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segunda-feira, setembro 11, 2017

XXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM


A 1ª leitura destaca uma atividade específica da vocação profética: “ser vigia para a casa de Israel”; ser uma sentinela para o povo. Qual é a função de uma sentinela do povo? Convenhamos, inicialmente, que não se trata de algo prazeroso, mesmo sendo uma missão que se afina com aquilo que Deus pretende para o seu povo: “logo que ouvires alguma palavra de minha boca, tu os deves advertir em meu nome”(1L). Uma palavra para advertir, portanto. Isso torna a sentinela uma pessoa não simpática.

Sentinela é uma atividade que o profeta exerce em âmbito comunitário, chamando atenção para as ilusões do povo que deixa de se importar com a presença divina. Mas, é também uma função a ser exercida em contexto pessoal, quando alguém é atingido por decepções e desânimos ao perceber seu futuro comprometido. É uma atividade incômoda, esta de precisar chamar atenção e apresentar o erro cometido sem meios-termos. É a atividade profética que interroga, perturba, fecha as possibilidades de arrumar desculpas, de fugir ou se esconder. Incomodamente apresenta a proposta divina que, em caso de desvio de conduta, objetiva desmascarar o pecado e o pecador.

Algum motivo para isso? O motivo principal é reconhecer Deus como aquele pastor que deseja o bem do seu povo e não quer que o povo repita a atitude de fechar o seu coração a este pastor, como fez em Meriba, em Massa, no deserto (SR), porque o fechamento da vida para Deus é um caminho de morte. Da parte do profeta, trata-se de uma atitude de responsabilidade para com o povo, mas também de fidelidade à resposta vocacional e, principalmente, resposta ao amor divino, que sempre busca o bem do outro, como ensina Paulo, na 2ª leitura. É o amor fraterno em vista do bem do outro.

A proposta de viver o amor fraterno é decisiva na vida cristã, no sentido que somente quem pratica a fraternidade cumpre plenamente a Lei (2L). É um dado que merece ser considerado: a Lei divina não se cumpre em fazer ou deixar de fazer alguma coisa, mas em relacionar-se fraternalmente com todos, especialmente com aquele que é mais próximo. A teologia paulina dá a entender que o amor fraterno é um débito em relação ao outro: “não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo” (2L). No pensamento de Paulo, se fomos amados gratuitamente por Deus, este amor se reverte também gratuitamente aos irmãos. Ou seja, em termos de amor fraterno, ninguém tem crédito, uma vez que grande foi o amor com que fomos amados por Deus. Assim, o amor fraterno é o modo perfeito do cumprimento da Lei. Papa Francisco dizia na homilia de Corpus Christi (2017), que muitas devoções, profundamente sentimentais, são vazias por não conduzir e nem produzir amor fraterno.

O Evangelho deste Domingo é denominado como “discurso eclesial”, não tanto por mencionar a palavra “Igreja”, mas por considerar o estatuto fundamental da comunidade que quer ser reconhecida como Igreja de Jesus Cristo: o estatuto do amor fraterno. De um lado, Jesus apresenta a lei do amor e, do outro lado, apresenta o pecado que mancha a comunidade inteira e a impede de crescer por não se cultivar, na comunidade, a fraternidade.

Muitos comentadores deste texto o classificam como um procedimento disciplinar da comunidade eclesial. É bem provável que assim fosse, mas com um diferencial: o acento não está tanto nas normas e nas penas imputadas ao pecador, mas no desejo de recuperá-lo como irmão para a comunidade. À luz deste pensamento, as várias tentativas para a recuperação de quem pecou não tem caráter punitivo, mas se pauta na parábola da ovelha perdida, recuperada pelo Bom Pastor, que não deseja que ninguém se perca. A finalidade última, portanto, é a reconciliação e não a punição.

Serve para isso, não somente o apelo à correção, mas também a oração, como conclui o Evangelho deste Domingo. O texto grego usa o termo “syn-phôneô”, que significa sinfonia de vozes. É, portanto, a oração afinada de várias vozes, nascidas de diferentes corações, suplicando uma única intenção, que chega de modo agradável aos ouvidos divinos, por se estar reunidos em nome de Jesus para interceder alguma coisa. Nisto, não podemos esquecer, a comunidade conta também com a presença orante do Senhor.

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