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sábado, junho 30, 2018

SANTOS PROTOMÁRTIRES DA IGREJA DE ROMA





Na primeira perseguição contra a Igreja, desencadeada pelo imperador Nero, depois do incêndio da cidade de Roma no ano 64, muitos cristãos foram martirizados com atrozes tormentos. Este fato é testemunhado pelo escritor pagão Tácito (Annales 15,44) e por São Clemente, bispo de Roma, na sua Carta aos Coríntios (cap. 5-6). 

Da Carta aos Coríntios, de São Clemente I, papa

(Cap. 5, 1-7,4: Funk 1, 67-71)
(Séc. I)
Sofreram vítimas de um ódio iníquo,
tornando-se para nós um magnífico exemplo de fidelidade


Deixemos de lado os exemplos dos antigos e falemos dos nossos atletas mais recentes. Apresentemos os generosos exemplos de nosso tempo. Vítimas do fanatismo e da inveja, aqueles que eram as maiores e mais santas colunas da Igreja, sofreram perseguição e lutaram até à morte. 
Tenhamos diante dos olhos os bons apóstolos. Por causa de um fanatismo iníquo, Pedro teve de suportar duros tormentos, não uma ou duas vezes, mas muitas; e depois de sofrer o martírio, passou para o lugar que merecia na glória. Por invejas e rivalidades, Paulo obteve o prêmio da paciência: sete vezes foi lançado na prisão, foi exilado e apedrejado, tornou-se pregoeiro da Palavra no Oriente e no Ocidente, alcançando assim uma notável reputação por causa da sua fé. Depois de ensinar ao mundo inteiro o caminho da justiça e de chegar até os confins do Ocidente, sofreu o martírio que lhe infligiram as autoridades. Partiu, pois, deste mundo para o lugar santo, deixando-nos um perfeito exemplo de paciência. 

A estes homens, mestres de vida santa, juntou-se uma grande multidão de eleitos que, vítimas de um ódio iníquo sofreram muitos suplícios e tormentos, tornando-se, desta forma, para nós um magnífico exemplo de fidelidade. Vítimas do mesmo ódio, mulheres foram perseguidas, como Danaides e Dircéia. Suportando graves e terríveis torturas, correram até o fim a difícil corrida da fé, e mesmo sendo fracas de corpo, receberam o nobre prêmio da vitória. O fanatismo dos perseguidores separou as esposas dos maridos, alterando o que disse nosso pai Adão: É osso dos meus ossos e carne de minha carne (cf. Gn 2,23). Rivalidades e rixas destruíram grandes cidades e fizeram desaparecer povos numerosos. 


Escrevemos isto, caríssimos, não apenas para vos recordar os deveres que tendes, mas também para nos alertarmos a nós próprios. Pois nos encontramos na mesma arena e combatemos o mesmo combate. Deixemos as preocupações inúteis e os vãos cuidados, e voltemo-nos para a gloriosa e venerável regra da nossa tradição. Consideremos o que é belo, o que é bom, o que é agradável ao nosso Criador. Fixemos atentamente o olhar no sangue de Cristo e compreendamos quanto é precioso aos olhos de Deus seu Pai esse sangue que, derramado para nossa salvação, ofereceu ao mundo inteiro a graça da penitência.



quinta-feira, junho 28, 2018

102 ANOS DA PRIMEIRA MISSA




Entenda a importância da participação da Santa Missa na paróquia

Domingo é o Dia do Senhor! São João Maria Vianey dizia: “Um domingo sem Missa é uma semana sem Deus“. A nossa fé nos agrega numa grande família, que é a Igreja, de maneira mais particular a paróquia, onde colocamos em prática nossa fé. Na igreja recebemos o suporte necessário para crescer na formação humana, na espiritualidade e em todos os tesouros sacramentais para nossa salvação. A Igreja paroquial é nossa casa, nosso núcleo de fé e vida.

Tomemos por modelo os cristãos das primeiras comunidades: “Os que receberam a sua palavra foram batizados. Perseveravam eles na doutrina dos apóstolos, na reunião em comum, na fração do pão e nas orações” (cf. Atos 2,41-42).

Assim como eu preciso fazer uma experiência com Cristo para segui-Lo, eu também preciso fazer uma experiência com a comunidade de fé, que é a Igreja, a portadora do depósito da fé, a extensão do grande corpo de Cristo e da qual eu sou membro. A comunidade é necessária para que a minha fé não seja estéril, morta, sem obras. Na comunidade paroquial, eu faço uma experiência de vida fraterna que faz toda a diferença no mundo de hoje. Na experiência dos apóstolos, o domingo tem lugar especial por se tratar do dia da ressurreição do Senhor. No início, quando eles não tinham igrejas nem eram perseguidos, eles celebravam em suas próprias casas. É isso que nós cristãos, hoje, somos chamados a resgatar: o sentido de casa de nossas paróquias, casa de comunhão e fé, ressurreição e vida.

Lembro-me, com muito carinho, da minha “paróquia mãe”, a Catedral de Sant’Ana. Logo depois que eu encontrei Jesus e d’Ele recebi a vida nova, engajei-me na minha paróquia por meio do grupo de jovens, da Legião de Maria e da Missa Dominical, que não perdia por nada deste mundo; era por amor, era de coração. A partir daí, vieram a direção espiritual com o vigário monsenhor Jessé Torres, a vida de oração e a vocação ao sacerdócio. Veja quantas riquezas a paróquia pôde me oferecer! Mas não posso me esquecer das desculpas imaturas de que não precisava ir à casa de Deus para encontrar o Senhor, que podia rezar em casa, pois Deus está em todo lugar e lá não se vê tanto testemunho etc. Essas ideias acabaram quando fui crescendo no verdadeiro sentido de ser Igreja: “Eu sou e também faço a Igreja; sou discípulo de Jesus Cristo e estou neste caminho por Ele em primeiro lugar.

Celebração dominical, centro da vida da Igreja:


§2177 A celebração dominical do Dia do Senhor e da Eucaristia está no coração da vida da Igreja. “O domingo, dia em que por tradição apostólica se celebra o Mistério Pascal, deve ser guardado em toda a Igreja como a festa de preceito por excelência.”
“Devem ser guardados igualmente o dia do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, da Epifania, da Ascensão e do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, de Santa Maria, Mãe de Deus; de sua Imaculada Conceição e Assunção, de São José, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e, por fim, de Todos os Santos”.
Domingo primeiro dia da semana
§1166 “Devido à tradição apostólica, que tem origem no próprio dia da Ressurreição de Cristo, a Igreja celebra o mistério pascal a cada oitavo dia, chamado, com razão, o Dia do Senhor ou domingo”. O dia da Ressurreição de Cristo é, ao mesmo tempo, “o primeiro dia da semana”, memorial do primeiro dia da criação, e o “oitavo dia” em que Cristo, depois de seu “repouso” do grande sábado, inaugura o dia “que o Senhor fez”, o “dia que não conhece ocaso”.

A Ceia do Senhor é seu centro, pois é aqui que toda a comunidade dos fiéis se encontra com o Ressuscitado, que Os convida a Seu banquete: o dia do Senhor, o dia da ressurreição, o dia dos cristãos, é o nosso dia, pois foi, nesse dia, que o Senhor subiu vitorioso para junto do Pai. Se os pagãos o denominam dia do sol, também nós o confessamos de bom grado, pois, hoje, levantou-se a luz do mundo; hoje, apareceu o sol de justiça, cujos raios trazem a salvação.
§1167 O domingo é o dia, por excelência, da assembleia litúrgica em que os fiéis se reúnem para, ouvindo a Palavra de Deus e participando da Eucaristia, lembrarem-se da Paixão, Ressurreição e Glória do Senhor Jesus e darem graças a Deus, que os ‘regenerou para a viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos.
Domingo é dia principal da Celebração Eucarística:
§1193 O domingo é o dia principal da celebração da Eucaristia por ser o dia da Ressurreição. É o dia da assembléia litúrgica por excelência, da família cristã, da alegria e do descanso do trabalho. O domingo é o fundamento e o núcleo do ano litúrgico.

D.40.9 Obrigação de participar da liturgia dominical:
§1389 A Igreja obriga os fiéis “a participarem da divina liturgia aos domingos e nos dias festivos” e a receber a Eucaristia pelo menos uma vez ao ano, se possível no tempo pascal, preparados pelo sacramento da reconciliação. Mas recomenda, vivamente, aos fiéis que recebam a santa Eucaristia nos domingos e dias festivos ou ainda com maior frequência, e até todos os dias.


§2042 O primeiro mandamento da Igreja (“Participar da Missa inteira aos domingos, de outras festas de guarda e abster-se de ocupações de trabalho”) ordena aos fiéis que santifiquem o dia em que se comemora a ressurreição do Senhor e as festas litúrgicas em honra dos mistérios do Senhor, da Santíssima Virgem Maria e dos santos. Em primeiro lugar, participando da Celebração Eucarística, em que se reúne a comunidade cristã, e, abstendo-se de trabalhos e negócios, possam impedir tal santificação desses dias.

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PEDRO, A PEDRA, POR DOM FERNANDO ARÊAS RIFAN



Depois de amanhã, e também no domingo próximo, celebraremos a solenidade de São Pedro, apóstolo escolhido por Jesus para ser seu vigário aqui na terra (“vigário”, o que faz as vezes de outro), seu representante e chefe da sua Igreja. São Pedro era pescador do lago de Genesaré ou Mar da Galiléia, junto com seu irmão, André, e seus amigos João e Tiago. Foi ali que Jesus o chamou: “Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens”. Eles, imediatamente, deixaram as redes e o seguiram” (Mt 4, 19-20).

Pedro se chamava Simão. Jesus lhe mudou o nome, significando sua missão, como é habitual nas Escrituras: “Tu és Simão, filho de João. Tu te chamarás Cefas! (que quer dizer Pedro - pedra)” (Jo 1, 42). Quando Simão fez a profissão de Fé na divindade de Jesus, este lhe disse: “Não foi carne e sangue quem te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso, eu te digo: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as forças do inferno não poderão vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus (a Igreja): tudo o que ligares na terra será ligado nos céus e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16, 13-19).

Corajoso e com imenso amor pelo Senhor, sentiu também sua fraqueza humana, na ocasião da prisão de Jesus, na casa de Caifás, ao negar três vezes que o conhecia. “Simão, Simão! Satanás pediu permissão para peneirar-vos, como se faz com o trigo. Eu, porém, orei por ti, para que tua fé não desfaleça. E tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos” (Lc 22, 31-32). E Pedro, depois de ter chorado seu pecado, foi feito por Jesus o Pastor da sua Igreja. 

São Pedro, fraco por ele mesmo, mas forte pela força que lhe deu Jesus, representa bem a Igreja de Cristo. “Cremos na Igreja una, santa, católica e apostólica, edificada por Jesus Cristo sobre a pedra que é Pedro... Cremos que a Igreja, fundada por Cristo e pela qual Ele orou, é indefectivelmente una, na fé, no culto e no vínculo da comunhão hierárquica. Ela é santa, apesar de incluir pecadores no seu seio; pois em si mesma não goza de outra vida senão a vida da graça. Se realmente seus membros se alimentam dessa vida, se santificam; se dela se afastam, contraem pecados e impurezas espirituais, que impedem o brilho e a difusão de sua santidade. É por isso que ela sofre e faz penitência por esses pecados, tendo o poder de livrar deles a seus filhos, pelo Sangue de Cristo e pelo dom do Espírito Santo” (Credo do Povo de Deus).

“Enquanto Cristo ‘santo, inocente, imaculado’, não conheceu o pecado, e veio expiar unicamente os pecados do povo, a Igreja, que reúne em seu seio os pecadores, é ao mesmo tempo santa, e sempre necessitada de purificação.... A Igreja continua o seu peregrinar entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus, anunciando a paixão e a morte do Senhor, até que ele venha. No poder do Senhor ressuscitado encontra a força para vencer, na paciência e na caridade, as próprias aflições e dificuldades, internas e exteriores, e para revelar ao mundo, com fidelidade, embora entre sombras, o mistério de Cristo, até que no fim dos tempos ele se manifeste na plenitude de sua luz” (Lumen Gentium, 8).




*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
http://domfernandorifan.blogspot.com.br/



quarta-feira, junho 27, 2018

27 DE JUNHO, 104 ANOS DA BENÇÃO DA PEDRA FUNDAMENTAL DA IGREJA DE SÃO CONRADO



Hoje , 27 de junho , a Igreja celebra a Festa de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e nós aqui da Igreja de São Conrado celebramos os 104 anos da benção da pedra fundamental , que Maria Santíssima , Virgem do Socorro , interceda por todos nós paroquianos da Matriz de São Conrado.




O culto ao ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro tem uma história que conta com um período de esquecimento e de restauração, na qual os Missionários Redentoristas tiveram um papel determinante.

Foi no dia 26 de abril de 1866, numa procissão comovente, que o ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro foi entronizado na igreja de Santo Afonso e pode então ser novamente venerado publicamente. Papa Pio IX ao entregar o quadro aos Missionários Redentoristas pediu: "Façam-na conhecida no mundo inteiro". 

A história do ícone envolve um roubo, uma tormenta em alto mar, uma mensagem de Nossa Senhora a uma criança, tempos de veneração, de esquecimento e uma guerra até chegar às mãos da Congregação do Santíssimo Redentor.

O quadro de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro é um ícone bizantino antigo que representa a Virgem da Paixão como o Menino Jesus nos braços. Essa imagem mariana foi pintada para animar a esperança e a oração dos cristãos, e sua profunda mensagem espiritual transparece em sua beleza artística. 

Ele é uma pintura em madeira, com 54 centímetros de altura por 41,5 de largura. Atualmente, o quadro original encontra-se na Igreja de Santo Afonso, em Roma. É considerado um ícone mariano com rico simbolismo de formas e cores. 

Na atualidade, uma marca dessa devoção são as Novenas Perpétuas realizadas em todas as comunidades redentoristas e que tiveram o seu início em 1922, no Missouri, Estados Unidos.


A mensagem do ícone

Ícone é o nome dado a uma pintura que, não sendo apenas um quadro ou uma obra de arte, é carregada de significados sagrados e leva seu observador à oração. O Ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro é formado por quatro figuras: Nossa Senhora, o Menino Jesus e dois arcanjos.

A aparição dos arcanjos com uma lança e a cruz mostram ao Menino Jesus os instrumentos de sua Paixão. Assustado corre aos braços da Mãe. Por causa do movimento brusco desamarra a sandália. Maria o acolhe com ternura e lhe transmite segurança. O olhar de Nossa Senhora não se dirige ao Menino, mas a nós. Porém, sua mão direita nos aponta Jesus, o Perpétuo Socorro. As mãos de Jesus estão nas mãos de Maria. Gesto de confiança do Filho que se apóia na Mãe. Na riqueza de seus símbolos, o ícone bizantino tem ainda muito a revelar.

segunda-feira, junho 25, 2018

SOLENIDADE DE SÃO JOÃO BATISTA




1 – Celebração do nascimento de João Batista


A Liturgia da Igreja celebra três nascimentos: o nascimento de Nossa Senhora, no dia 8 de setembro, o nascimento de João Batista, no dia 24 de junho, e o nascimento de Jesus, no dia 25 de dezembro. Outras festas e memórias, de santos e de santas, são celebradas no dia de sua morte, que a Igreja denomina de “Dies natalis”, o dia que nascem para o céu. A Solenidade de São João Batista, sempre que cai num Domingo, é celebrada como Missa dominical porque a vida e a missão de Precursor participam plenamente do Mistério Pascal de Jesus Cristo. Em João realiza-se a bela profecia de Isaias: "desde o ventre da minha mãe, Deus tinha na mente o meu nome." O salmo responsorial confirma a escolha divina de João Batista, profetizando que Deus o formou no seio de sua mãe. João Batista, portanto, é um privilegiado, alguém formado por Deus para uma missão: a missão de ser Precursor, de preparar o povo para acolher o Messias.


2 – Viver fazendo a vontade Deus

Peço sua atenção para a 2ª leitura, na qual Paulo fala de três pessoas que viveram fazendo a vontade de Deus. Davi, Jesus e João Batista. Davi foi um rei formado segundo o coração divino para governar o povo fazendo a vontade de Deus. Quanto a Jesus, ele mesmo diz que veio ao mundo para fazer a vontade de Deus (Jo 6,38). Depois, a 2ª leitura menciona João Batista. Paulo o coloca junto a Davi e Jesus para mostrar que sua missão consiste em fazer a vontade de Deus. O que isso significa para a vida de João Batista? Basicamente, em não se colocar no lugar de Jesus e ser aquele que apresenta Jesus como o Messias, como o salvador da humanidade. Nisso, João torna-se modelo para nosso modo de viver como discípulos e discípulas de Jesus. Colocar-me no meu lugar de padre, de pai e de mãe de família, de profissional, de estudante... e ali, no lugar da minha vida fazer a vontade de Deus, pois assim nós apresentamos, pelo testemunho de nossas vidas, a presença de Jesus em nossa história.


3 – A vontade de Deus o temor a Deus

Vou concluir chamando atenção para duas virtudes: a fé e o temor a Deus. O nascimento de João Batista demonstra que a Deus nada é impossível. Ele pode gerar a vida até mesmo no seio da velhice, como fez com Zacarias e Isabel, um casal de velhos. O velho Zacarias, tão logo realiza a vontade divina, sua boca se abre e ele volta a falar, glorificando a Deus. A mudez da sua falta de fé, descrita em Lc 1,20, transforma-se em canto de louvor. Fazer a vontade de Deus como resposta de fé nos tira da mudez e da vergonha de falar de Deus. A segunda virtude é o temor a Deus. Ouvimos que o Evangelho falava do “medo” dos vizinhos. Temos medo daquilo que pode nos agredir, por isso, muitas traduções Bíblicas não falam de medo, mas de “temor”. É a virtude do “temor a Deus”. É aquele temor que nasce da impossibilidade de compreender o mistério divino, diante do qual nos calamos, aceitamos e louvamos a Deus pelas maravilhas que ele realiza em nosso favor. Amém!

Padre Marcos concelebra missa na Solenidade de São João Batista com os monges da Comunidade Fraternidade de Jerusalém em St Gervais , Paris.















quinta-feira, junho 21, 2018

GREVE: PALAVRA DA IGREJA, POR DOM FERNANDO ARÊAS RIFAN




 Dom Fernando Arêas Rifan*



Por ocasião das recentes greves, sobre a sua legitimidade e devidos limites, há que se recordar aos católicos o que a Igreja ensina a respeito: quando houver conflitos e problemas, a solução normal é a negociação e o diálogo de conciliação; a greve deve ser o último recurso, um meio extremo, que pode ser legítimo e até necessário; mas tem seus limites, que são o bem comum e os serviços essenciais assegurados, além de não dever ser usada para uso político.

“Ao agirem em prol dos justos direitos dos seus membros, os sindicatos lançam mão também do método da ‘greve’, ou seja, da suspensão do trabalho, como de uma espécie de ‘ultimatum’ dirigido aos órgãos competentes e, sobretudo, aos fornecedores de trabalho. É um modo de proceder que a doutrina social católica reconhece como legítimo, observadas as devidas condições e nos justos limites. Em relação a isto os trabalhadores deveriam ter assegurado o direito à greve, sem terem de sofrer sanções penais pessoais por nela participarem. Admitindo que se trata de um meio legítimo, deve simultaneamente relevar-se que a greve continua a ser, num certo sentido, um meio extremo. Não se pode abusar dele; e não se pode abusar dele especialmente para fazer o jogo da política. Além disso, não se pode esquecer nunca que, quando se trata de serviços essenciais para a vida da sociedade, estes devem ficar sempre assegurados,inclusive, se isso for necessário, mediante apropriadas medidas legais. O abuso da greve pode conduzir à paralização da vida socioeconômica; ora isto é contrário às exigências do bem comum da sociedade...” (S. João Paulo II, Encíclica Laborem Exercens, nº 20, 14/9/1981). 

“A sua atividade (dos sindicatos) não está... isenta de dificuldades: pode sobrevir a tentação... de aproveitar uma situação de força, para impor, principalmente mediante a greve - cujo direito, como meio último de defesa permanece, certamente, reconhecido - condições demasiado gravosas para o conjunto da economia ou do corpo social, ou para fazer vingar reivindicações de ordem nitidamente política. Quando se trata de serviços públicos em particular, necessários para a vida cotidiana de toda uma comunidade, dever-se-á saber determinar os limites, para além dos quais o prejuízo causado se torna inadmissível” (B. Paulo VI, Octogesima Adveniens, 14). “Quando... surgem conflitos econômico-sociais, devem fazer-se esforços para que se chegue a uma solução pacífica dos mesmos. 

Mas ainda que, antes de mais, se deva recorrer ao sincero diálogo entre as partes, todavia a greve pode ainda constituir, mesmo nas atuais circunstâncias, um meio necessário, embora extremo, para defender os próprios direitos e alcançar as justas reivindicações dos trabalhadores. Mas procure-se retomar o mais depressa possível o caminho da negociação e do diálogo da conciliação” (Gaudium et Spes, 68).

“A greve é moralmente legítima, quando se apresenta como recurso inevitável, senão mesmo necessário, em vista dum benefício proporcionado. Mas torna-se moralmente inaceitável quando acompanhada de violências, ou ainda quando por feita com objetivos não diretamente ligados às condições de trabalho ou contrários ao bem comum” (Cat da Igreja Cat, nº 2435).



*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
http://domfernandorifan.blogspot.com.br/


quarta-feira, junho 20, 2018

A IMPORTÂNCIA DE SÃO JOÃO BATISTA



São João Batista é um dos santos mais retratados na arte cristã. Reconhecê-lo é fácil: o profeta que se alimentava de gafanhotos e mel silvestre usa uma veste de pele de camelo e um cinto e está quase sempre junto a um cordeiro, imagem que evoca Jesus, o Cordeiro de Deus.

João, cujo nome significa “Deus é misericórdia”, é o último profeta do Antigo Testamento. A Igreja o homenageia tanto no dia do seu martírio(29 de agosto) quanto no do nascimento (24 de junho), data-marco dos seis meses que antecedem o nascimento de Jesus, segundo as palavras do Arcanjo Gabriel a Maria. São João Batista, junto com Jesus e Nossa Senhora, é o único santo a quem a Igreja celebra no dia do nascimento neste mundo, já que a tradição é celebrar os santos no dia do seu nascimento para a vida eterna.

João teria nascido em Ain Karim, cerca de sete quilômetros a oeste de Jerusalém, numa família sacerdotal: seu pai, Zacarias, era da classe de Abias, e sua mãe, Isabel, descendia de Aarão. “Chamar-se-á João”, afirmou seu pai.

No décimo quinto ano de Tibério (28-29 d.C.), iniciou a sua missão no rio Jordão: pregar e batizar. Daqui vem o nome “Batista”.

Quando batiza Jesus, João revela a identidade de Deus:

“Eis o Cordeiro de Deus, eis aquele que tira o pecado do mundo!”

Anuncia que Deus vem ao mundo como um frágil e bom cordeiro e que o Seu sacrifício salvará o homem da morte.

“Assim, pois, esta minha alegria se cumpre. É necessário que Ele cresça e eu diminua” (Jo 3,29-30).

Morre decapitado por capricho de Salomé, a filha de Herodíades, amante do rei de Israel.

A vítima, porém, não encontra paz neste mundo nem sequer após a morte. Nos tempos do imperador Juliano, o Apóstata, em 361-362, seu sepulcro é profanado e queimado. Suas cinzas, segundo a tradição, estão na catedral de São Lorenço, em Gênova, para onde os cruzados as teriam levado em 1098.

O que São João Batista pode dizer hoje aos fiéis e aos que não creem?
1 – Ele ensina um verbo: dar.

É o verbo que esculpe um futuro novo. A nova lei de um mercado diferente e humano: em vez do acúmulo, a doação; em vez do desperdício, a sobriedade; em vez do sucesso a todo custo, dar espaço a Outro.

De si, ele oferece tudo: tempo, presença, dinheiro, afeto, correção, transparência. O Batista diz: “Quem tiver duas túnica reparta com quem não tem, e quem tiver alimentos faça o mesmo” (Lc 3,11). Um critério de justiça animado pela caridade.

Bento XVI afirmou:

“A justiça pede superar o desequilíbrio entre aqueles que têm o supérfluo e aqueles a quem falta o necessário. A caridade nos impele a estar atentos uns aos outros e a ir ao encontro das suas necessidades, em vez de procurar justificativas para defender os próprios interesses. Justiça e caridade não são opostas: ambas são necessárias e se completam. O amor será sempre necessário, mesmo na sociedade mais justa”, porque “sempre existirão situações de necessidade material nas quais é indispensável uma ajuda na linha do amor concreto para com o próximo” (encíclica Deus Caritas Est, 28).
2 – Ele nos ensina o retorno à honestidade

A volta à legalidade, começando por mim mesmo e pelos meus comportamentos mais simples: ser honesto mesmo nas pequenas coisas.
3 – O terceiro ensinamento é para aqueles que governam

Não maltratar e não extorquir nada de ninguém. Não se aproveitar do cargo para humilhar.

É sempre o mesmo princípio: primeiro as pessoas, depois a lei. Antes a misericórdia que a punição. E quando for preciso punir, fazê-lo com humanidade.

FONTE: ALETÉIA


terça-feira, junho 19, 2018

ABADIA DO MONTE SÃO MIGUEL



Monte Saint-Michel (francês Mont Saint-Michel) é uma ilha rochosa na foz do Rio Couesnon, no departamento da Mancha, na França, onde foi construído uma abadia (abadia do Monte Saint-Michel) e santuário em homenagem ao arcanjo São Miguel. Seu antigo nome é "Monte Saint-Michel em perigo do mar" (Mons Sancti Michaeli in periculo mari).

Este mosteiro, fortificado no século XIII, integra um conjunto com mais três cidades cujas fortificações e desenvolvimento são notáveis: Aigues-Mortes (1270-1276), ponto de reunião dos Cruzados rumo à Terra Santa, Carcassone, célebre por suas defesas, e Avinhão, sede alternativa da Cristandade (1309-1377). Estas cidades fortificadas, denominadas "bastides" marcavam a fronteira dos reinos ao final da Idade Média, servindo como elementos de defesa e dando ao povo novas oportunidades sociais. Foram construídas mais de 300 só na França, entre os anos de 1220 e 1350. Além das "bastides", foram projetadas e construídas em toda a Europa, de Portugal à Polônia, e nomeadamente no sudoeste da França, entre 1136 e 1270 aproximadamente, numerosas "villeneuves" (cidades novas), que muito contribuíram para o nascimento e consolidação de uma classe social burguesa.

Crê-se que a história da abadia do monte Saint-Michel começou em 708, quando Aubert, bispo de Avranches, mandou construir no monte Tombe um santuário em honra a São Miguel Arcanjo (Saint-Michel). No século X os monges beneditinos instalaram-se na abadia e uma pequena vila foi-se formando aos seus pés. Durante a Guerra dos Cem Anos, entre França e Inglaterra, o Monte Saint-Michel foi uma fortaleza inexpugnável, resistindo a todas as tentativas inglesas de tomá-la e constituindo-se, assim, em símbolo da identidade nacional francesa. Após a dissolução da ordens religiosas ditadas pela Revolução Francesa de 1789 até 1863 o Monte foi utilizado como prisão. Declarado monumento histórico em 1987, o sítio figura desde 1979 na lista do Patrimônio Mundial da UNESCO.


Missa concelebrada em St Michel por padre Marcos e presidida pelo Padre Fabien-Marie.







segunda-feira, junho 18, 2018

XI DOMINGO DO TEMPO COMUM





1 – Simbolismo da semente e do semeador 

A Palavra está nos propondo dois símbolos: o símbolo da semente e o símbolo do semeador. Quanto ao semeador, a 1ª leitura dizia que Deus age entre nós como alguém que replanta a vida num novo local para que produza mais frutos. Deus é plantador de vida nova; Deus é o semeador de sementes que trazem dentro de si a vida nova, como diz o início do Evangelho. Interessante perceber que Deus não se preocupa com o tamanho da semente, mas com a qualidade da vida escondida na semente. O simbolismo da semente e do semeador remete ao estilo de vida de quem caminha na fé, no dizer de São Paulo, na 2ª leitura. Quem caminha na fé torna-se semeador e, por isso, torna-se santificado. Este é o justo, cantado pelo salmista, que cresce como a palmeira e, até mesmo, no tempo da velhice continua dando frutos. 

2 – Paciência no cultivo da vida

As duas parábolas, aquela de Ezequiel e aquela de Jesus falam também da paciência de Deus e descrevem a pedagogia divina pouco preocupada pelo resultado do fruto imediato. O primeiro movimento consiste na escolha de brotos de qualidade, depois vem a dedicação de preparar o terreno e de semear. Nas duas parábolas, os frutos são consequência natural. O agricultor é Deus e a semente é a vida plena. A ansiedade humana é porresultados imediatos, especialmente na atual cultura do resultado, do lucro. A cultura do lucro incentiva a pedagogia da concorrência e esta é ditada pela pressa. Na pedagogia do semeador, diz o início do Evangelho, existe a necessidade de dar tempo para que vida brote no chão de nossas vidas. Nada de pressa, de ansiedade, de pressão. Nocultivo paciente da vida, ora será preciso o transplantepara produzir mais frutos, ora a adubação para fortalecer, ora o repouso para descansar. Paciência para cultivar a vida; esta é a lição do semeador e da semente. 

3 – A dinâmica do Reino de Deus

A paciência divina é visível no cultivo do Reino de Deus. A parábola de Jesus, proclamada no Evangelho, chama atenção para o processo natural do crescimento do Reino onde este é semeado, cultivado com a paciência, no tempo natural de uma semente. Num contexto social onde tudo é "super", "hiper", o "máximo"... o Reino de Deus é apresentado como semente, como grão de mostarda, a menor de todas as sementes. Indicativo que o cultivo do Reino entre nós não acontece pela grandeza (das grandes celebrações ou shows) mas pela simplicidade e pela paciência iguais a do agricultor. Quem se faz semeador do Reino, dos valores do Evangelho, assume a responsabilidade de semear. Depois, como o semeador, espera pacientemente o trabalho da terra. Não importa o tamanho da semente. Pode ser pequena como um grão de mostarda, pode ser um pequeno gesto de bondade, pode ser uma pequena gentileza, pode ser uma pequena ajuda a quem necessita... pequena, mas fraterna. Esta é a semente do Reino no chão de nossa comunidade. Amém!

FOTOS DE PADRE MARCOS BELIZÁRIO CELEBRANDO A MISSA  NA IGREJA DE SANTA MATILDE EM PUTEAUX, FRANÇA.



quinta-feira, junho 14, 2018

X DOMINGO DO TEMPO COMUM




1 - O tema do mal

Você deve ter notado que o tema do mal e da maldade perpassam as leituras que ouvimos. O mal que surge nas origens, pela desobediência humana ao projeto divino e, o confronto de Jesus com o mal, com a maldade, com a acusação de que ele estava possuído pelo mal; possuído por Satanás. O tema do mal e da maldade no mundo é comum a todas as religiões. Mas, existe um diferencial na fé cristã: o diferencial é a promessa da remissão e a recuperação do homem e da mulher que foram contaminados pelo mal. É o próprio Deus, na 1ª leitura, quem garante que o mal não será capaz de desumanizar o homem e a mulher. São Paulo, tratando o tema do mal, diz que o mal físico, como por exemplo, a doença, ou até mesmo os problemas de saúde que surgem com a idade, pode atingir, desfigurar ou destruir o exterior do nosso corpo, mas jamais poderá atingir e danificar a vida interior se pertencermos à família de Jesus.



2 – Pecado contra o Espírito Santo

É neste contexto de confronto com o mal, com a maldade, com o pecado, que o Evangelho relata o único pecado que não tem o perdão divino: o pecado contra o Espírito Santo. Este é um pecado mortal sem retorno; um pecado de morte, um pecado que provoca a morte eterna. O pecado contra o Espírito Santo acontece quando pessoa se fecha, blinda-se diante da oferta da vida plena, da parte divina, colocando-se contra a ternura amorosa de Deus. Nega a ação do Espírito Santo na vida pessoal, rejeita ser conduzido pelo Espírito Santo para viver com o espírito do "príncipe deste mundo". Diante do propósito de negar conscientemente e determinadamente a proposta divina, de negar a ação do Espírito Santo na sua vida pessoal e na vida de Jesus, Deus não pode fazer nada por um fato muito simples: ele não invade nossa liberdade de escolha. Deus não quer que o mal atinja a vida humana, mas a pessoa é livre para negar o amor divino, para negar, para rejeitar, para expulsar o Espírito Santo de sua vida.



3 – Três consequências de viver no mal

A Palavra que ouvimos oferece também a oportunidade de confrontar o agir do espírito do mal, que vem de Satanás, com a ação do Espírito Santo, na vida pessoal. Consideremos três consequências. A primeira: o espírito do mal produz o medo que conduz ao esconder-se, como descrito na 1ª leitura. A pessoa que vive no mal vive no medo de ser descoberto de algo, por isso, vive de mentiras, de enganações, de superficialidades. A segunda consequência é a acusação; Adão acusa Eva e esta acusa a serpente. Viver no mal, deixar-se conduzir pelo espírito do mal, favorece a busca de culpados, o eximir-se da responsabilidade. A terceira consequência é a inimizade, também presente na 1ª leitura. Quem opta pelo mal não congrega, diz Jesus, no Evangelho, divide, provoca inimizades. Quem, ao contrário disso, vive iluminado pelo Espírito Santo, vive na verdade, acolhe o outro como ele é e cria amizades, favorece a união. Estes fazem parte da família de Jesus porque fazem a vontade do Pai. Amém!