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terça-feira, novembro 24, 2020

SOLENIDADE DE CRISTO REI

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Esta impressionante descrição do juízo final é a conclusão das três parábolas precedentes (a "parábola do administrador fiel e do infiel" - cf. Mt 24,45-51; a "parábola das virgens prudentes e imprudentes " - cf. Mt 25,1-13; a "parábola dos talentos" - cf. Mt 25,14-30). Tanto no texto que nos é proposto como nessas três parábolas aparecem dois grupos de pessoas que tiveram comportamentos diversos enquanto esperavam a vinda do Senhor Jesus. O autor do texto mostra agora qual será o "fim" daqueles que se mantiveram e daqueles que não se mantiveram vigilantes e preparados para a vinda do Senhor.

 

1) A parábola do juízo final começa com uma introdução (vers. 31-33) que apresenta o quadro: o "Filho do Homem" sentado no seu trono, separando as pessoas umas das outras "como o pastor separa as ovelhas dos cabritos".

Vêm, depois, dois diálogos. Um, entre "o rei" e "as ovelhas" que estão à sua direita (vers. 34-40); outro, entre "o rei" e os "cabritos" que estão à sua esquerda (vers. 41-46). No primeiro diálogo, o "rei" acolhe as "ovelhas" e convida-as a tomar posse da herança do "Reino"; no segundo diálogo, o "rei" afasta os "cabritos" e impede-os de tomar posse da herança do Reino. Porquê? Qual é o critério que "o rei" utiliza para acolher uns e rejeitar outros?

2) A questão decisiva parece ser, na perspectiva de Mateus, a atitude de amor ou de indiferença para com os  menores de Jesus, que se encontram em situações dramáticas de necessidade - os que têm fome, os que têm sede, os peregrinos, os que não têm que vestir, os que estão doentes, os que estão na prisão... Jesus identifica-Se com os pequenos, os pobres, os débeis, os marginalizados; manifestar amor e solidariedade para com o pobre é fazê-lo ao próprio Jesus e manifestar egoísmo e indiferença para com o pobre é fazê-lo ao próprio Jesus.

 

3) A exortação que Mateus lança à sua comunidade cristã (e às comunidades cristãs de todos os tempos e lugares) nas parábolas precedentes ganham, assim, uma força impressionante à luz desta cena final. Com os dados que este Evangelho nos apresenta, fica perfeitamente evidente que "estar vigilantes e preparados" (que é o grande tema do "discurso escatológico" dos capítulos 24 e 25) consiste, principalmente, em viver o amor e a solidariedade para com os pobres, os pequenos, os desprotegidos, os marginalizados. Em última análise, é esse o critério que decide a entrada ou a não entrada no Reino de Deus.

 

4) A cena do juízo final será uma descrição exacta e fotográfica do que vai acontecer no final dos tempos?

É claro que não. Mateus não é um repórter, mas um catequista instruindo a sua comunidade sobre os critérios e as lógicas de Deus. O objetivo do catequista Mateus é deixar bem claro que Deus não aprova uma vida conduzida por critérios de egoísmo, onde não há lugar para o amor a todos os irmãos, particularmente aos mais pobres e débeis.

Deus condena os maus ("os cabritos") ao inferno? Não. Deus não condena ninguém. Quem se condena ou não é o homem, na medida em que não aceita ou aceita a vida que Deus lhe oferece. E haverá alguém que, tendo consciência plena do que está em jogo, rejeite o amor e escolha, em definitivo, o egoísmo, o orgulho, a autossuficiência - isto é, o afastamento definitivo de Deus e do Reino? Haverá alguém que, percebendo o sem sentido dessas opções, se obstine nelas por toda a eternidade?

Então, porque é que Mateus põe Deus dizendo aos "cabritos": "afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e para os seus anjos"? Porque Mateus é um pregador veemente, que usa a técnica dos pregadores da época e gosta de recorrer a imagens fortes que toquem o auditório e que o levem a sentir-se interpelado. Para além dos exageros de linguagem, a mensagem é esta: o egoísmo e a indiferença para com o irmão não têm lugar no Reino de Deus.