No
5º Domingo da Páscoa :
“Dou-vos
um novo mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado” (v. 34).
Jesus
fala em um “novo mandamento”. A novidade deste novo mandamento é que não se trata
do antigo e conhecido mandamento que ordenava “amar ao próximo como a ti mesmo”
(Lv 19,18). A própria construção da frase, sugere que o “novo” deste mandamento
consiste, exatamente, no “como eu vos amei”. Nem a palavra amar, nem o
mandamento do amor são novos. Novo é amar como Jesus, amar em Jesus, por causa
de sua palavra impressa em cada página do evangelho.
A
prática do amor mútuo é a expressão da fé em Jesus. O verdadeiro discípulo
distingue-se pelo amor. A capacidade de amar-se mutuamente indica o quanto
Jesus está agindo na vida do cristão. A presença salvadora de Jesus tem o
efeito de desatar o nó do egoísmo, que afasta os indivíduos de seus semelhantes
e, por consequência, de Deus também.
No
6º Domingo da Páscoa
o
Senhor nos fala da memória — não da memória fraca da carne, mas da memória viva
do Espírito. Ele promete enviar o Paráclito, o Defensor, o Espírito da Verdade,
pois . E afirma: “Ele vos recordará tudo o que eu vos tenho dito.”
Não
se trata de uma lembrança qualquer, pois o Espírito não vem somente para
relembrar frases ou registrar doutrinas. O Espírito Santo não é um gravador
divino, mas é o Sopro do Amor entre o Pai e o Filho, que se derrama em nossos
corações para tornar presente o que, sem Ele, permaneceria no passado.
Porque
sem o Espírito, até o Evangelho vira letra morta. Sem Ele, ouvimos Jesus… e
esquecemos. Lemos as Escrituras… e não entendemos. Repetimos as palavras… mas
elas não nos transformam. A função do Espírito é nos introduzir na verdade, não
como quem ensina lições, mas como quem acende uma chama no fundo da alma.
Comunhão
com o Cristo Ascendido: A Ascensão exige que vivamos sempre na presença do
Senhor glorificado. Em cada Missa, ao proclamarmos “e quando o Senhor Jesus
voltar em glória, acolhei-o no meio de nós!”, estamos retomando o gesto dos
discípulos que, após adorar, “permaneciam no Templo, bendizendo a Deus”.
Cultivar a oração e participar da liturgia dominical é nossa forma
contemporânea de “estar em Jerusalém” antes de receber o Pentecostes pessoal.
Missão
e Testemunho: Ser testemunha de Cristo não significa somente pronunciar
palavras, mas deixar que as “obras” de Cristo vivam em nós: a compaixão pelos
pobres, o perdão incondicional, a denúncia profética das estruturas de pecado.
Tal como o Ressuscitado enviou os discípulos, Ele nos envia hoje — na escola de
Madre Teresa e de São Vicente de Paulo — a anunciar conversão e perdão em
nossos ambientes de trabalho, família e cultura.
Unidade
Eclesial: A cena de “todos reunidos no Templo com alegria” sublinha a
importância de manter a coesão eucarística. A comunhão sacramental fortalece a
caridade e evita o isolamento espiritual. Assim, em tempos de individualismo,
recordemos o apelo paulino: “Eles devem cuidar uns dos outros, como um corpo em
que todas as partes colaboram para a saúde comum” (Rm 12, 5).
Esperança
Escatológica: A Ascensão projeta nosso olhar para “novos céus e nova terra”
(2Pd 3, 13). O quotidiano se torna litúrgico quando vivemos a História como
rumo seguro ao cumprimento das promessas do Pai. A “força do alto” (Lc 24, 49)
é, ao mesmo tempo, dom presente e antecipação da consumação eterna, que nos
impele a perseverar na caridade e na santidade.
Queridos
irmãos, ao celebrarmos este mistério pascal-ascensional, sintamos no coração o
convite a projetar nossas vidas para o alto, mantendo os pés firmes na missão e
a alma sedenta de oração. Que a “grande alegria” dos primeiros que viram o
Senhor subir em glória nos inunde de esperança e coragem para testemunhar, até
os confins da terra, que aquele que ressuscitou e ascendeu voltará novamente em
glória. Amém.