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segunda-feira, setembro 30, 2019

XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM







Eis ainda uma parábola sobre a má riqueza. Notemos, em primeiro lugar, que é a única parábola em que Jesus dá um nome a um dos protagonistas da história que inventa. O pobre chama-se Lázaro. Este nome, em hebraico, significa “Deus socorreu”. É bem isto que Jesus fez pelo seu amigo. O rico, esse, é descrito com todo o fausto que o rodeava: vestidos luxuosos, festins suntuosos e quotidianos. Mas não tem nome. Ele é “o rico”. Aos olhos de Deus, os que ocupam o primeiro lugar são os pobres. Vamos mais longe. Uma frase é central no relato: “Lázaro bem desejava saciar-se do que caía da mesa do rico, mas até os cães vinham lamber-lhe as chagas”. Uma frase muito próxima da parábola do filho pródigo, quando o filho mais novo lamenta não poder comer as bolotas dos porcos. O filho mais novo simboliza, sem dúvida, o homem pecador fechado na sua solidão. O pobre Lázaro, esse, é vítima do pecado do rico, mas o resultado é o mesmo: não são vistos por ninguém. Ninguém lhes dá atenção. Só os cães vêm lamber as chagas do pobre. Temos aí uma descrição muito realista do que são muitas vezes as nossas relações. “O rico” é um nome anônimo . As nossas relações não são muitas vezes anônimas? Mesmo com os nossos mais próximos, não acontece, por vezes, que não os vemos verdadeiramente, a ponto de esquecer simplesmente de lhes dizer bom dia, de estar atentos a eles. A indiferença é verdadeiramente um pecado que pode matar. Nomeando o pobre Lázaro, Jesus recorda-nos, ao contrário, que, para Ele e para o seu Pai, cada ser humano é olhado como único. Jesus veio compensar o olhar vazio e anônimo  do rico. Veio socorrer todos os pobres – é o sentido do nome de Lázaro! Mais ainda que Moisés e os profetas, é Jesus que devemos escutar, para agir como Ele.











quinta-feira, setembro 26, 2019

DIA DE SÃO PAULO VI










Paulo VI, Giovanni Battista Montini, é conhecido por ser o Pontífice que finalizou o Concílio Vaticano II, que havia sido inaugurado pelo seu predecessor João XXIII.

Entretanto, muitos acontecimentos importantes do seu pontificado são pouco conhecidos. Eram tempos em que os meios de comunicação não tinham o alcance que têm atualmente, com a internet e com as redes sociais.


A seguir, confira oito coisas que você provavelmente não conhecia sobre São Paulo VI:

1. Em 27 de novembro de 1970, no Aeroporto Internacional de Manila (Filipinas), Paulo VI recebeu duas punhaladas do pintor boliviano Benjamín Mendoza y Amor Flores, que sofria de problemas mentais e que disfarçado de sacerdote tentou assassinar o Pontífice com um punhal.

2. Foi o primeiro Pontífice que usou avião em suas viagens.

3. Foi o primeiro Pontífice que visitou os cinco continentes e, antes de São João Paulo II, ele já havia recebido o apelido de “Papa Peregrino”. Realizou uma visita pastoral ao continente africano; e também visitou a Colômbia e os Estados Unidos, na América; Portugal, na Europa; Austrália, na Oceania; Filipinas e Índia, na Ásia.

4. Além disso, foi o primeiro Papa que visitou a Terra Santa. Em Jerusalém, em 1964, encontrou-se com o patriarca ortodoxo Atenágoras I e celebraram juntos o levantamento das mútuas excomunhões impostas depois do Grande Cisma entre o Oriente e o Ocidente, em 1054. O Papa Francisco visitou a Terra Santa em 2014 para celebrar os 50 anos deste acontecimento.

5. Foi o último Pontífice que teve uma cerimônia de coroação e o primeiro a dispensar o uso da tiara, durante as sessões do Concílio Vaticano II. Eventualmente, doou a sua tiara, um presente da sua antiga Arquidiocese de Milão, à Basílica do Santuário Nacional da Imaculada Conceição, em Washington (Estados Unidos), como um sinal do seu apreço pelos católicos norte-americanos.

6. Exerceu o seu ministério sacerdotal durante 58 anos. Foi ordenado em 29 de maio de 1920 e faleceu no dia 6 de agosto de 1978.

7. Nino Lo Bello, veterano “vaticanista” norte-americano, garantiu que Paulo VI, um apaixonado pela leitura, levava na sua bagagem durante suas viagens até 75 livros para escolher quais ler.

8. Paulo VI criou os cardeais Karol Wojtyla, em 1967, e Joseph Ratzinger, em 1977, que alguns anos depois foram os seus sucessores, São João Paulo II e Bento XVI, respectivamente.


Fonte: CLÉOFAS

MÊS DA BÍBLIA










Setembro é o mês da Bíblia e, no próximo domingo, dia 29, celebraremos o dia nacional da Bíblia, dedicado a despertar e promover entre os fiéis o conhecimento e o amor dos Livros Sagrados, a Palavra de Deus escrita, redigida sob a moção do Divino Espírito Santo, motivando-os para sua leitura cotidiana, atenta e piedosa e, ao mesmo tempo, premunindo-os contra os erros correntes com relação à Bíblia mal interpretada.
“Na Igreja, veneramos extremamente as Sagradas Escrituras, apesar da fé cristã não ser uma ‘religião do Livro’: o cristianismo é a ‘religião da Palavra de Deus’, não de ‘uma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivo’” (Bento XVI - Verbum Domini, 7)
É de São Jerônimo, o grande tradutor dos Livros Santos, a célebre frase: “Ignorar a Sagrada Escritura é ignorar o próprio Cristo”. Portanto, o conhecimento e o amor às Escrituras decorrem do conhecimento e do amor que todos devemos a Nosso Senhor.
O ponto central da Bíblia, convergência de todas as profecias, é Jesus Cristo. O Antigo Testamento é preparação para a sua vinda e o Novo, a realização do seu Reino. “O Novo estava latente no Antigo e o Antigo se esclarece no Novo” (Santo Agostinho).
Dizemos que a Bíblia é um livro divino e humano: inspirada por Deus, mas escrita por homens, por Deus movidos e assistidos enquanto escreviam.
A Bíblia não é um livro só, mas um conjunto de 73 livros, redigidos por autores diferentes, em épocas, línguas, estilos e locais diversos, num espaço de tempo de cerca de mil e quinhentos anos. Sua unidade se deve ao fato de terem sido todos eles inspirados por Deus, seu autor principal e garantia da sua inerrância.
Mas a Bíblia não é um livro de ciências humanas. Por isso a Igreja Católica reprova a leitura fundamentalista da Bíblia, que teve sua origem na época da Reforma Protestante e que pretende dar a ela uma interpretação literal em todos os seus detalhes, o que não é correto.
Além disso, a Bíblia não é um livro fácil de ser lido e interpretado. São Pedro, falando das Epístolas de São Paulo, nos diz que “nelas há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos deturpam, para a sua própria ruína, como o fazem também com as demais Escrituras” (II Pd 3, 16).
Daí a advertência do mesmo São Pedro: “Sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal. Porque jamais uma profecia foi proferida por efeito de uma vontade humana. Homens inspirados pelo Espírito Santo falaram da parte de Deus” (2Pd 1, 20-21).  Assim, o ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita (a Bíblia Sagrada) ou transmitida oralmente (a Sagrada Tradição) foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo, que disse aos Apóstolos e seus sucessores “até a consumação dos séculos”: “Ide e ensinai a todos os povos tudo o que vos ensinei... quem vos ouve a mim ouve”.





Fonte: Dom Fernando Arêas Rifan

quarta-feira, setembro 25, 2019

POR QUE A SANTA IGREJA PRETERIU O TERMO TRANSUBSTANCIAÇÃO PARA DESIGNAR O GRANDE MILAGRE DA PRESENÇA REAL?










A Igreja usa este termo, e não outro, porque este exprime, com exatidão filosófica, a realidade do fato miraculoso da Presença Real. Nenhum outro modo de dizer seria tão exato, dizem os teólogos.

Transubstanciação designa um trânsito ou passagem da totalidade de uma substância (matéria e forma) para outra; e é isto, precisamente, o que se deu no milagre eucarístico.



Não poderia a Igreja empregar a palavra transformação?

A palavra transformação (mudança de forma) (1) não exprimiria a realidade eucarística. Filosoficamente, mudança de forma não é o mesmo que conversão de substância. Numa mudança de forma permanece a matéria prima como termo de trânsito de uma forma para outra; a água transformando-se em vapor e a madeira transformando-se em carvão têm a matéria prima como suporte permanente que perde e adquire formas.

Na completa conversão substancial ou transubstanciação não fica matéria como suporte da mudança. O todo substancial é mudado. Assim, na Eucaristia, pão e vinho, mudados no Corpo e Sangue de Cristo, perdem não só as formas de pão e vinho mas também a própria matéria; forma e matéria que constituem a substância do pão se convertem na matéria e forma do Corpo de Cristo.

Daí se vê que a transubstanciação é um milagre. As mudanças de forma são fenômenos naturais, e não miraculosos. A matéria muda de forma mediante a corrupção de uma forma precedente e o natural e consequente aparecimento de nova forma. Assim a madeira que se queima transforma-se em carvão pela corrupção natural da forma de madeira e aparecimento natural da forma de carvão; o alimento se transforma em sangue pela natural corrupção da forma alimento e aparecimento natural da forma sangue em nosso organismo. As transformações podem, pois, realizar-se e comumente se realizam pelos princípios ativos da natureza. Não assim uma transubstanciação propriamente chamada. Não há, em nossa natureza, mudança ou conversão total de substâncias, propriamente, no sentido filosófico, senão mediante ação miraculosa. E a única (“maravilhosa e singular”, diz o Tridentino) é a transubstanciação eucarística.


A Teologia ensina que, na Eucaristia, permanecem os acidentes de pão e vinho. Os acidentes não são matéria? E como se disse acima que a matéria e a forma do pão foram mudadas na matéria e forma do Corpo de Cristo?

Não se devem confundir os termos filosóficos matéria e acidentes. A matéria tem acidentes, reveste-se de acidentes; mas não é acidente.

Os filósofos ensinam que, em todo ser deste mundo perceptível, há a considerar a substância (resultante de matéria e forma) e os acidentes (que manifestam a substância exteriormente).

A substância é a realidade intrínseca, subsistente por si, inatingível aos sentidos, imutável através das mudanças por que passa constantemente o ser. Os acidentes são realidades externas, insubsistentes em si mesmas e subsistentes na substância e dela dependentes. O pão, por exemplo, apresenta-se com um conjunto de realidades efêmeras, insubsistentes em si; quantidade, tamanho, peso, sabor, cor, princípios nutritivos, etc. Estas realidades não existem e não podem existir senão num “sujeito” que seja delas capaz; este “sujeito” é a “substância“, realidade intrínseca, que faz com que o pão seja pão, e não outro ser.

Nesta realidade intrínseca — substância do pão — os filósofos ainda veem: matéria e forma. A matéria é um “substratum” comum a todo ser material e que se determina pela forma, constitutivo do ser em determinada categoria do mundo material.

A matéria e a forma são realidades intrínsecas de todo ser material. São imperceptíveis, atingíveis tão só através dos acidentes pela abstração de nossa inteligência. A matéria é, pois, filosoficamente, uma realidade completamente distinta dos acidentes. Somos levados a confundir matéria com acidentes porque ela se nos apresenta no universo sempre revestida dos acidentes, principalmente do acidente quantidade.

Concluímos: os acidentes que na Eucaristia permanecem (cor, cheiro, tamanho, peso, quantidade, princípios nutritivos do pão ou do vinho) não aderem mais às substâncias de pão e de vinho; portanto, não aderem à matéria, nem à forma de pão e de vinho, que não mais existem onde não existe substância de vinho e pão.



Se um acidente não pode existir sem a substância a que deve aderir, como existem na Eucaristia acidentes de pão e de vinho, se ali não existem substâncias de pão e de vinho?

Os acidentes de pão e de vinho subsistem misteriosamente na Eucaristia sem o sujeito ou substância de que são próprios — ensina Santo Tomás. — É o mesmo poder de Deus que sustenta estes acidentes.



Por que não transmudou Deus também os acidentes de pão e vinho e os deixou na Eucaristia?

Por dois motivos:

1. Por exercitar a nossa fé.
2. Por destinar-se a Eucaristia a ser alimento.

Se fossem mudados os acidentes de pão e vinho, ou Cristo os converteria nos acidentes próprios de sua Humanidade ou em acidentes diversos, talvez os de Sua imagem. Na primeira hipótese, nenhum mérito teria a nossa fé; na segunda como na primeira, não poderia Nosso Senhor vir a ser o nosso alimento, como prometera e desejava.

Precisamente porque Cristo queria ser alimento das almas — “Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós” (João, 6, 53) — foi que se ocultou sob espécies de pão e vinho.



Para estar presente na hóstia, podia Cristo recorrer a outro modo que não o da «transubstanciação»?

Certamente podia, se o quisesse. A verdade, porém, é que suas palavras — “Isto é o meu corpo” — somente se podem compreender recorrendo-se à “transubstanciação”, como vimos.



E se alguém afirmasse a presença de Cristo na Eucaristia por outro modo, cometeria erro doutrinário?

Cometeria gravíssimo erro e seria um herege, pois a Santa Igreja definiu que a presença do Senhor no Santíssimo Sacramento é em virtude da transubstanciação. E ninguém pode negar tal sem heresia (Dez. 884) (2)

Assim erraram, apesar de afirmar que Cristo estava presente na hóstia: Lutero, Wicleff, e numerosos heresiarcas. Admitiam a presença de Cristo na Eucaristia, mas explicavam-na hereticamente. Ensinavam que Cristo ali estava com a substância do pão ou na substância do pão, ou sob a substância do pão.

Alguns, como Osiander, chegaram a dizer que Cristo está na Eucaristia por uma espécie de união hipostática:

“Assim como o Verbo assumiu a natureza humana e a uniu a si, da mesma forma — diziam — Cristo, na Eucaristia, une a si o pão e o vinho”

Houve luteranos que ensinaram estar Cristo na hóstia em virtude da “ubiquidade divina”.

Está claro que, em todas estas hipóteses, Cristo não podia dizer, como disse: — “Isto (substância de pão) é o meu corpo”. Teria que dizer: “Eu estou presente nisto”, ou então: “Eu me uno a isto”, etc.

Só a transubstanciação, portanto, explica o modo pelo qual Cristo está presente na Eucaristia, em congruência com as palavras da Escritura.



Mas, como se disse acima, não existe exemplo de transubstanciação na natureza; como pôde Cristo violar as leis da natureza operando a transubstanciação eucarística?

Cristo, Deus que é, e autor da natureza, portanto autor também de suas leis, podia realizar o que naturalmente não se realiza segundo leis ordinárias.

No Evangelho, vemo-Lo realizando estupendos milagres. Haja vista a ressurreição de Lázaro, a multiplicação dos pães, a cura à distância de um servo do centurião, o haver-Se transfigurado no Tabor, o ter ressuscitado, aparecido e Se ocultado aos Apóstolos; todos fenômenos não sujeitos a leis ordinárias da natureza. Quem fez tudo isto podia também efetuar uma transubstanciação colocando-Se oculto, misteriosamente, na Eucaristia. Por que não?

A palavra de Jesus realiza o que significa. Ele disse: – “Lázaro, sai fora do sepulcro!” e Lázaro saiu. Ele disse ao vendaval da tempestade: — “Cala-te e emudece!” e o temporal cessou. Se Ele disse — “Isto é o meu corpo”, cumprindo a promessa de dar Seu Corpo como alimento, Suas palavras tinham bastante poder para realizar o que significavam, ou seja, uma transubstanciação do pão e do vinho em Seu Corpo e Sangue.



Como pode Cristo, com Seu Corpo, estar presente em milhares de hóstias, em muitos e diversos lugares, e estar, ao mesmo tempo, no Céu? Por Sua Divindade, compreende-se ainda… mas Seu Corpo não pode estar em tantos lugares…

Jesus está presente em todas as hóstias consagradas e também no céu e isto com o Seu Corpo real, vivo e verdadeiro e não só pela Divindade. É o que nos manda crer a fé. O “como” de tal mistério transcende nosso entendimento, mas não é contraditório, antes é filosoficamente explicável à razão humana.

Já dissemos que Cristo está na hóstia a modo de substância, isto é, como as substâncias estão sob os acidentes. Ora, a substância está sob os acidentes não localizada, não circunscrita por partes às partes dos acidentes. A substância, imaterial que é, não tem partes para se circunscrever às partes dos acidentes. Nem tão pouco existe para ela espaço e distância. Espaço e distância são relativos à quantidade, que é acidente da matéria. Por isto, dizem os filósofos que a substância está toda em todo o ser e toda em cada parte mínima do ser e toda em todos os seres da mesma espécie, independente de espaço. A substância de muitos seres da mesma espécie é a mesmíssima em todos os seres desta espécie e está em todos eles completa, por mais distantes e diferençados acidentalmente. Assim, a substância de pão está completa em todos e em cada um dos pães do mundo, por mais diferençados que sejam. O ser pão convém a todos os pães e não se localiza circunscritamente em nenhum pão e não se distancia de um pão para outro.

Ora, dizendo que o Corpo de Cristo se acha na hóstia e no cálice a modo de substância, óbvio que ele não se localiza nem nesta nem naquela hóstia, como não se localiza em partes determinadas da hóstia. Cristo está todo em cada partícula consagrada, e está completamente num fragmento separada da Hóstia, do mesmo modo que a substância de pão estava, antes da consagração, totalmente na obreia de trigo e em qualquer minúsculo fragmento dela. De igual maneira estará na hóstia que se consagra na Ásia e na que se consagra na América, assim como a substância do pão na Ásia e na África é a mesmíssima (3).

Concluindo: no Céu, Jesus está localmente, com sua Humanidade Santa; na Eucaristia, está sacramentalmente (do modo próprio a este Sacramento) com esta mesma Humanidade. E o “modo próprio” deste Sacramento é o modo de substância.


Estando na Eucaristia a modo de substância, está Jesus aí de modo imaterial, portanto sem as dimensões extensivas de Seu Corpo?
Cristo não está no Sacramento sem as dimensões extensivas de Seu Corpo. Está aí com todas elas, com seu tamanho natural, com a integridade de seus membros humanos, com a própria matéria de Seu Corpo. Somente, por um milagre inaudito, estas dimensões extensivas de Cristo, seus membros, etc., estão aí presentes a modo de substância, isto é, pelo mesmo modo que a substância do pão estava nEle antes de consagrado, portanto, sem ocupar lugar, sem relação de distâncias, sem estender partes quantitativas e circunscrevê-las a extensões determinadas — que este é o modo de estar das substâncias.

Como se vê, é modo extraordinário, maravilhoso, de que não há outro exemplo no mundo criado. Mas, quem ousaria negar a Deus Nosso Senhor poder para tanto?



Se Cristo está na hóstia a modo de substância, e a substância em si é incorruptível, que dizer da Presença Real quando a hóstia se deteriora?

A presença de Cristo na hóstia se dá a modo de substância e tal presença se condiciona aos acidentes de pão e vinho cuja substância foi maravilhosamente convertida em Seu Corpo e Sangue. As espécies sagradas são sinal e condição de Sua presença. Por isto, quando as espécies se alteram de maneira que, se não transubstanciadas, haveria de cessar nelas a substância de pão e vinho, então cessa de estar presente sob elas o Corpo e o Sangue de Cristo.

Muito lógica esta doutrina. Pois a substância do pão e do vinho não foi substituída, e sim convertida, transubstanciada; de substância de pão e vinho passou a ser substância do Corpo e do Sangue de Cristo sob os mesmos acidentes. Logo, estes que antes condicionavam externamente a presença da substância do pão e lhe serviam de sinal, condicionam agora e assinalam a presença da substância do Corpo de Nosso Senhor.

Noutras palavras: os acidentes da hóstia exercem para com a substância do Corpo de Cristo a mesma função que exerciam para com a substância do pão antes de consagrado. A substância do pão só existia onde eles existiam incorruptos. Assim também, a substância do Corpo de Cristo só subsistirá sob eles enquanto eles subsistirem.

Acresce ainda que Cristo Se tornou presente sob as espécies de pão e vinho por querer tornar-Se alimento. Portanto, tão logo as aparências de pão e vinho percam as virtualidades alimentícias pela corrupção, cessa a utilidade da presença de Cristo… (4)



Que conclusões tirar do modo pelo qual Cristo está presente na Eucaristia?

Podemos tirar variadas conclusões, úteis ao conhecimento da Eucaristia. Enumeremos três:

1. Este modo de presença está fora de toda lei natural e se efetua pelo poder de Deus. Logo, para entendê-lo, necessitamos do auxílio da fé, da humildade, da oração.

Por isto, conforme o aviso da “Imitação de Cristo”, devemos fugir de querer perscrutar este Sacramento com estudos simplesmente terrenos se não queremos submergir num abismo de confusões e dúvidas.

“Mais pode Deus fazer que o homem entender” (5)

2. A presença a modo de substância é a “chave” de todas as soluções dos problemas eucarísticos. Quer no tocante à Presença Real, quer no tocante ao sacrifício, quer no tocante à comunhão sacramental, numerosos problemas se esclarecem à luz deste enunciado universal: Cristo está aí presente a modo da substância.

3. Não é com o auxílio da imaginação e fantasia que haveremos de entender, quanto é possível ao humano entendimento, este modo de presença de Nosso Senhor. Alguns conhecimentos filosóficos são necessários, amparados sempre pela luz da fé.

Não raro os ataques dos ímpios ao dogma da Presença Real procedem da ignorância do sentido exato em que ele é proposto à nossa crença. Com algumas noções de filosofia sobre substância e seu modo de estar sob os acidentes, os protestantes veriam quão ineptos e infundados os seus ataques.

Referências:

(1) A palavra forma está aqui empregada em sentido filosófico. Não exprime conformação externa do objeto. É antes a realidade interna que atualiza a matéria prima, como dizem os filósofos.

(2) Si quis… negaveritque mirabilem illam et singularem conversionem totius substantiae panis in corpus et totius substantiae vini in sanguinem, manentibus dumtaxat sprcirbus panis rt vini, quam quidem conversionem catholica ecclesia aptissime transubstantiationem appellat: A.S.

(3) Nem se, objete que a substância dês te pão na Ásia é individuada e portanto distinta da substância dos outros pães. A substância de pão, enquanto substância, é a mesma para todos. E se, neste pão, ela se individua, isto se dá não enquanto ela é substância, mas sim enquanto afetada do acidente quantidade. Sabemos que as substâncias se individuam «matéria signata quantitate» como axioma a filosofia.

Igualmente, não se pode deduzir de quanto dissemos que transubstanciada a substância de um pedaço de pão, por isto transubstanciada está toda e qualquer substância de pão existente. O que se transubstancia é precisamente esta substância determinada, sob estes acidentes de pão. Logo, embora Jesus esteja, em virtude da presença a modo de substância, sob muitas e diversas aparências, independentemente de espaço, só estará e só poderá estar sob estas espécies que foram atualmente consagradas e transubstanciadas.

(4) Daqui se infere também a razão por que não seria válida a consagração do pão ou vinho totalmente deteriorados. É que, deteriorados, estes acidentes não aderem mais às substâncias de pão e de vinho, as únicas que por ordenação divina podem ser transubstanciadas no Corpo e Sangue de Jesus Cristo.

(5) Imitação de Cristo, Liv IV, Cap. 18.

Fonte: rumoasantidade.com.br

terça-feira, setembro 24, 2019

A PRESENÇA REAL - DE QUE MODO ESTÁ JESUS NA EUCARISTIA?









De que modo Nosso Senhor está presente na hóstia, pois que não é aí percebido pelos sentidos?

Responde a teologia que o Senhor está presente na hóstia a modo de substância. E, como a substância dos seres foge à percepção dos sentidos, assim não pode Cristo ser aí percebido.

Precedentemente dissemos que Jesus está aí presente a modo de espírito, o que exprime a mesma verdade teológica. Somente devemos precaver-nos de supor que presença a modo de espírito exclua a presença do Corpo de Nosso Senhor. É exatamente o Corpo de Cristo que está aí de modo espiritual, isto é, fora das leis ordinárias a que se sujeitam os corpos e, antes, regendo-se por leis que regem os espíritos. É o Corpo de Cristo que aí está, porém a modo de espírito.

Como a terminologia estar presente a modo de espírito pode induzir o leitor não
atento ao erro contra que o premunimos, a maioria dos teólogos com Santo Tomás prefere dizer que Cristo está presente na Eucaristia a modo de substância.



Este modo de estar presente é um modo natural, ou extraordinário?

Está claro que é um modo extraordinário, milagroso, de que não há exemplo em a natureza. O Concílio Tridentino afirmou que Cristo está na hóstia consagrada em virtude de uma conversão “maravilhosa e singular da substancia do pão na substância do Corpo de Cristo” (Dez. 884)

Dizendo que esta conversão é “singular“, quer o Santo Concílio dizer que não existe outro exemplo símile na natureza. Dizendo-a “maravilhosa“, significa que excede as forças naturais e se realiza por ação particular de Deus; daí também um dos motivos por que o Sacramento da Eucaristia é justamente chamado “mistério de fé“.

“Esta conversão maravilhosa e única, diz ainda o Concílio, foi conveniente e propriamente denominada, pela Igreja Católica, transubstanciação” (Dez. 877)



Como podemos saber que houve de fato esta mudança de substância ou transubstanciação do pão para o Corpo de Cristo, se o Evangelho não nos fala de tal coisa?

O Evangelho não emprega o termo transubstanciação, mas os textos que provam a presença real de Jesus na Eucaristia provam indiretamente a transubstanciação. Pois a presença real não se pode entender, nos termos em que Jesus no-la assegurou, senão mediante a conversão da substância do pão na substância do Corpo de Cristo.

Vejamos. Jesus toma o pão e afirma: “Isto é o meu corpo”. No momento em que toma entre as mãos o pão, isto ainda é pão. Pelo poder onipotente de sua palavra, Ele quer operar um milagre que o torne presente de modo novo. E Ele diz: “Isto é o meu corpo”. Isto, que há alguns segundos antes, era pão, agora é o meu corpo.

Esta palavra pronunciada sobre o pão: “Isto é o meu corpo” — significando obviamente que isto (que era pão) é agora Jesus Cristo, afirma claramente que houve uma mudança no ser apresentado aos nossos sentidos.

O ser apresentado converteu-se essencialmente em outro, mediante as palavras divinas do próprio Verbo. Esta conversão essencial, porém, não atinge as exterioridades do ser, não atinge isto que chamamos acidentes (cor, cheiro, forma externa, quantidade extensiva, etc.) pois os acidentes permanecem os mesmos (de pão). Logo, houve uma mudança no íntimo do ser essencial, que os filósofos chamam substância.

Muito cabível, portanto, o ensinamento do Concílio Tridentino:

“Porque Jesus Cristo nosso Redentor disse que o que Ele oferecia sob as aparências de pão era verdadeiramente seu Corpo, por isso, sempre foi persuasão da Igreja de Deus — e agora o Santo Concílio o declara de novo — que pela consagração do pão e do vinho se efetua a conversão de toda a substância do pão na substância do Corpo de Nosso Senhor, e de toda a substância do vinho na substância de seu sangue. Esta conversão foi conveniente e propriamente denominada, pela Santa Igreja Católica, transubstanciação” (Dez. 877, 997, 1469)






Fonte: rumoasantidade.com.br

segunda-feira, setembro 23, 2019

XXV DOMINGO DO TEMPO COMUM






Eis Jesus que Se põe a dissertar sobre a economia, mas uma economia que parece envolver falsários... Como compreender tal parábola na boca de Jesus? Podemos logo pensar que Ele não quer dar o administrador desonesto como exemplo, mesmo se o mestre deste faz o seu elogio. Jesus chama-o explicitamente "administrador desonesto, com esperteza". Jesus conhece o coração do homem, um coração perverso. Mas Jesus não fica nesta dimensão do coração do homem. Ele sabe que em todo o homem, por mais pervertido que seja, há sempre um cantinho positivo. Ele vê a prova de habilidade do administrador para conseguir safar-se. Esta habilidade é colocada ao serviço de um mal. Mas, em si mesma, pode ser posta ao serviço do bem. Então, diz Jesus, se vós, meus discípulos, que sois chamados "filhos da luz", sabeis ser tão habilidosos a respeito da vossa vida cristã, quantas coisas poderão mudar! Jesus aproveita para recordar o seu ensino constante sobre o dinheiro e a riqueza material. Não podemos viver sem dinheiro. Mas saibamos utilizá-lo com habilidade, para o bem. Que ele não se torne um mestre tirânico. Saibamos utilizá-lo, não para nos enriquecermos egoisticamente, mas para o pôr ao serviço do bem dos outros, a começar pelos mais pobres. Aqui, a nossa habilidade deve estar ao serviço do bem! Não levaremos dinheiro no nosso caixão. Mas o bem que com ele tivermos feito seguirá para além da morte, "nas moradas eternas". A lição continua sempre válida hoje! 

sábado, setembro 21, 2019

O QUE AS PINTURAS DE SÃO MATEUS DE CARAVAGGIO NOS ENSINAM SOBRE O PREÇO DA GRANDIOSIDADE







Essas famosas interpretações da vida do santo nos mostram o que é preciso para viver nossa melhor vida
Em 1599, um jovem artista chamado Michelangelo Merisi da Caravaggio assinou um contrato para decorar a capela funerária de um rico cardeal. A capela deveria ser dedicada a São Mateus, onomástico do cardeal.
A pintura à esquerda do altar mostrava o chamado de São Mateus por Jesus para deixar de cobrar impostos e tornar-se discípulo. A pintura à direita mostrava seu martírio. A pintura no meio, diretamente acima do altar-mor, mostrava a inspiração de São Mateus, enquanto ele trabalhava duro para escrever seu Evangelho.

O próprio Caravaggio era um homem altamente conflituoso. Ele foi um pintor magnífico que ultrapassou os limites da grandiosidade na arte, e seu trabalho é cheio de iluminação dramática e composições altamente elaboradas.

Mas em sua vida real Caravaggio viveu muitos problemas. Ele brigava com todos ao seu redor, e é até suspeito de ter cometido assassinato. Sem um pincel na mão, ele era só dificuldades, mas como artista ele é incomparável tanto pela sua técnica quanto pela profundidade de sua percepção.

As três pinturas de São Mateus foram concluídas e agora decoram a Capela Contarelli em Roma. Quando vistas uma após a outra, elas contam uma história poderosa sobre o custo de se alcançar a grandiosidade.





Na primeira pintura – O chamado de São Mateus – Mateus está amontoado em uma sala escura com seus amigos, enquanto Jesus e São Pedro estão à porta e apontam para ele. A identidade do próprio Mateus não é totalmente clara. Ele provavelmente é o homem barbudo que parece estar apontando para si mesmo como se dissesse: “Quem? Eu?” Outra teoria é que o homem barbudo está realmente apontando para o jovem no final da mesa, com a cabeça caída como se dissesse: “Quem? Ele?” Se o jovem de cabeça baixa for Mateus, a cena capta o momento imediatamente antes de ele levantar a cabeça e ver Cristo pela primeira vez.

De qualquer maneira, o momento está repleto de importância. A mão de Cristo pode parecer familiar, e isso é porque é uma réplica exata da mão de Adão da Capela Sistina. Naquela famosa pintura, a mão de Adão está prestes a tocar a mão de Deus. Há eletricidade entre os dois dedos quando a mão de Deus se prepara para transmitir uma alma ao primeiro homem – é o momento da criação. Para Mateus, encontrar Jesus é o seu renascimento. Ele está sendo chamado a uma nova vida.

Quando olho para esta pintura, sinto a mão de Deus sobre mim também. Deixado por conta própria, estou muito disposto a sentar na escuridão metafórica, desperdiçando meus dias com preguiça e falta de direção. Eu sempre tomarei o caminho mais fácil, sempre seguirei o caminho de menor resistência. Mas de vez em quando, Deus grita comigo alto o suficiente e eu olho para cima o tempo suficiente para vê-lo me chamando para sair pela porta e entrar na luz.





A segunda das pinturas de Caravaggio, tematicamente, é A inspiração de São Mateus. Nela, um anjo sussurra lembretes e dicas úteis para Mateus enquanto ele escreve seu Evangelho. Mateus está tenso de emoção e imerso em um devaneio artístico. Esta é a segunda versão da pintura. A primeira que Caravaggio pintou ficou gerou controvérsias com seu patrão, pois mostrava Mateus muito humilde e rústico. Então foi pintada uma segunda vez.

Apesar de eu gostar muito dessa pintura, ela é a minha menos favorita entre as três. Tento imaginar o estado de espírito de Caravaggio, pois ele foi forçado a recomeçar quando já havia produzido uma pintura perfeitamente boa. Embora Mateus esteja no meio do entusiasmo do esforço criativo, ele também deve ter trabalhado intensamente em sua obra. Ele pode até parecer cansado ou desesperado para ser um escritor suficientemente bom.

Como escritor, às vezes encontro situações semelhantes de insegurança. Como padre, sinto insegurança diariamente. Deus chamou cada um de nós a uma vida heróica, a ser grandes à nossa maneira. Isso é verdade. É igualmente verdade que compreender esse chamado implica hesitações, dúvidas e trabalho duro. Mas vamos ceder às dificuldades? Ou estamos dispostos a pagar o custo para alcançar uma vida realmente digna de ser vivida?


A terceira pintura da série é minha favorita – O Martírio de São Mateus. Caravaggio também lutou nesta. Os raios X da pintura revelam que a versão atual é pintada em cima de uma versão anterior. O que ele finalmente pintou valeu o esforço, porque é incrível. O centro da cena é um ato único e violento. Todo mundo recua horrorizado, incluindo o próprio Caravaggio. Ele se colocou na pintura, o homem barbudo atrás, parecendo triste e um pouco culpado. As duas pessoas em primeiro plano estão sem roupa porque estavam prestes a ser batizadas na pia que fica aos seus pés. O fundo é o altar da igreja.

Mateus foi martirizado na Etiópia, onde fora pregar. O rei e a rainha da Etiópia se tornaram cristãos, mas o rei seguinte, Hirtacus, achou Mateus problemático e mandou matar-lo. Na pintura, o assassino está disfarçado de um dos candidatos ao batismo. Quando Mateus está prestes a receber o golpe mortal, ele já está sangrando e seu sangue se mistura com a água batismal, assim como o coração de Cristo rebenta com sangue e água na cruz.

Assim como o sangue de São Mateus se mistura com a água sacramental aos pés do altar, toda nova vida requer uma morte. Para seguir em frente, devo enterrar um pedaço de mim antes de me levantar do ventre da pia batismal.

Nas pinturas arrojadas de Caravaggio há uma reflexão profunda sobre a natureza do que significa viver e morrer, o que significa lutar e sofrer. Para o artista, o martírio de São Mateus é a vitória final do santo.

É muito fácil recuar e viver uma existência medíocre que já é um tipo de morte involuntária. Ou podemos aceitar os desafios que Deus coloca diante de nós e viver nossa melhor vida, enfrentando os custos.

Fonte: Aleteia



quinta-feira, setembro 19, 2019

SOBRIEDADE E PAZ









Domingo passado celebramos Nossa Senhora das Dores ou Nossa Senhora da Piedade, padroeira da Pastoral da Sobriedade, como mãe que chora e sofre por tantos filhos extraviados pelas drogas e outras dependências. Quantas famílias destruídas e atingidas por esse sofrimento!
​Considerando que 25% da população brasileira está, direta ou indiretamente, ligada ao fenômeno das drogas, e que cada vez mais cedo os adolescentes entram em contato com elas, carregando consigo, em média, quatro outras pessoas, chamadas de codependentes, membros da família e amigos, a Pastoral da Sobriedade, instituição da Igreja do Brasil, como uma atuação especial diante desse problema, vem prestando nesse setor imenso benefício à sociedade, como ação concreta na prevenção e recuperação da dependência química.
Trata-se de uma ação pastoral conjunta que busca a integração entre todas as Pastorais, Movimentos, Comunidades Terapêuticas, Casas de Recuperação para, através da pedagogia da fé e da ciência, usando a terapia de grupo, resgatar e reinserir os excluídos, conduzindo a uma mudança de vida através da conversão. A Pastoral da Sobriedade nos propõe a libertação da dependência das drogas, do álcool, dos vícios, das manias, das compulsões e pecados, ajudando a resgatar valores, numa transformação de vida e valorização da pessoa humana. Como Bispo referencial dessa Pastoral no Estado do Rio de Janeiro, desejo que se institua em todas as paróquias essa benéfica instituição da Igreja.
Aqui, na região de Campos, em Cajueiro, distrito de São João da Barra, temos um excelente apoio à Pastoral da Sobriedade: a Comunidade Refúgio, um centro de tratamento terapêutico para a recuperação dos dependentes químicos. Precisamos da ajuda de todos para que essa comunidade se mantenha e possa continuar a fazer o bem a essas pessoas.
Nas reuniões semanais da Pastoral da Sobriedade, instituída em quase todas as Paróquias brasileiras, incutem-se, através do convencimento, as virtudes humanas e cristãs, base da serenidade e da sobriedade. Virtude é a disposição habitual e firme para fazer o bem. Permite à pessoa não só praticar atos bons, mas dar o melhor de si: tender ao bem, procura-lo e escolhe-lo na prática. As virtudes humanas são atitudes firmes, disposições estáveis, perfeições habituais da inteligência e da vontade que regulam nossos atos, ordenando nossas paixões e guiando-nos segundo a razão e a fé. Facilitam, assim, e nos ajudam a ter domínio e alegria para levar uma vida moralmente boa. Pessoa virtuosa é aquela que livremente pratica o bem. As virtudes morais são adquiridas humanamente. São os frutos e os germes de atos moralmente bons; dispõem todas as forças do ser humano para entrar em comunhão com Deus.
Entre as virtudes humanas está a temperança, ou sobriedade, virtude moral que modera a atração dos prazeres e proporciona o equilíbrio no uso dos bens criados. Assegura o domínio da vontade sobre os instintos e mantém os desejos nos limites da honestidade, gerando a paz.
A PASTORAL DA SOBRIEDADE vem nos propor a libertação das dependências das drogas, ou o correto uso da liberdade que Deus nos deu: “Comportai-vos como homens livres, e não à maneira dos que tomam a liberdade como véu para encobrir a malícia” (S. Pedro - 1Pd 2, 16). “Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não abuseis, porém, da liberdade como pretexto para prazeres carnais” (São Paulo - Gl 5, 13).

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney


Fonte: Dom Fernando Arêas Rifan

quarta-feira, setembro 18, 2019

CONHEÇA A BÍBLIA: EVANGELHOS







Chamamos “Evangelho” a um género literário de escritos do Novo Testamento que tem apenas quatro exemplares na literatura universal: os Evangelhos segundo Mateus, Marcos, Lucas e João. Este género de escritos apareceu depois das Cartas autênticas de Paulo e propôs-se transmitir factos e palavras da vida de Jesus de Nazaré, que as Cartas não tinham ainda referido. Os Evangelhos transmitem-nos factos históricos (Dv 19), mas não de maneira “fria” e “isenta”, à maneira da historiografia moderna; os factos e as palavras de Jesus são coloridos pela experiência das comunidades da primeira geração cristã, que vai dos anos 30 a 70.



QUATRO EVANGELHOS

É esta experiência das comunidades cristãs que vai influir na tonalidade própria de cada um dos quatro Evangelhos. Por detrás da autoria individual dos Evangelhos a qual vem da Tradição do séc. II e não se encontra no texto dos Evangelhos está também uma ou várias comunidades cristãs. A Constituição Dei Verbum não declara que determinado Evangelho pertence a determinado evangelista como seu autor. Afirma apenas “a origem apostólica dos quatro Evangelhos (…) segundo Mateus, Marcos, Lucas e João” (n.° 18); isto é, são-lhes atribuídos. A Tradição ligava os Evangelhos de Mateus e de João aos respectivos Apóstolos; o de Lucas a Lucas, companheiro de Paulo; o de Marcos, a um companheiro de Pedro com esse nome. Com isso, pretendia-se ligar estes escritos à sua fonte, que é Cristo, e às suas testemunhas oculares. De facto, os Quatro Evangelhos representam o último estádio da tradição acerca das obras e das palavras de Jesus.

O 1.° período é constituído pelo próprio Jesus, de 6 a.C. a 30 d.C.. Jesus não escreveu; apenas anunciou oralmente a mensagem, através dos caminhos da Galileia, da Samaria e da Judeia, reunindo à sua volta um pequeno grupo de discípulos a quem iniciou nos mistérios do Reino dos céus (Mt 13,11).

O 2.° período tem o seu início depois da morte e ressurreição de Jesus. Depois da desilusão (Lc 24,18-21) e do medo (Jo 20,19-23), os Apóstolos, com a força do Espírito do Pentecostes (Act 2,1-13), lançaram-se no anúncio da mensagem do Mestre, não se preocupando muito com a escrita mas com a urgência do anúncio do Reino. Rapidamente se formaram muitas comunidades cristãs, tanto na Palestina como nas cidades do Império. Este 2.° período, ou primeira geração cristã, vai dos anos 30 a 70.

O 3.° período é constituído pela segunda geração cristã, ou seja, pelos discípulos dos Apóstolos e de outras testemunhas oculares de Jesus. Cada um deles tinha deixado mais marcada alguma tradição acerca de Jesus; agora, juntam-se as diferentes “tradições” para não se perder a memória do Senhor. Este período vai dos anos 60 a 100. É neste período que aparece a redacção definitiva dos Quatro Evangelhos.

A tonalidade própria de cada um desses Evangelhos, a nível literário e teológico, faz com que eles sejam semelhantes, mas também diferentes entre si. Essa tonalidade tem origem no estilo de cada evangelista e na intenção teológica de responder às necessidades específicas da comunidade a quem dirige o seu Evangelho.



EVANGELHOS SINÓPTICOS

Por seguirem o mesmo esquema fundamental de Marcos, chamamos a Marcos, Mateus e Lucas “Evangelhos Sinópticos”; porque, se os dispusermos em colunas paralelas e fizermos deles uma leitura de conjunto, deparamos com semelhanças fundamentais e com diferenças de pormenor. Diferente dos “Evangelhos Sinópticos” é o Evangelho segundo São João, escrito entre os anos 90-100. Este Evangelho não segue o esquema histórico-geográfico de Mt, Mc e Lc (que tem origem em Mc) e é mais abundante em discursos de Jesus, com base nos factos da sua vida. Aparece, por isso, como o Evangelho teológico por excelência. O ambiente onde nasceu o Evangelho segundo São João e a sua relação com os Sinópticos continua a ser objecto de estudo por parte dos especialistas na matéria.



PORQUÊ QUATRO EVANGELHOS?

A Igreja aceitou apenas os Quatro Evangelhos, escritos entre os anos 60 e 100. Porquê apenas quatro?

Parece que desde o princípio da Igreja houve uma certa propensão para o uso de um único Evangelho. Isso não significa que se negasse a autoridade dos outros. Naturalmente, os cristãos vindos do Judaísmo preferiam o Evangelho de Mateus, escrito sobretudo para lhes falar da relação de Cristo com a Lei de Moisés (Mt 5,17-7,29). Talvez tenham utilizado este Evangelho em discussões com os outros cristãos vindos da civilização helenista, que sustentavam não ser necessária a observância da Lei de Moisés (AT).

Marcião é também um caso especial a este respeito: usa o Evangelho de Lucas por lhe parecer o Evangelho que fala do amor de Deus, presente entre os homens em Jesus Cristo; mesmo assim, elimina algumas partes onde esse amor não lhe parece evidente ou onde se fala do Antigo Testamento, que ele rejeitou em bloco.

O movimento gnóstico utilizou e manipulou sobretudo o Evangelho de João (ver Jo 14,2-3; 17,16). Tassiano pretendia um compromisso entre as duas tendências (o uso de um único Evangelho e os quatro), harmonizando-os num só (o Diatesseron). Esta harmonização foi largamente seguida nas igrejas siríacas do Oriente, mas praticamente rejeitada nas igrejas ocidentais de língua grega e latina. De facto, fazendo dos Quatro Evangelhos apenas um só, destruíam-se as quatro teologias sobre Jesus, ficando apenas uma “História de Jesus”. Ora os Evangelhos são muito mais do que a História de Jesus.



EVANGELHOS APÓCRIFOS E FORMAÇÃO DO CÂNON

Muitos outros “evangelhos” apócrifos isto é, falsos conheceram uma certa celebridade, a partir do séc. II. Os mais conhecidos foram: “Evangelho dos Hebreus”, “Evangelho dos Ebionitas”, “Evangelho de Pedro”, “Evangelho de Tomé” e Proto-Evangelho de Tiago. De alguns restam apenas fragmentos e breves notícias. Eram histórias populares mais ou menos edificantes sobre factos da vida de Jesus ou simples colecções de algumas palavras a Ele atribuídas. A Igreja soube sempre separar o trigo do joio, a partir de três critérios necessários para um Evangelho ser autêntico: 1) ter uma ligação directa com o grupo dos Apóstolos; nasce daqui a atribuição de cada um deles a um nome importante, se possível, testemunha ocular de Jesus: Evangelho segundo Mateus, segundo Marcos, segundo Lucas e segundo João (critério apostólico); 2) incluir palavras e factos históricos da vida de Jesus, e não apenas um destes conteúdos (critério literário); 3) ser utilizado na pregação e na liturgia da Igreja universal (critério litúrgico).

A partir destas exigências, muito cedo foram excluídas da Igreja essas histórias que se apresentavam como “evangelhos”. A luta contra os hereges, sobretudo contra Marcião, na segunda metade do séc. II, forneceu à Igreja uma motivação mais para encontrar e colocar ao alcance dos cristãos a colecção ou Cânon dos livros seguramente inspirados pelo Espírito Santo.

De qualquer modo, o Cânon só progressivamente, e a partir dos princípios já referidos, se foi formando, entre o séc. II e IV. Assim, as igrejas de língua siríaca utilizavam, por vezes, o Diatesseron em vez dos Quatro Evangelhos e não incluíam as Cartas Católicas mais pequenas (2 e 3 Jo, Jd, 2 Pe), tal como o Apocalipse. Aliás, o último livro da Bíblia foi também o último a entrar no Cânon, devido à desconfiança da Igreja acerca deste género de literatura, que se prestava a muitas manipulações da Palavra de Deus, como acontece ainda hoje. Neste sentido, é a Igreja que, pelo seu sentido da fé, aceita no seu seio os livros inspirados por Deus; mas é também a Igreja quem reconhece oficialmente, para utilidade dos fiéis, o Cânon (norma) dos livros inspirados pelo Espírito Santo.


Fonte: Aleteia