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sábado, agosto 22, 2015

RAINHA DO CÉU E DA TERRA - 22/08


São antiqüíssimas e sempre rezadas e cantadas pelo povo cristão as antífonas marianas que invocam Maria como Rainha do céu e da terra, dos anjos e das criaturas. 

Durante o tempo pascal, a mais conhecida antífona que celebra a ressurreição de Jesus começa com estas palavras: “Rainha do céu, alegrai-vos, porque o Senhor ressuscitou como disse!”. 

Uma das orações aprendidas em criança ao lado da Ave-Maria, é a “Salve Rainha, Mãe de misericórdia”, que a Liturgia das Horas canta na Oração da Noite e a piedade popular com ela encerra a oração do Rosário.
Uma terceira antífona, também cantada na Oração da Noite, começa com estes versos: 
“Ave, Rainha do céu! Ave, dos anjos Senhora!”
Ave, raiz, ave, porta; da luz do mundo és aurora.
Exulta, ó Virgem gloriosa, as outras seguem-te após; nós te saudamos: adeus!
E pede a Cristo por nós!

 Quantas vezes invocamos Maria como Rainha na Ladainha: Rainha dos Patriarcas e dos Profetas, Rainha dos Confessores, das Virgens e dos Mártires, Rainha dos Anjos e dos Santos!

Também as liturgias bizantina, copta, armena e outras do Oriente celebram festivamente a realeza de Maria. Lemos, por exemplo, no longo hino “Akátistos”: “Vou elevar um hino à Rainha e Mãe, de quem, ao celebrar, me aproximarei com alegria, para cantar com exultação as suas glórias… Ó Senhora, a nossa língua não te pode louvar dignamente, porque tu, que deste à luz a Cristo nosso Rei, foste exaltada acima dos Serafins… Salve, Rainha do mundo, salve, Maria, Senhora de todos nós!”.

Desde os primeiros séculos, a poesia cristã e a liturgia cantaram a dignidade régia da Mãe de Deus. Como a luz do dia vem do sol, a realeza de Maria vem de sua maternidade divina. Já na Anunciação o Arcanjo falava do reinado sem fim do menino que lhe nasceria por obra e graça do Espírito Santo (Lc 1,33). 

Para a piedade popular, há uma lógica: rei o filho, rainha a mãe. Por que não haveria de ser rainha aquela que o próprio Deus escolhera para ser a mãe do “Rei dos reis e senhor dos senhores” (Ap 19,16) e que, por isso mesmo, a preservara imaculada desde a conceição, a fizera “cheia de graça” (Lc 1,28) e a mantivera virgem durante e depois do parto?

Com a proclamação do dogma da Assunção corporal de Maria ao céu, o título de Rainha e Senhora do universo, vem espontâneo aos teólogos, aos pregadores e aos papas. Para encerrar o Ano Santo de 1954, decretado pelo Papa Pio XII para celebrar o primeiro centenário do dogma da Imaculada Conceição, o Santo Padre escreveu a encíclica “Ad caeli Reginam” sobre a realeza de Maria e instituiu para toda a Igreja a festa de Nossa Senhora Rainha. 

Mais tarde, o Papa Paulo VI escreveria na excepcional Exortação Apostólica sobre o Culto à Virgem Maria: “A solenidade da Assunção tem um prolongamento festivo na celebração da Realeza da bem-aventurada Virgem Maria, que ocorre oito dias mais tarde, e na qual se contempla aquela que, sentada ao lado do Rei dos Séculos, resplandece como Rainha e intercede como Mãe” (n.6).
Na encíclica, o Papa Pio XII cita, logo no início, ao menos doze Santos Padres que se referem à soberania da Mãe de Deus sobre toda a criação, com diferentes expressões, mas todas querendo dizer a plenitude de glória e poder de Maria: Senhora, Senhora de todos os que habitam os céus e a terra, Senhora de todas as criaturas, Senhora coroada com um diadema de ouro, Rainha, Rainha do gênero humano, Rainha eterna junto ao Filho do Rei, Rainha do mundo, Rainha do universo, mais eminente que todos os reis.

Em seguida, o Santo Padre passa os olhos nas expressões usadas por seus antecessores, começando pelo Papa Martinho I (+654), que chamou Maria de “gloriosa Senhora nossa, sempre Virgem”. Numa de suas bulas, o Papa Xisto IV chamou Maria de “Rainha sempre vigilante, a interceder junto do Rei, que ela gerou”. Lembra ainda o Papa Bento XIV, que afirmou que o Sumo Rei confiou a Maria, em certo modo, seu próprio império. Depois, o Papa lembra alguns Santos, conhecidos por sua teologia mariana. Cito apenas Santo Afonso de Ligório (1787), que escreveu no clássico livro sobre as Glórias de Maria: “Porque a Virgem Maria foi elevada até ser a Mãe do Rei dos Reis, com justa razão a distingue a Igreja com o título de Rainha”.

Escreveu Pio XII na mesma encíclica de 1954 que Maria é Rainha não só por ser a Mãe de Deus, mas também por ter sido associada, pela vontade de Deus, a Jesus Cristo na obra da salvação. Isenta de qualquer culpa pessoal ou hereditária, e sempre estreitissimamente unida ao Filho, ela o ofereceu no Calvário ao Eterno Pai, sacrificando seu amor de mãe em benefício de toda a humanidade manchada pelo pecado. Por isso, assim como Jesus é Rei não só por ser o Filho de Deus, mas também por ser o nosso Redentor, assim pode-se afirmar que Maria é Rainha não só por ser a Mãe de Deus, mas também porque associou-se a Cristo na redenção do gênero humano. “Maria participa da dignidade real – ensina Pio XII – porque desta união com Cristo Rei deriva para ela tão esplendente sublimidade, que supera a excelência de todas as coisas criadas. 

Desta mesma união com Cristo nasce aquele poder real, pelo qual ela pode dispor dos tesouros do Reino do Redentor divino”. O Reino de Maria é vasto como o de seu Filho, porque nada se exclui de seu domínio.
Pio XII cita ainda uma belíssima passagem da bula “Ineffabilis Deus” da proclamação do dogma da Imaculada Conceição por Pio IX: “Deus fez a maravilha de a enriquecer, acima de todos os anjos e santos, de tal abundância de todas as graças celestiais hauridas dos tesouros da divindade, que ela – imune de toda a mancha do pecado e toda bela – apresenta tal plenitude de inocência e santidade, que não se pode conceber maior abaixo de Deus, nem ninguém a pode compreender plenamente senão Deus”.
Ao instituir a festa da realeza de Maria, Pio XII, em boa hora, chamou a atenção para um possível mal-entendido, que poderia também acontecer com o Reinado de Cristo. A realeza de Maria não deve ser considerada em analogia com as realidades da vida política moderna. É verdade que não se podem representar as coisas do céu senão através das palavras e expressões da linguagem humana. Mas isso não significa que, para honrar Maria, se deva aderir a uma determinada forma de governo ou a uma particular estrutura política. 

Conclui o Papa: “Longe de ser fundado sobre as exigências dos seus direitos e a vontade de altivo domínio, o reino de Maria conhece uma só aspiração: o dom completo de si na sua mais alta e total generosidade”.
A festa da realeza de Maria a princípio foi celebrada no dia 31 de maio, como conclusão do mês em muitos países dedicado a Maria, com suas belíssimas noites marianas e ladainhas cantadas. Introduziu-se o costume da coroação de Maria, carregado de muita ternura, porque eram quase sempre crianças que coroavam a Mãe do Céu. A introdução da Missa vespertina diminuiu o interesse pelas “novenas”. A reforma litúrgica introduzida pelo Concílio Vaticano II preferiu celebrar no dia 31 de maio o mistério da Visitação e passou a festa de Nossa Senhora Rainha para o dia 22 de agosto, dentro da oitava da solenidade da Assunção de Maria ao Céu.

No dia 22 de agosto lemos na Liturgia das Horas, um trecho de uma "Homilia de Santo Amadeu", do século XII. O texto escolhido termina assim: “Ao ser levada aos céus a Virgem das virgens por Deus e seu Filho, o Rei dos reis, no meio da exultação dos anjos, da alegria dos arcanjos e das aclamações de todo o céu, cumpriu-se a profecia do Salmista que diz ao Senhor: Está à tua direita a rainha recoberta de vestes de ouro” (Sl 45,10.15).
Na encíclica “Sobre a bem-aventurada Virgem Maria na vida da Igreja que está a caminho” (1987), o Papa João Paulo lembra que em Maria realizou-se plenamente a verdade que ‘servir ao Rei é reinar’. Maria, serva do Senhor, tem parte no Reinado do Filho. “A glória de servir não cessa de ser a sua exaltação real: elevada ao céu, não suspende aquele serviço salvífico em que se exprime sua mediação materna” (n. 41).
 De sorte que ser Rainha do céu e da terra não é apenas a posição mais alta conquistada por uma criatura humana. Mas é também para a humanidade a garantia de uma intercessora generosa, de uma medianeira das graças divinas, de uma advogada segura, de uma dispensadora dos tesouros divinos. A realeza de Maria é essencialmente materna, exclusivamente benéfica.

Volto ao Papa Pio XII e escolho dois trechos da oração que ele escreveu ao anunciar a festa litúrgica de Nossa Senhora Rainha: “Queremos exaltar a vossa realeza com legítimo orgulho de filhos e reconhecê-la como devida à suma excelência de todo o vosso ser, ó suavíssima e verdadeira Mãe daquele que é Rei por direito próprio, por herança, por conquista. Reinai, ó Mãe e Senhora, mostrando-nos o caminho da santidade, dirigindo-nos e assistindo-nos para que dele nunca nos afastemos. Reinai sobre as inteligências, para que não procurem senão a verdade; sobre as vontades para que sigam somente o bem; sobre os corações para que amem unicamente o que vós mesma amais”.

Nossa Senhora Rainha
rogai por nós que recorremos a vós!

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