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quarta-feira, dezembro 27, 2017

MISSA DIA DE NATAL


O anunciador das boas notícias

O profeta Isaias fica maravilhado diante do mensageiro que anuncia a paz, o bem e a Salvação . O início da 1ª leitura da Missa do Dia usa duas vezes a expressão "anunciar a boa notícia" — evangelizomai (em grego) —. Este é o tom com o qual preparamos a celebração do Natal de 2017, considerando o Natal como momento anunciador da bela notícia de que Deus não se esqueceu da humanidade. Nas entrelinhas das leituras, a Palavra proclamada nas Missas de Natal revela uma realidade pouco refletida em nossas festas natalinas: no Natal Deus vem procurar "Adão". Para isso, desce ao coração da história a fim de retomar o diálogo interrompido pelo pecado e para confirmar, com sua presença viva e pessoal, na pessoa do Menino Jesus, um fato: ele é Emanuel, o Deus conosco, o Deus que vive no meio de nós.

Esta é a mensagem que propomos anunciar neste Natal: Deus vem ao mundo para encontrar-se com a humanidade, aqui na terra e, no coração da nossa história, partilhar as alegrias e os sofrimentos de todos os povos e de cada homem e mulher. O Natal revela a grande e feliz notícia que Deus quer viver conosco e partilhar nossas vidas .

Deus vem procurar o homem

O Mistério do Natal, portanto, consiste, basicamente, na vinda de Deus a terra para procurar os homens — sua imagem e semelhança — e restabelecer com ele o diálogo interrompido pelo pecado. A finalidade é abrir uma nova estrada de vida, feita de liberdade e de reconstrução existencial e social, representada na reconstrução das ruínas de Jerusalém . No Natal, Deus vem ao encontro do povo para reconstruir a vida do povo. É o Natal considerado na perspectiva da reconstrução, da reformulação da vida em vista de um novo modo de viver. E, ao se falar de reconstrução, subentende-se uma tarefa que exige empenho e trabalho.

Deus assume ambos: o esforço do trabalho e a perseverança do empenho. Na dinâmica de vir ao encontro da humanidade, Deus como que arregaça as mangas porque construir a paz e restaurar o que as estruturas do mal e do pecado causam na sociedade é tarefa grande e exige muita energia. O ódio, a inimizade, a opressão, o pecado têm raízes profundas na história da humanidade. Mesmo assim, Deus não recusa descer nas profundezas, lá onde habita o mal, para que o mal desapareça e não prejudique mais a vida humana. O Natal, neste sentido, proclama a alegre notícia da libertação do mal em vista da vida plena para cada ser hum,ano . No Menino Jesus, Deus se faz presente entre nós. Ele é a esperança viva e concreta que enche de alegria os corações sofredores . Uma vez que a luz da presença divina está entre nós, o desespero desaparece de nosso meio e o coração humano é fortalecido pela esperança .


O Verbo se fez carne

O alegre anúncio da presença de Deus no meio de nós — Emanuel — é proclamado em todas as leituras das Missas Natalinas. Um anúncio para confirmar que o Verbo, que vive em Deus , vem ao encontro da humanidade para habitar na terra, nascendo do seio da Virgem Mãe . O Verbo que, no início do Prólogo de João , é a Palavra criadora de Deus, inicia uma "viagem" na direção da terra para habitar no meio dos homens e das mulheres com a finalidade de recriar a vida plenamente humana na terra.

Claro que isso não deixa de ser um grande paradoxo: o Verbo que é eterno torna-se carne, isto é, torna-se gente, assume a fragilidade e a caducidade da vida humana. Ao se dizer que o Verbo se fez carne, não significa somente que se tornou homem, mas que assume a nudez humana, que entra no contexto humano do sofrimento e na contínua ameaça de morte, a qual, como homens e mulheres, estamos sujeitos. O Natal celebra a eternidade divina sujeita à morte humana. Um mistério que é a manifestação maior do amor divino para com a humanidade.

Uma nova estrada e um novo endereço

Os estudiosos da Bíblia chamam atenção para uma alternativa da tradução da última frase do prólogo de João . O verbo grego "exegêsato", traduzido normalmente como "revelado" . Dizem alguns exegetas que outra possível tradução seria a expressão: "abriu a estrada".

Por isso, nossa reflexão se conclui com um dado importante: o mesmo Deus que se dispõe a vir ao encontro da humanidade, no Mistério do Natal, não é um mero visitante, mas um construtor de estradas que conduzem ao encontro dele, ao encontro do Menino Jesus. E, mais que isso, Deus é apresentado como um indicador do caminho, aquele que dá informações sobre um endereço desconhecido, indicando como seguir para se encontrar com o Menino Deus. As celebrações natalinas também são informativas do mesmo endereço: o presépio. Feliz Natal!