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terça-feira, novembro 29, 2022

MISSA DO CRISMA










A liturgia da palavra para este domingo nos mostra a atitude interior que devemos ter para esperar o Senhor que vem. O evangelho faz uma alusão à Arca de Noé e apresenta alguns símbolos que enfatizam aqueles que souberam esperar. As imagens tocantes do evangelho nos levam a pensar se Deus não estaria sendo injusto “um tomado e outro deixado”. As pessoas parecem estar fazendo a mesma coisa.

Inicialmente encontramos no texto a imagem das duas mulheres que estão a moer e dos dois homens que estão a trabalhar no campo, apresentam-se como uma grande interrogação para a consciência cristã. Primeiramente, porque o texto sagrado nos mostra que o juízo de Deus tem em si uma certa dimensão de surpresa. Só Deus conhece os pensamentos mais íntimos. O que externamente não aparece. Podemos enganar os outros, mas não a Deus.

A parábola ainda toma como termo de comparação o ladrão que pode chegar em horário inesperado. Uma comparação que aparece também em outros escritos do Novo Testamento (cf. 1Ts 5,2-4; 2Pd 3,10). O texto é apresentado visando mostrar que o discípulo de Jesus deve ser como o dono de uma casa, sempre vigilante para impedir a entrada de ladrões em sua residência. E como ele não sabe a hora exata em que o ladrão virá, deverá sempre estar em estado de alerta (v. 43). O homem preocupado demais com o viver e se satisfazer com o presente, esquece muitas vezes a dimensão futura da vida. A vinda do Cristo é certa, mas o momento exato dessa vinda é incerto, por isso a atitude do cristão é a abertura e a vigilância.

Enquanto o evangelho insiste em uma vigilância incansável, e uma prontidão constante em face à vinda do Senhor, a história e a experiência cotidiana nos ensinam que o Senhor não tem pressa para vir, mas chegará de modo inesperado, como o dilúvio no dias de Noé (v. 37). Os conterrâneos de Noé viviam despreocupados, mas o julgamento divino os surpreendeu. O texto evangélico começa com uma comparação de caráter geral: “Como foi nos dias de Noé, assim… a parusia do Filho do Homem” (v. 17). E a maioria das pessoas não se preparam para esta vinda. O mesmo texto também faz uma outra comparação com a descrição mais pormenorizada do procedimento despreocupado dos habitantes de Sodoma (v. 39).

A intenção do evangelista São Mateus é acordar a comunidade cristã para a vinda do Senhor e a convida a abrir os olhos para descobrir o agir de Deus no cotidiano da vida: “trabalhando no campo”, “moendo no moinho”. Dessa forma, estando vigilantes, não serão surpreendidos e serão capazes de estar atentos, vigilantes para descobrir os apelos que Deus nos faz a cada dia, e saber responder estes apelos com prontidão e alegria.

Os acontecimentos são postos para exigir a vigilância que cada um deve ter, vigilância que deve subsistir até nas horas tardias da madrugada em que os ladrões podem atacar. O que se pretende lembrar é que cada um deve estar com as suas contas acertadas com Deus na hora em que Ele vier.

A questão fundamental é, portanto, esta: o crente ideal é aquele que está sempre vigilante, atento, preparado, para acolher o Senhor que vem. Não perde oportunidades, porque não se deixa distrair com os bens deste mundo, não vive obcecado com os prazeres deste mundo e não faz deles a sua prioridade fundamental, mas, dia a dia, cumpre o papel que Deus lhe confiou, com empenho e com responsabilidade.

A vigilância está unida à ideia de estar acordado, atento e pronto para agir, seja para construir uma obra boa, seja para combater uma obra má. Trata-se de um esforço pessoal em “caminhar na luz do Senhor”, como nos recorda o Profeta Isaías na primeira leitura (cf. Is 2,5), ou como lembra São Paulo na segunda leitura (cf. Rm 13,11-14), com a nossa coragem de deixar as obras das trevas e praticar as obras de luz.