Amados
irmãos e irmãs, hoje o Senhor nos fala da memória — não da memória fraca da
carne, mas da memória viva do Espírito. Ele promete enviar o Paráclito, o
Defensor, o Espírito da Verdade, pois . E afirma: “Ele vos recordará tudo o que
eu vos tenho dito.”
Não
se trata de uma lembrança qualquer, pois o Espírito não vem somente para
relembrar frases ou registrar doutrinas. O Espírito Santo não é um gravador
divino, mas é o Sopro do Amor entre o Pai e o Filho, que se derrama em nossos
corações para tornar presente o que, sem Ele, permaneceria no passado.
Porque
sem o Espírito, até o Evangelho vira letra morta. Sem Ele, ouvimos Jesus… e
esquecemos. Lemos as Escrituras… e não entendemos. Repetimos as palavras… mas
elas não nos transformam. A função do Espírito é nos introduzir na verdade, não
como quem ensina lições, mas como quem acende uma chama no fundo da alma.
Por
isso Jesus disse “ele vos recordará”. Recordar, do latim re-cordare, é trazer
de volta ao coração. O Espírito Santo recorda ao nosso coração aquilo que,
humanamente, teríamos esquecido — porque as palavras de Cristo não foram feitas
para ficar apenas na cabeça. Foram ditas para enraizar-se no coração,
frutificar na vida e moldar o ser.
Na
escola de Santo Agostinho aprendemos que a memória, mais do que um depósito de
lembranças, é uma morada interior onde Deus deseja habitar. Por isso Cristo
diz: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós
viremos e faremos nele a nossa morada.” O Espírito é quem prepara essa casa.
Ele limpa os quartos escuros da nossa alma, areja as janelas da consciência,
expulsa o medo e acende a luz da paz.
É
Ele quem nos consola quando tudo em volta grita desespero, quem nos corrige,
quando o orgulho nos empurra para longe da humildade. Além disso, é Ele quem
nos lembra, em meio ao tumulto do mundo, aquilo que Jesus sussurrou no silêncio
da cruz: “Pai, perdoa.”
E
veja, meu irmão, minha irmã… isso muda tudo. Porque mesmo quando não ouvimos
mais — devido ao barulho — mesmo quando a dor parece sufocar a esperança, o
Espírito continua recordando. Quando o desânimo chega e você pensa: “Será que
Ele continua comigo?”, o Espírito sussurra dentro: “Deixo-vos a paz.” Quando a
solidão pesa, e você esquece a promessa, Ele murmura: “Eu voltarei a vós.”
Não
é coincidência que essa promessa venha antes da paixão. Jesus sabia que o medo
nos tornaria esquecidos. Sabia que os discípulos fugiriam. Sabia que a cruz
escandalizaria a esperança. Por isso, prometeu: o Espírito vos recordará.
Porque quem ama não deixa o outro esquecer daquilo que dá sentido à vida.
Hoje,
abramos espaço para essa memória divina. Peçamos ao Espírito que nos recorde o
essencial. Que reacenda a Palavra esquecida, e desperte a alegria prometida,
porque transforme a fé em fogo. E que, ao lembrar-nos de Jesus, nos faça mais
parecidos com Ele.
Vinde,
Espírito Santo. Fazei memória viva em nós.