“Bendirei
continuamente ao Senhor, seu louvor não deixará meus lábios” (Sl 33,2)
Alegremo-nos no
Senhor, neste dia em que contemplamos outra das maravilhas de Deus que, por sua
admirável providência, nos permite saborear um vestígio da sua presença, neste
ato de entrega de Amor representado no Santo Sacrifício do Altar. Sim, não
deixemos de louvar ao nosso Deus. Louvemos todos nós, povos do Brasil e da
América, cantemos ao Senhor as suas maravilhas, porque fez em nós grandes
coisas. Hoje, a Divina sabedoria permite que nos encontremos ao redor do seu
altar em ato de louvor e de agradecimento por nos ter concedido a graça da
Canonização do Frei Antônio de Sant’Anna Galvão.
Nesta solene celebração
eucarística foi proclamado o Evangelho no qual Cristo, em atitude de grande
enlevo, proclama: “Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque
escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequenos”
(Mt 11,25). Por isso, sinto-me feliz porque a elevação do Frei Galvão aos
altares ficará para sempre emoldurada na liturgia que hoje a Igreja nos
oferece. Saúdo com afeto a toda a comunidade franciscana e, de modo especial,
as monjas concepcionistas que, do Mosteiro da Luz, da Capital paulista,
irradiam a espiritualidade e o carisma do primeiro brasileiro elevado à glória
dos altares.
Demos graças a Deus
pelos contínuos benefícios alcançados pelo poderoso influxo evangelizador que o
Espírito Santo imprimiu em tantas almas através do Frei Galvão. O carisma
franciscano, evangelicamente vivido, produziu frutos significativos através do
seu testemunho de fervoroso adorador da Eucaristia, de prudente e sábio
orientador das almas que o procuravam e de grande devoto da Imaculada Conceição
de Maria, de quem ele se considerava “filho e perpétuo escravo”.
Significativo é o
exemplo do Frei Galvão pela sua disponibilidade para servir o povo sempre
quando era solicitado. Conselheiro de fama, pacificador das almas e das
famílias, dispensador da caridade especialmente dos pobres e dos enfermos.
Muito procurado para as confissões, pois era zeloso, sábio e prudente. Uma
característica de quem ama de verdade é não querer que o Amado seja ofendido,
por isso a conversão dos pecadores era a grande paixão do nosso Santo. A Irmã
Helena Maria, que foi a primeira “recolhida” destinada a dar início ao
“Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição”, testemunhou aquilo que Frei
Galvão disse: “Rezai para que Deus Nosso Senhor levante os pecadores com o seu
potente braço do abismo miserável das culpas em que se encontram”. Possa essa
delicada advertência servir-nos de estímulo para reconhecer na misericórdia
divina o caminho para a reconciliação com Deus e com o próximo e para a paz das
nossas consciências.
Unidos em comunhão
suprema com o Senhor na Eucaristia e reconciliados com Deus e com o nosso
próximo, seremos portadores daquela paz que o mundo não pode dar. Poderão os
homens e as mulheres deste mundo encontrar a paz, se não se conscientizarem
acerca da necessidade de se reconciliarem com Deus, com o próximo e consigo
mesmos? De elevado significado foi, neste sentido, aquilo que a Câmara do
Senado de São Paulo escreveu ao Ministro Provincial dos Franciscanos no final
do século XVIII, definindo Frei Galvão como “homem de paz e de caridade”. Que
nos pede o Senhor?: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amo”. Mas logo a
seguir acrescenta: que “deis fruto e o vosso fruto permaneça” (cf. Jo 15,12.16)
E que fruto nos pede Ele, senão que saibamos amar, inspirando-nos no exemplo do
Santo de Guaratinguetá?
A fama da sua
imensa caridade não tinha limites. Pessoas de toda a geografia nacional iam ver
Frei Galvão que a todos acolhia paternalmente. Eram pobres, doentes no corpo e
no espírito que lhe imploravam ajuda.
Jesus abre o seu
coração e nos revela o fulcro de toda a sua mensagem redentora: “Ninguém tem
maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (ib.v. 13). Ele mesmo
amou até entregar sua vida por nós sobre a Cruz. Também a ação da Igreja e dos
cristãos na sociedade deve possuir esta mesma inspiração. As pastorais sociais,
se forem orientadas para o bem dos pobres e dos enfermos, levam em si mesmas
este sigilo divino. O Senhor conta conosco e nos chama amigos, pois só aos que
se ama desta maneira se é capaz de dar a vida proporcionada por Jesus com sua
graça.