De
vez em quando, especialmente nos esportes, volta a questão do racismo,
O
famoso ator Morgan Freeman, negro, entrevistado pelo âncora da CNN sobre o
racismo, disse: “Se você fala sobre isso, isso existe. Não é que isto exista e
nós nos recusamos a falar sobre isso. O problema aqui é fazer disso um problema
maior do que ele precisa ser”. Há, de fato, exageros. Mas o problema do
racismo, infelizmente, ainda persiste e o dia nacional da consciência negra,
comemorado no próximo dia 20, é ocasião para falarmos do preconceito racial. É
um erro antropológico, anticristão e anti-humanitário, fruto do orgulho e da
injustiça.
Talvez
o racismo procure se justificar com as ideologias dos séculos XVIII e XIX
(Nietzsche), nas quais também se baseou o partido totalitário
nacional-socialista (Nazi), com a doutrina da superioridade da raça ariana
sobre as demais. O Papa Pio XI escreveu a encíclica Mit Brennender Sorge
(1937), condenando o nacional-socialismo e sua ideologia racista.
A
Igreja já se pronunciara diversas vezes contra o preconceito baseado na cor da
pele ou na etnia, proclamando, firmada na divina Revelação, a dignidade de toda
a pessoa criada à imagem de Deus, a unidade do gênero humano no plano do
Criador e a reconciliação com Deus de toda a humanidade pela Redenção de
Cristo, que destruiu o muro de ódio que separava os mundos contrapostos. A
Igreja prega o respeito recíproco dos grupos étnicos e das chamadas “raças” e a
sua convivência fraterna. A mensagem de Cristo foi para todos os povos e
nações, sem distinção nem preferências. “Não há distinção entre judeu e grego,
porque todos têm um mesmo Senhor...” (Rm 10,12); “já não há judeu nem grego,
nem escravo nem livre..., pois todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gal 3, 28).
Infelizmente,
com a descoberta e colonização do Novo Mundo, no século XVI, começaram a surgir
abusos e ideologias racistas. Os Papas não tardaram a reagir. Assim, em 1537,
na Bula Sublimis Deus, o Papa Paulo II denunciava os que consideravam os
indígenas como seres inferiores e solenemente afirmava: “No desejo de remediar
o mal que foi causado, nós decidimos e declaramos que os chamados Indígenas,
bem como todas as populações com que no futuro a cristandade entrará em
relação, não deverão ser privados da sua liberdade e dos seus bens – não
obstante as alegações contrárias – ainda que eles não sejam cristãos, e que, ao
contrário, deverão ser deixados em pleno gozo da sua liberdade e dos seus
bens”. Infelizmente, nem sempre essas normas da Igreja foram obedecidas, mesmo
pelos cristãos.
Quando
começou o tráfico de negros, vendidos também pelos africanos como escravos e
trazidos para as novas terras, os Papas e os teólogos pronunciaram-se contra
essa prática abominável. O Papa Leão XIII condenou-a com vigor na sua encíclica
In Plurimis, de maio de 1888, ao felicitar o Brasil por ter abolido a
escravidão. E o Papa São João Paulo II não hesitou, no seu discurso aos
intelectuais africanos, em Yaoundé, em 13 de agosto de 1985, em deplorar que
pessoas pertencentes a nações cristãs tenham contribuído para esse tráfico de
negros.
Fonte:
Dom Fernando Arêas Rifan