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domingo, setembro 20, 2015

PAPA FRANCISCO EM CUBA COMO MISSIONÁRIO DA MISERICÓRDIA


O Papa Francisco partiu na manhã de sábado 19/09, às 10.32 horas de Roma, do Aeroporto de Fiumicino para a sua décima viagem internacional, a mais longa do seu Pontificado: dez dias ao todo, entre Cuba e os Estados Unidos.
Cuba está a abrir-se ao mundo e o mundo está a abrir-se a Cuba, exatamente como tinha desejado João Paulo II em 1998.
É um caminho gradual, e já se vêem os sinais.
A Igreja está adquirindo  espaços de liberdade numa sociedade que até aos anos 90 era oficialmente ateia. Agora são tolerados, mesmo que não sejam legais, alguns jornais católicos, bem como alguns centros de formação eclesial. Antes não era assim. Anos de informação e educação geridas exclusivamente pelo Estado comunista tiveram os seus efeitos. Entre os católicos, os praticantes são apenas 2%, enquanto que os batizados são mais de 60%.
A religiosidade popular permaneceu forte, apesar de tudo. Claro, existe o sincretismo religioso, como o fenômeno da "santeria", uma mistura de crenças cristãs e ritos ancestrais africanos. Mas a Igreja cubana, pouco mais de 300 sacerdotes para os 11 milhões de habitantes, faz-se próxima a esta sede de Deus. E se faz próxima dos pobres, em crescimento, porque depois do colapso da União Soviética, em 1991, faltou o apoio econômico.

"Agradeço pela sua fraterna recepção ao Cardeal Jaime Ortega y Alamino, Arcebispo de Havana, a D. Dionisio Guillermo García Ibáñez, Arcebispo de Santiago de Cuba e Presidente da Conferência Episcopal, aos outros bispos e a todo o povo cubano.
Obrigado a todos os que se prodigaram na preparação desta visita pastoral. E queria pedir-lhe, Senhor Presidente, para transmitir os meus sentimentos de especial consideração e respeito ao seu irmão Fidel. Além disso gostaria que a minha saudação chegasse de forma especial a todas aquelas pessoas que, por diferentes motivos, não poderei encontrar e a todos os cubanos espalhados pelo mundo.
Como o Senhor Presidente sublinhou, neste ano de 2015, celebra-se o octogésimo aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas ininterruptas entre a República de Cuba e a Santa Sé. A Providência permitiu-me chegar hoje a esta amada nação, seguindo os passos indeléveis do caminho aberto pelas memoráveis viagens apostólicas feitas a esta Ilha pelos meus dois predecessores, São João Paulo II e Bento XVI. Sei que a sua lembrança desperta gratidão e afeto no povo e nas autoridades de Cuba. Hoje renovamos estes laços de cooperação e amizade, para que a Igreja continue a acompanhar e encorajar o povo cubano nas suas esperanças, nas suas preocupações, com liberdade e todos os meios necessários para levar o anúncio do Reino até às periferias existenciais da sociedade.
Além disso, esta viagem apostólica coincide com o I centenário da declaração da Virgem da Caridade do Cobre como Padroeira de Cuba, por Bento XV. Foram os veteranos da Guerra da Independência que, movidos por sentimentos de fé e patriotismo, pediram que a Virgem mambisa [cubana] fosse a padroeira de Cuba enquanto nação livre e soberana. Desde então, Ela acompanhou a história do povo cubano, sustentando a esperança que preserva a dignidade das pessoas nas situações mais difíceis e defendendo a promoção de tudo o que dignifica o ser humano. A sua devoção crescente é um testemunho visível da presença da Virgem Maria na alma do povo cubano. 
Durante estes dias, terei oportunidade de ir ao Santuário do Cobre, como filho e como peregrino, rezar à nossa Mãe por todos os seus filhos cubanos e por esta amada nação, para que caminhe por sendas de justiça, paz, liberdade e reconciliação.
Geograficamente, Cuba é um arquipélago que abre para todas as rotas, possuindo um valor extraordinário de "chave" entre norte e sul, entre leste e oeste. A sua vocação natural é ser ponto de encontro para que todos os povos se reúnam na amizade, como sonhou José Martí, "mais além da língua dos istmos e da barreira dos mares"(«A Conferência Monetária das Repúblicas da América», em Obras escogidas II, Havana 1992, 505). Este mesmo desejo, exprimiu-o São João Paulo II com o seu ardente apelo para que ''Cuba, com todas as suas magníficas possibilidades, se abra ao mundo e o mundo se abra a Cuba'' (Discurso na cerimónia de acolhimento, 21/1/1998, 5).
Desde há vários meses, temos sido testemunhas dum acontecimento que nos enche de esperança: o processo de normalização das relações entre dois povos, após anos de afastamento. É um processo, é um sinal da vitória da cultura do encontro, do diálogo, do «sistema da valorização universal (…) sobre o sistema, morto para sempre, de dinastia e de grupos», dizia José Martí (obra citada). 
Encorajo os responsáveis políticos a prosseguir por este caminho e a desenvolver todas as suas potencialidades, como prova do alto serviço que são chamados a prestar em favor da paz e do bem-estar dos seus povos e de toda a América, e como exemplo de reconciliação para o mundo inteiro.
O mundo precisa de reconciliação, nesta atmosfera de III Guerra Mundial por etapas que estamos a viver.

Coloco estes dias sob a intercessão da Virgem da Caridade do Cobre, dos Beatos Olallo Valdés e José Lopéz Pieteira e do Venerável Félix Varela, grande propagador do amor entre os cubanos e entre todos os homens, para que aumentem os nossos laços de paz, solidariedade e respeito mútuo".

NÃO SERVIMOS A IDEIAS, MAS A PESSOAS
Homilia do Papa na santa Missa na Praça da Revolução em Havana - 20/09/2015
"...Há um "serviço" que serve; mas devemos guardar-nos do outro serviço, da tentação do "serviço" que "se" serve. Há uma forma de exercer o serviço cujo interesse é beneficiar os "meus", em nome do "nosso". Este serviço deixa sempre os "teus" de fora, gerando uma dinâmica de exclusão.
Todos estamos chamados, por vocação cristã, ao serviço que serve e a ajudar-nos mutuamente a não cair nas tentações do "serviço que que se serve". Todos somos convidados, encorajados por Jesus a cuidar uns dos outros por amor. E isto sem olhar em redor, para ver o que o vizinho faz ou deixou de fazer. Jesus diz: "Se alguém quiser ser o primeiro, há-de ser o último de todos e o servo de todos" (Mc 9, 35). Não diz: Se o teu vizinho quiser ser o primeiro, que sirva. Devemos evitar os juízos temerários e animar-nos a crer no olhar transformador a que Jesus nos convida.
Este cuidar por amor não se reduz a uma atitude de servilismo; simplesmente põe, no centro do caso, o irmão: o serviço fixa sempre o rosto do irmão, toca a sua carne, sente a sua proximidade e, em alguns casos, até "padece" com ela e procura a sua promoção. Por isso, o serviço nunca é ideológico, dado que não servimos a ideias, mas a pessoas.
CUIDAR DOS FRÁGEIS DAS NOSSAS FAMÍLIAS, DA NOSSA SOCIEDADE, DO NOSSO POVO.
“Cuidar dos frágeis das nossas famílias, da nossa sociedade, do nosso povo. São os rostos sofredores, indefesos e angustiados que Jesus nos propõe olhar e convida concretamente a amar”, destacou o Pontífice.

Segundo o Papa, todos somos convidados, encorajados por Jesus a cuidar uns dos outros por amor. E isto sem olhar em redor, para ver o que o vizinho faz ou deixou de fazer.
“Este cuidar por amor não se reduz a uma atitude de servilismo; simplesmente põe, no centro do caso, o irmão: o serviço fixa sempre o rosto do irmão, toca a sua carne, sente a sua proximidade e, em alguns casos, até ‘padece’ com ela e procura a sua promoção”, disse.
Os cubanos, apesar das feridas que tem como qualquer povo, sabem abrir os braços, caminhar com esperança, disse o Papa. Por isso, pediu-lhes que cuidem destes dons que Deus os deu. “Sobretudo quero convidar-vos a cuidar e servir, de modo especial, a fragilidade dos vossos irmãos”.
“Não nos esqueçamos da Boa Notícia de hoje: a importância dum povo, duma nação, a importância duma pessoa sempre se baseia no modo como serve a fragilidade dos seus irmãos. Nisto, encontramos um dos frutos da verdadeira humanidade”, afirmou.
Este é o segundo dia do Pontífice em Cuba, que o recebe durante sua viagem apostólica, que contempla também os Estados Unidos da América, onde estará a partir de 22 de setembro.

VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE A CUBA, AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA E VISITA À SEDE DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU) 19-28.IX.2015
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