Da
imagem do recém-nascido envolvido em faixas e colocado sobre a manjedoura se
passa a síntese mais sublime e teológica sobre o Verbo Encarnado , que revela
em profundidade a sua identidade e missão. João 1, 1-18 pode ser considerado um
hino cristológico , que ao mesmo tempo serve de introdução e de resumo do
quarto evangelho. Nesse hino afirma-se que Jesus é a palavra eterna de Deus
feita carne no tempo e no espaço. É o mediador da graça e da verdade é o Unigênito
de Deus pelo qual se conhece o Pai .
O
Livro do Gênesis é aberto com uma declaração primordial , “no princípio Deus
criou os céus e a terra” , no quarto Evangelho
é aberto pelo sentido , pelo desejo e pelo modo como Deus tudo criou
através do seu Verbo, que é Deus com Ele e que pre-existe a criação , é sua
Divina Sabedoria , Artífice de todas as coisas , enviado ao mundo para revelar
aos seres humanos os mistérios de Deus e
de sua vontade .
A
novidade da mensagem do Natal consiste na manifestação humana da palavra de
Deus pelo mistério da encarnação . Esta divina presença é atestada pelo nome,
Emanuel, Deus está conosco, por sua vontade e salvífica revelada no nome JESUS.
Esta mensagem se desdobra a partir dos temas que são enunciados : vida, luz
,verdade, fé, conhecimento e comportamento, devidamente intercalados. Assim se
apresentam Deus e sua ação , por meio do seu Verbo encarnado e o ser humano sua reação , diante de sua testemunha João e diante do próprio Verbo encarnado. Quem
reage com a abertura para revelação de Deus em seu Verbo encarnado recebe vida
esta na luz e na verdade . Em contra partida quem reage fechando-se esta nas
trevas da ignorância. A reação então
manifesta os filhos da luz e os filhos
das trevas, é como Jesus disse ao judeus : “ eu sou a luz do mundo , quem me
segue não andará na trevas, mas terá a luz da vida”.
Diante
do que Deus fez em seu Verbo encarnado o ser humano tem a possibilidade de
optar pelo lado que deseja estar. A
escolha não é mais um salto no escuro mas pode ser feita graças a luz da
verdade que é Deus conosco encarnado e
habitando entre nós. Deus assumiu um rosto , ouve , fala, vê , toca e se deixar
tocar. Não é um ídolo , mas é um de nós para que sejamos um com ele pelo
batismo. É como está dito nos versículos 12 e 13 : “quem recebe o verbo de Deus,
recebe a capacidade de se tornar filho de Deus , no seu Filho.” Esta filiação
não vem do desejo humano , não é fruto da circuncisão , mas é vontade do
próprio Deus . É um caminho que passa pela mediação da lei, por meio de Moisés
, pelo testemunho, por meio de João , mas para alcançar a sua plenitude em
Jesus Cristo, o Unigênito de Deus Pai .
Nessa
dinâmica a luta entra luz e as trevas no mundo é algo constante e cotidiano ,
existem muitos modos de ser entrar nessa luta. Um dado de fato : quem deixa a
luz entrar na sua vida , as trevas se dissipam, mas isso não basta é preciso
permanecer na luz para que as trevas não retornem. Essa luz é a verdade sobre
Deus e seu infinito amor pelo ser humano
revelado de diversos modos por Ele através de seus luzeiros falantes , os profetas, até que chegasse o tempo
oportuno para falar e agir através do
seu próprio Filho. Se na liturgia da
noite de ontem Jesus foi colocado diante de nós como recém nascido, hoje é
colocado como critério de decisão e como
oferta de Deus. Em seu Filho Jesus , Deus nos oferece a sua palavra em carne
humana , por meio de quem faz conhecer o seu designo salvífico , isto é o seu
Amor . Quem acolhe esta proposta de Deus não pode guardá-la para si mas se
percebe comprometido com a sua proclamação . A boa notícia repleta de alegria , de consolo , de justiça e de paz
quer ser difundida sobre a face da terra por palavras e ações que testemunhem a
adesão com a luz da verdade e o abandono das trevas da ignorância , do ódio , e
da falta de perdão .
Esse
movimento tem a sua base e início no despojamento do Verbo de Deus que assume a
nossa humanidade no seio de Maria e se fez carne. Ele em primeiro lugar traz a
glória de Deus para o meio dos seres humanos.
Preciso pensar sobre os efeitos
da humanização de Deus em Jesus Cristo , afim de que se possa aceitar e
acolher a divinização do humano e as
suas consequências , no momento em que o Verbo Divino se encerra na existência
humana e a grandeza da divindade assume
a frágil condição humana o mistério de
Deus se trona acessível. Assim o olhar para o recém-nascido nele reconhecendo o
Verbo Eterno derruba todas as falsas pretensões
e manias de superioridade que povoam a mente
e o coração do ser humano ,enfim deve-se perguntar pelas razões da
encarnação do Verbo , estas não devem ser buscadas apenas nas necessidades
humanas de libertação do jugo do pecado
e do domínio do maligno , é preciso ir além e perceber que as razões se encerram
na identidade de Deus : é o Amor . Deus tudo cria por amor , se revela
por amor , se encarna por amor para que tudo e todos sejam renovados em seu
Amor .