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segunda-feira, dezembro 06, 2021

II DOMINGO DO ADVENTO

 




Temos uma estranha tentação de separar duas histórias: a história divina, narrada na Bíblia, e a história humana, narrada nos livros de história. O Evangelho que acabamos de ouvir faz questão de ressaltar que existe uma única história. É o que vemos em Lucas, localizando a profecia de João Batista no meio da história humana que, naquele tempo (e também hoje) tinha como protagonistas políticos medíocres, sacerdotes hipócritas, marcados pela corrupção social e pelo pecado. João Batista não desenvolve sua atividade profética numa sociedade diferente; ele profetiza no meio da sociedade do seu tempo. A presença de Deus na história humana manifesta-se no Antigo Testamento com vários profetas e o mesmo acontece no Novo Testamento, com João Batista, como ouvimos no Evangelho. De nossa parte, como batizados, somos desafiados a profetizar em nossos dias, em nossa história, no chão onde pisamos.

Num primeiro momento, tem-se a impressão que João Batista foge e, indo ao deserto criticar a sociedade de longe. Mas, considerando melhor, temos três aspectos que merecem atenção: a necessidade de tomar distância para ter outro ponto de vista, a importância do silêncio do deserto para refazer o coração angustiado pela indignação, e a necessidade de dar tempo para refletir sobre os acontecimentos. Muitas vezes, temos a estranha mania de querer mudar as coisas no exterior: não se está contente com o trabalho; muda-se de emprego. Não se está bem com a família, separa-se. Olhemos para João. A sua vida é uma profecia que ensina a olhar dentro da gente, a partir do silêncio do deserto. Quando não se toma distância, com o tempo, até o erro torna-se normal.

João Batista é um verdadeiro desafio colocado diante de cada um de nós. Pela sua vida, somos desafiados a romper com estruturas sociais automatizadas que só servem para garantir as benesses de ricos e poderosos. Desafiados a caminhar contracorrente tornando-se um profeta evangelizador. Volto a lembrar que desde o Batismo, recebemos a missão de profetizar. Paulo, na 2ª leitura, não caracteriza o profeta evangelizador pela pregação, mas como divulgador do Evangelho. Existem muitos modos para se divulgar o Evangelho. Um deles, como dizia o salmo responsorial, é semeando silenciosamente a semente do Evangelho. Sem barulho, sem show, mas no silêncio, como silencioso é germinar da vida escondida dentro da semente. Nós profetizamos quando divulgamos o Evangelho, semente divina trazida a terra para, aqui na terra, se caminhar nos caminhos de Deus. Amém!