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segunda-feira, fevereiro 22, 2021

I DOMINGO DA QUARESMA










O quadro da "tentação no deserto" diz-nos que Jesus, ao longo do caminho que percorreu no meio dos homens, foi confrontado com opções. Ele teve de escolher entre viver na fidelidade aos projetos do Pai e fazer da sua vida um dom de amor, ou frustrar os planos de Deus e enveredar por um caminho de egoísmo, de poder, de autossuficiência. Jesus escolheu viver - de forma total, absoluta, até ao dom da vida - na obediência às propostas do Pai. Os discípulos de Jesus são confrontados a todos os instantes com as mesmas opções. Seguir Jesus é perceber os projetos de Deus e cumpri-los fielmente, fazendo da própria vida uma entrega de amor e um serviço aos irmãos. Estou disposto a percorrer este caminho?

 

Ao dispor-se a cumprir integralmente o projeto de salvação que o Pai tinha para os homens, Jesus começou a construir um mundo novo, de harmonia, de justiça, de reconciliação, de amor e de paz. A esse mundo novo, Jesus chamava "Reino de Deus". Nós aderimos a esse projeto e comprometemo-nos com ele, no dia em que escolhemos ser seguidores de Jesus. O nosso empenho na construção do "Reino de Deus" tem sido coerente e consequente? Mesmo contra a corrente, temos procurado ser profetas do amor, testemunhas da justiça, servidores da reconciliação, construtores da paz?

 

Para que o "Reino de Deus" se torne uma realidade, o que é necessário fazer? Na perspectiva de Jesus, o "Reino de Deus" exige, antes de mais, a "conversão". "Converter-se" é, antes de mais, renunciar a caminhos de egoísmo e de autossuficiência e recentrar a própria vida em Deus, de forma a que Deus e os seus projetos sejam sempre a nossa prioridade máxima. Implica, naturalmente, modificar a nossa mentalidade, os nossos valores, as nossas atitudes, a nossa forma de encarar Deus, o mundo e os outros. Exige que sejamos capazes de renunciar ao egoísmo, ao orgulho, à autossuficiência, ao comodismo e que voltemos a escutar Deus e as suas propostas. O que é que temos de "converter" - quer em termos pessoais, quer em termos institucionais - para que se manifeste, realmente, esse Reino de Deus tão esperado.













quinta-feira, fevereiro 18, 2021

QUARTA FEIRA DE CINZAS












1 – Quaresma em tempo de pandemia

 

Passamos por provações muito exigentes no ano passado e, segundo os analistas sociais, outras provações deverão acontecer no nosso tempo presente e no futuro próximo. Falamos e ouvimos falar muito de distanciamento social. Hoje, a Palavra fala de distanciamento de Deus. Diante deste distanciamento, a profecia de Joel, que ouvimos na 1ª leitura, convida, como que apela para que voltemos para Deus. São Paulo, na 2ª leitura, dizia que estamos vivendo o tempo favorável de voltar para Deus. Essa a primeira proposta para a Quaresma deste ano: acolher o convite divino para voltar a se aproximar de Deus. Voltar para Deus abrindo nossos corações, reconhecendo nossos pecados e invocando a purificação de nossas vidas pelo perdão divino, como cantávamos no belo salmo responsorial.

 

 

2 – O caminho da volta se faz com penitência

 

O caminho da volta para Deus acontece pela penitência. Não estou falando de alguns tipos de penitência, como por exemplo, deixar de tomar cerveja, não comer carne... são válidas, mas a Palavra convoca para um caminho penitencial mais profundo e mais exigente. Para falar deste caminho penitencial, que conduz a volta para Deus, a Palavra usa a expressão "rasgar o coração".  O termo se encontra na 1ª leitura: “rasgai o coração e não apenas a veste”. É preciso “rasgar o coração”, mudar o interior, mudar o modo de pensar, mudar o modo de ver e viver a vida. A penitência de rasgar as vestes limita-se ao exterior, indicativo de algo superficial, um gesto que não toca o centro da vida, o coração da existência. “Rasgar o coração” tem a ver com o rasgar o centro da vida, não apenas dar uma concertada, mas rasgar um modo de viver que não conduz a Deus para que um coração novo, que seja atraído por Deus, comece a pulsar no centro da vida. É o que o salmista suplicava: “criai em mim um coração que seja puro”. “Rasgar o coração” para que colocar um coração puro criado por Deus, que pensa como Deus, que sente como Deus.

 

 

3 – Mudar a vida a partir de dentro

 

A proposta de “rasgar o coração” é compromisso concreto para mudar de vida a partir de dentro, a partir do coração, e não mudando vestes, mudando o exterior. Essa é a maior e a mais difícil penitência que somos desafiados a fazer. Mudar algumas atitudes durante a Quaresma, como por exemplo não comer chocolate, pode exigir sacrifício, mas jamais será tão exigente quanto mudar o coração. Mudar o conceito de vida para viver segundo o projeto divino. Um meio concreto para fazer isso é proposto por Jesus no Evangelho. Para Jesus, vale mais praticar a religião de modo silencioso, que usar a religião para aparecer


















quarta-feira, fevereiro 17, 2021

VI DOMINGO DO TEMPO COMUM













São Marcos relata como Deus se aproxima do sofrimento humano com três movimentos: Jesus vê o sofrimento humano na pessoa do leproso, Jesus ouve a prece de quem sofre e Jesus age em favor do sofredor. O evangelista acrescenta um detalhe interessante: Jesus toca o doente, o que era proibido por lei.

 

."A Deus nada é impossível", diz o anjo a Maria. É verdade, Deus pode criar, pode salvar, pode santificar... Jesus pode curar os doentes que encontra, mas espera uma palavra de confiança: "Se queres!" O homem submete-se, então, à sua vontade. Diante desta confiança do doente, Jesus tem piedade, porque vê que ele se abandona nas suas mãos para ser re-criado, levantado, salvo, purificado. Deus deixa-Se tocar pelo homem, sua criatura, quando esta se deixa remodelar por Ele, do mesmo modo que se deixa modelar na manhã da criação.

 

Ele toma o nosso lugar... A maldição que atingia os leprosos era total: mortos vivos, excluídos dos lugares habitados, proibidos do Templo e da sinagoga, impuros aos olhos dos homens mas, sobretudo, de Deus. Um deles quebra os interditos e aproxima-se de Jesus que, perturbado até às entranhas, ousa um gesto impensável: estende a mão e toca o infeliz, tornando-se Ele mesmo, imediatamente, impuro. Passa-se, então, algo de extraordinário. Realiza-se a palavra do salmista: "Senhor, viste o mal e o sofrimento, toma-os na tua mão". Jesus toma nas suas mãos o mal e o sofrimento deste homem. Tira-o da sua lepra, liberta-o da sua exclusão, de toda a impureza. O leproso pode reencontrar a companhia dos outros e de Deus. Mas então, é Jesus que não podia entrar abertamente numa cidade. Era obrigado a evitar os lugares habitados". Certamente que era para se proteger da multidão... Mas, de fato, é como se Jesus tivesse tomado o lugar do leproso. Jesus, o bem amado do Pai, toma sobre Ele as nossas faltas e os nossos sofrimentos, Ele toma o nosso lugar para absorver na sua pessoa e no amor do Pai todas as nossas misérias. E, ao mesmo tempo, encontramos toda a nossa dignidade de homens e de mulheres livres, de pé, capazes de entrar de novo em relação uns com os outros e, sobretudo, de nos aproximarmos de novo de Deus, sem qualquer medo.










sábado, fevereiro 13, 2021

CELEBRAÇÃO DA MISSA E UNÇÃO DOS ENFERMOS PARA 52 FIÉIS




No dia 11 de fevereiro 52 fiéis receberam a Unção dos Enfermos na em nossa Paróquia de São Conrado.




No ritual da unção dos enfermos, encontra-se a seguinte petição a Deus: “Por esta santa unção e pela Sua infinita misericórdia, o Senhor venha em teu auxílio com a graça dEspírito Santo, para que, liberto dos teus pecados, Ele te salve e, na Sua misericórdia, alivie os teus sofrimentos”. Essa oração contém o objeto central desse sacramento, ou seja, confere a ele uma graça especial, que une mais intimamente o doente a Cristo.

 

Jesus veio para revelar o amor de Deus. Frequentemente, faz  isso nas áreas e situações em que nos sentimos especialmente ameaçados em função da fragilidade de nossa vida, devido a doenças, morte etc. Deus Pai quer que nos tornemos saudáveis no corpo e na alma, e reconheçamos nisso a instauração do Seu Reino. Por vezes, só com a experiência da enfermidade percebemos que precisamos do Senhor mais do que tudo. Não temos vida, a não ser em Cristo. Por isso, os doentes e os pecadores têm um especial instinto para perceber o que é essencial.

 

No Antigo Testamento, o homem doente experimenta os seus limites e, ao mesmo tempo, percebe que a doença está ligada misteriosamente ao pecado. Os profetas intuíram que a enfermidade poderia ter também um valor redentor em relação aos próprios pecados e aos dos outros. Assim, a doença era vivida diante de Deus, do qual o homem implorava a cura. No Novo Testamento, eram os enfermos quem procuravam a proximidade de Jesus, tentando “tocá-Lo, pois d’Ele saía uma força que a todos curava” (Lc 6,19). A compaixão de Jesus Cristo pelos doentes e as numerosas curas de enfermos são um claro sinal de que, com Ele, chegou o Reino de Deus e a vitória sobre o pecado, o sofrimento e a morte. Com a Paixão e Morte, o Senhor dá um novo sentido ao sofrimento, o qual, se for unido ao d’Ele, pode ser meio de purificação e salvação para nós e para os outros.

 

A Igreja, tendo recebido do Senhor a ordem de curar os enfermos, procura pôr isso em prática com os cuidados para com os doentes, acompanhados da oração de intercessão. Ela possui, sobretudo, um sacramento específico em favor dos enfermos, instituído pelo próprio Cristo e atestado por São Tiago: «Quem está doente, chame a si os presbíteros da Igreja e rezem por ele, depois de o ter ungido com óleo no nome do Senhor» (Tg 5,14-15).

 

Dessa forma, o sacramento da unção dos enfermos pode ser recebido pelo fiel que começa a se sentir em perigo de morte por doença ou velhice. O mesmo fiel pode recebê-lo também outras vezes se a doença se agravar ou, então, no caso doutra enfermidade grave.








quinta-feira, fevereiro 11, 2021

MENSAGEM DA VIRGEM MARIA AJUDA A VIVER A ESPIRITUALIDADE DE LOURDES





MENSAGEM DA VIRGEM MARIA

11 de Fevereiro de 2021

 

Paróquia São Conrado




Qual foi a mensagem que a Virgem Maria transmitida a Santa Bernadette durante as suas 18 aparições para ela na Gruta de Massabielle, em Lourdes?

O que foi que Nossa Senhora disse à jovem Bernadette Soubirous?

E, mais importante do que isso, qual foi a mensagem que a Virgem Maria quer nos transmitir com essas aparições?

Conhecer e entender essa mensagem ajudam quem vai ao Santuário de Lourdes a viver a sua espiritualidade e a aproveitar ainda melhor a visita.

Além de centenas de estudos e livros, o resumo encontrado no próprio website do Santuário nos ajuda nesse sentido:

Durante a terceira aparição, em 18 de fevereiro de 1858, a Virgem falou pela primeira vez:

“O que tenho para lhe dizer, não é necessário escrever”

Isso significa que Maria quer entrar em um relacionamento com Bernadette (e conosco, consequentemente) que trata do amor, que está no nível do coração.

Bernadette é imediatamente convidada a abrir as profundezas do seu coração a esta mensagem de Amor.

 

Em seguida, a Virgem faz um convite:

“Você me concede a graça de vir aqui por duas semanas?”

A pobre e desprezada Bernadette, sentindo-se assim respeitada e amada, experimenta o que é ser tratada como uma pessoa normal.

E o mesmo também vale para nós, independente dos nossos defeitos físicos, da nossa aparência, da nossa situação econômica, dos nossos pecados, dos nossos erros, de quão pouco nos valorizamos.

Para Nossa Senhora e também Nossa Mãe, todos somos dignos de estar de joelhos diante dela e abrir os nossos corações.

Em resumo, todos somos dignos aos olhos de Deus. Porque todos são amados por Deus!

 

A terceira frase Virgem na Gruta das Aparições vai além:

“Não prometo fazer você feliz neste mundo, mas no próximo”

Quando Jesus, no Evangelho, nos convida a descobrir o Reino do Céu, Ele nos convida a descobrir que, mesmo o mundo sendo como é, apesar de todos os problemas que enfrentamos, existe outro mundo.

A Virgem Maria transmite a Bernadette a certeza de uma terra prometida que só pode ser alcançada após a morte.

Deus é amor

 

 

Apesar de viver na miséria, da sua doença, da ser analfabeta e da sua dificuldade de aprender, Bernadette sempre foi profundamente feliz. Esse é o reino de Deus, o mundo do verdadeiro amor.

Durante as sete primeiras aparições da Virgem Maria, Bernadette mostrou um rosto radiante de alegria, de felicidade, que irradiava luz.

Mas, entre a oitava e a décima-segunda aparição, tudo muda: o rosto de Bernadette fica duro, triste, doloroso e, acima de tudo, ela faz gestos que quem a acompanhava não conseguia entender.

Ela vai de joelhos até o fundo da Gruta de Massabielle, beija o chão sujo e nojento, come ervas amargas, cava o chão e depois tenta beber água barrenta e manchar o rosto com lama.

Então Bernadette olha para a multidão e todos dizem: “Ela é louca”.

Durante quatro aparições, Bernadette irá reproduzir os mesmos gestos. O que isso significa? Ninguém que presenciou as cenas entendeu nada! No entanto, elas estão no centro da “Mensagem de Lourdes”.

 

 

O sentido bíblico das aparições

 

Embora para nós possam parecer incompreensíveis à primeira vista, esses gestos de Bernadette são gestos bíblicos.

Com eles, a jovem garota de Lourdes expressa a Encarnação, a Paixão e a Morte de Cristo.

Andar de joelhos até o fundo da Gruta é o gesto da Encarnação, da humilhação de Deus feita homem.

Comer ervas amargas remete à tradição judaica encontrada em textos antigos.

E sujar seu rosto com lama nos remete ao profeta Isaías, que quando fala de Cristo, mostra-O sob o disfarce do Servo sofredor.

 

 

A Gruta esconde um tesouro imensurável

 

Na nona aparição, Nossa Senhora pede a Bernadette que cave o chão, lhe dizendo:

“Vá à fonte, beba e se lave”

Por meio desses gestos, o próprio mistério do coração de Cristo é revelado a nós: “Um soldado, com sua lança, perfurou seu coração e imediatamente derramou sangue e água“.

O coração do homem, ferido pelo pecado, é representado por ervas e lama. Mas no fundo deste coração está a própria vida de Deus, representada pela fonte.

Ao perguntarem a Bernadette o que “a Senhora” havia lhe dito, ela respondeu que “de tempos em tempos” a Virgem lhe dizia:

 

“Penitência, penitência, penitência. Orem pelos pecadores ”

Ao falar em “penitência” Nossa Senhora queria dizer conversão. Para a Igreja, a conversão consiste, como Cristo ensinou, em voltar o coração para Deus, para os nossos irmãos.

Durante a décima terceira aparição, a Virgem Maria se dirige a Bernadette da seguinte forma:

“Vá e diga aos padres que uma capela seja construída aqui

e que venham em procissão“

“Venham em procissão” significa caminhar nesta vida, sempre com nossos irmãos.

“Vamos construir uma capela”. Em Lourdes, capelas e basícas foram construídas para acomodar a multidão de peregrinos.

A capela é a “Igreja” que temos que construir, onde estamos.

Em 25 de março de 1858, dia da décima-sexta aparição, Bernadette pediu à “Senhora” que lhe dissesse o seu nome.

A “Senhora” respondeu em dialeto: “Que soy era Imaculada Counceptiou“, que significa:

“Eu sou a Imaculada Conceição”

A Imaculada Conceição é “Maria concebida sem pecado, graças aos méritos da Cruz de Cristo” (definição do dogma promulgada em 1854).

Bernadette foi imediatamente ao Pároco de Lourdes para lhe dar o nome da “Senhora”.

Ele, que até então questionava Bernadette e duvidava das aparições, entende imediatamente que é a Mãe de Deus que aparecia na Gruta.

Mais tarde, o bispo de Tarbes, Monsenhor Laurence, depois de um inquérito eclesiástico que durou quatro anos, irá autenticar essa revelação.

 

 

Todos chamados a se tornarem imaculados

 

A assinatura da mensagem – quando a Senhora diz seu nome – vem após três semanas de aparições e três semanas de silêncio (de 4 até 25 de março).

E 25 de março é o dia da Anunciação, da “concepção” de Jesus no ventre de Maria.

A Senhora da Gruta revela quem é e qual é a sua vocação: ela é a mãe de Jesus, todo o seu ser é conceber o Filho de Deus, ela é tudo para ele.

 

Para isso, ele é imaculado, habitado por Deus.

 

Assim, a Igreja e todos os cristãos devem permitir-se ser habitados por Deus, a fim de se tornarem imaculados, radicalmente perdoados e perdoados, para que eles também possam ser testemunhas de Deus.



Fonte: viagensdefe.com.br




terça-feira, fevereiro 09, 2021

V DOMINGO DO TEMPO COMUM













O sofrimento - sobretudo o sofrimento do inocente - é, talvez, o drama mais inexplicável que atinge o homem ao longo da sua caminhada pela história. Que razões há para o sofrimento de uma criança ou de uma pessoa boa e justa? Por que é que algumas vidas estão marcadas por um sofrimento atroz e sem esperança? Como é que um Deus bom, cheio de amor, preocupado com a felicidade dos seus filhos, Se situa face ao drama do sofrimento humano? A única resposta honesta é dizer que não temos uma resposta clara e definitiva para esta questão. O "sábio" autor do livro de Jó lembra-nos, contudo, a nossa pequenez, os nossos limites, a nossa finitude, a nossa incapacidade para entender os mistérios de Deus e para compreender os caminhos por onde se desenrolam os projetos de Deus. De uma coisa podemos estar certos: Deus ama-nos com amor de pai e de mãe e quer conduzir-nos ao encontro da vida verdadeira e definitiva, da felicidade sem fim... Talvez nem sempre sejamos capazes de entender os caminhos de Deus e a sua lógica... Mas, mesmo quando as coisas não fazem sentido do ponto de vista da nossa humana lógica, resta-nos confiar no amor e na bondade do nosso Deus e entregarmo-nos confiadamente nas suas mãos.

 

Ao longo do livro de Jó, multiplicam-se os desabafos magoados de um homem a quem o sofrimento tornou duro, exigente, amargo, agressivo, inconformado, revoltado até. No entanto, Deus nunca condena o seu amigo Jó pela violência das suas palavras e das suas exigências... Deus sabe que as vicissitudes da vida podem levar o homem ao desespero; por isso, entende o seu drama e não leva demasiado a sério as suas expressões menos próprias e menos respeitosas. A atitude compreensiva e tolerante de Deus convida-nos a uma atitude semelhante face aos lamentos de revolta e de incompreensão vindos do coração daqueles irmãos que a vida maltratou.

 

Jó é, também, o crente honesto e livre, que não aceita certas imagens pré-fabricadas de Deus, apresentadas pelos profissionais do sagrado. Recusa-se a acreditar num Deus construído à imagem dos esquemas mentais do homem, que funciona de acordo com a lógica humana da recompensa e do castigo, que Se limita a fazer a contabilidade do bem e do mal do homem e a responder com a mesma lógica. Com coragem, correndo o risco de não ser compreendido, Jó recusa esse Deus e parte à procura do verdadeiro rosto de Deus - esse rosto que não se descobre nos livros ou nas discussões teológicas abstratas, mas apenas no encontro "face a face", na aventura da procura arriscada, na novidade infinita do mistério. É esse mesmo percurso que Jó, o protótipo do verdadeiro crente, nos convida a percorrer.

 

 As ações de Jesus em favor dos homens que o Evangelho deste domingo nos apresenta mostram a eterna preocupação de Deus com a vida e a felicidade dos seus filhos. O projeto de Deus para os homens e para o mundo não é um projeto de morte, mas de vida; o objetivo de Deus é conduzir os homens ao encontro desse mundo novo (o "Reino de Deus") de onde estão ausentes o sofrimento, a maldição e a exclusão, e onde cada pessoa tem acesso à vida verdadeira, à felicidade definitiva, à salvação. Talvez nem sempre entendamos o sentido do sofrimento que nos espera em cada esquina da vida; talvez nem sempre sejam claros, para nós, os caminhos por onde se desenrolam os projetos de Deus... Mas Jesus veio garantir-nos absolutamente o empenho de Deus na felicidade e na libertação do homem. Resta-nos confiar em Deus e entregarmo-nos ao seu amor.










segunda-feira, fevereiro 01, 2021

IV DOMINGO DO TEMPO COMUM











O "homem com um espírito impuro" representa todos os homens e mulheres, de todas as épocas cujas vidas são controladas por esquemas de egoísmo, de orgulho, de autossuficiência, de medo, de exploração, de exclusão, de injustiça, de ódio, de violência, de pecado. É essa humanidade prisioneira de uma cultura de morte, que percorre um caminho à margem de Deus e das suas propostas, que aposta em valores efêmeros e escravizantes ou que procura a vida em propostas falíveis ou efêmeras. O Evangelho de hoje garante-nos, porém, que Deus não desistiu da humanidade, que Ele não Se conforma com o fato de os homens trilharem caminhos de escravidão, e que insiste em oferecer a todos a vida plena.

 

Para Marcos, a proposta de Deus torna-se realidade viva e atuante em Jesus. Ele é o Messias libertador que, com a sua vida, com a sua palavra, com os seus gestos, com as suas ações, vem propor aos homens um projeto de liberdade e de vida. Ao egoísmo, Ele contrapõe a doação e a partilha; ao orgulho e à autossuficiência, Ele contrapõe o serviço simples e humilde a Deus e aos irmãos; à exclusão, Ele propõe a tolerância e a misericórdia; à injustiça, ao ódio, à violência, Ele contrapõe o amor sem limites; ao medo, Ele contrapõe a liberdade; à morte, Ele contrapõe a vida. O projeto de Deus, apresentado e oferecido aos homens nas palavras e ações de Jesus, é verdadeiramente um projeto transformador, capaz de renovar o mundo e de construir, desde já, uma nova terra de felicidade e de paz. É essa a Boa Nova que deve chegar a todos os homens e mulheres da terra.

 

Os discípulos de Jesus são as testemunhas da sua proposta libertadora. Eles têm de continuar a missão de Jesus e de assumir a mesma luta de Jesus contra os "demônios" que roubam a vida e a liberdade do homem, que introduzem no mundo dinâmicas criadoras de sofrimento e de morte. Ser discípulo de Jesus é percorrer o mesmo caminho que Ele percorreu e lutar, se necessário até ao dom total da vida, por um mundo mais humano, mais livre, mais solidário, mais justo, mais fraterno. Os seguidores de Jesus não podem ficar de braços cruzados, a olhar para o céu, enquanto o mundo é construído e dirigido por aqueles que propõem uma lógica de egoísmo e de morte; mas têm a grave responsabilidade de lutar, objetivamente, contra tudo aquilo que rouba a vida e a liberdade ao homem.

 

O texto refere o incômodo do "homem com um espírito impuro", diante da presença libertadora de Jesus. O pormenor faz-nos pensar nas reações agressivas e intolerantes - por parte daqueles que pretendem perpetuar situações de injustiça e de escravidão - diante do testemunho e do anúncio dos valores do Evangelho.

 

A luta contra os "demônios" que desferiam o mundo e que escravizam os homens nossos irmãos é sempre um processo doloroso, que gera conflitos, divisões, sofrimento; mas é, também, uma aventura que vale a pena ser vivida e uma luta que vale a pena travar. Embarcar nessa aventura é tornar-se cúmplice de Deus na construção de um mundo de homens livres.