A PALAVRA DE DEUS TEM UMA FORÇA IRRESISTÍVEL. ELA É A MAIS PODEROSA ARMA QUE EXISTE; ARMA DE CONQUISTA, ARMA DE TRANSFORMAÇÃO MUITO MAIS
PODEROSA DO QUE A BOMBA ATÔMICA! UM ORADOR SACRO BEM PREPARADO, QUE
TRANSMITA A PALAVRA REVELADA, TEM NAS MÃOS UM VERDADEIRO TESOURO DE
INFLUÊNCIA E DE POSSIBILIDADES PARA FAZER O BEM".
Há mais de 1.600 anos sua voz ressoa em todo o orbe, dando testemunho da
perenidade dos altos ensinamentos legados por ele à humanidade.
NÃO SE PODIA CONHECÊ-LO SEM AMÁ-LO
Nasceu por volta
do ano 349 na Antioquia, então a segunda cidade do Império Romano do Oriente;
nela conviviam pagãos, maniqueus, gnósticos, arianos, apolinários, judeus e
cristãos. Seu pai, Secundus, comandante das tropas imperiais no Oriente,
faleceu logo após o nascimento do filho e foi sua mãe, Anthusa, viúva aos vinte
anos de idade, que ficou com o encargo de educar o recém-nascido.
Cedo o menino
mostrou grande inteligência e foi encaminhado a dois famosos professores,
um dos quais Libânio, considerado o maior orador de seu século. Recebeu
educação religiosa do Bispo São Melécio que, pelo seu caráter sério,
brando e atraente, cativou o discípulo a ponto de fazê-lo desistir dos estudos
clássicos e dedicar sua vida à busca da perfeição espiritual. Deste Santo Bispo
recebeu Crisóstomo o Batismo e o leitorado, aos 20 anos de idade.
Após quatro
formativos anos de convívio com São Melécio, retirou-se a um lugar deserto, onde
viveu como anacoreta sob a direção de Diodoro, mais tarde Bispo de Tarso.
Ali escreveu várias obras de cunho literário e espiritual. Com a saúde
enfraquecida por vigílias e jejuns, viu-se forçado em 381 a retornar a
Antioquia, onde reassumiu a função de leitor junto a seu zeloso mestre,
que conferiu-lhe a ordenação diaconal. Vivia ainda o jovem João os albores
de sua vida espiritual, encontrando grande conforto e apoio na amizade
do companheiro de estudos, São Basílio de Cesareia.
FÉRTIL ATIVIDADE
PASTORAL COMO PREGADOR
Nesse mesmo ano
de 381, falecia São Melécio.
O novo Bispo de Antioquia, Flaviano, viu-se desde
logo ligado a Crisóstomo por laços de santa amizade.
Ordenou-o sacerdote
em 386 e o nomeou seu pregador.
No período de 12
anos em que exerceu essa função, difundiu-se sua fama de orador sacro.
Seus ardorosos sermões, sempre ouvidos com avidez e frequentemente
interrompidos por calorosos aplausos, versavam sobre as Sagradas
Escrituras. Entretanto, ele não visava obter aplausos: servia-se do
púlpito para levar as almas a Deus e Deus às almas.
Valendo-se de
sua extraordinária facilidade de expressão, da profundidade de pensamento, da
maneira nobre e brilhante de apresentá- lo, Crisóstomo formava com sólidos
princípios seu rebanho. Sem nenhuma preocupação mundana, opunha-se
fortemente às interpretações excêntricas, místicas e alegóricas da chamada
Escola de Alexandria, então em voga.
Nesse período de
atividade pastoral como pregador, desenvolveu sua mais intensa produção
teológica literária. A julgar apenas por esses anos, de 386 a 398, São
João Crisóstomo já poderia ser considerado digno de figurar entre os
primeiros doutores da Igreja. Entretanto, honras maiores lhe estavam
reservadas e, para alcançá-las, deveria ele aceitar a Cruz do Divino
Redentor sobre seus ombros.
REFORMANDO O
CLERO DE CONSTANTINOPLA
Mergulhada nos
abundantes prazeres que a prosperidade econômica lhe proporcionava,
Constantinopla abrigava a faustosa Corte dos imperadores romanos do Oriente.
Como em todos os tempos, muitas vezes, onde há riquezas, luxo e ostentação
rareiam as virtudes cristãs. Tendo falecido o Arcebispo Nectário, quis o
imperador Arcádio elevar a essa dignidade o santo pregador. Assim, em 28
de fevereiro de 397 ele recebeu de Teófilo, Patriarca de Alexandria, a
ordenação episcopal e tomou posse da Sé constantinopolitana.
O presbítero
João viu-se inesperadamente na arrogante metrópole, colocado à cabeça do
Episcopado bizantino, num ambiente em que predominavam as aparências e o
poder, com frequência conquistado à base de maquinações secretas. Segundo
Paládio da Galácia, um de seus mais importantes biógrafos, São João deu início
ao seu governo varrendo a escada de cima, ou seja, "começou por
derrubar o edifício da falsidade a fim de alcançar os alicerces da
verdade". E deparou-se com o próprio Patriarca Teófilo que, ao observá-lo
tão íntegro e franco em suas homilias, tomou-se de antipatia por ele.
Registra Paládio
no Dialogus que Teófilo "tão hábil em discernir os pensamentos e as
intenciones ocultas", ao não encontrar em Crisóstomo algo que combinasse com seu próprio modo de ser relativista e laxo, promoveu toda espécie de
hostilidade contra o novo Arcebispo, pois "preferia ele dominar os de
caráter fraco a ouvir os sábios e prudentes".
No entanto, São
João, fiel à sua consciência, começou a moralizar os costumes do clero, desde
os relativos à prática da castidade até os concernentes à posse e uso de
bens materiais. Muitos dentre os numerosos monges da diocese preferiam passar
mais tempo fora que dentro de seus mosteiros. Crisóstomo convenceu-os a
retornarem ao recolhimento.
BONDOSO COM OS
RICOS E COM OS NECESSITADOS
Como fizera em
Antioquia, pregou contra os costumes mundanos e a ridícula extravagância
das modas, sobretudo às viúvas, às quais recomendou vivamente que vivessem de
acordo com as leis do decoro impostas por sua peculiar situação. Essas
advertências provocaram ressentimentos em algumas damas da Corte, que se
queixaram à Imperatriz.
O povo,
entretanto, ouvia enlevado as palavras nobres, belas e, ao mesmo tempo,
severas do "Boca de Ouro". Tanto mais quanto viam em sua conduta
pessoal a prática exemplar daquilo que pregava. Preocupado com os mais
necessitados, construiu vários hospitais para os pobres e estrangeiros;
suas esmolas eram tão abundantes que foi chamado de João, o esmoler.
Com os
pecadores, hereges e pagãos era bondoso a ponto de alguns, com falso zelo
pela Religião, o censurarem; ele, porém, agindo com paternal doçura
exortava todos à penitência e conversão: "Se cairdes mil vezes no
pecado, vinde a mim, e sereis curados". No entanto, quando se
tratava de manter a disciplina, era firme e pertinaz, evitando sempre
a rudeza nas palavras. Organizou as viúvas e as virgens consagradas
para viverem em comunidade, sob a direção de Santa Olímpia jovem
viúva que empregou sua enorme fortuna e sua vida ao serviço de Deus e
do próximo.
Nosso Santo
tinha outros grandes amigos entre os ricos. Brison, oficial de justiça a
serviço da Imperatriz Eudóxia, o auxiliava nas instruções aos fiéis e sempre
lhe manifestou verdadeira amizade. A própria imperatriz dava-lhe muitos sinais
de admiração e até de devotamento: frequentava seus sermões, seguia as
procissões, oferecia peças ornamentais para o culto e fazia outras
demonstrações de consideração. Do imperador, conseguiu a promulgação de leis
favoráveis à cristianização de todo o Império.
ATRITOS COM A
CORTE IMPERIAL
Para destruir a
influência desse homem de Deus, o demônio valeu-se astuciosamente de pequenos
incidentes nos quais transparecem a inveja, o egoísmo e a intriga
organizada. Serviu-se primeiro de Eutrópio, ajudante de câmara do imperador.
Esse homem, que no início admirava de coração o santo Bispo, cometia
enormes abusos de poder, perseguindo todos quantos pareciam ameaçar-lhe a
posição. São João tentou várias vezes dissuadi-lo dessa má conduta, mas
sem resultado. Quando, afinal, Eutrópio caiu em desgraça, procurou
refúgio na catedral, para escapar de seus numerosos inimigos. São
João intercedeu por ele mais uma vez, o que não agradou à Corte.
Pouco depois a
Imperatriz Eudóxia, cuja influência sobre o Imperador Arcádio aumentara
muito após a queda de Eutrópio, cometeu grave injustiça contra uma viúva e
Crisóstomo tomou o partido da mais fraca, o que deixou a soberana
ofendida. Somou-se a isso o atrito com o ariano Gainas, comandante dos
mercenários godos do exército imperial, que requisitou uma igreja em
Constantinopla para alojar seus soldados. Crisóstomo opôs-se energicamente
a essa insolente pretensão.
Estabeleceu-se
assim entre a Corte Imperial e o Palácio Episcopal uma atitude de
distanciamento que prenunciava uma catástrofe. Situação grave para São
João Crisóstomo, sobretudo porque a claque dos cortesãos sentia-se reforçada
pelo advento de novos aliados, dentre os quais alguns eclesiásticos: Severiano,
Bispo de Gabala, que se jactava de rivalizar com o Crisóstomo em eloquência;
Antíoco, Bispo de Ptolemaida; e, por algum tempo, Acácio, Bispo de Beroea.
Todos eles preferiam a vida cheia de atrativos da Corte à simplicidade de suas
dioceses.
No entanto, a
fama de santidade, o fervor apostólico, a prudência e sabedoria do varão
de Deus granjearam-lhe a confiança das regiões vizinhas. E ele foi convidado
por vários Bispos a presidir um sínodo regional em Éfeso, com o objetivo de
indicar um novo Arcebispo e depor alguns Bispos acusados de simonia.
SÍNODO DO
CARVALHO E PRIMEIRO EXÍLIO
Em sua ausência,
ficou à frente da Igreja de Constantinopla seu rival, Severiano, a quem o
próprio Crisóstomo confiara algumas funções eclesiásticas, na tentativa de
conquistar-lhe a amizade. Mas, sempre prepotente e ambicioso, o Bispo de Gabala
entrou em conflito com o ecônomo da catedral.
A situação se
complicou quando Teófilo, Arcebispo de Alexandria, foi chamado à capital
pelo imperador para defender-se de certas acusações perante um sínodo - mais
tarde conhecido como "Sínodo do Carvalho", em referência ao
subúrbio da Calcedônia no qual foi realizado -, o qual Crisóstomo
presidiria. Teófilo compareceu acompanhado de 29 Bispos, seus sufragâneos e
mais outros sete. Iniciada a assembleia, apresentou uma longa lista de
infundadas acusações contra São João, o qual, repentinamente passava de juiz a
réu. Obviamente, o Santo recusou-se a reconhecer a legalidade dessa manobra e
deixou de comparecer às reuniões. À vista de sua ausência após três
convocações, foi declarado deposto da sé episcopal e condenado ao exílio.
Como era de se
esperar, o povo revoltou-se e exigiu sua volta. Temendo supersticiosamente
uma punição divina, a Imperatriz Eudóxia, que nos bastidores manobrava os
acontecimentos, ordenou que o reempossassem. Ele retornou e Teófilo viu-se
constrangido a fugir de Constantinopla. Mas a derrota de Eudóxia teve como
resultado aumentar mais ainda seu profundo rancor.
A "BOCA DE
OURO" CALOU-SE PARA OS OUVIDOS HUMANOS
Decorridos
apenas dois meses, novo incidente veio agravar a situação. Em frente à
Igreja de Santa Sofia, havia sido erigida uma estátua de prata da imperatriz.
Os jogos públicos promovidos nos festejos de inauguração prejudicaram as
funções litúrgicas e arrastaram o povo a desordens e a extravagantes
manifestações de superstição.
Com o zelo e a
coragem que o caracterizavam, o Arcebispo elevou do púlpito a voz contra
tais abusos, perpetrados sob a direção do Inspetor dos Jogos, um maniqueu.
Mas a imperatriz, num acesso de vaidade, tomou isso como um ultraje à sua
pessoa. Enfurecida, convocou novamente os inimigos de São João Crisóstomo
para destituí-lo. Baseados em certos cânones de um sínodo ariano
realizado em 341, os Bispos partidários da imperatriz obtiveram do
imperador um decreto de banimento de São João Crisóstomo. Assim, no ano
404 ele foi conduzido para seu segundo exílio.
Inicialmente as
tropas o levaram para um lugar isolado e rude, na fronteira oriental da
Armênia, onde, porém, ele conseguia manter correspondência com discípulos e
amigos. Dali escreveu ao Papa Inocêncio I que, indignado pelo procedimento
traiçoeiro daqueles maus Bispos, destituiu vários deles e dirigiu confortantes
palavras de apoio ao injustiçado.
Receando um
possível retorno do incômodo varão de Deus, decidiram seus inimigos
transferi-lo, em 407, para Pithyus, lugar situado nos extremos limites do
Império, perto do Cáucaso. Os cruéis sofrimentos da caminhada sob forte sol e
chuvas, agravados pelos maus tratos da soldadesca, levaram ao esgotamento total
seu corpo já alquebrado. Assim, em 14 de setembro desse ano a "Boca de
Ouro" calou-se para os ouvidos humanos e abriu-se para cantar glórias e
louvores a seu Criador e Redentor no Céu.
PARTE IMPORTANTE
DO TESOURO DA SANTA IGREJA
"A partir
do século V, Crisóstomo foi venerado por toda a Igreja cristã, oriental e
ocidental, pelo seu testemunho corajoso em defesa da Fé e pela sua
dedicação generosa ao ministério pastoral. O seu magistério doutrinal e a
sua pregação, como também a sua solicitude pela Sagrada Liturgia,
mereceram-lhe depressa o reconhecimento de Padre e Doutor da Igreja",6
conforme palavras do Papa Bento XVI.
De fato, sua
vasta obra - dividida em opúsculos, homilias e cartas - representa
importante parte do tesouro inapreciável da Santa Igreja. Há mais de 1.600
anos sua voz ressoa em todo o orbe. A amplíssima bibliografia existente a seu
respeito e as incontáveis edições de seus escritos dão testemunho da perenidade
dos altos ensinamentos legados por ele à humanidade. São Pio X o proclamou
patrono dos oradores sacros, em 1907. (Revista Arautos do Evangelho,
Setembro/2013, n. 141, p. 32 à 35)
**Eudóxia
morrera já em 404. Engravidara por quinta vez; porém, o menino morreu-lhe no
útero, e os médicos não conseguiam retirar-lhe o feto. Passou-se assim uma
semana, na qual a imperatriz esforçou-se, mas em vão. E o corpo do menino, em
decomposição, acabou por lhe infetar todo sangue.
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