Esta pergunta que o Ressuscitado dirige a Pedro lembra a todos nós
que nos dizemos crentes que a vitalidade da fé não é um assunto de compreensão
intelectual, mas de amor a Jesus Cristo.
É o amor que permite a Pedro entrar numa relação viva com Cristo
ressuscitado e
que também pode introduzir-nos no mistério cristão. Quem não ama,
dificilmente pode "entender" algo sobre a fé cristã.
Não devemos esquecer que o amor brota em nós quando começamos a
abrir-nos a outra pessoa, numa atitude de confiança e entrega que vai sempre
além de razões, provas e demonstrações. De alguma maneira, amar é sempre
"aventurar-se" no outro.
É o que acontece também na fé cristã. Eu tenho razões que me
convidam a crer em Jesus Cristo. Mas, se o amo, não é em última análise pelos
dados que me proporcionam os investigadores, nem pelas explicações que me
oferecem os teólogos, mas porque Ele desperta em mim uma confiança radical em
sua pessoa.
Mas não é só isto. Quando amamos realmente uma pessoa concreta,
pensamos nela, queremos encontrá-la, escutá-la e sentir-nos perto dela. De
alguma maneira, toda nossa vida fica inspirada e transformada por ela, por sua
vida e seu mistério.
A fé cristà é "uma experiência de amor". Por isso, crer
em Jesus Cristo é muito mais do que "aceitar verdades" sobre Ele.
Cremos realmente quando experimentamos que Ele vai se convertendo no centro de
nosso pensar, nosso querer e todo nosso viver.
Este amor a Jesus não reprime nem destrói nosso amor às pessoas.
Ao contrário, é justamente esse amor que pode dar-lhe sua verdadeira
profundidade, libertando-o da mediocridade e da mentira. Quando se vive em
comunhão com Cristo, é mais fácil descobrir que isso que chamamos
"amor", muitas vezes não é senão o "egoísmo sensato e
calculista" de quem sabe comportar-se habilmente, sem nunca arriscar-se a
amar com generosidade total.
A experiência do amor a Cristo pode dar-nos forças para amar
inclusive sem esperar sempre algum ganho ou para renunciar - pelo menos alguma
vez - a pequenas vantagens, para servir melhor a quem precisa de nós. Talvez
algo realmente novo aconteceria em nossa vida. se fôssemos capazes de escutar
com sinceridade a pergunta do Ressuscitado: "Tu me amas?"