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segunda-feira, junho 02, 2025

SOLENIDADE DE ASCENSÃO DO SENHOR






No 5º Domingo da Páscoa :

“Dou-vos um novo mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado” (v. 34).

Jesus fala em um “novo mandamento”. A novidade deste novo mandamento é que não se trata do antigo e conhecido mandamento que ordenava “amar ao próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18). A própria construção da frase, sugere que o “novo” deste mandamento consiste, exatamente, no “como eu vos amei”. Nem a palavra amar, nem o mandamento do amor são novos. Novo é amar como Jesus, amar em Jesus, por causa de sua palavra impressa em cada página do evangelho.

A prática do amor mútuo é a expressão da fé em Jesus. O verdadeiro discípulo distingue-se pelo amor. A capacidade de amar-se mutuamente indica o quanto Jesus está agindo na vida do cristão. A presença salvadora de Jesus tem o efeito de desatar o nó do egoísmo, que afasta os indivíduos de seus semelhantes e, por consequência, de Deus também.

No 6º Domingo da Páscoa

o Senhor nos fala da memória — não da memória fraca da carne, mas da memória viva do Espírito. Ele promete enviar o Paráclito, o Defensor, o Espírito da Verdade, pois . E afirma: “Ele vos recordará tudo o que eu vos tenho dito.”

Não se trata de uma lembrança qualquer, pois o Espírito não vem somente para relembrar frases ou registrar doutrinas. O Espírito Santo não é um gravador divino, mas é o Sopro do Amor entre o Pai e o Filho, que se derrama em nossos corações para tornar presente o que, sem Ele, permaneceria no passado.

Porque sem o Espírito, até o Evangelho vira letra morta. Sem Ele, ouvimos Jesus… e esquecemos. Lemos as Escrituras… e não entendemos. Repetimos as palavras… mas elas não nos transformam. A função do Espírito é nos introduzir na verdade, não como quem ensina lições, mas como quem acende uma chama no fundo da alma.

Comunhão com o Cristo Ascendido: A Ascensão exige que vivamos sempre na presença do Senhor glorificado. Em cada Missa, ao proclamarmos “e quando o Senhor Jesus voltar em glória, acolhei-o no meio de nós!”, estamos retomando o gesto dos discípulos que, após adorar, “permaneciam no Templo, bendizendo a Deus”. Cultivar a oração e participar da liturgia dominical é nossa forma contemporânea de “estar em Jerusalém” antes de receber o Pentecostes pessoal.

Missão e Testemunho: Ser testemunha de Cristo não significa somente pronunciar palavras, mas deixar que as “obras” de Cristo vivam em nós: a compaixão pelos pobres, o perdão incondicional, a denúncia profética das estruturas de pecado. Tal como o Ressuscitado enviou os discípulos, Ele nos envia hoje — na escola de Madre Teresa e de São Vicente de Paulo — a anunciar conversão e perdão em nossos ambientes de trabalho, família e cultura.

Unidade Eclesial: A cena de “todos reunidos no Templo com alegria” sublinha a importância de manter a coesão eucarística. A comunhão sacramental fortalece a caridade e evita o isolamento espiritual. Assim, em tempos de individualismo, recordemos o apelo paulino: “Eles devem cuidar uns dos outros, como um corpo em que todas as partes colaboram para a saúde comum” (Rm 12, 5).

Esperança Escatológica: A Ascensão projeta nosso olhar para “novos céus e nova terra” (2Pd 3, 13). O quotidiano se torna litúrgico quando vivemos a História como rumo seguro ao cumprimento das promessas do Pai. A “força do alto” (Lc 24, 49) é, ao mesmo tempo, dom presente e antecipação da consumação eterna, que nos impele a perseverar na caridade e na santidade.

Queridos irmãos, ao celebrarmos este mistério pascal-ascensional, sintamos no coração o convite a projetar nossas vidas para o alto, mantendo os pés firmes na missão e a alma sedenta de oração. Que a “grande alegria” dos primeiros que viram o Senhor subir em glória nos inunde de esperança e coragem para testemunhar, até os confins da terra, que aquele que ressuscitou e ascendeu voltará novamente em glória. Amém.