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quarta-feira, maio 30, 2018

CORPUS CHRISTI, POR DOM FERNANDO ARÊAS RIFAN






Dom Fernando Arêas Rifan*

Amanhã celebraremos com toda a Igreja a solenidade do Santíssimo Sacramento do Corpo e Sangue de Cristo, ou Corpus Christi.

A belíssima catedral gótica de Orvieto, na Itália, que já visitei, conserva o relicário com o corporal sobre o qual caíram gotas de sangue da Hóstia Consagrada, durante uma Santa Missa, celebrada em Bolsena, cidade próxima, onde vivia Santo Tomás de Aquino, que testemunhou o milagre. Estamos no século XIII. O Papa Urbano IV, que residia em Orvieto, ordenou ao Bispo Giacomo que levasse as relíquias de Bolsena a Orvieto, em procissão. Quando o Papa encontrou a Procissão na entrada de Orvieto, pronunciou diante da relíquia eucarística as palavras: “Corpus Christi (o Corpo de Cristo)”. O Papa prescreveu então, em 1264, que na 5ª feira após a oitava de Pentecostes fosse oficialmente celebrada a festa em honra do Corpo de Deus, sendo Santo Tomás de Aquino encarregado de compor o texto da Liturgia dessa festa. O Papa, que havia sido arcediago de Liège, na Bélgica, e conhecido Santa Juliana de Mont Cornillon, atendia assim ao desejo manifestado pelo próprio Jesus a essa religiosa, pedindo uma festa litúrgica anual em honra da Sagrada Eucaristia. Em 1247, em Liège, já havia sido realizada a primeira procissão eucarística, como festa diocesana, sendo estabelecida mundialmente pelo Papa Clemente V, que confirmou a Bula de Urbano IV. Em 1317, o Papa João XXII publicou na Constituição Clementina o dever de se levar a Eucaristia em procissão pelas vias públicas.

Por que tão solene festa? Porque “a Eucaristia é o coração e o ápice da vida da Igreja, pois nela Cristo associa sua Igreja e todos os seus membros a seu sacrifício de louvor e ação de graças oferecido uma vez por todas na cruz a seu Pai; por seu sacrifício ele derrama as graças da salvação sobre o seu corpo, que é a Igreja. A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo: isto é, da obra da salvação realizada pela Vida, Morte e Ressurreição de Cristo, obra esta tornada presente pela ação litúrgica. Enquanto sacrifício, a Eucaristia é também oferecida em reparação dos pecados dos vivos e dos defuntos, e para obter de Deus benefícios espirituais ou temporais” (C.I.C. nn.1407, 1409 e 1414). “O Sacrifício Eucarístico, memorial da morte e ressurreição do Senhor, em que se perpetua pelos séculos o Sacrifício da cruz, é o ápice e a fonte de todo o culto e da vida cristã, por ele é significada e se realiza a unidade do povo de Deus, e se completa a construção do Corpo de Cristo. Os outros sacramentos e todas as obras de apostolado da Igreja se relacionam intimamente com a santíssima Eucaristia e a ela se ordenam” (C.D.C. cân. 897).

Por ser tão importante e digna da nossa honra e culto, o Papa São João Paulo II, na sua Encíclica “Ecclesia de Eucharistia”, nos advertia contra os “abusos que contribuem para obscurecer a reta fé e a doutrina católica acerca deste admirável sacramento” e lastimava que se tivesse reduzido a compreensão do mistério eucarístico, despojando-o do seu aspecto de sacrifício para ressaltar só o aspecto de encontro fraterno ao redor da mesa, concluindo: “A Eucaristia é um dom demasiado grande para suportar ambiguidades e reduções”.


*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

segunda-feira, maio 28, 2018

SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE





Uma senhora é líder na sua comunidade. Numa reunião de um grupo, ela falou assim: “Faço questão de fazer o sinal da cruz bem feito. Não o faço a qualquer momento ou de qualquer jeito. Penso bem no sentido da cruz e das palavras que se pronunciam, referindo-nos a tão grande mistério da nossa fé. Eu o faço bem devagar, pensando bem nas palavras. Desse jeito, acho que já estou fazendo uma bela ação.”


Um senhor observou: “o padre nos explicou uma vez que ao fazer o sinal da cruz, lembramos a presença de Deus em nossa vida: tocando a testa, lembramos que Deus está na nossa mente; tocando no peito, lembramos que Deus está no nosso coração, e tocando nos ombros, queremos dizer que Ele deve estar presente em nossa ação”.


Foi aí que uma outra senhora , muito idosa e trêmula, que quase nunca falava na reunião, disse: “Quando eu me sinto muito só, faço o sinal da cruz bem devagar e assim eu sinto o Pai, o Filho e o Espírito Santo me abraçando, igual quando a gente carrega uma criancinha na hora de batizar!”


A Palavra de Deus na liturgia de hoje nos apresenta a Santíssima Trindade como a melhor comunidade. Pelo batismo, somos mergulhados no mistério do seu amor, e nos tornamos participantes da vida trinitária.


O mundo consumista de hoje fabrica deuses e facilmente nos submetemos a seus caprichos e seduções. Esses deuses favorecem a vida a uns poucos, gerando sofrimento e morte de muitos. O Único Deus verdadeiro é aquele que liberta para que todos tenham vida e vida em abundância (João 10,10). Esse Deus é nossa Mãe e Pai, nos dá o Reino em herança, adotando-nos como filhos e filhas, e elimina, pelo Espírito de Jesus, o medo que nos escraviza e aprisiona. Esse Deus se revela na prática cristã de nossas comunidades. Que vão refazendo os gestos de Jesus, até que o mundo seja transformado e tudo se torne posse da Santíssima Trindade.


O batismo, feito em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, significa: consagração, ser marcado pela Trindade a serviço da justiça, dedicação total e entrega a tudo o que Jesus ensinou.


Deus é nosso Pai comum. Nossa relação com Ele exprime o que há de mais íntimo e carinhoso. Podemos, pelo Espírito, chamá-Lo “Abba, meu Pai”, exatamente como Jesus o fez (cf. Marcos 14,36). Na condição de filhas e filhos, recebemos a herança do Pai, que nada reserva para si. Senhor e dono absoluto de todas as coisas, tudo nos dá. A síntese da herança é o Reino de Deus.


Somos convocados a ser sinal do carinho do Pai, cuidando da obra que Ele criou, defendendo as pessoas, filhos e filhas de Deus, trabalhando para a vida ficar do jeito que o Pai sempre quis.


ENCERRAMENTO DO MÊS DE MAIO COM A 

COROAÇÃO DA IMAGEM DE NOSSA SENHORA.






























sábado, maio 26, 2018

DIA DE SÃO FILIPE NÉRI





A incrível história do santo que entrava em êxtase e a quem o próprio Papa já venerava em vida

Filho de pai nobres e piedosos, Filipe Neri nasceu em 1515, na cidade italiana de Florença. De boa índole, modos afáveis e inclinação à oração, o menino mereceu já aos 5 anos o apelido de “o bom Filipe”.

Um incêndio, no entanto, destruiu grande parte da fortuna dos seus pais. Filipe passou a morar com um primo, riquíssimo negociante, em São Germano. O primo prometeu estabelecê-lo como herdeiro de todos os seus bens se quisesse tomar-lhe a gerência dos negócios. O bom Filipe, porém, sentia pouca inclinação a ser negociante; o que ele queria era ser santo e, apesar das insistências do primo, resolveu dedicar-se ao serviço de Deus. Estudou Filosofia e Teologia em Roma e adotou um modo de vida austeríssimo, que manteve até o fim: alimentava-se de pão, água e legumes, reservava poucas horas ao sono e dedicava longo tempo à adoração.

Desejoso de se devotar à vida contemplativa, vendeu a biblioteca, deu os bens aos pobres e aprofundou o espírito na meditação da Sagrada Paixão e Morte de Jesus. Passava todo o tempo disponível nas igrejas e catacumbas. A graça de Deus lhe tocou tanto o coração que, prostrado, chegou a exclamar:


“Basta, Senhor, basta! Suspendei a torrente de vossas consolações, porque não tenho forças para receber tantas delícias. Ó meu Deus tão amável, por que não me destes um coração capaz de amar-Vos condignamente?”

Foi nas catacumbas de São Sebastião, em 1545, que recebeu o Espírito Santo em forma de bola de fogo. Sentiu na ocasião tanto ardor do amor de Deus que as fortíssimas palpitações do coração lhe deslocaram a segunda e a quarta costelas.

Com tamanho amor divino, imenso era também o seu amor pelo próximo. Filipe tinha o dom de atrair todos a si com a sua afabilidade, cortesia e modéstia. Era amigo de todos e, uma vez conquistada a sua confiança, os preparava para os sacramentos e os encaminhava para o bem. Passava noites em hospitais cuidando de doentes. O mais belo monumento da sua caridade é a Irmandade da Santíssima Trindade, cujo fim principal era receber os romeiros e cuidar dos enfermos.

No início de cada mês, Filipe convidava o povo a adorar o Santíssimo Sacramento, ocasiões em que, embora leigo, fazia admiráveis alocuções aos fiéis. A piedosa ideia ecoou entre o povo, que dava abundantes esmolas à nova instituição. Cardeais, bispos, reis, ministros, generais e princesas viam grande honra em pertencer a esta irmandade.

Seguindo o conselho do seu confessor, Filipe recebeu o santo Sacramento da Ordem quando tinha 36 anos. Sua vontade era trabalhar nas Índias e morrer mártir por Cristo. A Vontade de Deus para ele, porém, era que a sua terra de missão fosse a própria Roma. Ele então se tornou apóstolo da capital da cristandade. Chamou homens igualmente distintos pelo saber e pela piedade a fazerem parte da sua obra principal, a fundação da Congregação da Oração. Passava grande parte do dia no confessionário. Às suas conferências espirituais acorriam cardeais, bispos, sacerdotes e leigos, que se confiavam à direção de São Filipe e o veneravam como a um pai.

Assim como conquistava confiança ilimitada, também ilimitada era a inveja e o ódio que atraía de Satanás e dos seus sequazes. Os confrades tiveram que provar muitas vezes o escárnio, a calúnia e perseguição. O ódio dos inimigos chegou a ponto de levarem uma falsa acusação às autoridades eclesiásticas, acarretando para Filipe a suspensão das ordens sacerdotais. Privado da celebração da Santa Missa, da pregação e da administração do Santíssimo Sacramento, o santo não perdeu a paz e só dizia:


“Como Deus é bom, que assim me humilha!”

A suspensão acabou sendo retirada. O inimigo principal do santo, caindo em si, fez reparação pública e se tornou seu discípulo.

No final da vida já não conseguia rezar a Santa Missa em público, tamanha a comoção que lhe sobrevinha na celebração dos santos mistérios. Estando no púlpito, as lágrimas lhe embargavam a voz quando falava do Amor de Deus e da Paixão de Cristo. Quando celebrava a Missa, chegando à Santa Comunhão, ficava arrebatado em êxtase pelo espaço de duas a três horas enquanto o seu corpo se elevava à altura de dois palmos. Não é de admirar que o Papa o consultasse em importantes decisões e quisesse beijar as suas mãos.

É à sua prudência e clarividência que a França deve a felicidade de ter permanecido católica no ardor das guerras civis, quando Henrique IV, calvinista, abjurou a heresia cismática e abraçou a fé da Igreja. Quando o rei teve uma recaída no calvinismo e depois voltou mais uma vez para a Igreja, o Papa Clemente VIII, apoiado por cardeais, lhe negou a absolvição. Mas Filipe, prevendo a apostasia da França caso o Papa persistisse nesta resolução, fez jejuns e orações extraordinárias e pediu a Barônio, confessor do Papa, que o acompanhasse nestes exercícios para alcançar a luz do Espírito Santo. Henrique IV acabou absolvido pelo Papa e recebido solenemente no seio da Igreja.

Alquebrado pela idade e pelo trabalho, Filipe caiu doente. Os médicos que saíam do seu quarto desanimados ouviram-no, porém, exclamar:


“Ó minha Senhora, ó dulcíssima e bendita Virgem!”

Voltando ao quarto, encontraram o santo elevado sobre o leito, exclamando em êxtase:


“Não sou digno, não sou digno de vós, ó dulcíssima Senhora, que venhais visitar-me!”

Os médicos lhe perguntaram o que sentia. Voltando a si, Felipe lhes respondeu com outra pergunta:


“Não vistes a Santíssima Virgem, que me livrou das dores?”

Ele se levantou, completamente curado, e viveu mais um ano.

Tendo predito a hora da morte, Filipe fechou os olhos para este mundo no dia 2 de maio de 1595. Filipe Néri foi beatificado pelo Papa Paulo V em 1614 e canonizado por Gregório XV em 1622.

FONTE: https://pt.aleteia.org/2017/06/09/sao-filipe-neri-e-seu-lema-diante-do-pecado-prefiro-o-paraiso/

quinta-feira, maio 24, 2018

A BELEZA QUE ENCANTA, POR DOM FERNANDO ARÊAS RIFAN



Dom Fernando Arêas Rifan*

Foi lançado recentemente um bom filme, intitulado “Paulo, o Apóstolo de Cristo”, mostrando os primórdios do cristianismo, na pessoa do seu maior evangelizador, que, como os primeiros cristãos, sofreu e deu a vida por algo que valia a pena! 
Saulo - esse era o seu nome antes da conversão – foi formado no judaísmo como fariseu convicto, por isso odiava o cristianismo, que ele julgava ser uma doutrina perversa, contra as suas tradições, como ele mesmo atesta: “Eu persegui de morte essa doutrina, prendendo e metendo em cárceres homens e mulheres” (At 22,4). 

Mas, o que teria transformado Saulo, de perseguidor fanático em Apóstolo apaixonado por Jesus Cristo e seu Evangelho, conversão total, imediata e extraordinária? Foi, na estrada de Damasco, seu encontro pessoal com Cristo vivo, que ele julgava morto. 
Esse seu encontro com Jesus marcou a sua vida. Ele ficou assombrado com Jesus. Deslumbrado, fascinado, apaixonado por Jesus. É claro que não foi uma emoção passageira, algo apenas sentimental e irracional. Foi algo profundamente sentido e racional, que transformou a sua vida e que permaneceu nele até o fim, fazendo-o capaz de desprezar tudo o mais, de sofrer por ele, de querer salvar a todos, e de morrer por ele: “Julgo que tudo é prejuízo diante deste bem supremo que é o conhecimento do Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa dele perdi tudo, e considero tudo como lixo, a fim de ganhar Cristo e estar com ele..., porque eu também fui conquistado por Cristo Jesus” (Fl 3, 8-12). 

O que nos fascina e encanta é a beleza, o belo. Nós só podemos viver com intensidade na medida em que nos sentimos fascinados por alguém ou por algo que consideramos belo. Assim acontece em qualquer trabalho, profissão, luta, estudo, contemplação, utopia, etc. A apatia generalizada dos nossos dias se explica pela ausência deste fascínio por algum ideal.

A pessoa de Jesus encantou Saulo pela sua beleza. Mas o que é a beleza, que deve nos fascinar? Na filosofia aprendemos que o bem, a verdade e o belo se confundem. A beleza corresponde à compreensão do verdadeiro e do bem, ou seja, do verdadeiro enquanto tem razão de bem. Da verdade, que satisfaz o intelecto, e do bem, que satisfaz a vontade, procede o belo. A estética (que estuda o belo - pulchrum) está integrada na Lógica (que estuda a verdade -verum) e na ética (que estuda o bem - bonum) e delas como que brota.

Esse Jesus, que encantou Paulo pela sua beleza e que deve nos encantar, é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14, 6). Jesus é a beleza personificada, que inclui a verdade e o bem. Essa é a “via pulchritudinis” o caminho da beleza! Aconteceu com Paulo aquilo que deve acontecer com qualquer um de nós, quando nos convertemos realmente: “Torna-se cristão não a partir de uma decisão ética ou de uma grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo (Bento XVI, Deus Caritas est, n. 1).”

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
http://domfernandorifan.blogspot.com.br/

quarta-feira, maio 23, 2018

O QUE SIGNIFICA A SANTÍSSIMA TRINDADE?






Só existe um Deus, mas n’Ele há três Pessoas divinas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo

No próximo Domingo a Igreja celebra a Solenidade da Santíssima Trindade, o mistério central da fé e da vida cristã. Deus se revelou como Pai, Filho e Espírito Santo. Foi Nosso Senhor Jesus Cristo quem nos revelou esse mistério. Ele falou do Pai, do Espírito Santo e de Si mesmo como Deus. Logo, não é uma verdade inventada pela Igreja, mas revelada por Jesus. Não a podemos compreender, porque o Mistério de Deus não cabe em nossa cabeça, mas é a verdade revelada.

Santo Agostinho (430) dizia que o Espírito Santo procede do Pai, enquanto fonte primeira, e pela doação eterna deste último ao Filho, do Pai e do Filho em comunhão (A Trindade, 15,26,47).

Só existe um Deus, mas n’Ele há três Pessoas divinas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo. Não pode haver mais que um Deus, pois este é absoluto. Se houvesse dois deuses, um deles seria menor que o outro, mas Deus não pode ser menor que outro, pois não seria Deus.

Por não dividir a unidade divina, a distinção real das Pessoas entre si reside unicamente nas relações que as referem umas às outras: Nos nomes relativos das Pessoas, o Pai é referido ao Filho, o Filho ao Pai, o Espírito Santo aos dois. Quando se fala dessas três Pessoas, considerando as relações, crê-se todavia em uma só natureza ou substância (XI Conc. Toledo, DS 675).

São Clemente de Roma, Papa no ano 96, ensinava: “Um Deus, um Cristo, um Espírito de graça” (Carta aos Coríntios 46,6). “Como Deus vive, assim vive o Senhor e o Espírito Santo” (Carta aos Coríntios 58,2).

O Concílio de Niceia, ano 325, confirmou toda essa verdade: “Cremos […] em um só Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, nascido do Pai como Unigênito, isto é, da substância do Pai, Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não feito, consubstancial com o Pai, por quem foi feito tudo que há no céu e na terra. […] Cremos no Espírito Santo, Senhor e fonte de vida, que procede do Pai, com o Pai e o Filho é adorado e glorificado, o qual falou pelos Profetas” (Credo de Niceia).

Pai, Filho e Espírito Santo, rogai por nós!

terça-feira, maio 22, 2018

SOLENIDADE DE PENTECOSTES



João começa por pôr em relevo a situação da comunidade. O “anoitecer”, as “portas fechadas”, o “medo” (vers. 19 a), são o quadro que reproduz a situação de uma comunidade desamparada no meio de um ambiente hostil e, portanto, desorientada e insegura. É uma comunidade que perdeu as suas referências e a sua identidade e que não sabe, agora, a que se agarrar.

Entretanto, Jesus aparece “no meio deles” (vers. 19b). João indica desta forma que os discípulos, fazendo a experiência do encontro com Jesus ressuscitado, redescobriram o seu centro, o seu ponto de referência, a coordenada fundamental à volta do qual a comunidade se constrói e toma consciência da sua identidade. A comunidade cristã só existe de forma consistente se está centrada em Jesus ressuscitado.

Jesus começa por saudá-los, desejando-lhes “a paz” (“shalom”, em hebraico). A “paz” é um dom messiânico; mas, neste contexto, significa, sobretudo, a transmissão da serenidade, da tranquilidade, da confiança que permitirão aos discípulos superar o medo e a insegurança: a partir de agora, nem o sofrimento, nem a morte, nem a hostilidade do mundo poderão derrotar os discípulos, porque Jesus ressuscitado está “no meio deles”.

Em seguida, Jesus “mostrou-lhes as mãos e o lado”. São os “sinais” que evocam a entrega de Jesus, o amor total expresso na cruz. É nesses “sinais” (na entrega da vida, no amor oferecido até à última gota de sangue) que os discípulos reconhecem Jesus. O fato de esses “sinais” permanecerem no ressuscitado, indica que Jesus será, de forma permanente, o Messias cujo amor se derramará sobre os discípulos e cuja entrega alimentará a comunidade.

Vem, depois, a comunicação do Espírito. O gesto de Jesus de soprar sobre os discípulos reproduz o gesto de Deus ao comunicar a vida ao homem de argila (João utiliza, aqui, precisamente o mesmo verbo do texto grego de Gn 2,7). Com o “sopro” de Deus de Gn 2,7, o homem tornou-se um “ser vivente”; com este “sopro”, Jesus transmite aos discípulos a vida nova e faz nascer o Homem Novo. 

Agora, os discípulos possuem a vida em plenitude e estão capacitados – como Jesus – para fazerem da sua vida um dom de amor aos homens. Animados pelo Espírito, eles formam a comunidade da nova aliança e são chamados a testemunhar – com gestos e com palavras – o amor de Jesus.

Finalmente, Jesus explicita qual a missão dos discípulos (ver. 23): a eliminação do pecado. As palavras de Jesus não significam que os discípulos possam ou não – conforme os seus interesses ou a sua disposição – perdoar os pecados. Significam, apenas, que os discípulos são chamados a testemunhar no mundo essa vida que o Pai quer oferecer a todos os homens. Quem aceitar essa proposta será integrado na comunidade de Jesus; quem não a aceitar, continuará a percorrer caminhos de egoísmo e de morte (isto é, de pecado). A comunidade, animada pelo Espírito, será a mediadora desta oferta de salvação.


















segunda-feira, maio 21, 2018

MARIA, MÃE DA IGREJA!




Jesus nos deixou uma grande certeza. Ele disse que, onde duas ou mais pessoas se reúnem em seu nome, para rezar, louvar, trabalhar pelo Reino de Deus, Ele mesmo se faz presente. Por isso, na santa missa, a presença de Jesus Ressuscitado é indubitável, afinal o Filho de Deus jamais poderia desonrar sua Palavra, que é Vida Plena. A vida em comunidade, nesse sentido, é um dos tesouros mais ricos da Igreja Católica. A própria palavra grega “Ekklesia” (Igreja) significa comunidade reunida em louvor e oração!


Não é por acaso que a Igreja nasceu justamente em um momento de oração comunitária. Reunidos em um lugar fechado, escondidos por meio da perseguição, os Apóstolos, e com eles Maria, a mãe de Jesus, recebem a força do Espírito Santo. Este dia, chamado de Pentecostes, marca o nascimento da Igreja, comunidade de fé, de caridade e de oração! E perceba o detalhe do texto bíblico: a mãe de Jesus estava com os apóstolos nesse dia. Ela, que viu nascer Jesus, viu também nascer a Igreja de seu Filho! Desde o começo Maria está junto com a comunidade. Ela vê crescer a obra de seu Filho e se projeta como uma figura especial no cristianismo. Existem registros antiquíssimos de que os cristãos celebravam a memória de Maria já nos primeiros tempos da Igreja.


Ainda que chamar Maria como mãe da Igreja remonte aos primeiros tempos da Igreja, foi mesmo no Concílio Vaticano II que esta denominação “Mãe da Igreja” alcançou sua definição teológica definitiva. No dia 21 de novembro de 1964, exatos 50 anos atrás, o Beato Papa Paulo VI assim se expressou durante os trabalhos conciliares: “Maria é Mãe da Igreja, isto é, Mãe de todo o povo Cristão, tanto dos fiéis como dos pastores”. 


Na Constituição Apostólica Lumen Gentium (Luz dos Povos), o Concílio reserva espaço especial para mostrar a maternidade espiritual e efetiva de Maria na vida da Igreja e do Povo de Deus. Assim, lemos nesse documento no número 53: 


"Como Mãe da Igreja, Maria zela para que seus filhos mantenham a unidade da fé..."


“A Virgem Maria, que na Anunciação do Anjo recebeu o Verbo de Deus no coração e no corpo e trouxe ao mundo a Vida, é reconhecida e honrada como verdadeira Mãe de Deus e do Redentor. Em vista dos méritos de seu Filho, foi redimida de um modo mais sublime e unida a ele por um vínculo estreito e indissolúvel, é dotada com a missão sublime e a dignidade de ser a Mãe do Filho de Deus, e por isso filha predileta do Pai e sacrário do Espírito Santo. Por esse dom de graça exímia supera de muito todas as outras criaturas celestes e terrestres. Mas, ao mesmo tempo, está unida, na estirpe de Adão, com todos os homens a serem salvos. Mais ainda: é verdadeiramente a mãe dos membros (de Cristo), porque cooperou pela caridade para que, na Igreja, nascessem os fiéis que são membros desta Cabeça. Por causa disso, é saudada também como membro supereminente e de todo singular da Igreja, como seu tipo e modelo excelente na fé e caridade. E a Igreja Católica, instruída pelo Espírito Santo, honra-a com afeto de piedade filial como mãe amantíssima” (LG 53).


O fato de tê-la hoje como intercessora nos atesta que Maria é muito importante para a Igreja e para cada um de nós. Se ela não tivesse sido importante para os católicos, certamente hoje não a louvaríamos com tantos gestos e palavras. A presença amorosa de Maria na Igreja cresceu junto com a consciência de que Jesus era Filho de Deus. O Filho é que concede à mãe a autoridade para que se torne mãe de toda a sua Igreja. Este gesto de entrega aconteceu no momento de sua crucifixão!


Como Mãe da Igreja, Maria zela para que seus filhos mantenham a unidade da fé, mas ao mesmo tempo ela respeita cada um daqueles que estão unidos na fé pelo batismo. No fundo Maria age como qualquer mãe: ama cada um dos filhos, mas sabe que eles são diferentes e têm necessidades diferentes uns dos outros. A medida do amor acompanha a necessidade de seus amados.


Seguindo o exemplo de amor de Jesus e de Maria, a Igreja esforça-se também para estar ao lado dos mais sofredores, ainda que nem sempre sua ação seja visível para o mundo. A Igreja trabalha em silêncio, nos hospitais, asilos, orfanatos, creches, enfim, onde o ser humano está abandonado. Nesses e tantos outros lugares é possível encontrar homens e mulheres que em nome da Igreja realizam obras maravilhosas. Junto com eles, intercedendo pelo sucesso do trabalho, está Maria, com sorriso de mãe e braços sempre abertos para acolher! Fica o desafio: ser cristão é muito mais do que ficar em casa em oração! É preciso trabalhar para a construção do Reino de Deus sendo uma Igreja Santa e comprometida. Maria, mãe da Igreja, rogai por nós!


Colunista Padre Evaldo César


PAPA INSTITUI MEMÓRIA DE MARIA, '' MÃE DA IGREJA'', NO CALENDÁRIO LITÚRGICO




“Esta celebração ajudará a lembrar que a vida cristã, para crescer, deve ser ancorada no mistério da Cruz”, disse o cardeal Robert Sarah

Da redação, com Ecclesia

O Papa Francisco publicou neste sábado, 3, um decreto que determina a inscrição da Memória da “Bem-aventurada Virgem, Mãe da Igreja” no Calendário Romano Geral, a ser comemorada na segunda-feira depois da celebração de Pentecostes.

“Esta celebração ajudará a lembrar que a vida cristã, para crescer, deve ser ancorada no mistério da Cruz, na oblação de Cristo no convite eucarístico e na Virgem, Mãe do Redentor e dos redimidos”, lê-se no decreto, assinado pelo Prefeito do Dicastério, o cardeal Robert Sarah.

O motivo da celebração está brevemente descrito no Decreto “Ecclesia Mater”: favorecer o crescimento do sentido materno da Igreja nos pastores, nos religiosos e nos fiéis, como, também, da genuína piedade mariana.

“Considerando a importância do mistério da maternidade espiritual de Maria, o Papa Francisco estabeleceu que na segunda-feira depois do Pentecostes, a Memória de Maria Mãe da Igreja seja obrigatória para toda a Igreja de Rito Romano”, comentou o cardeal.

De acordo com o Decreto, em que a celebração da bem-aventurada Virgem Maria, por norma do direito particular aprovado, já se celebra num dia diferente com grau litúrgico mais elevado, pode continuar a ser celebrada desse modo.

“O desejo é que esta celebração, agora para toda a Igreja, recorde a todos os discípulos de Cristo que, se queremos crescer e enchermo-nos do amor de Deus, é preciso enraizar a nossa vida sobre três realidades: na Cruz, na Hóstia e na Virgem – Crux, Hostia et Virgo. Estes são os três mistérios que Deus deu ao mundo para estruturar, fecundar, santificar a nossa vida interior e para nos conduzir a Jesus Cristo. São três mistérios a contemplar no silêncio.”

Anexo ao decreto foram apresentados, em latim, os respectivos textos litúrgicos, para a Missa, o Ofício Divino e para o Martirológio Romano. As Conferências Episcopais providenciarão a tradução e aprovação dos textos, que depois de confirmados, serão publicados nos livros litúrgicos da sua jurisdição.

Este ano a celebração vai ser no dia 21 de maio, segunda-feira de Pentecostes.



FONTE: https://noticias.cancaonova.com/especiais/pontificado/francisco/papa-institui-memoria-de-maria-mae-da-igreja-no-calendario-liturgico/

sábado, maio 19, 2018

O SOPRO DA VIDA, POR DOM FERNANDO ARÊAS RIFAN




Dom Fernando Arêas Rifan*


Domingo próximo será a solenidade de Pentecostes, na qual celebraremos a vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos reunidos com Nossa Senhora (Atos 1, 13-14), ou seja, a inauguração oficial da Igreja de Cristo, seu Corpo Místico vivo, pela ação do Espírito Santo.
Deus, ao criar Adão, o primeiro homem, após formar o seu corpo do pó do solo, soprou sobre ele um “sopro de vida”, surgindo assim o ser humano completo, corpo e alma (Gn 2, 7). Jesus, durante sua vida pública, formou o corpo da Igreja: convocou os Apóstolos, a quem deu a sua autoridade, escolheu Pedro para o chefe, a “pedra”, e deu-lhes o poder de transmitir a graça e os seus ensinamentos. Estava formada a hierarquia, a Igreja docente, que, junto com os outros discípulos, a Igreja discente, formava o corpo da Igreja. Faltava agora a alma, o sopro da vida. Sopro em latim é “spiritus”. Sopro divino, a alma da Igreja, é o Espírito Santo, que Jesus enviou sobre os Apóstolos, sobre a sua nascente Igreja. Agora a obra está completa.
Assim o Espírito Santo completou a obra de Cristo, santificando os Apóstolos, transformando-os de fracos em fortes, de medrosos em corajosos, de ignorantes em sábios, para assim pregarem o Evangelho de Jesus a todos os povos, enfrentando a sabedoria pagã, as perseguições e até a morte, pela causa de Cristo. E até hoje, é o Espírito Santo que dá força aos mártires, testemunhas do Evangelho até o derramamento do sangue, o vigor aos missionários e pregadores, a ciência aos doutores, a pureza às virgens, a perseverança aos justos e a conversão aos pecadores. É o Espírito Santo que garante a indefectibilidade e a infalibilidade à Igreja, até ao fim do mundo. Nenhuma sociedade humana sobreviveria a tantas perseguições, tantas heresias e cismas, tantos inimigos externos e internos, tanta gente ruim no seu seio (nós, por exemplo!), leigos, padres, Bispos e Papas ruins, tantos escândalos da parte dos seus membros, tantas dificuldades, se não fosse a ação do Espírito Santo que a mantém incólume no meio de todas essas tempestades, até a consumação dos séculos.
É essa ação do Espírito Santo que produziu os santos, que fazem a glória da Igreja, e são milhares e milhares. Conhecemos alguns por nome, respeitados por todo o mundo, mesmo pelos não católicos e não cristãos: quem não respeita e admira a santidade de um São Francisco de Assis, a ciência de um Santo Agostinho, um São Jerônimo e um Santo Tomás de Aquino, a firmeza de São Sebastião, a pureza de Santa Inês e Santa Cecília, a candura de Santa Teresinha do Menino Jesus, a caridade de Santa Teresa de Calcutá e da Beata Dulce dos Pobres, etc. É o Espírito Santo, presente na Igreja, que cumpre a promessa de Jesus: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28, 20).
A Igreja reproduz a condição do seu Divino Fundador, Jesus, Deus e homem. Como Deus, perfeitíssimo como o Pai, como homem, sujeito a fraquezas como nós, exceto no pecado. Também a Igreja, humana e fraca nos seus membros, que somos todos nós, é divina nos seus ensinamentos, graça e perfeição, pela presença do Espírito Santo, continuador da obra de Jesus.


*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

quarta-feira, maio 16, 2018

TODOS CONTRA O ABUSO E À EXPLORAÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES



Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)

No dia 18 de maio de 1998, promovido pelo I Encontro da Rede Internacional de Organizações contra a Exploração Sexual da Infância, na Bahia, as mais de 80 entidades integrantes da Instituição patrocinadora decidiram criar o Dia Nacional de Combate ao Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.

Essa proposta foi transformada em lei, em 17/05/2000, pelo diploma nº 9970. Muito influenciou essa legislação protetora, o caso da menina Araceli Cabrera Sanches, de oito anos de idade, que foi sequestrada, drogada, espancada, estuprada e morta por membros de uma tradicional família capixaba. Acabou, como muitas histórias que mexem com pessoas da elite, impune.

No entanto, a sociedade civil reagiu revoltada e se mobilizou com campanhas de incentivo à denúncia, reforçando o lema da iniciativa e da luta: Esquecer é permitir”. “Lembrar é combater. Estudos atuais demonstram que o número de crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual é estarrecedor. A Abrapia (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência), num registro de 1500 denúncias de abuso sexual, observou que 58 % dos casos aconteceram dentro da própria família, 80 % pertencem ao sexo feminino, 49 % destas crianças têm entre dois e cinco anos.

Importa distinguir, também, a exploração sexual infanto-juvenil, que visa fins e retorno lucrativo, com o abuso sexual nas que a vítima é submetida e forçada, por ameaça ou coação, à prática sexual. Para nós, cristão, além de um crime hediondo e perverso, trata-se de um pecado que ofende gravemente ao Deus misericordioso que promove a vida e acolhe com amor as criancinhas: Deixai vir a Mim as criancinhas, porque delas é o Reino dos Céus, e advertiu:

Quem provocar a queda de um só destes pequeninos, melhor seria que lhe amarrassem ao pescoço uma pedra de moinho e o lançassem no fundo do mar!, Mt 18,6. Por uma sociedade segura e cuidadora das crianças e adolescentes, e uma Igreja que sempre defenda sua pureza, inocência e alegria. Deus seja louvado!

terça-feira, maio 15, 2018

O QUE É PENTECOSTES?



A Festa de Pentecostes encerra o período pascal; foi o grande dom de Cristo ressuscitado, que subiu ao Céu e assumiu seu lugar na glória de Deus. Glorificado à direita do Pai – disse São Pedro – Ele enviou o Espírito Santo para conduzir os Apóstolos e toda a Igreja (At 2).

Jesus havia prometido enviar o Espírito Santo para ser a força e a luz da Igreja: “Quando vier o Paráclito, que vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, ele dará testemunho de mim.” (Jo 15,26)

“Eu vos mandarei o Prometido de meu Pai, entretanto, permanecei na cidade [Jerusalém] até que sejais revestidos da força do alto”. (Lc 24,29)

Jesus sabia que sem esta “força do alto” os discípulos jamais seriam capazes de implantar o Reino de Deus neste mundo através da Igreja. As perseguições seriam muitas em todos os tempos, desde o primeiro século até hoje. E muitas seriam também as heresias que ameaçariam destruir a verdade que salva. Só na força do Espírito Santo isso seria possível; por isso Jesus, na sua Ascensão, proibiu que os Apóstolos se afastassem do Cenáculo antes de serem revestidos, batizados, no Espírito Santo.

“E comendo com eles, ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem o cumprimento da promessa de seu Pai, que ouvistes, disse ele, da minha boca; porque João batizou na água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo daqui há poucos dias. Assim reunidos, eles o interrogavam: Senhor, é porventura agora que ides instaurar o reino de Israel? Respondeu-lhes ele: Não pertence a vós saber os tempos nem os momentos que o Pai fixou em seu poder, mas descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força; e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria e até os confins do mundo. “ (Atos 1, 4s)

Os Apóstolos, imbuídos ainda de um messianismo terreno, esperavam que Jesus fosse um libertador político que livrasse Israel do jugo de Roma: “…é porventura agora que ides restaurar o reino de Israel?”. Jesus lhes mostra que não, que “seu Reino não é deste mundo”, e que a salvação de cada um acontecerá pela pregação do Evangelho em todo o mundo, no poder do Espírito Santo, poder esse que vence todo obstáculo à evangelização.

A partir de Pentecostes os Apóstolos se encheram de coragem, sabedoria e pregaram sem medo Jesus Cristo ressuscitado, enfrentando toda perseguição dos judeus. E o Espírito Santo estava com eles. É comum essa expressão nos Atos dos Apóstolos: “pareceu bem ao Espírito Santo e a nós…”.

Jesus disse que: “Deus anseia dar a cada um o Seu Espírito “sem medidas” (Jo 3,34); e, ainda antes da sua Paixão e morte, mostrou a importância do Espírito Santo na festa das tendas em Jerusalém:

“Se alguém tiver sede, venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura: Do seu interior manarão rios de água viva (Zc 14,8; Is 58,11). Dizia isso, referindo-se ao Espírito Santo que haviam de receber os que cressem nele, pois ainda não fora dado o Espírito, visto que Jesus ainda não tinha sido glorificado” (Jo 7,37-39).

Na santa Ceia, na despedida, Jesus prometeu enviar o Paráclito, o Espírito da Verdade, para conduzir a Igreja sempre à verdade.

“Se me amais, guardareis os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, para que fique eternamente convosco. É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece, mas vós o conhecereis, porque permanecerá convosco e estará em vós”. (Jo 14, 15-17)

Este Paráclito veio em Pentecostes para assistir e guiar a Igreja e ficar “eternamente convosco”. Por isso a Igreja nunca errou o caminho da verdade que salva (cf. CIC §851).

“Disse-vos estas coisas enquanto estou convosco. Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito.” (Jo 14, 25-26)

O Espírito Santo veio em Pentecostes para ficar para sempre com a Igreja e lhe ensinar “toda a verdade”. Essa é a maior alegria de ser católico. Desde aquele dia no primeiro século ele assiste e guia a Igreja na verdade; por isso a Igreja é infalível quando ensina a doutrina católica (cf. CIC §889 a §891).

Jesus deixou o Espírito Santo como Mestre da Igreja: “Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas não as podeis suportar agora. Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensinar-vos-á toda a verdade…” (Jo 16,12-13). É impressionante que Jesus repete essa expressão “ensinar-vos-á toda a verdade”, não apenas uma parte da verdade, mas tudo.

Assim, desde Pentecostes – a manifestação da Igreja ao mundo – ela continua sua caminhada feliz, como disse santo Agostinho “entre as perseguições desse mundo e a consolações de Deus”.

É o Espírito Santo quem assiste o Magistério da Igreja na verdade que salva; Ele inspirou os escritores sagrados da Bíblia, acompanhou toda a sagrada Tradição Apostólica, atua na liturgia sacramental, nos carismas, nos ministérios da Igreja, na oração pessoal dos fiéis, na vida apostólica e missionária, no testemunho dos santos e em toda a obra da salvação (cf. CIC § 688). Jesus foi concebido no poder do Espírito Santo e cumpriu sua missão na força do mesmo Espírito.

FONTE: http://cleofas.com.br/pentecostes/