu-se, não abriu a boca; como cordeiro levado ao matadouro ou como ovelha diante dos que a tosquiam, ele não abriu a boca.  Foi atormentado pela angústia e foi condenado. Quem se preocuparia com sua história de origem? 
Ele foi eliminado do mundo dos vivos; e por causa do pecado do meu povo, foi golpeado até morrer. Deram- -lhe sepultura entre ímpios, um túmulo entre os ricos, porque ele não praticou o mal, nem se encontrou falsidade em suas palavras. O Senhor quis macerá-lo com sofrimentos. Oferecendo sua vida em expiação, ele terá descendência duradoura, e fará cumprir com êxito a vontade do Senhor. Por esta vida de sofrimento, alcançará luz e uma ciência perfeita. 
 Meu Servo, o Justo, fará justos inúmeros homens, carregando sobre si suas culpas. Por isso, compartilharei com ele multidões e ele repartirá suas riquezas com os valentes seguidores, pois entregou o corpo à morte, sendo contado como um malfeitor; ele, na verdade, resgatava o pecado de todos e intercedia em favor dos pecadores. (Is 52,13-53,12)
Homilia de Padre Marcos Belizário Ferreira
Celebramos, hoje, a segunda celebração do Tríduo Pascal, denominada celebração da Paixão do Senhor. Ontem, em nossa reflexão, dizíamos que Jesus sofreu a Paixão moral, com uma forte pressão psicológica e social, própria de quem reconhece que terá poucas horas de vida. Foi neste contexto que Jesus instituiu a Eucaristia. 
Depois de cantar os sete salmos que concluem a celebração pascal judaica, Jesus caminhou aproximadamente 1,5km, na direção do Jardim das Oliveiras e ali, no sopé daquela pequena colina, foi ao local onde costuma ir, chamado Getsemani. Iniciava-se para Jesus a sua Paixão psicológica e espiritual. O sofrimento interior tornava-se tão intenso, que Jesus suava sangue. Levara consigo três Apóstolos, mas eles dormiram. 
A primeira parte da Paixão, Jesus sofreu sozinho. Voltava para conversar com seus amigos, 
mas estes dormiram. 
 Interessante perceber que à medida que o sofrimento fazia estragos no seu coração, Jesus se aprofundava na oração silenciosa, até que esta produziu nele uma paz enorme. Quando volta aos discípulos estava sereno e decidido. Acordou-os e disse-lhes: “vamos!”.
  Depois do tormento da sua Paixão psicológica, Jesus começou a enfrentar o tormento da Paixão moral. Do Getsemani, onde foi preso, Jesus foi conduzido até a casa de Caifás, quase 1,5km. De lá, como ouvimos no relado do Evangelho, foi enviado a Pilatos, depois a Herodes e voltou a Caifás. Dizem os estudiosos que Jesus deve ter percorrido mais ou menos 7km em toda essa peregrinação. 
Mas, o andar não era problema para Jesus porque, como sabemos, Jesus era um andarilho e fazia todos os percursos a pé. 
O tormento da Paixão foi ter que ouvir um julgamento mentiroso e falso, a ponto de ser injustamente condenado como blasfemo, alguém que ofende publicamente a Deus. A mentira em nossos julgamentos promove tormentos no coração de quem é julgado. 
O alívio do tormento, no coração de quem sofreu um julgamento mentiroso, não está na força da violência, mas no silêncio que fortalece a confiança em Deus.
 A Paixão moral de Jesus, de ser julgado injustamente, continua presente na vida de tantos irmãos e irmãs. Tenhamos cuidado para não nos tornar juízes injustos, fazendo julgamentos de irmãos e irmãs.

 Não bastasse a Paixão psicológica e a Paixão moral, Jesus depois do julgamento, enquanto aguardava a sentença, foi torturado pelos soldados, com socos, chicotadas, pontas-pés e escarros. 
Foi sua Paixão corporal; a Paixão que Jesus sofreu no seu próprio corpo. Isaias, na 1ª leitura, descreve o resultado desta Paixão corporal quando diz que sequer parecia uma pessoa humana. 
É um retrato da Paixão que ainda vemos em tantos homens e mulheres que são violentados pela agressividade física. A Paixão corporal de Jesus continua em casas com pais e filhos violentos, com esposos que se agridem. Uma Paixão que continua na agressão de bandos, de bandidos, de pessoas que cultivam a maldade e torturam a ponto de matar. Jesus, infelizmente, continua sofrendo e sendo torturado em nossas casas, em nossas escolas, em nossas ruas... em nossa sociedade. 
Nem sempre é possível imitar Jesus e calar diante da agressividade física, mas sempre será possível para um cristão, não revidar com a violência.
Por fim, na Cruz, Jesus sofreu sua última Paixão: aquela da solidão na morte. É a Paixão de quem morre sozinho, desprezado e abandonado por todos. 
Uma Paixão tamanha, um sofrimento tão grande, que a um determinado ponto, Jesus grita para Deus e pergunta se ele também tinha o abandonado. 
De quando em vez, ouvimos notícias de gente encontrada morta em estradas ou, daqueles migrantes que sofreram o naufrágio e morreram no mar. A morte é uma experiência totalmente pessoal; cada um de nós passará sozinho pela morte. 
Mesmo assim, esperamos ter alguém perto de nós, que segure nossa mão, que nos ajude a dar o último suspiro de nossa vida. Jesus foi impedido disso, e morreu sozinho. 
Sua Paixão mortal continua em tantos inocentes de balas perdidas, de guerras malucas, de fanatismos enlouquecidos, de brincadeiras que expõem a vida e, hoje, de tantos cristãos perseguidos e mortos por fanáticos religiosos. 
Nós, cristãos, jamais compactuamos com a morte e com aquilo que a promove. Por isso, nos aproximamos da Cruz de Jesus porque Deus a transformou em fonte de vida e, diante dessa Cruz, nos colocamos de joelhos para adorar o Senhor, que sofreu e padeceu sua Paixão por amor a nós e pela nossa Salvação. 
Por isso, como cristãos, protestamos contra todo tipo de tortura que machuca e agride a vida humana, pois somos conhecedores de que a Paixão de Jesus é para que vivamos e tenhamos a vida em plenitude. Amém!

Deus eterno e todo-poderoso, dai aos que não creem no Cristo e caminham sob o vosso olhar com sinceridade de coração, chegar ao conhecimento da verdade. E fazei que sejamos no mundo testemunhas mais fiéis da vossa caridade, amando-nos melhor uns aos outros e participando com maior solicitude do mistério da vossa vida. Por Cristo, nosso Senhor.

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