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domingo, abril 13, 2014

DOMINGO DE RAMOS, 2014



Neste Domingo de Ramos, a Liturgia da Santa Missa tem dois Evangelhos: 
o da entrada de Jesus em Jerusalém e o Evangelho em que Jesus é condenado e crucificado no Calvário. Olhando para Jesus como sumo e eterno sacerdote, é possível perceber a grande ligação entre essas duas passagens: a entrada de Cristo em Jerusalém é como a procissão do sacerdote que se dirige ao altar, a fim de oferecer um sacrifício.
 A vida de Jesus foi uma entrega do começo ao fim. O Seu sacrifício e sacerdócio não começaram na Cruz: 
 antes de entrar em Jerusalém, Ele entrou no mundo; antes de ascender ao Calvário, Ele desceu à humanidade, fazendo-se homem.
 Mt 27, 11-54 - O Evangelho segundo Mateus começa por apresentar Jesus (Mt 1,1-4,22).  
Descreve, depois, o anúncio central de Jesus: nas suas palavras e nos seus gestos, Jesus anuncia esse mundo novo a que Ele chama “o Reino dos céus” (Mt 4,23-9,35).
Do anúncio do “Reino” nasce a comunidade dos discípulos – isto é, nasce um grupo que assimila as propostas de Jesus.
 Os discípulos são a “comunidade do Reino”: instruídos por Jesus, formados na mentalidade do “Reino”, os discípulos recebem a missão de testemunhar o “Reino”, após a partida de Jesus.
 Na parte final do seu Evangelho, Mateus a paixão, morte e ressurreição (Mt 26,1-28,15).
 A leitura que hoje nos é proposta é o relato da paixão de Jesus. Descreve como o anúncio do Reino choca com a mentalidade da opressão e, portanto, conduz à cruz e à morte; 
no entanto, não podemos dissociar os acontecimentos da paixão daqueles que celebraremos no próximo domingo:
a ressurreição é a prova de que Jesus veio de Deus e tinha um mandato do Pai para tornar realidade no mundo o “Reino dos céus”.
 Homilia de Padre Marcos Belizário Ferreira no
DOMINGO DE RAMOS, 2014
O sofrimento leva muitas pessoas a gritar a Deus. Mas nem todos o fazem da mesma maneira. 
Algumas perguntam por Deus teoricamente: “Como pode Deus permitir isto?” Essas têm a impressão de que Deus é uma espécie de força cega e insensível que não se preocupa com ninguém. Em geral fala assim quem contempla o sofrimento de longe. 
Não é esta a pergunta daquele que o sofre em sua própria carne. Seu grito tem outro acento mais dilacerador: “Meu Deus, onde estás?” “Por que te ocultas? Não sentes minha dor e minha pena?”
 No centro da fé cristã há uma história de paixão. É a história de Jesus perseguido, abandonado, torturado e crucificado.
Nenhuma outra religião tem uma figura martirizada em seu centro. Porém, o que é mais escandaloso ainda, no centro desta paixão está a experiência do abandono de Deus. 
O que angustia a Jesus não é só a morte. É o temor de que, depois ter confiado totalmente no Pai, este possa “abandoná-lo”. 
Onde ficará então o Reino de Deus cuja felicidade Ele prometeu aos pobres e desgraçados do mundo? 
É o silêncio espantoso de Deus que faz Jesus gritar. E é esse precisamente o grito ao qual tantas pessoas atormentadas continuam se unindo ainda hoje, pois expressa o que elas sentem: "Meu Deus, por que me abandonaste?" 
Mas será que é realmente assim? Se o deixou morrer só e abandonado na cruz, Deus não seria só um Deus insensível, mas também um Deus cruel. 
Mas na primeira comunidade cristã afirma-se categoricamente o contrário: “Em Cristo estava Deus reconciliando o mundo consigo”(2 Cor 5,19). 
Quando Cristo sofre na cruz, o Pai sofre a morte de seu Filho amado.
 Ambos sofrem, ainda que de maneira distinta: Cristo sofre  a morte em sua carne humana e o Pai sofre a morte de seu Filho em seu coração de Pai. A paixão de Cristo faz Deus sofrer, é a paixão de Deus.
Isto muda tudo. Se Deus mesmo está sofrendo em Cristo, então Cristo traz a comunhão de Deus com aqueles que se veem humilhados e crucificados como Ele. 
Sua cruz levantada entre nossas cruzes é o sinal de que Deus sofre em todo ser humano. A Deus lhe dói ver a fome das crianças, a humilhação das mulheres, ou a angústia dos torturados por tantos abusos e injustiças.
Este Deus “crucificado conosco” é nossa esperança. Não sabemos por que Deus permite o mal. E, mesmo que o soubéssemos, de muito pouco nos serviria. 

SABEMOS QUE DEUS SOFRE CONOSCO, E ISTO É O DECISIVO, POIS, COM DEUS, A CRUZ ACABA NA RESSURREIÇÃO, O SOFRIMENTO NA FELICIDADE ETERNA.


Cf Pagola, José Antonio. O Caminho aberto por Jesus, Mateus, Ed Vozes, Petrópolis 2013, páginas 329-330


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