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terça-feira, janeiro 19, 2016

II DOMINGO DO TEMPO COMUM



A retomada do Tempo Comum inicia-se com um símbolo muito expressivo para evidenciar o relacionamento entre Deus e a humanidade: é o símbolo do casamento. Muitos autores exegetas definem o casamento como um dos símbolos mais importantes para compreender o relacionamento entre Deus e a humanidade. O símbolo do casamento encontra-se, neste 2º Domingo do Tempo Comum, tanto na profecia de Isaías (1ª leitura) como no conhecido episódio das Bodas de Caná (Evangelho).





A profecia de Isaías acontece num tempo de depressão popular. O povo está triste diante da necessidade de reconstruir a vida pessoal e a vida comunitária, depois do exílio. Isaías aparece, portanto, como um incentivador espiritual do povo, profetizando que Deus volta a falar e a iluminar sua vida com sua Palavra, não como alguém autoritário, mas como um noivo apaixonado, capaz de mudar tudo, até mesmo esquecer as tantas traições sofridas (1ª leitura). Deus é o noivo apaixonado que assume seu povo como uma esposa amada, reconstruindo a relação matrimonial com o povo, chamando-o de “terra desposada”, “minha predileta”, “bem-casada” (1ª leitura). Ou seja, Deus tira a vergonha de uma esposa recusada e a assume como amada e como a alegria para o seu noivo, que é o próprio Deus. É um movimento de recuperação do povo, pelo qual Deus refaz a vida, fazendo novas todas as coisas. Ele é o Deus criador e re-criador do povo, de onde o incentivo para cantar a Deus um canto novo, pois sua glória se manifesta em todas as nações da terra (salmo responsorial).



O mesmo tema matrimonial aparece no início do Evangelho de João, narrando as Bodas de Caná. Deste episódio, vamos destacar dois símbolos. O primeiro deles faz referência ao tempo. Nosso Lecionário brasileiro não menciona, mas muitas traduções Bíblicas iniciam a narrativa dizendo: “No terceiro dia houve um casamento...” (cf. Bíblia da CNBB em Jo 2,1). A referência temporal é continuidade do último versículo do capítulo anterior, relatando a realização de todas as coisas em Jesus Cristo. Simbolicamente, o número três é a metade do número seis (número da imperfeição), indicando que Jesus está entrando neste espaço imperfeito para realizar a plenitude dos tempos, quando o vinho novo será melhor que aquele primeiro oferecido aos convidados (Evangelho).



O segundo sinal fala da abundância do vinho, que alguns exegetas dizem ser em torno de 400 a 700 litros. É um sinal da plenitude messiânica, um projeto divino que aponta para a grande festa da vida, repleta da alegria e de abundância, graças a presença do Deus da vida entre nós; da vida que Deus derramará nos corações daqueles que participam do convite para com ele se banquetear com o “vinho novo”. Por isso, compreende-se que a advertência de Maria — “eles não têm mais vinho” (Evangelho) — não é apenas um cuidado feminino e maternal, como costumamos dizer, mas uma profecia em vista do futuro da humanidade: a transformação desta vida em festa não é uma tarefa puramente humana, mas algo possível a Deus “fazendo tudo que ele disser” (Evangelho).

Este contexto de serviço, de colaboração com a construção de um tempo novo, de trazer o “tempo da plenitude”, onde o vinho novo é oferecido a todos acontece através dos ministérios, no interior das comunidades eclesiais (2ª leitura). Ministérios que atuam em comunhão e participação para que todos possam participar das núpcias (aliança) entre Deus e o seu povo.