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sexta-feira, maio 11, 2018

OS SANTOS QUE NOS ENCORAJAM E ACOMPANHAM




Aos dez (10) dias de maio de 2018, a Paróquia de São Conrado recebeu a relíquia "ex-ossibus'' de São José de Anchieta. Nesta mesma data foi realizada a Adoração ao Santíssimo e Celebração Eucarística sendo expostas as relíquias de São Conrado e São José de Anchieta. Segue o termo de entrega da relíquia assinado pelo Padre Reitor do Santuário Nacional de São José de Anchieta, em Anchieta no Estado do Espirito Santo.




Na Carta aos Hebreus, mencionam-se várias testemunhas que nos encorajam a «correr com perseverança a prova que nos é proposta» (12, 1): fala-se de Abraão, Sara, Moisés, Gedeão e vários outros (cf. cap. 11). Mas, sobretudo somos convidados a reconhecer-nos «circundados de tal nuvem de testemunhas» (12, 1), que incitam a não deter-nos no caminho, que nos estimulam a continuar a correr para a meta. E, entre tais testemunhas, podem estar a nossa própria mãe, uma avó ou outras pessoas próximas de nós (cf. 2 Tm 1, 5). A sua vida talvez não tenha sido sempre perfeita, mas, mesmo no meio de imperfeições e quedas, continuaram a caminhar e agradaram ao Senhor.

Os santos, que já chegaram à presença de Deus, mantêm connosco laços de amor e comunhão. Atesta-o o livro do Apocalipse, quando fala dos mártires intercessores: «Vi debaixo do altar as almas dos que tinham sido mortos, por causa da Palavra de Deus e por causa do testemunho que deram. E clamavam em alta voz: “Tu, que és o Poderoso, o Santo, o Verdadeiro! Até quando esperarás para julgar?”» (6, 9-10). Podemos dizer que «estamos circundados, conduzidos e guiados pelos amigos de Deus. (...) Não devo carregar sozinho o que, na realidade, nunca poderia carregar sozinho. Os numerosos santos de Deus protegem-me, amparam-me e guiam-me».

Nos processos de beatificação e canonização, tomam-se em consideração os sinais de heroicidade na prática das virtudes, o sacrifício da vida no martírio e também os casos em que se verificou um oferecimento da própria vida pelos outros, mantido até à morte. Esta doação manifesta uma imitação exemplar de Cristo, e é digna da admiração dos fiéis. Lembremos, por exemplo, a Beata Maria Gabriela Sagheddu, que ofereceu a sua vida pela unidade dos cristãos.

Os santos ao pé da porta

Não pensemos apenas em quantos já estão beatificados ou canonizados. O Espírito Santo derrama a santidade, por toda a parte, no santo povo fiel de Deus, porque «aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo que O conhecesse na verdade e O servisse santamente». O Senhor, na história da salvação, salvou um povo. Não há identidade plena, sem pertença a um povo. Por isso, ninguém se salva sozinho, como indivíduo isolado, mas Deus atrai-nos tendo em conta a complexa rede de relações interpessoais que se estabelecem na comunidade humana: Deus quis entrar numa dinâmica popular, na dinâmica dum povo.

Gosto de ver a santidade no povo paciente de Deus: nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas que continuam a sorrir. Nesta constância de continuar a caminhar dia após dia, vejo a santidade da Igreja militante. Esta é muitas vezes a santidade «ao pé da porta», daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus, ou – por outras palavras – da «classe média da santidade».

Deixemo-nos estimular pelos sinais de santidade que o Senhor nos apresenta através dos membros mais humildes deste povo que «participam também da função profética de Cristo, difundindo o seu testemunho vivo, sobretudo pela vida de fé e de caridade». Como nos sugere Santa Teresa Benedita da Cruz, pensemos que é através de muitos deles que se constrói a verdadeira história: «Na noite mais escura, surgem os maiores profetas e os santos. Todavia a corrente vivificante da vida mística permanece invisível. Certamente, os eventos decisivos da história do mundo foram essencialmente influenciados por almas sobre as quais nada se diz nos livros de história. E saber quais sejam as almas a quem devemos agradecer os acontecimentos decisivos da nossa vida pessoal, é algo que só conheceremos no dia em que tudo o está oculto for revelado».

A santidade é o rosto mais belo da Igreja. Mas, mesmo fora da Igreja Católica e em áreas muito diferentes, o Espírito suscita «sinais da sua presença, que ajudam os próprios discípulos de Cristo». Por outro lado, São João Paulo II lembrou-nos que o «testemunho, dado por Cristo até ao derramamento do sangue, tornou-se património comum de católicos, ortodoxos, anglicanos e protestantes». Na sugestiva comemoração ecuménica, que ele quis celebrar no Coliseu durante o Jubileu do ano 2000, defendeu que os mártires são «uma herança que fala com uma voz mais alta do que os fatores de divisão».

O Senhor chama

Tudo isto é importante. Mas, o que quero recordar com esta Exortação é sobretudo a chamada à santidade que o Senhor faz a cada um de nós, a chamada que dirige também a ti: «sede santos, porque Eu sou santo» (Lv 11, 45; cf. 1 Ped 1, 16). O Concílio Vaticano II salientou vigorosamente: «munidos de tantos e tão grandes meios de salvação, todos os fiéis, seja qual for a sua condição ou estado, são chamados pelo Senhor à perfeição do Pai, cada um por seu caminho».

Cada um por seu caminho», diz o Concílio. Por isso, uma pessoa não deve desanimar, quando contempla modelos de santidade que lhe parecem inatingíveis. Há testemunhos que são úteis para nos estimular e motivar, mas não para procurarmos copiá-los, porque isso poderia até afastar-nos do caminho, único e específico, que o Senhor predispôs para nós. Importante é que cada crente discirna o seu próprio caminho e traga à luz o melhor de si mesmo, quanto Deus colocou nele de muito pessoal (cf. 1 Cor 12, 7), e não se esgote procurando imitar algo que não foi pensado para ele. Todos estamos chamados a ser testemunhas, mas há muitas formas existenciais de testemunho. De facto, quando o grande místico São João da Cruz escrevera o seu Cântico Espiritual, preferia evitar regras fixas para todos, explicando que os seus versos estavam escritos para que cada um os aproveitasse «a seu modo». Pois a vida divina comunica-se «a uns duma maneira e a outros doutra».

A propósito de tais formas distintas, quero assinalar que também o «génio feminino» se manifesta em estilos femininos de santidade, indispensáveis para refletir a santidade de Deus neste mundo. E precisamente em períodos nos quais as mulheres estiveram mais excluídas, o Espírito Santo suscitou santas, cujo fascínio provocou novos dinamismos espirituais e reformas importantes na Igreja. Podemos citar Santa Hildegarda de Bingen, Santa Brígida, Santa Catarina de Sena, Santa Teresa de Ávila ou Santa Teresa de Lisieux; mas interessa-me sobretudo lembrar tantas mulheres desconhecidas ou esquecidas que sustentaram e transformaram, cada uma a seu modo, famílias e comunidades com a força do seu testemunho.

Isto deveria entusiasmar e animar cada um a dar o melhor de si mesmo para crescer rumo àquele projeto, único e irrepetível, que Deus quis, desde toda a eternidade, para ele: «antes de te haver formado no ventre materno, Eu já te conhecia; antes que saísses do seio de tua mãe, Eu te consagrei» (Jer 1, 5).



Fonte: Gaudete et exsultate: Exortação Apostólica sobre a chamada à santidade no mundo atual (19 de março de 2018)


Exposição das relíquias de São Conrado e São José de Anchieta.












Padre Marcos Belizário Ferreira lê para a comunidade paroquial o termo de entrega da relíquia de São José de Anchieta assinado pelo Padre Nilson Marostica, sj Reitor do Santuário Nacional de São José de Anchieta.