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sexta-feira, maio 31, 2019

A VISITA DE MARIA A ISABEL







Duas mulheres se saúdam no pórtico da Nova Aliança (Lc 1,39-45). Uma já idosa, a outra ainda jovem. Ambas sintetizam toda a História Sagrada. Isabel enrugada pela idade era bem o sinal de longos séculos de preparação para a vinda do Messias prometido. Maria, a cheia de graças, imaculada em sua conceição, prognosticava a vinda de Jesus. Em comum nelas brilhava a esperança e a maternidade de ambas as engajara no plano de Deus ao qual deram total adesão. Viveriam a missão a elas confiadas pelo Todo-poderoso. As duas crianças que nasceriam mostrariam que para o Criador nada é impossível.

Com efeito, Isabel era estéril e Maria era virgem. Num encontro singular Isabel se torna a primeira teóloga do novo Testamento: “Donde me é dada a graça que venha visitar-me a mãe de meu Senhor?” Maria faz resplandecer sua gratidão para com Deus: “Minha alma glorifica ao Senhor”. Havia, contudo, uma diferença profunda entre os filhos de Isabel e Maria. Um, pelo milagre, era filho de Zacarias, o outro, também por um prodígio maravilhoso, era o próprio Filho de Deus, concebido do Espírito Santo. Maria saudou sua ditosa prima e desde que sua voz chegou a Isabel o menino exultou de alegria em seu seio. No mistério dos encontros que marcam as existências humanas, jamais se veria cena tão extraordinária, qual seja o encontro invisível de duas crianças ainda no ventre materno. Naquele momento duas mulheres grávidas e dois meninos privilegiados anunciavam ao mundo que a desgraça de Eva estava desterrada da humanidade. Raiava, de fato, a expectativa da salvação.

A beatitude de Maria se enraíza na fé e, mais tarde, diante dos prodígios operados por Cristo. Perante as sublimes palavras de Jesus outra mulher exclamaria no meio da multidão: “Feliz aquela que te trouxe e te alimentou” (Lc 11,27). Maria foi aquela que acolheu a mensagem divina e a guardou dentro de seu coração com muito amor. Ao se aproximar o Natal nada melhor do que cada um provar a experiência vivida pela Mãe de Jesus. Maria tinha consciência de que Deus interviera na sua vida: “O Poderoso fez em mim grandes coisas”. Quantos infelizmente não percebem a obra do Criador em suas existências. Pela fé é preciso que todo aquele que crê descubra as maravilhas divinas em si e em seu derredor. A exemplo do que ocorreu com Maria, Deus tem um projeto especial para cada um em particular. A solenidade do Natal oferece clima propício para que o cristão possa aquilatar as riquezas com as quais Deus o cumula. Maria tinha certeza absolta e, por isto, pôde dizer que seu espírito exultava de júbilo. É claro que ninguém pode se comparar com ela, mas a experiência de Maria tem pontos comuns com os nossos, pois a seu exemplo nossa vida gira ou deve circular em torno de Jesus. A missão da Mãe de Jesus foi única, singular, a cada um dos remidos por seu Filho divino impende uma tarefa específica a ser executada nesta terra.

As experiências espirituais que a cada ciclo litúrgico cada um vive, precisa contribuir para sua própria perfeição no cumprimento do encargo profissional, familiar e na sociedade em geral. Quando, porém, a fé parece obnubilada, a esperança se esvai e o coração se esvazia, Maria está a proclamar: “Animo, o Senhor está próximo e Ele restabelecerá o significado sublime da missão que Ele te confiou”. Como Isabel e Maria que em tudo acolheram os planos divinos. imersos nos mistério de um Deus que se encarnou e habitou entre nós. Novas luzes brilharão. É que o reencontro com Jesus no seu Natal é sempre um momento privilegiado para se tomar consciência da importância do serviço de cada um para o bem próprio e da sociedade. Quem bem entender o sentido do encontro de Isabel e de Maria sentirá a graça de Deus mobilizando todo o seu ser e dando novas perspectivas para o futuro. Trata-se da experiência da conversão para uma disponibilidade semelhante a que tiveram Isabel e Maria. Elas cumpriram o que Deus delas pediu. Seus filhos João Batista e Jesus deixariam um exemplo de total correspondência aos desígnios divinos. Fundado na experiência de tão extraordinários personagens o cristão redescobre a realidade do itinerário que Deus propõe no curso de sua vida. Isabel deu ao mundo o Precursor do Salvador, Maria foi a Mãe do Messias, o esperado das nações e marcaram História humana. Ambas nos incitam a ir até Jesus no seu Presépio para reconhecer que nossas atividades, por insignificantes que possam parecer, têm uma repercussão imensa em toda a Igreja e em toda a sociedade. Tudo depende do modo como as realizamos.

*Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho