A
"voz", através da qual Deus fala, convida-nos a endireitar "o
caminho do Senhor". É, na linguagem do Evangelho segundo João, um convite
a deixar "as trevas" e a nascer para "a luz". Implica
abandonar a mentira, os comportamentos egoístas, as atitudes injustas, os
gestos de violência, os preconceitos, a instalação, o comodismo, a
autossuficiência, tudo o que desfigura a nossa vida, nos torna escravos e nos
impede de chegar à verdadeira felicidade.
A
"voz", através da qual Deus fala, convida-nos a olhar para Jesus,
pois só Ele é "a luz" e só Ele tem uma proposta de vida verdadeira
para apresentar aos homens. À nossa volta abundam os "vendedores de
sonhos", com propostas de felicidade "absolutamente garantida".
Atraem-nos, seduzem-nos, manipulam-nos, escravizam-nos e, quase sempre,
deixam-nos decepcionados e infelizes, mais angustiados, mais perdidos, mais
frustrados. João garante-nos: só Jesus é "a luz" que liberta os
homens da escravidão e das trevas e lhes oferece a vida verdadeira e definitiva.
Jesus
marca, realmente, a minha existência? Os valores que Ele veio propor têm peso e
impacto nas minhas decisões e opções? Quando celebro o nascimento de Jesus,
celebro um acontecimento do passado que deixou a sua marca na história, ou
celebro o encontro com alguém que é "a luz" que ilumina a minha
existência e que enche a minha vida de paz, de alegria, de liberdade?
O
"homem chamado João", enviado por Deus "para dar testemunho da
luz", convida-nos a pensar sobre a forma de Deus atuar na história humana
e sobre as responsabilidades que Deus nos atribui na recriação do mundo... Deus
não utiliza métodos espetaculares e assombrosos para intervir na nossa história
e para recriar o mundo; mas Ele vem ao encontro dos homens e do mundo para os envolver
no seu amor através de pessoas concretas, com um nome e uma história, pessoas
"normais" a quem Deus chama e a quem confia determinada missão. A
todos nós, seus filhos, Deus confia uma missão no mundo - a missão de dar
testemunho da "luz" e de tornar presente, para os nossos irmãos, a
proposta libertadora de Jesus.
A
atitude simples e discreta com que João se apresenta é muito sugestiva: ele não
procura atrair sobre si as atenções, não usa a missão para a sua glória ou
promoção pessoal, não busca a satisfação de interesses egoístas; ele é apenas
uma "voz" anônima e discreta que recorda, na sombra, as realidades
importantes. João é uma tremenda interpelação para todos aqueles a quem Deus
chama e envia... Com ele, o profeta (isto é, todo aquele a quem Deus chama e a
quem confia uma missão) deve aprender a ficar na sombra, a ser discreto e
simples, de forma a que as pessoas não o vejam a ele mas às realidades
importantes que ele propõe.
O
testemunho é a dinâmica central na transmissão da fé. Seja no tempo de João
Batista, como nosso tempo, a preparação do Natal ressalta a importância do
testemunho para se chegar à fé e para atrair à fé. Um tempo, este do Advento,
para percebermos testemunhos de fé entre nós e para avaliar como testemunhamos
a nossa fé nas circunstâncias de nossas vidas