Generosidade e cultura atual
Pela definição, é claro que existe uma dificuldade muito grande para o cultivo da generosidade em nossos dias. Sim, existe uma dificuldade de aceitá-la e de cultivá-la porque, nos termos propostos pela Palavra que ouvimos, a generosidade é uma tolice, uma atitude que vai contracorrente do conceito social de nossos dias. Ajudar sim, isto é um consenso entre nós, mas ajudar do jeito dos fariseus, oferecendo aquilo que não faz falta. O generoso não é fariseu, quer dizer, não ajuda com o que lhe sobra, mas ajuda com aquilo que ele tem para viver ou até mesmo para sobreviver. Esta é a grande característica do generoso e da generosidade. O cultivo da generosidade é uma dificuldade também porque muitas famílias e escolas não estão preocupadas em formar valores que possam criar uma convivência mais humana, solidária e generosa. Formam para o vestibular, que é a porta da faculdade, que oferece condições de boa competitividade. Poucas são as escolas que educam para a vida; educam para competir e não para serem generosos. Quem compete e vence não precisa repartir o que ganhou “honestamente”. Esta é, infelizmente, uma filosofia em muitas famílias cristãs.
Família e escola, sementeiras da solidariedade
A construção de uma sociedade mais fraterna passa pela solidariedade, e esta não pode ser promovida sem o cultivo da generosidade. Existe isto no mundo? Sim, claro que sim! Existem muitas pessoas generosas e solidárias que, a exemplo de Jesus que deu sua vida para nos salvar, como dizia a 2ª leitura, oferecem suas vidas para salvar outras pessoas. Pensemos em tantas organizações de voluntariado, em organizações como “Médicos sem fronteiras”, em tantos missionários e missionárias que vão viver com os pobres para propor-lhes o estilo de vida fundamentado no Evangelho. Mas, tais exemplos ainda são gotas de água no oceano, por isso não é motivo para aliviar nossas consciências e considerar que nada temos a ver com isso. Nossas famílias e nossas escolas precisariam se tornar sementeiras de todos os valores, como por exemplo, a generosidade, a solidariedade, a fraternidade, o respeito para com os outros, não considerando os outros como inimigos com os quais preciso competir, mas irmãos e irmãs com quem convivo e com os quais posso crescer em generosidade.
A generosidade e o dízimo
Vou concluir fazendo uma breve menção sobre o dízimo, uma vez que o Evangelho se encontra neste contexto de dízimo. Jesus está no Templo e observa como o dízimo era oferecido: alguns dão somas altas, porque estas não lhe farão falta; até que uma viúva oferece seu dízimo com uma simples moeda. Jesus conclui sua observação com uma contabilidade estranha aos nossos conceitos: a viúva deu mais que os outros, porque deu com generosidade. Porque colocou a sua própria vida naquela oferenda. Isto vale também para a oferta do dízimo. A maior parte de nós faz do dízimo um oferecimento semelhante ao dos fariseus. Contribuir, sim, com o dízimo, mas com uma quantia que não fará falta. Não contribui com a medida da generosidade que, segundo Jesus, é dar daquilo que se tem para viver. Como também é atitude egoísta aquele padre ou pastor que promete recompensas materiais para quem “pagar o dízimo”. Neste caso, ele tira a generosidade do dizimista por transformar o dízimo em moeda de troca. Concluamos com duas interrogações: com que espírito eu contribuo com o dízimo, aqui na comunidade e, o segundo pensamento: se sou generoso, como vivo a generosidade e como a cultivo e a semeio na convivência social? Amém!
Fonte: Serginho Valle liturgia.pro