A iluminação que vem da vida e para a vida busca inspiração na sequência pascal, onde se canta: “duelam forte e mais forte: é a vida que enfrenta a morte”. A Páscoa, celebrando a Ressurreição de Jesus, como sabemos, proclama a vitória da vida sobre a morte. A vitória desta realidade mais terrível de todos nós, a mais temível verdade que carregamos conosco, de que iremos morrer. De outro lado, a Páscoa de Jesus Cristo é a certeza que Deus entrou, uma vez por todas, no reino da morte (“desceu à mansão dos mortos”, proclamamos no Credo), por isso, nenhuma derrota da vida será, de agora em diante, definitiva. Quer dizer: toda e qualquer vida, grande ou pequena, sublime ou mesquinha, confiante ou cética, pode mergulhar num grande e infinito lago de esperança para viver plena e eternamente.
A Páscoa não é uma simples lembrança da Ressurreição de Jesus. A Páscoa é memorial, e isto significa que se trata de uma vivificação, oferecendo a possibilidade de cada um participar da mesma experiência pascal, pela qual passaram os Apóstolos, as mulheres que foram ao sepulcro e os discípulos e discípulas de Jesus. Sendo memorial, cada celebrante (e todo cristão, de modo geral) é convocado a participar desta experiência fundante de abandonar as ameaças da morte e se propor a viver com a força do amor misericordioso de Deus em nossas vidas.
Acima de tudo, a Páscoa significa fazer experiência de ser salvo por Deus. O verbo “salvar” (em hebraico yasha) passa a idéia de um espaço apertado e opressor, para um espaço amplo e aberto; um espaço onde se pode respirar livremente. Locais apertados, no qual entramos em tantas situações da vida, provoca angustia e tormento no coração humano. É um espaço ocupado por forças adversas à vida, que se torna ainda mais apavorador quando existe uma ameaça concreta de morte por fechar todas as portas para a esperança. Por isso, salvar significa abrir espaços de vida, libertar quem vive oprimido, oferecer um local onde é possível mergulhar na esperança. E isto é feito com a força do amor misericordioso de Deus.
No contexto do Ano Santo da Misericórdia, a Páscoa evoca a libertação divina para que a vida seja plena. Deus não apenas se compadece emocionalmente da situação oprimente, na qual vive o ser humano, mas, como é próprio da atitude misericordiosa divina, assume um empenho concreto para libertar a vida humana de situações opressoras através da Cruz de Jesus Cristo. Quem acredita na força do amor, entende a força libertadora da Páscoa e pode desejar sinceramente a todos que encontrar votos de Feliz Páscoa.
É justamente porque estamos livres de todas as ameaças de morte, graças a Ressurreição de Jesus, que temos um compromisso com a vida. O compromisso de anunciar a Ressurreição de Jesus, como ouvimos Pedro fazendo, na 1ª leitura, e como escutamos do relato evangélico, das mulheres anunciando a Ressurreição do Senhor. Aquele discípulo e aquela discípula que amam, dizia o Evangelho, são capazes de perceber a ação misericordiosa de Deus agindo em favor de nossas vidas. Só quem ama tem a força de ver a luz da Ressurreição divina até mesmo dentro de um túmulo vazio. É este compromisso de testemunhar amorosamente ou, se quisermos, misericordiosamente, a vida nova que nasce da Ressurreição de Jesus que precisa ser transformada em fermento para levedar a vida humana em todas as esferas sociais, familiares e comunitárias, como diz Paulo. Se ressuscitamos com Cristo, (diz Paulo), busquemos as coisas do alto, que tem cheiro de vida, de liberdade, e não aquelas da terra, quase sempre contaminadas com o vírus da morte. Por isso, com esta minha reflexão, renovo uma vez mais os votos de Feliz Páscoa lembrando que estamos comprometidos com a plenitude da vida que é derramada na Ressurreição de Jesus. Amém. Aleluia!