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segunda-feira, junho 23, 2025

XII DOMINGO DO TEMPO COMUM












1) Pedro faz uma verdadeira profissão de fé com os seus lábios e aprenderá a fazer essa profissão de fé na profundidade do seu conteúdo e com a própria vida, na sua fragilidade e na sua grandeza! Pedro e os discípulos passarão da concepção do Messias nacionalista, triunfador, vitorioso, à maneira humana de poder e da força, para o Messias que Jesus vai apresentar no anúncio da sua paixão, morte e Ressurreição.

Jesus proibiu-os de dizer que Ele era o Messias. Eles precisavam e deviam também fazer um longo e profundo caminho até compreenderem a resposta profunda, sábia e dinamizadora. Jesus vai elucidá-los sobre a Sua Identidade e Missão.

 

2) Da verdadeira compreensão da identidade e missão de Jesus depende a profundidade, a beleza e autenticidade da nossa vida de discípulos. Como discípulos fixaremos o nosso olhar em Jesus. Como Ele colocamos a nossa vida em oração aberta aos desígnios do Pai e do Espírito Santo. Eles nos revelam Jesus, nos proporcionam uma verdadeira comunhão e constroem em nós uma estrutura coesa de identidade e missão, à maneira de Jesus.

Jesus faz-nos a mesma proposta “Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me”. Este convite à verdadeira felicidade, à verdadeira liberdade e à plenitude, significa esquecer-se de si para se doar inteiramente na verdadeira aventura do ser discípulo.

Como os discípulos todos temos de abandonar as falsas ideias e comportamentos de um messianismo triunfador que não exige a nossa conversão e a nossa entrega.

 

3) Vivemos num mundo em que os grandes, os fortes, os poderosos, os que pensam só em si vivem num círculo fechado de idolatria narcisística e parecem revelar os verdadeiros vencedores ou as forças motrizes da construção da vida e da sociedade. É um erro colossal porque tal lógica se baseia na prepotência, na falsidade, na deturpação da dignidade humana e na falsa imagem de Deus. Torna-se urgente e actual a lógica e a proposta de Jesus: dar a vida. Como nos diz a segunda leitura de hoje: “fostes revestidos de Cristo”. E assim a nossa beleza interior permite uma renovação profunda na vida pessoal, comunitária e social. É que ser cristão não é uma questão de teorias ou normas, mas de fiel seguimento à pessoa de Jesus e de seguimento generoso à mesma causa. E tal atitude é forjadora do mais belo acontecer.

 

4) Assumir e tomar a Cruz todos os dias e segui-Lo. É a beleza e a exigência do quotidiano. Quando apetece e quando não apetece. Quando há emoção e quando não há. Quando O sentimos e quando Ele parece ausente. Quando tudo é fácil e quando tudo é difícil e inacessível. Não é só para as festas e para ocasiões especiais, mas na beleza escondida, e às vezes tão apagada, dos dias que passam sem brisas, sem palmas, sem palavras animadoras, dos dias de silêncio, da humilhação, do sofrimento, do aparente fracasso, do gólgota. Sempre de mãos abertas, de seguimento contínuo, de começar e recomeçar, de esperança, de confiança e de amor. Isto conduz á verdadeira vitória e glória.

E o que dizem hoje as multidões sobre a identidade e missão de Jesus? Muitos já não dizem nada pela indiferença total. Outros dizem mal, falseando e corrompendo pelo vínculo a ideologias afastadas da Verdade. Outros sabem algo mas ainda é pouco. A tarefa dos cristãos, dos discípulos de Cristo, de cada um, diante de todo este panorama, deve ser amar sem medida, dar a vida, acolher, dialogar, formar, ser testemunha da esperança e anunciador da Boa Nova.

















sexta-feira, junho 20, 2025

CORPUS CHRISTI










Estamos perante uma situação sem saída? Não. Chegou a altura de Jesus mostrar aos discípulos a “Sua” solução – a solução de Deus – para a fome da humanidade. Jesus assume a condução do processo e, de forma precisa, dá as suas indicações: “mandai-os sentar por grupos de cinquenta” (vers. 14b).

Depois de todos se terem instalado, “Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao Céu e pronunciou sobre eles a bênção. Depois partiu-os e deu-os aos discípulos, para eles os distribuírem pela multidão” (vers. 16). A fórmula aqui utilizada por Lucas para descrever a ação de Jesus é decalcada do relato eucarístico da “última ceia”: Jesus “tomou o pão, deu graças, partiu-o e distribuiu-o por eles” (Lc 22,19). Naturalmente, Lucas vê uma correspondência perfeita entre os dois momentos. Em ambos se refere o “tomar”, “dar graças”, “partir” e “distribuir”.

A fórmula de Jesus para saciar a fome da multidão resultou? Sim. “Todos comeram e ficaram saciados”. Mais: “ainda recolheram doze cestos dos pedaços que sobraram” (vers. 17). Quando reconhecemos que tudo é dom de Deus (“dar graças”) e nos dispomos a partilhar e a distribuir o que Deus coloca à nossa disposição, o pouco faz-se muito, a “divisão” gera abundância, os dons de Deus chegam para todos e ainda sobram.

 

Detenhamo-nos um pouco mais na fórmula que Jesus usou para saciar a multidão. Segundo o relato de Lucas, o que Jesus fez não foi exatamente uma “multiplicação”; mas foi a “divisão” e a “partilha” de cinco pães e dois peixes. O grande “milagre” de Jesus não foi fazer aparecer do nada uma montanha de pães e de peixes, suficiente para saciar a fome de cinco mil homens; mas foi mostrar aos seus discípulos que o pouco, quando partilhado com amor, chega para todos e permite saciar todas as fomes. Guiados por Jesus, os discípulos descobriram que a solução para a “fome” dos homens não está no sistema de compra e de venda, que apenas produz exploração, injustiça e desigualdade; mas está na adoção de uma forma de viver que privilegie a partilha, a gratuidade, o dom. Só a partir desta lógica – a lógica de Deus – será possível saciar uma humanidade atormentada pela fome de pão e pela fome de tantas outras coisas necessárias para ter vida em abundância.

 

Num “local deserto” perto de Betsaida, Jesus quis que os discípulos distribuíssem pela multidão o pão e os peixes repartidos; na última ceia, Jesus pediu aos discípulos que repetissem em sua memória os gestos de entrega e de doação que Ele tinha feito (“fazei isto em minha memória” – Lc 22,19b). Os discípulos são testemunhas e arautos daquilo que viram Jesus fazer. Devem dizer ao mundo, com palavras e com gestos, que a partilha/doação/entrega é fonte de vida para todos e sacia todas as fomes.

 

 











segunda-feira, junho 16, 2025

SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE











Meus irmãos, há momentos na vida em que, mesmo tendo ouvidos, a gente não consegue escutar. Jesus, com sua delicadeza divina, reconhece isso. “Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender agora”, e quanta ternura há nessas palavras! Ele não nos força. Ele espera: que amadureçamos e que o coração esteja pronto. Espera que o Espírito venha.

E Ele vem. Sim, o Espírito da Verdade vem. Não como um mestre que grita ordens, mas como um amigo que nos pega pela mão e nos conduz. Vagarosamente. Com paciência. Conduz-nos à plena verdade, não somente à verdade teórica, mas à verdade que transforma o coração e a vida. Aquela que cura, que liberta, que sacode as máscaras e devolve a nós mesmos.

O Espírito não fala de si. Ele não busca aplausos, não brilha sozinho, mas aponta, reflete, transmite, e nos leva a Cristo e nos mostra que tudo em Cristo vem do Pai. E assim o círculo se fecha: Pai, Filho e Espírito. Uma comunhão de amor eterno, que se doa por inteiro e se comunica sem ruído.

Mas olhe bem: Jesus diz que o Espírito nos anunciará até as coisas futuras. Ora, isso não é previsibilidade de calendário, mas clareza interior, afinal, o Espírito nos prepara para o que virá e nos treina o coração para a cruz e para a glória. Nos dá sabedoria nas escolhas. E, sobretudo, nos ensina a caminhar com esperança, mesmo quando tudo ao redor parece um nevoeiro.

Agora… pense um pouco: você tem deixado o Espírito conduzir? Ou está tentando viver só com a força dos próprios braços? Às vezes a gente quer entender tudo de uma vez. Quer controlar. Quer ter garantias. Mas o Espírito não é um mapa com rotas fixas. Ele é vento. Sopra onde quer, como quer. Às vezes sopra manso e reconforta. Outras vezes sopra forte e nos arranca do chão.

E isso é graça. Porque só quando largamos o leme é que descobrimos que não somos os donos da embarcação. Todavia, o Espírito é o verdadeiro timoneiro da alma, e se você confiar, Ele te levará onde nunca imaginou – ao encontro da verdade que te faz livre, da verdade que te faz novo.

Cristo quer te dizer mais, muito mais. Mas talvez ainda não esteja pronto. E tudo bem. Ele não tem pressa. Mas abra espaço. Dê ouvidos. Silencie a agitação. Ore mais com o coração do que com os lábios. E peça: “Espírito da Verdade, vem e me conduz. Eu me rendo.”

Porque só quem se deixa conduzir… chega. Amém.















terça-feira, junho 10, 2025

SOLENIDADE DE PENTECOSTES








Meus irmãos e irmãs em Cristo, hoje, celebramos um dia que transforma tudo. Pentecostes não é o fim da Páscoa. É o começo da missão. Aquele grupo de discípulos medrosos, trancados, acuados como crianças no escuro, recebe algo que muda sua história: o sopro de Deus. E com esse sopro, o Espírito Santo – não uma ideia, mas uma força viva, quente, divina, que incendeia o mundo.

Percebam: as portas estavam fechadas. E não era só a madeira que trancava. Era o medo. Medo da morte, medo do fracasso, medo do futuro. E o que faz Jesus? Entra mesmo assim. Porque nenhuma porta trancada segura o Ressuscitado. Ele não precisa arrombar nada. Ele entra com a paz. E diz: “A paz esteja convosco.” Duas vezes. Porque os corações precisavam ouvir. Porque quando a alma está tremendo, é a paz que devolve o chão.

E ali, naquela sala abafada pela insegurança, Jesus sopra. Como no Gênesis, quando Deus soprou vida no barro de Adão. Aqui, Ele sopra nova vida, um novo começo. Ele sopra sobre aqueles homens ainda confusos e diz: “Recebei o Espírito Santo.” Não é só um sopro. É um envio. Ele diz: “Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio.”

Sopro no mundo

O que significa isso? Que nós também somos enviados. Não como turistas espirituais, mas como testemunhas. A Igreja nasce não de uma ideia ou de uma estrutura. A Igreja nasce desse sopro. E se não formos sopro no mundo, somos só barulho.

E olhem o que Ele entrega junto: o poder de perdoar. Ele não dá armas, não dá riquezas, não dá estratégias de marketing. Dá o perdão. E o perdão é a arma mais poderosa do cristão. Porque perdoar é vencer sem matar. É libertar a si e ao outro. E se há algo que o Espírito Santo quer fazer hoje, é arrancar os grilhões do rancor que nos amarra há tanto tempo.

Quando o Espírito sopra

Pentecostes, meus irmãos, não é sobre barulho, é sobre fogo. E o fogo não serve só para aquecer, ele serve para purificar, para transformar. Possibilita iluminar. O Espírito Santo não veio para nos deixar confortáveis. Ele veio para nos empurrar. Para tirar a gente da zona de conforto, da fé morna, da rotina vazia.

Hoje, Jesus sopra sobre você. Sim, sobre você mesmo. Sopra para te levantar, para te enviar, para te fazer portador do perdão, do amor, da paz. E se você está com medo, saiba: o Espírito Santo não nos foi dado por merecimento, mas por amor.

Então, abre as janelas do seu coração. Destranca a porta da sua alma. Deixa o vento do Alto entrar. Porque quando o Espírito sopra, a vida muda. E quando Ele habita em nós, o mundo começa a ver, a ouvir, a sentir o Cristo ressuscitado. Amém.














segunda-feira, junho 09, 2025

BENÇÃO DA FARMÁCIA E DO CONSULTÓRIO MÉDICO






Homenagem póstuma a Sandra e Gisele


O Pai das misericórdias e Deus de toda consolação, que nos consola por meio do seu Filho, no Espírito Santo, acompanha com peculiar amor e sua bênção os homens que sofrem tribulações e enfermidades, e aqueles que, de algum modo, trabalham na assistência e no serviço dos enfermos.

Os enfermos não só completam o que falta aos sofrimentos de Cristo em favor do seu corpo, que é a Igreja, mas representam de modo singular a pessoa do próprio Cristo, que disse estar presente nos enfermos, tanto que considerava prestado a si todo serviço que a eles fosse prestado.

É, portanto, justo implorarmos a bênção divina sobre todos os enfermos que estarão neste centro pastoral, e sobre todos os que aqui se dedicam (se dedicarão) generosamente à cura dos enfermos, numa palavra, sobre este centro pastoral, destinada a tratar da saúde das pessoas.

 

 

ORAÇÃO DA BÊNÇÃO

 

Senhor nosso Deus,

cujo Filho, por virtude do Espírito Santo,

curou nossas fraquezas e enfermidades,

e, enviando os discípulos para pregarem o Evangelho,

ordenou-lhes que visitassem os doentes e cuidassem deles,

concedei que todos os enfermos atendidos neste centro pastoral

sejam recebidos com toda afabilidade

e tratados com toda presteza

pelos médicos e seus auxiliares,

para que, ao receberem alta,

já recuperada a saúde do corpo e do espírito,

entoem louvor sem fim à vossa misericórdia.

Por Cristo, nosso Senhor.

R/. Amém.















segunda-feira, junho 02, 2025

SOLENIDADE DE ASCENSÃO DO SENHOR






No 5º Domingo da Páscoa :

“Dou-vos um novo mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado” (v. 34).

Jesus fala em um “novo mandamento”. A novidade deste novo mandamento é que não se trata do antigo e conhecido mandamento que ordenava “amar ao próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18). A própria construção da frase, sugere que o “novo” deste mandamento consiste, exatamente, no “como eu vos amei”. Nem a palavra amar, nem o mandamento do amor são novos. Novo é amar como Jesus, amar em Jesus, por causa de sua palavra impressa em cada página do evangelho.

A prática do amor mútuo é a expressão da fé em Jesus. O verdadeiro discípulo distingue-se pelo amor. A capacidade de amar-se mutuamente indica o quanto Jesus está agindo na vida do cristão. A presença salvadora de Jesus tem o efeito de desatar o nó do egoísmo, que afasta os indivíduos de seus semelhantes e, por consequência, de Deus também.

No 6º Domingo da Páscoa

o Senhor nos fala da memória — não da memória fraca da carne, mas da memória viva do Espírito. Ele promete enviar o Paráclito, o Defensor, o Espírito da Verdade, pois . E afirma: “Ele vos recordará tudo o que eu vos tenho dito.”

Não se trata de uma lembrança qualquer, pois o Espírito não vem somente para relembrar frases ou registrar doutrinas. O Espírito Santo não é um gravador divino, mas é o Sopro do Amor entre o Pai e o Filho, que se derrama em nossos corações para tornar presente o que, sem Ele, permaneceria no passado.

Porque sem o Espírito, até o Evangelho vira letra morta. Sem Ele, ouvimos Jesus… e esquecemos. Lemos as Escrituras… e não entendemos. Repetimos as palavras… mas elas não nos transformam. A função do Espírito é nos introduzir na verdade, não como quem ensina lições, mas como quem acende uma chama no fundo da alma.

Comunhão com o Cristo Ascendido: A Ascensão exige que vivamos sempre na presença do Senhor glorificado. Em cada Missa, ao proclamarmos “e quando o Senhor Jesus voltar em glória, acolhei-o no meio de nós!”, estamos retomando o gesto dos discípulos que, após adorar, “permaneciam no Templo, bendizendo a Deus”. Cultivar a oração e participar da liturgia dominical é nossa forma contemporânea de “estar em Jerusalém” antes de receber o Pentecostes pessoal.

Missão e Testemunho: Ser testemunha de Cristo não significa somente pronunciar palavras, mas deixar que as “obras” de Cristo vivam em nós: a compaixão pelos pobres, o perdão incondicional, a denúncia profética das estruturas de pecado. Tal como o Ressuscitado enviou os discípulos, Ele nos envia hoje — na escola de Madre Teresa e de São Vicente de Paulo — a anunciar conversão e perdão em nossos ambientes de trabalho, família e cultura.

Unidade Eclesial: A cena de “todos reunidos no Templo com alegria” sublinha a importância de manter a coesão eucarística. A comunhão sacramental fortalece a caridade e evita o isolamento espiritual. Assim, em tempos de individualismo, recordemos o apelo paulino: “Eles devem cuidar uns dos outros, como um corpo em que todas as partes colaboram para a saúde comum” (Rm 12, 5).

Esperança Escatológica: A Ascensão projeta nosso olhar para “novos céus e nova terra” (2Pd 3, 13). O quotidiano se torna litúrgico quando vivemos a História como rumo seguro ao cumprimento das promessas do Pai. A “força do alto” (Lc 24, 49) é, ao mesmo tempo, dom presente e antecipação da consumação eterna, que nos impele a perseverar na caridade e na santidade.

Queridos irmãos, ao celebrarmos este mistério pascal-ascensional, sintamos no coração o convite a projetar nossas vidas para o alto, mantendo os pés firmes na missão e a alma sedenta de oração. Que a “grande alegria” dos primeiros que viram o Senhor subir em glória nos inunde de esperança e coragem para testemunhar, até os confins da terra, que aquele que ressuscitou e ascendeu voltará novamente em glória. Amém.













sexta-feira, maio 30, 2025

NO ÚNICO CRISTO













NO ÚNICO CRISTO

30 de maio de 2025

 

Paróquia São Conrado de Constança






            “In Illo uno unum”, “em um só Cristo, apesar de muitos, somos um só”, é o lema escolhido pelo Papa Leão XIV, agostiniano, tirado dos escritos de Santo Agostinho, expressando a ideia de que, embora nós cristãos sejamos muitos, no único Cristo somos um. 

       Jesus Cristo é o centro das Sagradas Escrituras, esperado no Antigo Testamento e realizado no Novo: Cristo, ontem, hoje e por todo o sempre. E Jesus Cristo deve ser o centro de toda a nossa religião e devotamento.

       “O fim último de toda e qualquer devoção deve ser Jesus Cristo, Salvador do mundo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem... Jesus Cristo é o Alfa e o Ômega (Ap 1,8), ‘o princípio e o fim’ (Ap 21,6) de todas as coisas”. São palavras de São Luiz Maria Grignion de Montfort, ao falar da base da devoção a Maria Santíssima.

       Por isso, os últimos Papas, nas suas primeiras palavras como pontífices, ressaltaram sempre a importância do nome de Jesus:

João XXIII: “Jesus, o Redentor divino, Jesus, o Pastor, apascenta o seu rebanho com a celeste doutrina, e com o fogo desta doutrina tudo ilumina” (23/11/1958 – Primeira Missa em São João do Latrão). Paulo VI: “Queremos oferecer à humanidade o remédio para os seus males, a resposta para os seus apelos: a riqueza insondável de Cristo (Ef 3,8)” (30/06/1963 - Missa no início do seu pontificado). João Paulo I: “Proclamemos ao mundo, com alegre firmeza, a nossa profissão de fé: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!” (Mt 16,16) (03/09/1978 – Missa no início do seu pontificado).

João Paulo II: “Não tenhais medo de Cristo e de aceitar o seu poder! Não tenhais medo! Antes, procurai abrir, melhor, escancarar as portas a Cristo! Não tenhais medo!” (22/10/1978 – Missa no início do seu pontificado). Bento XVI: “Quem faz Cristo entrar em sua vida, nada perde, nada, absolutamente nada daquilo que a torna livre, bela e grande. Só nesta amizade se abrem, de par em par, as portas da vida. Não podemos ter medo de Cristo! Ele não tira nada de nós: ele nos dá tudo.” (24/04/2005 - Missa no início de seu pontificado).

Francisco: “Poderemos caminhar quanto quisermos, poderemos edificar muitas coisas, porém, se não confessarmos Jesus Cristo, alguma coisa não funciona. Acabaremos sendo uma ONG assistencial, porém, não a Igreja, esposa de Cristo” (14/03/2013 – Missa com os Cardeais na Capela Sixtina).

Leão XIV: “Somos discípulos de Cristo. Cristo vai à nossa frente. O mundo precisa da sua luz. A humanidade precisa d’Ele como ponte para poder ser alcançada por Deus e pelo seu amor.” (08/05/2025 – Bênção Urbi et Orbi, ao ser apresentado como o novo sucessor de Pedro). “Queremos dizer ao mundo, com humildade e alegria: Olhai para Cristo! Aproximai-vos d´Ele! Acolhei a sua Palavra que ilumina e consola. Escutai a sua proposta de amor para vos tornardes a sua única família. No único Cristo somos um.

 

Fonte: Dom Fernando Arêas Rifan


segunda-feira, maio 26, 2025

HOMILIA DO VI DOMINGO DA PÁSCOA











Amados irmãos e irmãs, hoje o Senhor nos fala da memória — não da memória fraca da carne, mas da memória viva do Espírito. Ele promete enviar o Paráclito, o Defensor, o Espírito da Verdade, pois . E afirma: “Ele vos recordará tudo o que eu vos tenho dito.”

 

Não se trata de uma lembrança qualquer, pois o Espírito não vem somente para relembrar frases ou registrar doutrinas. O Espírito Santo não é um gravador divino, mas é o Sopro do Amor entre o Pai e o Filho, que se derrama em nossos corações para tornar presente o que, sem Ele, permaneceria no passado.

 

Porque sem o Espírito, até o Evangelho vira letra morta. Sem Ele, ouvimos Jesus… e esquecemos. Lemos as Escrituras… e não entendemos. Repetimos as palavras… mas elas não nos transformam. A função do Espírito é nos introduzir na verdade, não como quem ensina lições, mas como quem acende uma chama no fundo da alma.

 

Por isso Jesus disse “ele vos recordará”. Recordar, do latim re-cordare, é trazer de volta ao coração. O Espírito Santo recorda ao nosso coração aquilo que, humanamente, teríamos esquecido — porque as palavras de Cristo não foram feitas para ficar apenas na cabeça. Foram ditas para enraizar-se no coração, frutificar na vida e moldar o ser.

Na escola de Santo Agostinho aprendemos que a memória, mais do que um depósito de lembranças, é uma morada interior onde Deus deseja habitar. Por isso Cristo diz: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada.” O Espírito é quem prepara essa casa. Ele limpa os quartos escuros da nossa alma, areja as janelas da consciência, expulsa o medo e acende a luz da paz.

 

É Ele quem nos consola quando tudo em volta grita desespero, quem nos corrige, quando o orgulho nos empurra para longe da humildade. Além disso, é Ele quem nos lembra, em meio ao tumulto do mundo, aquilo que Jesus sussurrou no silêncio da cruz: “Pai, perdoa.”

 

E veja, meu irmão, minha irmã… isso muda tudo. Porque mesmo quando não ouvimos mais — devido ao barulho — mesmo quando a dor parece sufocar a esperança, o Espírito continua recordando. Quando o desânimo chega e você pensa: “Será que Ele continua comigo?”, o Espírito sussurra dentro: “Deixo-vos a paz.” Quando a solidão pesa, e você esquece a promessa, Ele murmura: “Eu voltarei a vós.”

Não é coincidência que essa promessa venha antes da paixão. Jesus sabia que o medo nos tornaria esquecidos. Sabia que os discípulos fugiriam. Sabia que a cruz escandalizaria a esperança. Por isso, prometeu: o Espírito vos recordará. Porque quem ama não deixa o outro esquecer daquilo que dá sentido à vida.

 

Hoje, abramos espaço para essa memória divina. Peçamos ao Espírito que nos recorde o essencial. Que reacenda a Palavra esquecida, e desperte a alegria prometida, porque transforme a fé em fogo. E que, ao lembrar-nos de Jesus, nos faça mais parecidos com Ele.

 

Vinde, Espírito Santo. Fazei memória viva em nós.












quarta-feira, maio 21, 2025

LEÃO XIII

 





LEÃO XIII

21 de maio de 2025

 

Paróquia São Conrado de Constança



O nosso atual Papa Leão XIV, por quem estamos rezando para que faça um bom governo, disse que adotou o nome de “Leão” em homenagem ao seu antecessor Leão XIII, o Papa da “questão social”, o Papa dos operários, que iniciou e impulsionou a Doutrina Social da Igreja. É uma das linhas do programa de governo do Papa atual.

No século XIX, com a industrialização, aconteceu uma situação social completamente nova, surgindo a classe dos trabalhadores da indústria, o “proletariado industrial”, cujas terríveis condições de vida foram ilustradas de modo impressionante por Frederico Engels, em 1845, apresentando como solução a derrubada da sociedade burguesa. Karl Marx recolheu esse apelo do momento, a revolução proletária, e procurou dar uma solução, rumo à salvação, àquilo que Kant tinha qualificado como “o reino de Deus”, o que deu origem ao partido comunista, nascido do manifesto comunista de 1848. Essa revolução aconteceu, depois, de forma mais radical, na Rússia de Lenin. Mas a análise de Marx, por ser materialista, embora fascinante, estava, no foco, equivocada (cf. Bento XVI, Spe Salvi, n. 20).

A solução cristã à questão operária foi dada magistralmente pelo Papa Leão XIII, com a sua encíclica Rerum Novarum, sobre a Situação dos Operários e o Capital, publicada em 1891, que abordou o problema da condição social dos trabalhadores na era da industrialização. 

Leão XIII defendia, como um direito, o justo salário para os trabalhadores, suficiente para atender às necessidades legítimas do trabalhador e de sua família, permitindo-lhes viver com dignidade e autonomia, além de condições de trabalho seguras e a formação de associações para defender seus direitos. Ele defendia a importância da justiça social.

A encíclica Rerum Novarum é considerada um marco inicial da Doutrina Social da Igreja, que se preocupa com as questões sociais e busca soluções para as desigualdades injustas, defendendo o salário justo.

É sabida a influência dessa encíclica Rerum Novarum de Leão XIII na criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) no Brasil, durante o governo de Getúlio Vargas e suas ideias influenciaram na formulação de políticas trabalhistas no Brasil, introduzindo importantes direitos para os trabalhadores, como a jornada de trabalho, o salário mínimo, etc.

Por isso, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) homenageou o Papa Leão XIII com um salão que leva seu nome e abriga um quadro com seu retrato, refletindo a importância da influência da sua encíclica na criação da Justiça do Trabalho no Brasil. E a Fundação Leão XIII, criada em 1947, em sua homenagem, teve como objetivo prestar assistência social às populações carentes das favelas.

“O ensino e a difusão da doutrina social fazem parte da missão evangelizadora da Igreja, destinada a levar as pessoas ao empenho pela justiça, segundo o papel, a vocação e as circunstâncias pessoais” (cf. S. João Paulo II, Soll. Rei Socialis, 41).

 

 

Fonte: Dom Fernando Arêas Rifan

 

 


terça-feira, maio 20, 2025

V DOMINGO DA PÁSCOA

 







“Dou-vos um novo mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado” (v. 34).

Jesus fala em um “novo mandamento”. A novidade deste novo mandamento é que não se trata do antigo e conhecido mandamento que ordenava “amar ao próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18). A própria construção da frase, sugere que o “novo” deste mandamento consiste, exatamente, no “como eu vos amei”. Nem a palavra amar, nem o mandamento do amor são novos. Novo é amar como Jesus, amar em Jesus, por causa de sua palavra impressa em cada página do evangelho.

O verbo “agapaô” – traduzido do grego como amar, aqui utilizado, define, o amor que faz dom de si, o amor até ao extremo, o amor que não guarda nada para si, mas é entrega total e absoluta. O ponto de referência no amor é o próprio Jesus, como prescreve o complemento da frase “como eu vos tenho amado”. Amar consiste em acolher, em pôr-se ao serviço dos outros, em dar-lhes dignidade e liberdade pelo amor, e isso sem limites. Jesus é a norma, agora traduzida em palavras, o que ele mesmo manifestou com seus atos, para que os seus discípulos tenham uma referência.  O amor, igual ao de Jesus, que os discípulos devem manifestar entre si será visível para todos (v. 35).  Trata-se de um amor universal, capaz de transformar todas as circunstâncias negativas e todos os obstáculos em ocasiões para progredir no amor.

O estilo divino desse amor de Cristo tem que ser o modelo do nosso amor.  De tal sorte que nossa presença junto aos irmãos seja uma sombra da presença do próprio Cristo.  Um amor que presta em favor dos irmãos, os mais humildes serviços, como fez Jesus.  Cristo se identifica com o outro, especialmente com os mais necessitados.  É uma verdade que somente os cristãos, mediante a fé, podem ver Cristo na pessoa do outro, pois será a partir deste amor a base do nosso julgamento final, pois ele mesmo disse: “Tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber…”. E completa: “Todas as vezes que o deixastes de fazer a um destes pequeninos, foi a mim eu o deixastes de fazer” (Mt 25,40-45)

Além de proclamar o mandamento do amor, Jesus deixou esta norma como sinal distintivo para os seus seguidores:  “Nisso conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros” (v. 35).  Por vontade expressa de Cristo é o amor o sinal de identificação de seus discípulos.  O sinal que de agora em diante distinguirá seus discípulos deverá ser o amor mútuo.  Como já nos diz o Evangelista São João: “Se alguém diz: Eu amo a Deus e odeia a seu irmão é mentiroso. Pois, quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?  E dele temos este mandamento:  Quem ama a Deus, ame também a seu irmão” (1Jo 4,20s).  E ainda frisa: “Sabemos que passamos da morte para a vida porque amamos os irmãos. Quem não ama permanece na morte” (1Jo 3,14).

Diante destas exigências apresentadas por Jesus e lançando um olhar para cada um de nós, percebemos que somos fracos e limitados. Existe sempre em nós uma resistência ao amor e na nossa existência há muitas dificuldades que provocam divisões, ressentimentos e rancores. Mas não podemos perder a esperança. O Senhor prometeu estar presente na nossa vida, nos tornando capazes deste amor generoso e total, que sabe superar todos os obstáculos. Se estivermos unidos a Cristo, poderemos amar verdadeiramente deste modo que Ele quer. Amar os outros como Jesus nos amou só é possível com aquela força que nos é comunicada na relação com Ele, especialmente na Eucaristia, na qual se torna presente de maneira real o seu Sacrifício de amor que gera amor.

A prática do amor mútuo é a expressão da fé em Jesus. O verdadeiro discípulo distingue-se pelo amor. A capacidade de amar-se mutuamente indica o quanto Jesus está agindo na vida do cristão. A presença salvadora de Jesus tem o efeito de desatar o nó do egoísmo, que afasta os indivíduos de seus semelhantes e, por consequência, de Deus também.

São Paulo ressalta que o amor é superior a todos os dons extraordinários. O amor é maior do que o dom de língua. O amor é maior do que o dom de profecia e conhecimento. O amor é maior do que o dom de milagres. Sem amor, até as melhores obras de caridade ficam isentas de valor (cf. 1Cor 13,1-3). O amor é melhor por causa da sua excelência intrínseca e também por causa da sua perpetuidade.

São Paulo define que o amor é paciente e benigno, ou seja, o amor tem uma infinita capacidade de suportar. A palavra indica paciência com pessoas, no sentido de reagir com bondade perante aqueles que o maltratam.  São Paulo ainda explica que o amor não é ciumento, ufanoso e ensoberbecido. Não se conduz inconvenientemente, não procura os seus próprios interesses e não se ressente com o mal. O amor não se alegra com a justiça, mas regozija-se com a verdade. E, por fim, diz São Paulo que o amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera e tudo suporta (cf. 1Cor 13,4-7).  E ainda segundo São Paulo, dentre as maiores virtudes: fé, esperança e caridade, a maior de todas é a caridade, ou seja, o amor (cf. 1Cor 13,13).

Podemos correr o risco de reconhecer o perigo de alegrarmos com o fracasso dos nossos inimigos. Há um mal intrínseco em nós mesmos. Podemos sentir um falso alívio quando vemos os nossos adversários fracassando e caindo, mas isto não é amor. O amor além de perdoar, esquece e não mantém um registro do que foi dito e feito contra nós.  A ausência de amor faz com que o cristão perca o seu significado diante de Deus. Deus não pode usar, para a sua glória, um cristão sem amor.

Possamos hoje questionar a nós mesmos: É este o amor que Jesus pede que estou vivendo e compartilhando?  Estou testemunhando, com gestos concretos, o amor de Deus? Nos nossos comportamentos e atitudes uns para com os outros, todos podem descobrir o amor de Deus no mundo?  Saibamos haurir diariamente da relação de amor com Deus pela oração, a força para transmitir o anúncio profético de salvação a todas as pessoas com as quais convivemos.


Fonte: Dom Anselmo Costa