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sexta-feira, outubro 04, 2019

SEIS LIÇÕES DOS MÁRTIRES DE CUNHAÚ E URUAÇU AOS CATÓLICOS DO BRASIL - PARTE 2








4. Entre as vítimas de Uruaçu, algumas receberam um tratamento especialmente cruel: os sacerdotes. Conforme os relatos da época, “o Pe. Ambrósio Francisco Ferro foi mais barbaramente atingido por causa de sua condição de sacerdote” [7]. Os outros 27 mártires canonizados eram leigos.

Disso se extrai uma quarta lição para nós, católicos: os sacerdotes são revestidos na Igreja de uma dignidade superior. O próprio inimigo o reconhece. Assim como foram eles os mais ferozmente atacados pelos hereges, quando Satanás procura destruir a Igreja, é contra os padres que ele investe de maneira especial.

O Santo Cura d’Ars explicava com muita simplicidade a importância do padre:

Sem o sacramento da Ordem, não teríamos o Senhor. Quem O colocou ali naquele sacrário? O sacerdote. Quem acolheu a vossa alma no primeiro momento do ingresso na vida? O sacerdote. Quem a alimenta para lhe dar a força de realizar a sua peregrinação? O sacerdote. Quem há de prepará-la para comparecer diante de Deus, lavando-a pela última vez no Sangue de Jesus Cristo? O sacerdote, sempre o sacerdote. E se esta alma chega a morrer [pelo pecado], quem a ressuscitará, quem lhe restituirá a serenidade e a paz? Ainda o sacerdote. […] Depois de Deus, o sacerdote é tudo! […] Ele próprio não se entenderá bem a si mesmo, senão no Céu [8].

Grandioso é o sacerdócio católico e, no entanto, quem foi que o revestiu de tamanha dignidade? Teria sido porventura a Igreja, ao longo dos séculos, “desejosa de poder”, como muitos pintam? Não, foi o próprio Cristo, ao eleger os Apóstolos, instituiu a hierarquia na Igreja. Quem observar a sua vida e o seu ministério público verá que por três anos o Senhor passou ensinando o povo, sim, curando-lhes as enfermidades, também; mas poderes especiais e outros ensinamentos específicos, só aos Apóstolos Ele reservou; o poder de consagrar a Eucaristia e absolver os pecadores, só a seus sacerdotes Ele confiou.

Se o próprio Deus feito carne instituiu o sacerdócio e cercou-o de tais privilégios, com que respeito e veneração não deveríamos pensar nos padres! Diante dos escândalos que infelizmente acontecem no clero, nossa época corre o risco de não dar o devido valor a essa pedra preciosa com que Cristo ornou a Igreja. A grande tentação de Satanás é fazer-nos desacreditar dos padres, para que, perdendo a fé no que eles são, percâmo-la também no Cristo que eles consagram e no perdão que eles ministram.

5. Por falar do sacramento da Eucaristia, foi justamente com uma profissão de fé na presença real de Jesus neste Santíssimo que morreu o mais famoso leigo dos mártires de Uruaçu: São Mateus Moreira. A ele “abriram pelas costas, e lhe tiraram também o coração e as últimas palavras, estando neste martírio, que disse, foram louvar a Deus, dizendo: Louvado seja o Santíssimo Sacramento” [9].

Desse testemunho tiramos uma quinta lição: quem está presente nos sacrários de nossas igrejas não é ninguém mais, ninguém menos do que o próprio Filho de Deus, a quem nós confessamos “nascido do Pai antes de todos os séculos, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, por quem todas as coisas foram feitas”.

O hábito de ir à Missa, especialmente para quem frequenta todos os dias este sacramento, pode criar uma “rotina” e fazer-nos esquecer da “sarça ardente” de que nos aproximamos quando subimos ao altar de Deus. Que o coração violentamente retirado do corpo de São Mateus Moreira nos faça lembrar com quanta violência também nós devemos sacar de nosso corpo a frieza, a mornidão e a indiferença na hora de receber a Sagrada Comunhão…!

6. Registremos, por fim, o martírio da família de Santo Estêvão Machado de Miranda, da qual podemos aprender uma sexta e derradeira lição para nossas vidas:

Casado com dona Bárbara, filha de Antônio Vilela Cid, [Estêvão] estava acompanhado da esposa, que foi poupada, e de quatro filhas, duas das quais foram sacrificadas juntas com o pai, e duas permaneceram vivas. Entre as que morreram, uma era criancinha de colo, com apenas dois meses, sendo a vítima mais jovem de todo o grupo de mártires. Da outra filha de Estêvão Machado, também martirizada, não se diz a idade. Quanto às duas que foram poupadas, conta-se que uma menina de sete anos abraçava-se ao pai, na hora da execução, e suplicava com grandes lamentações que não tirassem a vida de seu genitor.

Estêvão disse à menina: “Filha, diz a tua mãe que se fique embora, que no outro mundo nos veremos”. Depois do pai morto a menina cobriu-lhe o rosto com a saia, chorando e pedindo que também a matassem. Os algozes “trouxeram a menina à sua mãe, e ela, e os mais contaram o caso” [10].

As últimas palavras de Estêvão (também ele protomártir) ensinaram à filha e ensinam a nós que, para um católico, a existência mais importante não é esta que passamos neste mundo, mas sim a do Céu. “Se é só para esta vida que temos colocado a nossa esperança em Cristo”, diz o Apóstolo, “somos de todos os homens os mais dignos de lástima” (1Cor 15, 19).

É por isso que os cristãos devem lutar para educar bem e santamente os seus filhos; ou melhor, é por isso que eles devem tê-los em primeiro lugar. “Se Deus quis as gerações dos homens”, escreve o Papa Pio XI, “não foi somente para que eles existissem e enchessem a terra, mas para que honrassem a Deus, O conhecessem, O amassem e O gozassem eternamente no Céu”. Por isso, os pais católicos, iluminados pela graça, têm de compreender que

não são destinados só a propagar e conservar na terra o gênero humano e não só também a formar quaisquer adoradores do verdadeiro Deus, mas a dar filhos à Igreja, a procriar concidadãos dos santos e familiares de Deus (cf. Ef 2, 19), a fim de que o povo dedicado ao culto do nosso Deus e Salvador cresça cada vez mais, de dia para dia [11].

Que Santo Estêvão Machado, que entregou heroicamente a vida na frente da esposa e das filhas, interceda do Céu pelas famílias brasileiras, para que também nós sacrifiquemos nosso tempo, nosso conforto e nosso trabalho pela salvação de nossas casas. É a única forma de restaurarmos a fé nesta Terra de Santa Cruz. É a única forma de imitarmos verdadeiramente estes santos protomártires do Brasil.

Fonte: padrepauloricardo.org