Não é fácil ficar tranquilo no meio das
preocupações. Mas é possível e altamente necessário superar os problemas.
Preocupados com o passado e o futuro, não vivemos bem o presente. A memória e a
imaginação, não controladas, roubam-nos a paz e a tranquilidade.
Bem disse o teólogo e filósofo
existencialista Sören Kierkegaard: “A vida só pode ser compreendida olhando-se
para trás; mas só pode ser vivida olhando-se para frente”. No mesmo sentido,
afirma o Pe. Roque Schneider: “Que a saudade do ontem e o medo do amanhã não
roubem a alegria do nosso hoje”. Precisamos controlar as lembranças do passado
e as expectativas do futuro, para não perdermos a paz de espírito. Daí a
consoladora oração de São Pio de Pietrelcina: “Senhor, eu peço para o meu
passado a vossa misericórdia, para o meu presente o vosso amor, para o meu
futuro a vossa providência”. E fiquemos tranquilos assim.
O célebre livro “A imitação de Cristo”,
nos adverte que “a imaginação dos lugares e mudanças a muitos tem iludido” (I,
9). É quase a interpretação da famosa poesia de Vicente de Carvalho: “Essa
felicidade que supomos, / Árvore milagrosa, que sonhamos / Toda arreada de
dourados pomos, // Existe, sim: mas nós não a alcançamos / Porque está sempre
apenas onde a pomos / E nunca a pomos onde nós estamos”.
Jesus, no seu Sermão da Montanha, nos
dá a receita da tranquilidade: “Não fiqueis preocupados quanto à vossa vida...
Olhai os pássaros do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros. No
entanto, vosso Pai celeste os alimenta. Será que vós não valeis mais do que
eles?... Aprendei dos lírios do campo, como crescem. Não trabalham nem fiam, e,
no entanto, eu vos digo, nem Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu
como um só dentre eles... Vosso Pai celeste sabe que precisais de tudo isso.
Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça, e todas essas coisas
vos serão dadas por acréscimo. Portanto, não fiqueis preocupados com o amanhã,
pois o amanhã terá sua própria preocupação! A cada dia basta o seu mal” (Mt 6,
25-34).
O mundialmente conhecido escritor Dale
Carnegie, no seu best seller “Como evitar preocupações e começar a viver”, cuja
leitura recomendo, reforça a sua tese com essa frase do Evangelho, acima
citada: “A cada dia basta o seu mal, o seu problema”. Não perder a paz com o
que aconteceu ontem, nem com o que imaginamos poderá acontecer amanhã: basta o
problema de cada dia. Santa Teresa chamava a imaginação de “a louca da casa”.
Ela pode nos perturbar e nos tirar a tranquilidade e a paz, com os perigos e os
problemas que nem sequer existem ainda.
No Pai-Nosso, Jesus nos ensinou a pedir
“o pão nosso de cada dia”. Com a palavra “pão” podemos entender não só o
alimento, mas também a solução de todos os problemas. De cada dia, não os de
amanhã. Abandonemo-nos nas mãos de Deus, que é Pai, e se preocupa conosco e por
nós. “Lança sobre Deus o teu cuidado, e ele te sustentará” (Sl 55, 23). “Lançai
sobre ele toda a vossa preocupação, pois ele cuida de vós” (1Pd 5,7).
Fonte: Dom Fernando Arêas Rifan