“Que fostes ver no deserto? Uma cana agitada pelo vento?... Em verdade, eu vos digo, entre todos os nascidos de mulher não surgiu quem fosse maior que João Batista” (Mt 11, 7.11).
Já comemoramos o nascimento de São João Batista no dia 24 de junho. E no último dia 29, celebramos o seu martírio, sua degolação.
Qual foi a causa da sua morte? São João Batista pregava o arrependimento do pecado e a mudança de vida: “Convertei-vos...” (Mt 3,1). Era o homem da verdade, sem acepção de pessoas. O Rei Herodes havia tomado para si a mulher do seu irmão, Herodíades. João o admoestava contra o seu pecado de infidelidade conjugal e incesto, o que atraiu a ira da amante do rei, que o instigou a meter João no cárcere. “Pois João vivia dizendo a Herodes: ‘Não te é permitido viver com ela’” (Mt 14, 4). No dia do aniversário de Herodes, a filha de Herodíades, Salomé, dançou na frente dos convivas, o que levou o rei, meio embriagado, a prometer-lhe como prêmio qualquer coisa que pedisse. A filha perguntou à mãe, que não perdeu a oportunidade de vingar-se daquele que invectivava seu pecado. Fez a filha pedir ao rei a cabeça de João Batista. João foi decapitado na prisão, merecendo o elogio de Jesus, por ser um homem firme e não uma cana agitada ao sabor do vento.
Estamos no Ano da Misericórdia, proclamado pelo Papa Francisco. É tempo de perdão. Muita gente pode interpretar mal esse tempo, achando que pode continuar no pecado e receber o perdão. Mas a absolvição supõe o arrependimento e o propósito de deixar o pecado, sem o que o perdão não acontece. O discernimento pastoral prático de uma situação particular, no qual devemos usar toda a misericórdia e compreensão, não anula a regra geral dada por Nosso Senhor: “Quem despede sua mulher e se casa com outra, comete adultério... E se a mulher despede seu marido e se casa com outro, comete adultério também” (Mc 10, 11-12).
“Deus em Jesus é um Deus que tem um sumo respeito pela liberdade da pessoa. ‘Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, eu entrarei na sua casa’ (Ap 2, 20ª). Não arromba a porta, para entrar de qualquer maneira. A ‘abertura da porta’, de que fala a Escritura, é a conversão ou arrependimento. Conversão, arrependimento e misericórdia que perdoa são como o côncavo e o convexo da mesma figura: uma não se dá sem a outra (Cardeal Carlo Carafa, Arcebispo de Bolonha).
O Cardeal Jorge Medina, prefeito emérito da Congregação para o Culto Divino, no seu livreto “Arrependimento, Porta da Misericórdia”, com apresentação do Cardeal Carafa, acima citado, explica: “O Concílio de Trento define o arrependimento como ‘dor da alma e reprovação do pecado cometido, acompanhados pelo propósito de não pecar mais no futuro’. Este ato de contrição foi sempre necessário para pedir a remissão dos pecados...” E ele continua: “Vivemos em uma sociedade na qual pouco a pouco se está perdendo a sensibilidade em relação ao pecado...”. Esclarece, enfim, que “arrepender-se significa recorrer a Deus, Pai de misericórdia”.
*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
O
ensinamento de Jesus é muito claro e extremamente oportuno para este nosso
tempo de crise. Jesus não pretende ensinar etiquetas sociais, mas a
solidariedade para que todos possam participar do mesmo banquete da vida. O
mais importante não é estar no topo pisando nos outros; para Jesus, o mais
importante é participar do banquete da vida sem esquecer os últimos, sem
esquecer aqueles que sofrem mais que nós, sem esquecer aqueles que, em muitas
situações, o alimento não chega porque é totalmente consumido por aqueles que
estão sentados nos primeiros lugares. Na prática, o Evangelho de hoje destaca o
compromisso cristão com os pobres e com os menos favorecidos. Dar uma festa
para ricos, para pessoas de posse que podem retribuir não tem sentido para
Jesus. Não tem sentido porque falta a gratuidade, carece de solidariedade e de
misericórdia. Para entender o que Jesus está propondo faço uma comparação: um
presente que do qual se espera retribuição não é presente é troca ou compra.
Jesus está falando de convidar pessoas que não podem retribuir o teu bem com
outro presente. Trata-se do exercício da generosidade, por isso não olhar para
a sociedade com os olhos dos ricos que podem pagar, mas com o olhar dos pobres
que não tem com o que pagar.
Novamente,
aqui nos deparamos com o interesse pelos pobres e pelos que vivem nas
periferias sociais. Neste caso, Jesus ensina a não convidar os grandes e
os poderosos, nem mesmo os parentes; convidar sim os pobres, os deserdados
sociais, porque eles não têm como retribuir. Na prática, oferecer um lugar no
banquete da vida, mas sem esperar recompensa (Evangelho). Com tal ensinamento,
Jesus inverte a lógica social: não a proposta de oferecer algo para ser
recompensado, mas de ofertar com os mesmos parâmetros da misericórdia divina,
com um amor oblativo, que oferta sem esperar nada em troca. Esta é uma
característica do discípulo de Jesus. Não ama somente aqueles que o amam, mas
ama misericordiosamente como Deus. Não convida os que podem retribuir, mas
oferece oportunidade de vida aos que não a tem. Em resumo, a proposta de não se
manter no comportamento da sociedade, que faz para receber ou reverter em
lucro, mas buscar o comportamento misericordioso do Pai, que “derrama a chuva generosa" e "com
carinho prepara a terra para o pobre” (salmo responsorial) e nos conduz a
uma realidade palpável da divindade, na pessoa de Jesus (2ª leitura).
O relato bíblico representa a decapitação de João Batista por Herodes Antipas (em Mateus 14:1-12. Marcos 6:14-29 e Lucas 9:7-9). De acordo com os evangelhos sinóticos, Herodes mandou prender João por ele o ter admoestado por se divorciar de sua esposa (Fasélia - Phasaelis) e, ilegitimamente, tomar como amante Herodias, a esposa de seu irmão Herodes Filipe I. No aniversário de Herodes, a filha de Herodias (tradicionalmente chamada de Salomé) dançou perante o rei e seus convidados. Sua dança agradou tanto Herodes que, bêbado, ele prometeu a ela qualquer coisa que desejasse, limitando a promessa em metade de seu reino. Quando a filha perguntou à mãe o que deveria pedir, Herodias pediu que ela pedisse a cabeça de João Batista numa bandeja. Mesmo chocado com o pedido, Herodes relutantemente concordou e mandou executar João na prisão.
O historiador judeu Flávio Josefo também relata, em suas "Antiguidades Judaicas", que Herodes mandou matar João, afirmando que ele o fez "pois a grande influência que João tinha sobre o povo poderia colocar em suas [de João] mãos o poder e a vontade de levantar uma rebelião, (pois o povo parecia pronto para fazer o que quer ele pedisse), [assim Herodes] pensou que o melhor seria eliminá-lo". Ele afirma ainda que muitos dos judeus acreditavam que o desastre militar que sobreveio a Herodes pelas mãos deAretas, seu sogro (pai de Fasélia), fora uma punição por seu comportamento no caso de João.
A comemoração litúrgica da Decapitação de São João Batista é quase tão antiga quanto as comemorações de seu nascimento, que é é uma das festas mais antigas, se não a mais antiga, a serem introduzidas nas liturgias do oriente e do ocidente para homenagear um santo.
A Igreja Católica Romana celebra a festa em 29 de agosto, assim como a Igreja Luterana e a Igreja Anglicana, incluindo aí diversas províncias nacionais da Comunhão Anglicana.
A Igreja Ortodoxa e as Igrejas Católicas Orientais também celebram em 29 de agosto, só que no calendário juliano, utilizado entre outras pelas Igrejas Ortodoxas Russa, Macedônica e Sérvia, e que corresponde ao dia 11 de setembro no calendário gregoriano. O dia é sempre observado como um dia de jejum rigoroso. Em algumas culturas ortodoxas mais piedosas, o povo se recusa a comer num prato, usar facas ou comer alimentos de formato redondo neste dia.
A Igreja Apostólica Armênia celebra a Decapitação de São João Batista no sábado da Semana de Páscoa.
A Igreja Ortodoxa Síria, a Igreja Ortodoxa Malancara e a Igreja Católica Siro-Malancar comemoram o martírio de João em 7 de janeiro.
De acordo com antigas tradições, o local onde o corpo de João Batista foi enterrado foi Sebaste, perto da moderna Nablus na Cisjordânia, em já no século IV se mencionam relíquias suas sendo homenageadas ali. Os historiadores Rufino e Teodoreto relatam que um templo a João foi dessecrado ali em 362 por ordem de Juliano, o Apóstata, que queimou parte dos ossos. Uma parte das relíquias foi salva e levada a Jerusalém, depois paraAlexandria, onde, em 27 de maio de 395, elas foram depositadas na basílica recém-dedicada ao Precursor, justamente no local onde antes estava o Serapeu (Serapeum). O túmulo em Sebaste continuou, ainda assim, a ser visitado por peregrinos e São Jerônimo foi testemunha de milagres sendo realizados ali. Atualmente, o túmulo está preservado no interior da Mesquita de Nabi Yahya ("Mesquita de João Batista"), que é considerado um profeta pelo Islã.
O destino final da cabeça de João é difícil de determinar. Nicéforo[5] e Simeão Metafrástes dizem que Herodias a enterrou a na fortaleza de Machaerus (em concordância com Josefo). Outros escritores dizem que ela foi enterrada no Palácio de Herodes em Jerusalém. Ali ela foi descoberta durante a época de Constantino e foi, secretamente, levada para Emesa, na Fenícia, onde ela foi novamente escondida em um lugar que permaneceu secreto até que a localização foi novamente revelada milagrosamente em 452/3.
No contexto do mês temático de
agosto, dedicado a orações e reflexões sobre a Vocação na Igreja, este Domingo
e o decorrer da semana que lhe segue, é dedicado aos ministérios leigos, com
especial destaque à catequese. Por isso, neste último Domingo celebra-se o
Dia do Catequista. Um Domingo para agradecer aos catequistas, mas também para
refletir sobre o caminho e o processo da catequese na comunidade.
Um dos principais pilares da catequese é a Sagrada Escritura.
Graças a Deus é preciso reconhecer que a Bíblia entrou na catequese e faz parte
da catequese desde os primeiros passos dos catequizandos até os últimos
momentos, quando deixa a catequese. Vejo com alegria que crianças, adolescentes
e jovens chegam à catequese com a Bíblia na mão, manuseando a Bíblia com
facilidade e a lendo com interesse. Bem diferente de alguns encontros com
adultos, em tempos atrás, que para anunciar uma passagem bíblica, o dirigente
da pregação citava a página da Bíblia ou das várias edições bíblicas que
pudessem haver na pregação ou na palestra.
A Bíblia na catequese tem uma proposta bem clara: ser luz e
caminho na vida da pessoa. Por isso, o primeiro passo do catequista é acender
esta luz e começar a mostrar este caminho de vida presente na Bíblia,
especialmente no Evangelho. O processo catequético bíblico vai desde a
apresentação da Bíblia como Palavra de Deus, passa pelo aprendizado do manuseio
da Bíblia até chegar ao estudo e à vivência da Bíblia. Tudo isso é feito por
etapas, considerando a idade e as propostas pedagógicas para cada tempo. A
finalidade desse processo é a conversão ao discipulado. Não apenas conhecer a
Bíblia; a finalidade da Bíblia na catequese é ajudar o catequizando a conhecer
Jesus e fazer com que ele seja Mestre na vida de cada catequizando.
É dentro deste objetivo que está a proposta vocacional do
catequista, no sentido dele ser, antes mesmo de ser catequista, um discípulo e
discípula de Jesus. Esta é a melhor definição de catequista, ao meu ver: um
discípulo e discípula de Jesus que conduz catequizandos nos caminhos da Palavra
de Deus, presente na Bíblia para torná-los discípulos e discípulas do Mestre
Jesus. O catequista não é um professor e nem um especialista em doutrina
religiosa, mas um discípulo e discípula de Jesus. Ou, numa palavra, ele é
testemunho vivo do Evangelho para seus catequizandos.
Os caminhos da Igreja no Brasil
assinalam o mês de agosto com uma nobre particularidade. A temática vocacional
recebe forte acentuação: dia dos pais, dia do padre, dia do religioso, dia do
Catequista. Este previsto para o próximo dia 28.08.
Em nome da
CNBB quero servir-me da data para uma palavra permeada de sincero afeto e
imensa gratidão. Embora não seja possível ser suficientemente grato a tanta
dedicação, com muita simplicidade, apresento-me para uma reflexão
agradecida.
Começo
chamando-lhe à recordação uma sua experiência pessoal muito singular: lembra
quando alguém lhe dirigiu o convite a tornar-se Catequista? Certamente está
presente em sua memória a pessoa, as frases e o contexto. Lembra também de sua
própria reação? Talvez inquietação, ou dúvidas, ou temor por não se sentir
apta(o). É até possível que lhe tenha aflorado a preocupação pela falta de
tempo...
Mesmo assim,
embora com tantas objeções, Você aceitou. Estou certo que ainda estão bem
presentes os motivos que moveram a aceitar... E o Espírito Santo estava lá:
movia, suscitava, inquietava. E eis que desde sua liberdade e desde sua
capacidade de amar houve um movimento de afeição amorosa pelo Senhor, pela
comunidade, pelos “seus” catequizandos.
Hoje, tendo já
passado um bom tempo, talvez anos, cabem duas perguntas bastante simples: mais
ofereceu ou mais recebeu? Mais aprendeu ou mais ensinou? É verdade que os
desânimos por vezes se apresentaram; também sinais de cruz se pronunciaram. Mas
quanto crescimento! Quantos sinais da proximidade de Deus! Quantas experiências
de fé! É... Catequese é um caminho, um discipulado, um encontro que perdura e
atravessa os anos. Mas o Senhor nunca se deixa vencer em generosidade. Quantas
graças!!!
Seu sim ajudou
a Igreja a ser Evangelizadora; a ser mais Igreja. Sua dedicação de Catequista
a(o) faz lembrar-se de que o Senhor Jesus quer ser conhecido mais por seu amor
do que por doutrinas. Por isso mesmo o episcopado brasileiro lhe agradece,
caríssima(o) Catequista. E neste dia louva o Senhor por seu ministério. Que
Deus lhe multiplique em bênçãos a bênção que é Você para a nossa Igreja.
Seu nome vem do aramaico, com uma referência patronímica: Bar Talmay - filho de Talmay. Há historiadores que também mantêm uma referência patronímica, mas dá outro significado para o nome: Bar Ptolomeu - Filho de Ptolomeu. Esta última hipótese não é inverossímil, visto que Ptolomeu (suposto pai de Bartolomeu) possuía um prenome grego, e a cultura grega tinha uma grande influência na Judeia da época.
Nenhuma narração bíblica lhe enfoca especialmente e seu nome consta apenas nas listas dos doze. No entanto, segundo a tradição, ele é o Natanael de que falam outras passagens, e isso fica evidente através da comparação entre os quatro Evangelhos. Natanael significa "Deus deu" - o significado desse nome fica claro levando-se em conta que ele vinha de Caná, onde deve ter testemunhado a ação de Jesus nas Bodas de Caná (Jo 2, 1-11).
Como narra a Bíblia, São Filipe comunicou a Natanael (São Bartolomeu) que havia encontrado o Messias, e que esse provinha de Nazaré, ao que Natanael responde dura e preconceituosamente: "De Nazaré pode vir alguma coisa boa?" (Jo 1, 46a). Essa observação é importante indicador das expectativas judaicais quanto à vinda do Messias, então tidas.
No seu primeiro encontro com Jesus, recebe um elogio: "Aqui está um verdadeiro Israelita, em quem não há fingimento" (Jo 1, 47), ao qual o apóstolo responde: "Como me conheces?". Jesus responde de forma que não podemos compreender claramente somente através das Escrituras: "Antes que Filipe te chamasse, eu te vi quando estavas sob a figueira". Com certeza se tratava de um momento crítico e decisivo na vida de Natanael. Após essa revelação de Jesus, Natanael faz a sua adesão ao Mestre com a seguinte profissão de fé: "Rabi, tu és o filho de Deus, tu és o Rei de Israel".
Segundo fontes históricas, São Bartolomeu teria pregado o cristianismo até na Índia. Outra tradição diz que o apóstolo morreu por esfolamento em Albanópolis, atual Derbent, na província russa de Daguestão junto ao Cáucaso, a mando do governador, tanto que na Capela Sistina ele é pintado segurando a própria pele na mão esquerda e na outra o instrumento de seu suplício, um alfange. Segundo a Igreja Católica, mais tarde suas relíquias foram levadas para a Europa e jazem em Roma, na Igreja a ele dedicada.
O Papa Bento XVI na audiência do dia 4 de outubro de 2006 disse estas palavras que concluem o ensinamento da vida de São Bartolomeu: "Para concluir, podemos dizer que a figura de São Bartolomeu, mesmo sendo escassas as informações acerca dele, permanece contudo diante de nós para nos dizer que a adesão a Jesus pode ser vivida e testemunhada também sem cumprir obras sensacionais. Extraordinário é e permanece o próprio Jesus, ao qual cada um de nós está chamado a consagrar a própria vida e a própria morte".
Nascida em Lima no ano de 1586, era descendente de conquistadores espanhóis. Seu nome de batismo era Isabel Flores y Oliva, mas a extraordinária beleza da criança motivou a mudança do nome de Isabel para Rosa, ao que ela acrescentou o de Santa Maria. Seus pais eram Gaspar de Flores, espanhol arcabuz do Vice-Rei e Maria Oliva, limenha. Era a terceira dos onze filhos do casal.
Seus pais antes ricos tornaram-se pobres devido ao insucesso numa empresa de mineração e ela cresceu na pobreza, trabalhando na terra e na costura até altas horas da noite para ajudar no sustento da família. Cultivava as rosas de seus próprio jardim e as vendia no mercado e por isso é tida como patrona das floristas. Diz-se que tangia graciosa a viola e a harpa e tinha voz doce e melodiosa. Além de muito bela, Rosa era tida como a moça mais virtuosa e prendada de Lima.
Foi pretendida pelos jovens mais ricos e distintos de Lima e arredores, mas a todos rejeitou, por amar a Cristo como esposo. Em idade de casar, fez o voto de castidade e tomou o hábito da Ordem Terceira Dominicana, após lutar contra o desejo contrário dos pais. Construiu uma cela estreita e pobre no fundo do quintal da casa dos pais e começou a ter vida religiosa, penitenciando seu corpo com jejuns e cilícios dolorosos e conta-se que utilizava muitas vezes um aro de prata guarnecido com fincos, semelhante a uma coroa de espinhos. Foi extremamente bondosa e caridosa para com todos, especialmente para com os índios e negros, aos quais prestava os serviços mais humildes em caso de doença.
Segundo os relatos de seus biógrafos e dos amigos que a acompanharam, dentre eles seu confessor Frei Juan de Lorenzana, por sua piedade e devoção Santa Rosa recebeu de Deus o dom dos milagres. Era constantemente visitada pela Virgem Maria e pelo Menino Jesus, que quis repousar certa vez entre seus braços e a coroou com uma grinalda de rosas, que se tornou seu símbolo. Também é afirmado que tinha constantemente junto a si seu Anjo da Guarda, com quem conversava. Ainda em vida lhe foram atribuídos muitos favores; milagres de curas, conversões, propiciação das chuvas e até mesmo o impedimento da invasão de Lima pelos piratas holandeses em 1615.
Apesar de agraciada com experiências místicas fora do comum, nunca lhe faltou a cruz, a fim de que compartilhasse dos sofrimentos do Divino Mestre: sofrimentos provindos de duras incompreensões e perseguições e, nos últimos anos de vida, de sofrimentos físicos, agudas dores devidas à prolongada doença que a levou à morte em 24 de agosto de 1617, aos 31 anos de idade. Suas últimas palavras foram " Jesus está comigo!" Seu sepultamento foi apoteótico e pranteado por todo o Vice Reino do Peru e seu túmulo tornou-se palco de milagres, bem como também os lugares onde viveu e trabalhou pela causa da Igreja. Foi a primeira santa canonizada da América e proclamada padroeira da América Latina. Conta-se que o Papa Clemente relutava em elevá-la aos altares, mas foi convencido após presenciar uma milagrosa chuva de pétalas de rosa que caiu sobre ele, vinda do céu e que atribuiu a Santa Rosa de Lima.
Dela disse o Cardeal Ratzinger: De certa forma, essa mulher é uma personificação da Igreja da América Latina: imersa em sofrimentos, desprovida de meios materiais e de um poder significativos, mas tomada pelo íntimo ardor causado pela proximidade de Jesus Cristo. (Homilia no Santuário de Santa Rosa de Lima, Peru, em 19 de julho de 1986).
No Brasil, alguns municípios - como Iretama e Nova Santa Rosa, no estado do Paraná,em Santa Rosa de Lima em Santa Catarina, em Santa Rosa da Serra e Iturama no estado de Minas Gerais e na cidadezinha de Cabeceiras em Goiás - a adotam como Padroeira
A
solenidade da Assunção de Nossa Senhora nem sempre é muito compreendida pelos
cristãos de outras Igrejas. Põe maiores dificuldades quem tem como única base
da fé e da verdade o fundamentalismo Bíblico ou, aqueles que não desenvolveram
um estudo teológico e histórico mais aprofundado, perguntando a razão e o
motivo teológico e doutrinal do dogma da Assunção de Nossa Senhora. Na verdade,
em nenhuma parte da Bíblia está escrito diretamente que Nossa Senhora foi
elevada ao céu de corpo e alma, como celebramos no dia de hoje. Até mesmo nem
conhecemos o dia da morte de Nossa Senhora. A solenidade da Assunção, contudo,
tem uma tradição muito antiga, tanto na nossa Igreja católica como na Igreja
ortodoxa, mas com dificuldade de ser aceita por cristãos de outras Igrejas. Os
orientais, por exemplo, desde os primeiros séculos, festejam a Assunção de
Nossa Senhora com o título de “Dormição de Maria Santíssima”. Um título que
indica não a morte de Maria, mas a passagem dela desta para outra vida. Isso
deve ter alguma razão de ser.
2 – Princípio teológico
da “Dormição de Nossa Senhora”
É
interessante prestar atenção a este termo da “Dormição de Nossa Senhora”. Os
primeiros cristãos, que viveram próximos do tempo histórico de Jesus, e que
tiveram contato mais próximo com os apóstolos, não falam de morte de Nossa
Senhora, mas que ela “dormiu” para ser levada ao céu. Isto se fundamenta num
dado teológico. Se Deus usou o corpo de Maria como sacrário vivo para se
encarnar e nascer em nosso meio, não se pode admitir que o mesmo corpo que foi
morada de Deus tivesse apodrecido na terra como consequência da morte. Esta é a
Teologia que iremos proclamar daqui a pouco, no Prefácio desta Missa. O mesmo
Deus que nos deu inteligência para ler as Sagradas Escrituras, também nos dá
inteligência para deduzir que Maria não teve o mesmo destino que todos teremos.
Além do mais, a Doutrina e a Teologia cristã sempre contemplaram Nossa Senhora
como uma criatura humana privilegiada por ser imaculada, quer dizer, não
contaminada pela mancha do pecado. E, além do grande privilégio de ser a Mãe do
Salvador, a Mãe de Deus, Maria teve também o privilégio de ser elevada ao céu
de corpo e alma.
3 – Assunção e Igreja na
casa do Pai
Não
conhecemos o dia da morte de Nossa Senhora, como já mencionei no início da
homilia. Nem mesmo se tem notícia onde Maria teria sido sepultada. Tudo isso
ajuda a reforçar a Teologia que Maria não permaneceu aqui entre nós, mas
foi elevada ao céu de corpo e alma. Jesus quis que sua Mãe estivesse junto dele
para sempre na morada eterna. Mas, existe ainda um outro dado importante na
solenidade do dia de hoje: a vitória da Igreja que, graças à Assunção de Maria,
já vive na casa do Pai. Também este é um tema que ouviremos no Prefácio de
hoje. Quando a Igreja olha para Maria, assunta e vivendo para sempre na casa do
Pai, sabe que Maria é a Igreja que já recebeu o prêmio da vida eterna e da
Ressurreição de Jesus. Isso nos ajuda a entender que todos nós, um dia,
participaremos da mesma sorte de Maria. Não seremos elevados ao céu de corpo e
alma, mas temos a certeza de nossa fé que a mesma vida que Maria recebeu de seu
Filho Jesus, receberemos nós de nosso irmão Jesus Cristo.
Os católicos são obrigados a pagar o dízimo, no sentido estrito do termo? Ou seja, devem dar 10% de seus rendimentos à Igreja? Essa pergunta se faz necessária porque é cada vez mais frequente ouvir, dentro da Igreja, um eco da pregação protestante, segundo a qual a determinação do Antigo Testamento de pôr à parte "o dízimo de todo fruto de tuas semeaduras, de tudo o que teu campo produzir cada ano" [1], deveria ser seguida ao pé da letra.
Para responder adequadamente a esta questão, é importante distinguir três leis: a lei natural, a lei da Igreja e a lei da caridade.
Com relação à primeira, Santo Tomás de Aquino diz que existe um fundamento natural para que o povo sustente os seus ministros. Diz ele: "Que o povo deve sustentar o os ministros do culto é determinação da razão natural, como também recebem do povo salário para seu sustento aqueles que servem o bem comum: os governantes, os militares, e outros" [2]. E ainda: "O preceito da paga dos dízimos, quanto ao seu aspecto moral, foi dado pelo Senhor e está no Evangelho de Mateus: 'Digno é o operário do seu salário'" [3].
No entanto, na história da Igreja, esse direito já foi contestado. Os movimentos protestantes anteriores à Reforma, por exemplo, contestavam o dízimo como direito natural. Não à toa a Igreja exigia dos valdenses, a quem ela acolheu no século XIII, após muito tempo de divisão, que confessassem o seguinte: "Cremos que se deve doar aos clérigos sob as ordens do Senhor o dízimo, as primícias e as oblações" [4]. Na mesma linha, um dos erros de John Wycliffe condenados pelo Concílio de Constança dizia: "Os dízimos são também esmolas, portanto os paroquianos podem negá-los a seu juízo em razão dos pecados de seus prelados" [5]. Ou seja, os pecados dos bispos ou dos sacerdotes não cancelam o dever de justiça que os fiéis têm de sustentar as suas necessidades.
Mas, nesse campo, não existe apenas a lei natural, como também a lei da Igreja. Santo Tomás diz que oferecer a Deus a décima parte dos próprios rendimentos não está na natureza das coisas, mas é um preceito judicial, uma determinação que pode ser mudada de acordo com as circunstâncias [6]. No Antigo Testamento, a tribo de Levi precisava ser sustentada pelas demais tribos de Israel; era razoável, portanto, que elas tivessem que lhe pagar 10% de seus rendimentos. Mas, assim como as leis chamadas cerimoniais – como oferecer bodes e carneiros no templo de Jerusalém –, essas leis judiciais não são mais vinculantes.
Agora, o que devem ser seguidas são as determinações das Igrejas locais. O Catecismo, ao explicar os mandamentos da Igreja, diz: "O quinto preceito ('prover às necessidades da Igreja, segundo os legítimos usos e costumes e as determinações') aponta ainda aos fiéis a obrigação de prover às necessidades materiais da Igreja consoante as possibilidades de cada um" [7]. Trata-se de um resumo do que estipula o Código de Direito Canônico, ao estabelecer que "os fiéis têm a obrigação de prover às necessidades de Igreja, de forma que ela possa dispor do necessário para o culto divino, para as obras de apostolado e de caridade, e para a honesta sustentação dos seus ministros" [8].
O mesmo Código estabelece, noutro lugar: "Os fiéis concorram para as necessidades da Igreja mediante subvenções que lhe forem solicitadas e segundo normas estipuladas pela Conferência episcopal" [9]. Atendendo a isto, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em legislação complementar aprovada pela Santa Sé, determinou:
"Cabe à Província Eclesiástica dar normas pelas quais se determine a obrigação de os fiéis socorrerem às necessidades da Igreja, conforme o cân. 222, § 1. Busquem-se, contudo, outros sistemas que – fomentando a participação responsável dos fiéis – tornem superada para a manutenção da Igreja a cobrança de taxas e espórtulas." [10]
Então, é preciso consultar as Províncias Eclesiásticas para descobrir as normas que regulam a obrigação de socorrer às necessidades da Igreja. O caminho preferencial escolhido no Brasil é fazer que as pessoas tomem consciência de sua responsabilidade, mais do que simplesmente dar taxas e espórtulas à Igreja.
No que diz respeito à obrigação dos 10%, Santo Tomás não parece ser muito favorável a uma imposição estrita, afinal, esse valor se figura um pouco excessivo para a sustentação do clero. Além do mais, escreve o Aquinate, "os ministros da Igreja devem dedicar-se mais em promover o bem espiritual do povo do que em receber os bens temporais" [11]. Já que estamos na lei da graça, é mais interessante que a doação dos fiéis brote de sua generosidade do que de uma lei escrita. Isso quer dizer que as pessoas podem dar menos ou até mais de um décimo de suas rendas, de acordo com as necessidades de sua Igreja local e a generosidade que lhes inspira.
Quanto à lei da caridade, é importante notar que a Antiga Lei não tinha estabelecido o dízimo apenas para o sustento dos ministros, mas também para socorrer os pobres e necessitados. Para isso, não existem limites. Santo Tomás, com grande inteligência e fidelidade ao Evangelho, diz:
"A terceira espécie de dízimos, destinada a alimentar os pobres, foi aumentada na Lei nova, porque não somente a décima parte seria dada aos pobres, mas também o que sobrava, em cumprimento do preceito evangélico: 'O que sobrar, dai como esmola'. Quanto aos dízimos entregues aos ministros da Igreja, eles mesmos os dispensarão aos pobres." [12]
Não se deve esperar leis para fazer o bem. Existem, de fato, a lei natural e a lei eclesiástica; mas a lei da caridade deve brotar disto que está no Evangelho: Jesus, rico que era, fez-se pobre para nos enriquecer a todos. Do mesmo modo, devemos seguir essa " imitatio Christi – imitação de Cristo" e socorrer os mais necessitados.
Referências
Dt 14, 22. A razão de ser desse dízimo estava explicada no versículo 29 desse mesmo capítulo: serviria para o levita, para o estrangeiro, para o órfão e para a viúva.
Suma Teológica, II-II, q. 87, a. 1
Suma Teológica, II-II, q. 87, a. 1, ad 2. Cf. Mt 10, 10
DS 797
DS 1168
Suma Teológica, II-II, q. 87, a. 1
Catecismo da Igreja Católica, 2043
Código de Direito Canônico, cân. 222, § 1º
Ibidem, cân. 1262
Legislação Complementar ao Código de Direito Canônico emanada pela CNBB Decreto nº 2/1986
Suma Teológica, II-II, q. 87, a. 1, ad 5
Suma Teológica, II-II, q. 87, a. 1, ad 4. Cf. Lc 11, 41
Bernardo de Claraval (em francês: Bernard de Clairvaux),
O.Cist, foi um abade francês e o principal responsável por reformar a Ordem de
Cister, na qual entrou logo depois da morte de sua mãe. Foi o fundador da
Abadia de Claraval(Clairvaux), na Diocese de Langres.
Em 1128, Bernardo participou do Concílio de Troyes, que delineou a regra monástica que guiaria os Cavaleiros Templários e que
rapidamente tornou-se o ideal de nobreza utilizado no mundo cristão. Depois da
morte do papa Honório II em 1130, Bernardo foi instrumental para reconciliar a
Igreja durante o chamado "cisma papal de 1130", que só terminaria
definitivamente com a morte do antipapa Anacleto II em 1138.
No ano seguinte, Bernardo ajudou a organizar o Segundo
Concílio de Latrão. Em 1141, Inocêncio convocou o Concílio de Sens para tratar
da denúncia de Bernardo contra Pedro Abelardo. Com bastante experiência em
curar cismas na Igreja, Bernardo foi em seguida recrutado para ajudar no
combate às heresiasque grassavam no sul da França.
No Oriente Médio, depois da derrota cristã no cerco de
Edessa, o papa encarregou Bernardo de pregar a Segunda Cruzada, cujo fracasso
seria depois considerado parcialmente culpa sua.
Bernardo morreu aos 63 anos depois de passar quarenta
enclausurado. Foi o primeiro cisterciense no calendário de santos, tendo sido
canonizado por Alexandre III em 18 de janeiro de 1174. Em 1830, Pio VIII
proclamou-o Doutor da Igreja.
Entre suas obras estão a regra monástica da Ordem dos Templários, o "Tratado do Amor de Deus" e o "Comentário ao
Cântico dos Cânticos". É também o compositor ou redatordo hino "Ave
Maris Stella" e da invocação " Ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem
Maria" da oração "Salve Rainha"[1].
Amo porque amo, amo para amar
O amor basta-se a si mesmo, em si e por sua causa encontra
satisfação. É seu mérito, seu próprio prêmio. Além de si mesmo, o amor não
exige motivo nem fruto. Seu fruto é o próprio ato de amar. Amo porque amo, amo
para amar. Grande coisa é o amor, contanto que vá a seu princípio, volte à sua
origem, mergulhe em sua fonte, sempre beba donde corre sem cessar. De todos os
movimentos da alma, sentidos e afeições, o amor é o único com que pode a
criatura, embora não condignamente, responder ao Criador e, por sua vez,
dar-lhe outro tanto. Pois quando Deus ama não quer outra coisa senão ser amado,
já que ama para ser amado; porque bem sabe que serão felizes pelo amor aqueles
que o amarem.
O amor do Esposo, ou melhor, o Esposo-Amor somente procura a
resposta do amor e a fidelidade. Seja permitido à amada corresponder ao amor!
Por que a esposa e esposa do Amor não deveria amar? Por que não seria amado o
Amor?
É justo que, renunciando a todos os outros sentimentos, única
e totalmente se entregue ao amor, aquela que há de corresponder a ele, pagando
amor com amor. Pois mesmo que se esgote toda no amor, que é isto diante da
perene corrente do amor do outro? Certamente não corre com igual abundância o
caudal do amante e do Amor, da alma e do Verbo, da esposa e do Esposo, do
Criador e da criatura; há entre eles a mesma diferença que entre o sedento e a
fonte.
E então? Desaparecerá por isto e se esvaziará de todo a
promessa da desposada, o desejo que suspira, o ardor da que a ama, a confiança
da que ousa, já que não pode de igual para igual correr com o gigante,
rivalizar a doçura com o mel, a brandura com o cordeiro, a alvura com o lírio,
a claridade com o sol, a caridade com aquele que é a caridade?Não. Mesmo amando
menos, por ser menor, se a criatura amar com tudo o que é, haverá de dar tudo.
Por esta razão, amar assim é unir-se em matrimônio, porque não pode amar deste
modo e ser menos amada, de sorte que no consenso dos dois haja íntegro e
perfeito casamento. A não ser que alguém duvide ser amado primeiro e muito mais
pelo Verbo.
Formar-se desde o berço para ouvir, aceitar, executar e ensinar a
Palavra de Deus é vital para a formação da consciência solidária com o serviço
ao próximo e a causas de promoção do bem da sociedade. Aí se inclui a formação
para a pessoa honrar a palavra dada e ser responsável em assumir valores que
dignificam o ser humano.
No contexto da vida de Joaquim e Ana, os pais da mãe de Jesus, tal
formação se deu a ponto de a filha se interessar pelo conhecimento e a prática
da Palavra divina. Quando soube do projeto de Deus a seu respeito, entendendo
que o anúncio do anjo foi a manifestação da vontade do Senhor, logo ela se
prontificou em dar sua palavra, que honrou até o fim da vida, acompanhando o
filho para Ele cumprir o plano do Pai. Até aos pés da cruz lá ela estava. Sabia
que o filho sairia vitorioso, como, de fato, aconteceu com sua ressurreição.
Quando o ser humano é dócil em aceitar e executar a vontade de Deus,
torna-se pessoa de responsabilidade em relação a trabalhar dentro da ética, da
moral e do bem fundamentado na revelação feita através do Filho de Deus. Não
titubeia em ser coerente com sua fé e o que conhece ser o melhor para dar
resposta à Palavra divina. Não se deixa corromper, nem com propinas atraentes,
em qualquer situação e posição social, mesmo dentro da política partidária.
Orgulha-se até por promover e defender o que é justo e de valia para o serviço
ao próximo, desenvolvendo os talentos. Usa-os para promover o bem de todos,
seja na família, seja no convívio social.
Na subida da Mãe de Jesus para o céu, vemos o resultado da Palavra dada
por ela a Deus, no cumprimento da missão aqui na terra. Sua glorificação mostra
que, do alto do céu, seu exemplo nos chama sempre atenção para nós também
sermos de palavra, seguindo a de Deus. Oxalá todos o fizessem! Teríamos um
mundo sem guerras, tantas injustiças e mortes provocadas, desacertos
familiares, políticos e sociais. A religiosidade seria vivida mais
coerentemente. É evidente a fragilidade humana, sujeita aos desmandos e erros.
Mas a misericórdia de Deus é imensa. Precisamos aproveitá-la mais, para também
sermos misericordiosos e refazermos nossa vida, conforme a Palavra divina
aceita, vivida e ensinada. Desse modo, superamos nossas deficiências e fazemos
nosso convívio mais solidário, com resultado de entendimento, promoção dos
excluídos e vida de paz!
Maria, mulher forte na prática da Palavra de Deus, é coroada de glória e
admirada por todas as gerações dos que também aceitam o desafio de colocar em
prática os ensinamentos divinos. Chama-nos a olhar para cima, onde ela está,
indicando que o melhor na vida não é seguir os caprichos dos instintos e sim a
vontade de Deus. Ele quer o bem de todos, indicando o caminho do resultado de
quem O segue.
A Mãe de Jesus e nossa, é como a arca feita por ordem divina a Moisés e
tão valorizada por Davi. No meio do povo, dá segurança e certeza da presença de
Deus, que faz as pessoas terem força na caminhada, em vista do Reino divino
implantado na caminha da história humana na terra, em busca do Reino definitivo
na eternidade (Cf. 1 Crônicas 15,3-16,2).
Neste ano, há motivações especiais para celebrar a Semana Nacional da Família, dentro mês vocacional de agosto: temos os ricos ensinamentos exortações pastorais do Papa Francisco, na Exortação Apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia, sobre a alegria do amor no matrimônio e na família. Este também é o tema do curso anual do clero da Arquidiocese de São Paulo, em Itaici.
Para muitos, o casamento e a família “tradicionais” já foram superados e substituídos por diversas formas de união, que pretendem ter reconhecimento igual ao que sempre foi tido como casamento e família. Para outros, a família é como um barco à deriva e já não vale a pena dedicar-lhe esforços, para tentar salvá-la. Será assim mesmo?
Por que o Papa Francisco exorta a Igreja e a sociedade a dedicarem uma renovada atenção ao casamento e à família? O motivo é simples e profundo, ao mesmo tempo: a família é um bem para a pessoa, a comunidade humana e para a própria Igreja. Casamento e família, embora sejam expressadas em diversas formas culturais, não são meros produtos da cultura, mas são parte integrante da natureza humana e, portanto, parte do desígnio de Deus Criador. Por isso, se “Deus viu que era bom, muito bom” (cf Gn 1,31), a Igreja, como anunciadora e testemunha daquilo que se refere a Deus, não pode deixar de se interessar pelo casamento e a família.
No entanto, a atenção à família e ao casamento é complexa, uma vez que se trata de realidades profundamente ligadas às contingências humanas, históricas e culturais. É preciso anunciar o ensinamento da Igreja, mas também é necessário confrontar-se com as realidades que temos diante de nós, e que não correspondem sempre ao ideal que anunciamos. Foi por isso que o Papa convocou uma assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos (2014) para refletir sobre a situação atual do casamento e da família no mundo e sobre os desafios que daí decorrem para a missão evangelizadora da Igreja.
Seguiu-se a Assembleia ordinária do Sínodo, em 2015, para refletir sobre a vocação e a missão da família no contexto atual da Igreja e da sociedade; as reflexões foram assimiladas pelo Papa e traduzidas na Exortação Apostólica Amoris Laetitia, sobre a alegria do amor no casamento e na família. Uma afirmação de Francisco permite-nos perceber logo por que a Igreja continua a acreditar que é importante e vale a pena tratar do assunto: “as famílias não são um problema; elas são, sobretudo, uma oportunidade” (nº 7). Aonde quer chegar o Papa com as exortações dadas?
Penso que o Documento aponta para novas posturas e novas práticas em relação ao casamento e à família. O Papa não fez mudanças doutrinas no ensino da Igreja sobre casamento e família. Mas, isso sim, insiste sobre novas práticas evangelizadoras e pastorais, que vão desde a melhor compreensão e o renovado anúncio do “Evangelho do casamento e da família” na Sagrada Escritura e no Magistério da Igreja, passando por uma atenção carinhosa aos jovens que se preparam ao casamento, pelo acompanhamento dos casais e das famílias novas, por uma atenção especial e misericordiosa em relação aos casais e famílias que crises e angústias.
Mas as novas práticas pastorais também passam por novas práticas canônicas quanto à verificação da validade dos casamentos e da possibilidade de realizar um casamento válido diante da Igreja. Enfim, fazendo eco às manifestações das duas assembleias sinodais, o Papa Francisco exorta a Igreja toda a ser acolhedora e misericordiosa em relação a todas as famílias, mesmo quando não é possível “regularizar” as situações contrastantes com o ensino da Igreja; ninguém deve encontrar fechadas as portas da Igreja, mesmo quando não dá para atender ao que as pessoas pedem. O Papa lembra que a Igreja não condena ninguém antecipadamente, mas aponta a todos o caminho da misericórdia e da conversão; a todos indica as riquezas inesgotáveis do Evangelho da salvação e convida a caminhar por elas.
Em poucas palavras, eu diria que Francisco nos tira da “zona de conforto” e nos leva a rever atitudes eclesiais e práticas pastorais em relação ao casamento e à família. Aqui também se aplica o conceito de “conversão pastoral”, que ele usou na Exortação Apostólica “Evangelli Gaudium (A Alegria do Evangelho”, 2014). A caridade pastoral e o desejo de fazer chegar a todos a Boa Nova da salvação ajudarão a realizar as mudanças necessárias.