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terça-feira, dezembro 28, 2021

DOMINGO DA SAGRADA FAMÍLIA






O Evangelho relata a perda e o encontro do Menino Jesus no Templo. Um tema que, dado a distância histórica, parece ter-nos acostumados a não avaliar os sentimentos dos pais de Jesus, José e Maria. Pais que sofreram angustiados quando perceberam que Jesus não estava na comitiva de retorno à sua casa. Jesus foi encontrado no templo. Estava perdido no espaço do templo, no espaço sagrado onde o povo encontra-se com Deus, no espaço onde Deus é invocado pelo povo e pelas famílias. Filho perdido nos faz remeter à tristeza angustiada de filhos  perdidos em templos que não são de Deus. Filhos, adolescentes e filhos jovens perdidos em buscas de sentido existencial nos templos das redes sociais, nem sempre adequados para suas idades. Perdidos em templos que agridem a vida com drogas, bebidas e irresponsabilidades afetivas. Jesus estava perdido no templo, muitos e muitos filhos  de nossos tempos, vivem perdidos em templos que não celebram e nem protegem a vida.

Contemplando a realidade de Jesus perdido no templo e encontrado por seus pais, gostaria de perguntar a cada um de vocês, especialmente aos pais: quem são os vossos filhos ? Gostaria de perguntar também aos filhos : em que templos vocês alimentam suas vidas? — Em templos dedicados a Deus ou em templos dedicados a extravagâncias de toda sorte. A Palavra que ouvimos, embora resumidamente, apresenta três características de como a Bíblia entende quem são os filhos  — não dentro das famílias — mas para as famílias. Primeiro: os filhos  são dom Deus. Segundo: a Palavra de Deus incentiva os pais a consagrarem seus filhos  a Deus. Terceiro: os pais são convidados a conduzir seus filhos  nos caminhos de Deus, iluminando-os com os Mandamentos divinos. Questiono se vocês, pais , acolhem seus filhos  como dons presenteados por Deus; questiono se vocês, filhos, caminham nos caminhos de Deus, iluminados pelos Mandamentos. A Palavra que acabamos de ouvir ensina que, para Deus, a família é um templo sagrado e quem dela se afasta, corre o risco de se perder em espaços de morte.

A Festa da Sagrada Família compromete cada um de nós, no dia de hoje, porque todos nascemos numa família e vivemos numa família. Sabemos que existem milhares de famílias desajustadas, com filhos perdidos em templos que não são de Deus. Hoje, a Palavra de Deus nos desafia a transformar a nossa casa; a casa onde moramos com nossas famílias, em espaço de convivência iluminado pela vontade de Deus. Para que isso aconteça, a 2ª leitura tem uma proposta interessante: propõe que o relacionamento familiar se ilumina com a luz dos Mandamentos divinos. Quando nossas casas forem iluminadas com a luz dos Mandamentos, podemos orientar nossos filhos  a colocar suas vidas no caminho de Deus, nos caminhos do bem, nos caminhos da alegria e da paz. Por isso, vou concluir convidando e, mais que simplesmente convidar, vou insistir com vocês para que nossas famílias iluminem suas casas com a luz dos Mandamentos divinos. Amém!








segunda-feira, dezembro 27, 2021

MISSA DO DIA DE NATAL






A transformação da “Palavra” em “carne” (em menino do presépio de Belém) é a espantosa aventura de um Deus que ama e que, por amor, aceita revestir-Se da nossa fragilidade para nos dar vida em plenitude. Neste dia, somos convidados a contemplar, numa atitude de serena adoração, esse incrível passo de Deus, expressão extrema de um amor sem limites.

Acolher a “Palavra” é deixar que Jesus nos transforme, nos dê a vida plena, a fim de nos tornarmos verdadeiramente “filhos de Deus”. O presépio que hoje contemplamos é, apenas, um quadro bonito e terno, ou uma interpelação a acolher a “Palavra”, de forma a crescermos até à dimensão do homem novo?

Hoje, como ontem, a “Palavra” continua a confrontar-se com os sistemas geradores de morte e a procurar eliminar na origem tudo o que rouba a vida plena e a felicidade do homem. Sensíveis à “Palavra”, embarcados na mesma aventura de Jesus – a “Palavra” viva de Deus – como nos situamos diante de tudo aquilo que rouba a vida ao homem? Podemos pactuar com a mentira, o oportunismo, a corrupção, a violência, a exploração dos pobres, a miséria, as limitações aos direitos do homem, a destruição da dignidade dos mais fracos?

A luz da esperança é uma necessidade para nosso mundo, especialmente marcado pelo desânimo depois de dois anos de pandemia. O desânimo é a ausência da luz e, quanto mais o desânimo cresce, mais densas se tornam as trevas. O contrário do desânimo é a alegria que produz um coração novo e animado: “uma luz já se levanta para os justos, e a alegria para os retos corações” (SR MN). Luz para os justos, luz de alegria para quem vive na retidão, na honestidade, na confiança esperançosa que Deus iluminará nossa gente com a alegria da sua presença entre nós. Celebrar o Natal do Senhor é celebrar a “Noite Feliz” da luz divina iluminando nossa terra.










MISSA DO GALO








Hoje, na alegria que o Natal nos presenteia, convido você, convido sua família e convido toda a nossa comunidade a ir ao encontro do Evangelho para se deixar iluminar pelo Evangelho. Natal é a grande festa do encontro de Deus com a humanidade e nenhum de nós pode faltar a esse encontro. Deixar-se iluminar com a luz da esperança, porque o Evangelho é uma profecia de esperança que fortalece nossos corações desanimados e, depois da nossa peregrinação nas estradas de tantas crises, o Evangelho, com certeza, reanima nossos cansaços com a luz da esperança. Ir ao encontro de Jesus para iluminar nossas vidas com a luz da fraternidade, fazendo-se irmão e irmã de todos, como fez Jesus, nascendo em nossa humanidade. Ir ao encontro de Jesus para iluminar nossas vidas com a luz da paz, para que nos torne instrumentos da paz, construtores da paz. Natal é tempo de iluminação pessoal e de compromisso para acender a luz do Menino Deus na sociedade.

 

Olhando para a imagem do Menino Jesus, no presépio, imagem de um recém-nascido, compreendemos que estamos diante de uma vida nascente. Vida que nasce é anúncio de tempo novo. No Natal, Deus recomeça uma humanidade nova e o início encontra-se no nascimento do Menino Jesus. Assim, o Natal é um grande e solene convite para se recomeçar a viver. Um convite dirigido especialmente para aqueles que entre nós perderam o sentido da própria existência porque sofreram muito nestes dois anos de pandemia, porque se confrontaram ou ainda choram o luto de entes queridos que partiram. O Natal ilumina o tempo de recomeçar. Por isso, desejo feliz Natal a você, iluminando-o com a luz da esperança, na certeza que é possível recomeçar porque o Menino Jesus nasceu para iluminar nossas vidas. Feliz Natal.













terça-feira, dezembro 21, 2021

IV DOMINGO DO ADVENTO




Maria, "A mãe de meu Senhor". Assim o proclama Isabel em alta voz e cheia do Espírito Santo. Isto é certo: para os seguidores de Jesus, Maria é, antes de Tudo, a Mãe de nosso Senhor. Daí parte sua grandeza. Os primeiros cristãos nunca separam Maria de Jesus. Eles são inseparáveis. "Bendita por Deus entre todas as mulheres", ela nos oferece Jesus, "fruto bendito de seu ventre". Maria, a crente. Isabel proclama Maria feliz porque ela "acreditou". Maria é grande não simplesmente por sua maternidade biológica, mas por ter acolhido com fé o chamado de Deus para ser Mãe do Salvador. Ela soube ouvir a Deus; guardou sua Palavra dentro de seu coração; meditou-a; a pòs em prática cumprindo fielmente sua vocação. Maria é mãe crente.

Maria, a evangelizadora. Maria oferece a todos a salvação de Deus, que ela acolheu em seu próprio Filho. Essa é sua grande missão e seu servico. De acordo com o relato, Maria evangeliza não só com seus gestos e palavras, mas porque traz consigo, para onde vai, a pessoa de Jesus e seu Espírito. Isto é o essencial do ato evangelizador.

Maria, portadora de alegria. A saudação de Maria comunica a alegria que brota de seu Filho Jesus. Ela foi a primeira a ouvir o convite de Deus: "Alegra-te.., o Senhor está contigo". Agora, a partir de uma atitude de serviço e de ajuda a quem precisa, Maria irradia a Boa Notícia de Jesus, o Cristo, que ela sempre traz consigo. Ela é para a Igreja o melhor modelo de uma evangelização prazerosa.



segunda-feira, dezembro 13, 2021

III DOMINGO DO ADVENTO









O amor é a energia que dá verdadeira vida à sociedade. Em toda civilização há forças que geram vida, verdade e justiça, e forças que provocam morte, mentira e indignidade. Nem sempre é fácil detectá-las, mas na raiz de todo impulso de vida está sempre o amor. Por isso, quando numa sociedade se sufoca o amor, está-se sufocando ao mesmo tempo a dinâmica que leva ao crescimento humano e à expansão da vida. Daí a importância de cuidar socialmente do amor e de lutar contra tudo aquilo que pode destruí-lo. Uma forma de matar o amor pela raiz é a manipulação das pessoas. Na sociedade atual proclamam-se em voz alta os direitos da pessoa, mas depois os indivíduos são sacrificados ao lucro, à utilidade ou ao desenvolvimento do bem-estar. Produz-se então aquilo que chamo de "a eutanásia da liberdade", Há um número cada vez maior de pessoas que vivem uma não liberdade "confortável, cômoda, razoável, democrática". Vive-se bem, mas sem conhecer a verdadeira liberdade nem o amor. Outro risco para o amor é o funcionalismo. Na sociedade da eficácia o importante não são as pessoas, mas a função que elas exercem. O indivíduo fica facilmente reduzido a uma peça da engrenagem: no trabalho é um empregado, no consumo é um cliente, na política é um voto, no hospital é um número de cama… Nesta sociedade, as coisas funcionam; as relações entre as pessoas morrem.

Outro modo frequente de sufocar o amor é a indiferença. O funcionamento da sociedade moderna concentra os indivíduos em seus próprios interesses. Os outros são uma "abstração". Publicam-se estudos e estatísticas, por trás dos quais se oculta o sofrimento das pessoas concretas. Não fácil sentir-nos responsáveis. É a administração pública que deve ocupar-se desses problemas. O que cada um de nós pode fazer? Diante de tantas formas de desamor, o Batista sugere uma postura clara: "Quem tiver duas túnicas, reparta-as com quem não tem; e quem tiver comida faça o mesmo". O que podemos fazer? Simplesmente compartilhar mais o que temos com aqueles que vivem em necessidade.

Apesar de toda a informação fornecida pelos meios de comunicação, temos dificuldade em tomar consciência de que vivemos numa espécie de "ilha da abundância", no meio de um mundo no qual mais de um terço da humanidade vive na miséria. No entanto, basta voar algumas horas em qualquer direção para topar com a fome e a destruição. Esta situação só tem um nome: injustiça. E só admite uma explicação: inconsciência. Como podemos sentir-nos humanos quando a poucos quilômetros de nós o que são, definitivamente, seis mil quilômetros? - há seres humanos que não têm casa nem terra alguma para viver, homens e mulheres que passam o dia procurando algo para comer, crianças que jã não poderão superar a desnutrição? Nossa primeira reação costuma ser quase sempre a mesma: "Mas nós, o que podemos fazer diante de tanta miséria?" Enquanto nos fazemos perguntas deste gênero, sentimo-nos mais ou menos tranquilos. E vêm as justificativas de sempre: não é fácil estabelecer uma ordem internacional mais justa; é preciso respeitar a autonomia de cada país; é difícil assegurar canais eficazes para distribuir alimentos; mais ainda mobilizar um país para que saia da miséria.


quinta-feira, dezembro 09, 2021

A IMACULADA CONCEIÇÃO

 







Muitas meninas recebem, no Batismo, o belo nome de Maria da Conceição ou Conceição de Maria ou, simplesmente, Conceição, homenageando Maria, a Mãe de Jesus, na sua Imaculada Conceição, que hoje celebramos. Honramos assim o privilégio singular concedido por Deus à Virgem Maria, escolhida para a Mãe de Jesus, o Filho de Deus encarnado, Salvador do gênero humano, preservando-a, em vista dos méritos dele, desde a sua concepção ou conceição, da herança do pecado original.

Este pecado original, em Adão uma falta voluntária, nos outros homens se constitui na privação da graça divina, que havia sido concedida a toda a humanidade na pessoa do primeiro homem. A graça, por ele perdida para si e para todos os seus descendentes, foi recuperada pelo segundo Adão, Jesus Cristo, pela sua Redenção, que nos alcança e santifica através do Batismo.Ora, Deus havia prometido, no momento do pecado de Adão, que uma mulher com o seu filho, o futuro Salvador, venceria completamente o demônio. Não teria, pois, nenhum pecado. Não teria, em nenhum instante, a menor privação da graça divina. Por isso, essa mulher especial, Maria, escolhida para a Mãe do Redentor, foi saudada pelo Anjo mensageiro de Deus com as palavras: “Ave, ó cheia de graça (agraciada de modo especial) ..., bendita entre as mulheres”, ou seja, sem pecado (privação da graça). A Redenção de Cristo a atingiu, de modo preventivo, preservando-a, por privilégio único, do pecado que atinge a todos os homens.

Recordamos que a padroeira oficial do Brasil é Nossa Senhora da Conceição, vulgarmente chamada de Aparecida.

 

Mas, por que honramos Maria, de modo tão especial?

“O nosso mediador é só um, segundo a palavra do Apóstolo: ‘não há senão um Deus e um mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo, que Se entregou a Si mesmo para redenção de todos’ (1 Tim. 2, 5-6). Mas a função maternal de Maria em relação aos homens de modo algum ofusca ou diminui esta única mediação de Cristo; manifesta antes a sua eficácia. Com efeito, todo o influxo salvador da Virgem Santíssima sobre os homens se deve ao beneplácito divino e não a qualquer necessidade; deriva da abundância dos méritos de Cristo, funda-se na Sua mediação e dela depende inteiramente, haurindo aí toda a sua eficácia; de modo nenhum impede a união imediata dos fiéis com Cristo, antes a favorece” (Lumen Gentium 60).

“A Virgem Santíssima, predestinada para Mãe de Deus desde toda a eternidade simultaneamente com a encarnação do Verbo, por disposição da divina Providência foi na terra a nobre Mãe do divino Redentor, a Sua mais generosa cooperadora e a escrava humilde do Senhor. Concebendo, gerando e alimentando a Cristo, apresentando-O ao Pai no templo, padecendo com Ele quando agonizava na cruz, cooperou de modo singular, com a sua fé, esperança e ardente caridade, na obra do Salvador, para restaurar nas almas a vida sobrenatural. É por esta razão nossa mãe na ordem da graça” (Lumen Gentium 61).

 

Fonte: Dom Fernando Arêas Rifan


segunda-feira, dezembro 06, 2021

II DOMINGO DO ADVENTO

 




Temos uma estranha tentação de separar duas histórias: a história divina, narrada na Bíblia, e a história humana, narrada nos livros de história. O Evangelho que acabamos de ouvir faz questão de ressaltar que existe uma única história. É o que vemos em Lucas, localizando a profecia de João Batista no meio da história humana que, naquele tempo (e também hoje) tinha como protagonistas políticos medíocres, sacerdotes hipócritas, marcados pela corrupção social e pelo pecado. João Batista não desenvolve sua atividade profética numa sociedade diferente; ele profetiza no meio da sociedade do seu tempo. A presença de Deus na história humana manifesta-se no Antigo Testamento com vários profetas e o mesmo acontece no Novo Testamento, com João Batista, como ouvimos no Evangelho. De nossa parte, como batizados, somos desafiados a profetizar em nossos dias, em nossa história, no chão onde pisamos.

Num primeiro momento, tem-se a impressão que João Batista foge e, indo ao deserto criticar a sociedade de longe. Mas, considerando melhor, temos três aspectos que merecem atenção: a necessidade de tomar distância para ter outro ponto de vista, a importância do silêncio do deserto para refazer o coração angustiado pela indignação, e a necessidade de dar tempo para refletir sobre os acontecimentos. Muitas vezes, temos a estranha mania de querer mudar as coisas no exterior: não se está contente com o trabalho; muda-se de emprego. Não se está bem com a família, separa-se. Olhemos para João. A sua vida é uma profecia que ensina a olhar dentro da gente, a partir do silêncio do deserto. Quando não se toma distância, com o tempo, até o erro torna-se normal.

João Batista é um verdadeiro desafio colocado diante de cada um de nós. Pela sua vida, somos desafiados a romper com estruturas sociais automatizadas que só servem para garantir as benesses de ricos e poderosos. Desafiados a caminhar contracorrente tornando-se um profeta evangelizador. Volto a lembrar que desde o Batismo, recebemos a missão de profetizar. Paulo, na 2ª leitura, não caracteriza o profeta evangelizador pela pregação, mas como divulgador do Evangelho. Existem muitos modos para se divulgar o Evangelho. Um deles, como dizia o salmo responsorial, é semeando silenciosamente a semente do Evangelho. Sem barulho, sem show, mas no silêncio, como silencioso é germinar da vida escondida dentro da semente. Nós profetizamos quando divulgamos o Evangelho, semente divina trazida a terra para, aqui na terra, se caminhar nos caminhos de Deus. Amém!









quinta-feira, dezembro 02, 2021

ARMANDO O PRESÉPIO DE NATAL






Já estamos em um novo Ano Litúrgico, no Advento, tempo da “bela tradição das famílias prepararem o Presépio, e o costume de o armarem nos lugares de trabalho, nas escolas, nos hospitais, nos estabelecimentos prisionais, nas praças” ...: é assim que começa a Carta Apostólica do Papa Francisco, “Sinal Admirável”, sobre o valor e o significado do Presépio.

“Representar o acontecimento da natividade de Jesus equivale a anunciar, com simplicidade e alegria, o mistério da encarnação do Filho de Deus. O Presépio é como um Evangelho vivo que transvaza das páginas da Sagrada Escritura. Ao mesmo tempo que contemplamos a representação do Natal, somos convidados a colocar-nos espiritualmente a caminho, atraídos pela humildade d’Aquele que Se fez homem a fim de Se encontrar com todo o homem, e a descobrir que nos ama tanto, que Se uniu a nós para podermos, também nós, unir-nos a Ele. O evangelista Lucas limita-se a dizer que, tendo-se completado os dias de Maria dar à luz, ‘teve o seu filho primogênito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria’ (2, 7). Jesus é colocado numa manjedoura, que, em latim, se diz praesepium, donde vem a nossa palavra presépio. Ao entrar neste mundo, o Filho de Deus encontra lugar onde os animais vão comer. A palha torna-se a primeira enxerga para Aquele que Se há de revelar como ‘o pão vivo, o que desceu do céu’ (Jo 6, 51). Uma simbologia, que já Santo Agostinho, a par doutros Padres da Igreja, tinha entrevisto quando escreveu: ‘Deitado numa manjedoura, torna-Se nosso alimento’. Na realidade, o Presépio inclui vários mistérios da vida de Jesus, fazendo-os aparecer familiares à nossa vida diária”.

A ideia dessa representação é atribuída a São Francisco de Assis: “Quero representar o Menino nascido em Belém, para de algum modo ver com os olhos do corpo os incômodos que Ele padeceu pela falta das coisas necessárias a um recém-nascido, tendo sido reclinado na palha duma manjedoura, entre o boi e o burro” ... “O Presépio é um convite a ‘sentir’, a ‘tocar’ a pobreza que escolheu, para Si mesmo, o Filho de Deus na sua encarnação, tornando-se assim, implicitamente, um apelo para O seguirmos pelo caminho da humildade, da pobreza, do despojamento, que parte da manjedoura de Belém e leva até à Cruz, e um apelo ainda a encontrá-Lo e servi-Lo, com misericórdia, nos irmãos e irmãs mais necessitados”.

“‘Vamos a Belém ver o que aconteceu e que o Senhor nos deu a conhecer’ (Lc 2, 15) ...: os pastores tornam-se as primeiras testemunhas do essencial, isto é, da salvação que nos é oferecida... Pouco a pouco, o Presépio leva-nos à gruta, onde encontramos as figuras de Maria e de José. Maria é uma mãe que contempla o seu Menino e O mostra a quantos vêm visitá-Lo... Ao lado de Maria, em atitude de quem protege o Menino e sua mãe, está São José... É o guardião” ... “O coração do Presépio começa a palpitar, quando colocamos lá, no Natal, a figura do Menino Jesus. Assim Se nos apresenta Deus, num menino, para fazer-Se acolher nos nossos braços... Em Jesus, Deus foi criança e, nesta condição, quis revelar a grandeza do seu amor” ...

 

Fonte: Dom Fernando Arêas Rifan