CERIMÔNIA DE BOAS-VINDAS
DISCURSO DO SANTO PADRE
South Lawn da Casa Branca,
Washington, D.C
Senhor Presidente!
Obrigado pela saudação de boas-vindas que me dirigiu em nome de todos os americanos. Como filho duma família de emigrantes, sinto-me feliz por ser hóspede nesta nação, que foi construída em grande parte por famílias semelhantes.
Olho com alegria para estes dias de encontro e diálogo, em que espero perscrutar e compartilhar muitos dos sonhos e esperanças do povo americano.
Na minha visita, terei a honra de me dirigir ao Congresso, onde espero, como irmão deste país, dizer uma palavra de encorajamento a todos aqueles que são chamados a guiar o futuro político da nação na fidelidade aos seus princípios fundadores. Irei também a Filadélfia, para o VIII Encontro Mundial das Famílias, cuja finalidade é celebrar e apoiar as instituições do matrimônio e da família, num momento crítico da história da nossa civilização.
Os católicos americanos, juntamente com seus concidadãos, estão comprometidos na construção duma sociedade que seja verdadeiramente tolerante e inclusiva, na defesa dos direitos dos indivíduos e das comunidades, e na rejeição de qualquer forma de discriminação injusta. Juntamente com muitas outras pessoas de boa vontade desta grande democracia, eles esperam que os esforços por construir uma sociedade justa e sabiamente ordenada respeitem as suas preocupações mais profundas e os seus direitos inerentes à liberdade religiosa.
Esta liberdade permanece como uma das conquistas mais valiosas da América. E, como os meus irmãos bispos dos Estados Unidos nos lembraram, todos somos chamados a vigiar, precisamente como bons cidadãos, por preservar e defender tal liberdade de tudo o que a possa pôr em perigo ou comprometer.
Pela fé, sabemos que «o Criador não nos abandona, nunca recua no seu projeto de amor, nem Se arrepende de nos ter criado. A humanidade possui ainda a capacidade de colaborar na construção da nossa casa comum». Como cristãos animados por esta certeza, procuramos comprometer-nos neste cuidado consciente e responsável da nossa casa comum.
ENCONTRO COM OS BISPOS DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
Catedral de São Mateus, Washington
Queridos Irmãos no Episcopado! Antes de mais nada, quero enviar uma saudação à comunidade judaica, aos nossos irmãos judeus, que hoje celebram a festa doYom Kippur. Que o Senhor os abençoe com a paz e os faça avançar no caminho da santidade, segundo a Palavra d’Ele que ouvimos hoje: «Sede santos, porque Eu (…) sou santo» (Lv 19, 2).
Estou feliz por vos encontrar neste momento da missão apostólica que me trouxe ao vosso país e agradeço vivamente ao Cardeal Donald Wuerl e ao Arcebispo Joseph Edward Kurtz as amáveis palavras que me dirigiram em nome também de todos vós. Recebei os meus sentimentos de gratidão pela recepção e também pela generosa disponibilidade com que foi programada e organizada a minha estadia.
Ao abraçar com o olhar e o coração os vossos rostos de pastores, quero estreitar ao peito as igrejas que levais amorosamente aos ombros e peço-vos para lhes assegurar que a minha solidariedade humana e espiritual envolve, por vosso intermédio, todo o povo de Deus espalhado por esta vasta terra.
O coração do Papa dilata-se para incluir a todos. Alargar o coração para testemunhar que Deus é grande no seu amor, é a essência da missão do Sucessor de Pedro, Vigário d’Aquele que na Cruz abraçou a humanidade inteira. Que nenhum membro do Corpo de Cristo e da nação americana se sinta excluído do abraço do Papa. Em todo o lado onde aflore aos lábios o verdadeiro nome de Jesus, lá ressoe também a voz do Papa para assegurar: «é o Salvador».
Desde as vossas grandes cidades da costa leste até às planícies do midwest, desde o extremo sul até ao ilimitado oeste, onde quer que o vosso povo se reúna na assembleia eucarística, o Papa não seja um mero nome pronunciado rotineiramente, mas uma companhia palpável empenhada a sustentar a voz que se eleva do coração da Esposa: «Vinde, Senhor!»
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SANTA MISSA E CANONIZAÇÃO DO BEATO PADRE JUNIPERO SERRA
Santuário Nacional da Imaculada Conceição, Washington, D.C.
A Igreja, o povo santo de Deus, sabe percorrer as estradas poeirentas da história, frequentemente permeadas por conflitos, injustiças e violência, para ir encontrar os seus filhos e irmãos. O santo povo fiel de Deus não teme o erro; teme o fechamento, a cristalização em elite, o agarrar-se às próprias seguranças. Sabe que o fechamento, nas suas múltiplas formas, é a causa de tantas resignações.
Hoje encontramo-nos aqui, podemos encontrar-nos aqui, porque houve muitos que tiveram a coragem de responder a esta chamada; muitos que acreditaram que «na doação a vida se fortalece, e se enfraquece no comodismo e no isolamento» (Documento de Aparecida, 360). Somos filhos da ousadia missionária de muitos que preferiram não se fechar «nas estruturas que nos dão uma falsa protecção (...), nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta». Somos devedores duma Tradição, duma cadeia de testemunhas que tornaram possível que a Boa Nova do Evangelho continue a ser, de geração em geração, Nova e Boa.
E hoje recordamos uma daquelas testemunhas que souberam testemunhar nestas terras a alegria do Evangelho: Padre Junípero Serra. Soube viver aquilo que é «a Igreja em saída», esta Igreja que sabe sair e ir pelas estradas, para partilhar a ternura reconciliadora de Deus. Soube deixar a sua terra, os seus costumes, teve a coragem de abrir sendas, soube ir ao encontro de muitos aprendendo a respeitar os seus costumes e as suas características.
Aprendeu a gerar e acompanhar a vida de Deus nos rostos daqueles que encontrava, tornando-os seus irmãos. Junípero procurou defender a dignidade da comunidade nativa, protegendo-a de todos aqueles que abusaram dela; abusos que hoje continuam a encher-nos de pesar, especialmente pela dor que provocam na vida de tantas pessoas.
Escolheu um lema que inspirou os seus passos e plasmou a sua vida: «Sempre avante». Soube-o dizer, mas sobretudo viver. Esta foi a maneira que Junípero encontrou para viver a alegria do Evangelho, para que não se anestesiasse o seu coração. Foi sempre avante, porque o Senhor espera; sempre avante, porque o irmão espera; sempre avante por tudo aquilo que ainda tinha para viver; foi sempre avante. Como ele então, possamos também nós hoje dizer: sempre avante.
VISITA AO CONGRESSO DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
DISCURSO DO SANTO PADRE
Washington, Capitólio
Cada filho ou filha duma determinada nação tem uma missão, uma responsabilidade pessoal e social. A vossa responsabilidade própria de membros do Congresso é fazer com que este país, através da vossa atividade legislativa, cresça como nação. Vós sois o rosto deste povo, os seus representantes. Sois chamados a salvaguardar e garantir a dignidade dos vossos concidadãos na busca incansável e exigente do bem comum, que é o fim de toda a política.
Uma sociedade política dura no tempo quando, como uma vocação, se esforça por satisfazer as carências comuns, estimulando o crescimento de todos os seus membros, especialmente aqueles que estão em situação de maior vulnerabilidade ou risco. A atividade legislativa baseia-se sempre no cuidado das pessoas. Para isso fostes convidados, chamados e convocados por aqueles que vos elegeram.
hoje quereria dirigir-me não só a vós mas, através de vós, a todo o povo dos Estados Unidos. Aqui, juntamente com os seus representantes, quereria aproveitar esta oportunidade para dialogar com tantos milhares de homens e mulheres que se esforçam diariamente por cumprir uma honesta jornada de trabalho, por trazer para casa o pão de cada dia, por poupar qualquer dólar e – passo a passo – construir uma vida melhor para as suas famílias.
São homens e mulheres que não se preocupam apenas com pagar os impostos, mas – na forma discreta que os caracteriza – sustentam a vida da sociedade. Geram solidariedade com as suas atividades e criam organizações que ajudam quem tem mais necessidade.
Quereria também entrar em diálogo com as numerosas pessoas idosas que são um depósito de sabedoria forjada pela experiência e que procuram de muito modos, especialmente através do voluntariado, partilhar as suas histórias e experiências. Sei que muitas delas estão aposentadas, mas ainda ativas e continuam a empenhar-se na construção deste país. Desejo também dialogar com todos os jovens que lutam por realizar as suas grandes e nobres aspirações, que não se deixam extraviar por propostas superficiais e que enfrentam situações difíceis, tantas vezes resultantes da imaturidade de muitos adultos. Quereria dialogar com todos vós, e desejo fazê-lo através da memória histórica do vosso povo.
Uma nação pode ser considerada grande, quando defende a liberdade, como fez Lincoln; quando promove uma cultura que permita às pessoas «sonhar» com plenos direitos para todos os seus irmãos e irmãs, como procurou fazer Martin Luther King; quando luta pela justiça e pela causa dos oprimidos, como fez Dorothy Day com o seu trabalho incansável, fruto duma fé que se torna diálogo e semeia paz no estilo contemplativo de Thomas Merton.
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VISITA AO CENTRO CARITATIVO DA PARÓQUIA DE SÃO PATRÍCIO E ENCONTRO COM OS SEM-ABRIGO
É a fé que nos diz que Deus está convosco, que Deus está no meio de nós e a sua presença incita-nos à caridade; aquela caridade que nasce do apelo de um Deus que não cessa de bater à nossa porta, à porta de todos para nos convidar ao amor, à compaixão, a darmo-nos uns aos outros.
Jesus continua a bater às nossas portas, à nossa vida. Não o faz magicamente, nem o faz com truques, com vistosos placares ou com fogos-de-artifício. Jesus continua a bater à nossa porta no rosto do irmão, no rosto do vizinho, no rosto de quem vive junto de nós.
Queridos amigos, uma das formas mais eficazes de ajuda, temo-la na oração. A oração une-nos, faz-nos irmãos, abre-nos o coração e lembra-nos uma verdade maravilhosa que às vezes esquecemos. Na oração, todos aprendemos a dizer Pai, Papá, e quando dizemos Pai, Papá, encontramo-nos como irmãos. Na oração, não há ricos ou pobres; há filhos e irmãos. Na oração, não há pessoas de primeira classe ou segunda; há fraternidade.
É na oração que o nosso coração encontra força para não se tornar insensível, frio perante as situações de injustiça. Na oração, Deus continua a chamar-nos e incitar-nos à caridade.
VÉSPERAS COM O CLERO, RELIGIOSOS E RELIGIOSAS NA CATEDRAL DE SÃO PATRÍCIO
Nesta tarde, queridos irmãos e irmãs, vim rezar convosco, sacerdotes, consagrados, consagradas, para que a nossa vocação continue a construir o grande edifício do Reino de Deus neste país. Sei que vós, como corpo sacerdotal, diante do povo de Deus, sofrestes muito num passado não distante suportando a vergonha por causa de muitos irmãos que feriram e escandalizaram a Igreja nos seus filhos mais indefesos... Com palavras do Apocalipse, digo-vos que «vindes da grande tribulação» (cf. 7, 14).
Acompanho-vos neste período de sofrimento e dificuldade; e também agradeço a Deus pelo serviço que realizais acompanhando o povo de Deus. Com o fim de vos ajudar a prosseguir no caminho da fidelidade a Jesus Cristo, deixai-me fazer duas breves reflexões.
A primeira diz respeito ao espírito de gratidão. A alegria de homens e mulheres que amam a Deus atrai a outros; sacerdotes e consagrados chamados a sentir e irradiar uma satisfação permanente com a sua vocação. A alegria brota dum coração agradecido. É verdade! Recebemos muito, tantas graças, tantas bênçãos; e alegramo-nos. Far-nos-á bem repassar com a memória as graças da nossa vida. Memória daquela primeira chamada, memória do caminho percorrido, memória de tantas graças recebidas..., e sobretudo memória do encontro com Jesus Cristo em tantos momentos durante o caminho.
Memória do encanto que produz em nosso coração o encontro com Jesus Cristo. Irmãs e Irmãos, consagrados e sacerdotes, peçamos a graça da memória para fazer crescer o espírito de gratidão. Talvez convenha perguntar-nos: Somos capazes de enumerar as bênçãos que vieram sobre nós, ou já me esqueci delas?
A segunda reflexão tem a ver com o espírito de laboriosidade. Um coração agradecido é, espontaneamente, impelido a servir o Senhor e a abraçar um estilo de vida diligente. No momento em que nos damos conta de tudo aquilo que Deus nos deu, o caminho da renúncia a si mesmo a fim de trabalhar para Ele e para os outros torna-se um caminho privilegiado de resposta ao seu amor.
E, no entanto, se formos honestos, sabemos quão facilmente pode ser sufocado este espírito de trabalho generoso e sacrifício pessoal. Há duas maneiras para isso acontecer, sendo ambas exemplo da «espiritualidade mundana», que nos enfraquece no nosso caminho de serviço de mulheres e homens consagrados, e degrada o enlevo, a maravilha do primeiro encontro com Jesus Cristo.