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segunda-feira, maio 30, 2022

ASCENSÃO DO SENHOR







A ressurreição/ascensão de Jesus convida-nos a ver a vida com outros olhos – os olhos da esperança. Diz-nos que o sofrimento, a perseguição, o ódio, a morte, não são a última palavra para definir o quadro do nosso caminho; diz-nos que no final de um caminho percorrido na doação, na entrega, no amor vivido até às últimas consequências, está a vida definitiva, a vida de comunhão com Deus. Esta esperança permite-nos enfrentar o medo, os nossos limites humanos, o fanatismo, o egoísmo dos pecadores  e permite-nos olhar com serenidade para esse qualquer coisa de novo que nos espera, para esse futuro de vida plena que é o nosso destino final.

A ascensão de Jesus e, sobretudo, as palavras finais de Jesus, que convocam os discípulos para a missão, sugerem a nossa responsabilidade na construção desse mundo novo onde habita a justiça e a paz; sugerem que a proposta libertadora que Jesus fez a todos os homens está agora nas nossas mãos e que é nossa responsabilidade torná-la realidade; sugerem que nós, os seguidores de Jesus, temos de construir, com o esforço de todos os dias, o novo céu e a nova terra.

A alegria que brilha nos olhos e nos corações desses discípulos que testemunham a entrada definitiva de Jesus na vida de Deus tem de ser uma realidade que transparece na nossa vida. Os seguidores de Jesus, iluminados pela fé, têm de testemunhar, com a sua alegria, a certeza de que os espera, no final do caminho, a vida em plenitude; e têm de testemunhar, com a sua alegria, a certeza de que o projecto salvador e libertador de Deus está a atuar no mundo, está a transformar os corações e as mentes, está a fazer nascer, dia a dia, o Homem Novo.

“Enquanto Jesus os abençoava, afastou-Se deles e foi elevado ao Céu”. Mas é onde, o céu? Segundo o dicionário, é o espaço visível acima das nossas cabeças, que limita o horizonte. Hoje, os homens são capazes de ir ao espaço. O primeiro cosmonauta russo, em 1961, regressou à terra declarando que não tinha encontrado Deus! Manifestamente, Lucas não fala desse céu! Os astronautas vão para o espaço para melhor o explorar. Jesus, pela sua ressurreição, foi para lá do espaço, saiu do nosso espaço-tempo. Mas o que pode querer isso dizer? Reconheçamos que não temos qualquer experiência dessa realidade, pela simples razão de que continuamos fechados neste espaço-tempo. O que falamos, na Ascensão, tem a ver com a fé, com a confiança que podemos ter em Cristo e nas testemunhas que O viram separar-Se deles. Não há qualquer prova nem demonstração “científica” para esta subida ao céu de Jesus! Uma vez mais, somos convidados a situar-nos num outro registo, o do amor. É a nossa própria experiência: quando amamos, quando conhecemos momentos de intensa felicidade, gostaríamos que o tempo parasse, não para que tudo se acabe mas, ao contrário, para que esta felicidade que atinge todo o nosso ser seja como que eternizada. Gostaríamos de poder parar o tempo. Mas é o tempo para o amor. Ora – aí está a nossa fé – Jesus veio habitar este desejo de eternidade em nós, para o levar à sua plena realização. Vivendo a sua vida de homem, emergiu no amor que preenche os desejos humanos mais autênticos. Ressuscitando, fez entrar todos estes desejos no mundo do amor infinito. É desse céu que se trata hoje, para lá de tudo o que possamos imaginar ou desejar. Em cada Eucaristia, acolhemos em nós a presença de Jesus ressuscitado que vem alimentar e fazer crescer o germe da vida eterna. E, no dia da nossa morte, Jesus far-nos-á entrar no “além”, no “céu”, no mundo do amor sem qualquer limite…













quinta-feira, maio 26, 2022

VI DOMINGO DA PÁSCOA






Para seguir esse “caminho” é preciso amar Jesus e guardar a sua Palavra (cf. Jo 14,23).Quem ama Jesus e O escuta, identifica-se com Ele, isto é, vive como Ele, na entrega da própria vida em favor do homem… Ora, viver nesta dinâmica é estar continuamente em comunhão com Jesus e com o Pai. O Pai e Jesus, que são um, estabelecerão a sua morada no discípulo; viverão juntos, na intimidade de uma nova família (vers. 23-24).

Para que os discípulos possam continuar a percorrer esse “caminho” no tempo da Igreja, o Pai enviará o “paráclito”, isto é, o Espírito Santo (vers. 25-26). A palavra “paráclito” pode traduzir-se como “advogado”, “auxiliador”, “consolador”, “intercessor”. A função do “paráclito” é “ensinar” e “recordar” tudo o que Jesus propôs. Trata-se, portanto, de uma presença dinâmica, que auxiliará os discípulos trazendo-lhes continuamente à memória os ensinamentos de Jesus e ajudando-os a ler as propostas de Jesus à luz dos novos desafios que o mundo lhes colocar. Assim, os crentes poderão continuar a percorrer, na história, o “caminho” de Jesus, numa fidelidade dinâmica às suas propostas. O Espírito garante, dessa forma, que o crente possa continuar a percorrer esse “caminho” de amor e de entrega, unido a Jesus e ao Pai. A comunidade cristã e cada homem tornam-se a morada de Deus: na ação dos crentes revela-se o Deus libertador, que reside na comunidade e no coração de cada crente e que tem um projeto de salvação para o homem.

A última parte do texto que nos é proposto contém a promessa da “paz” (vers. 27). Desejar a “paz” (“shalom”) era a saudação habitual à chegada e à partida. No entanto, neste contexto, a saudação não é uma despedida trivial (“não vo-la dou como a dá o mundo”), pois Jesus não vai estar ausente. O que Jesus pretende é inculcar nos discípulos apreensivos a serenidade e evitar-lhes o temor. São palavras destinadas a tranquilizar os discípulos e a assegurar-lhes que os acontecimentos que se aproximam não porão fim à relação entre Jesus e a sua comunidade. As últimas palavras referidas por este texto (vers. 28-29) sublinham que a ausência de Jesus não é definitiva, nem sequer prolongada. De resto, os discípulos devem alegrar-se, pois a morte não é uma tragédia sem sentido, mas a manifestação suprema do amor de Jesus pelo Pai e pelos homens.











segunda-feira, maio 23, 2022

BEATA ELENA GUERRA





Fundadora da Congregação das Obreiras do Espírito Santo

Origens

Helena Guerra nasceu na cidade de Luca, Itália, no dia 23 de junho de 1835. Desde menina mostrou inteligência acima da média especialmente para o estudo das línguas e das artes. Falando o dialeto de sua região, ela estudou e aprendeu em casa a língua italiana. Depois, ainda em casa, estudou e aprendeu o Latim e o Francês, além de pintura e música.

 

Enfermeira

Em 1854, quando tinha dezenove anos, Helena Guerra aprendeu enfermagem e foi prestar seus serviços a doentes com cólera. Aí, além de demonstrar a caridade cristã para com todos, aprendeu sobre a fragilidade da vida, assistindo a morte de tantas pessoas. Três anos depois, talvez devido ao contato com tatos doentes, ela contraiu certa doença misteriosa que a fez ficar de cama durante quase oito anos.

 

Sofrimento e aprendizado

Nesses oito anos de enfermidade, Helena Guerra dedicou-se à oração e ao estudo. Estudou especialmente os Padres da Igreja, que são aqueles santos e sábios teólogos dos primeiros séculos da Igreja. Eles são os responsáveis pelo desenvolvimento e aperfeiçoamento da Doutrina Católica. Helena Guerra sabia que estudar os padres da Igreja, é “beber na fonte da nossa fé.” Esse estudo foi determinante para o futuro da Beata Helena Guerra. A partir dele, e alimentada pela Doutrina dos Santos Padres, ela criou entre os amigos que a visitavam, um grupo que ela chamou de "amizade espiritual". Esse grupo a ajudou a perceber e projetar um tipo de vida religiosa contemplativa.

 

A graça de Deus mostrando o caminho

Em 1865 Helena Guerra ficou curada de sua doença misteriosa. Em1870, por graça de Deus, assistiu a uma sessão do Concílio Vaticano I. Depois desse evento, voltou com mais fervor para Luca. Lá, deu início à formação de uma comunidade religiosa feminina. Sua obra teria como patrona santa Zita, de quem ela era devota. O carisma da Obra nascente ia ao encontro de uma grane necessidade da época: a educação dos jovens. Nessa primeira comunidade elas não faziam votos, como nas congregações religiosas. As mulheres eram voluntárias, vindas da área da educação e que se dispunham a colocar sua experiência a serviço de jovens carentes.

 

Frutos

A beata Helena Guerra escrevia pequenos livros inspirados para catequese, orientação espiritual e aprofundamento da fé para todos os membros da comunidade. A Obra de Deus crescia e cada vez mais pessoas à procura de uma vida plena e de prestar um serviço importante para a sociedade aderiam. Entre os beneficiados pela Obra destaca-se a adolescente Gema Galgani. Ela foi acolhida pela Comunidade, foi preparada e fez sua primeira comunhão em 1887. Anos mais tarde, ela tornou-se santa.

 

Reconhecimento oficial da Igreja

Alguns anos depois, a Comunidade foi reconhecida oficialmente como Congregação Religiosa e a Beata Helena Guerra como sua fundadora. A missão continuou em Luca, atendendo crianças adolescentes e jovens necessitados. Um grande número de voluntárias fizeram os votos tornando-se freiras e entregando-se ao serviço de Deus.

 

Espírito Santo, esse desconhecido

O fato de a Comunidade se tornar Congregação motivou Madre Helena a colocar em prática algo que o próprio Deus havia despertado em seu coração: o de conduzir a comunidade e os fiéis a um conhecimento mais eficaz da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade: o Espírito Santo. Por isso, ela escreveu várias cartas ao Papa Leão XIII dissertando inspiradamente sobre a necessidade de a Igreja “retornar ao Espírito” e de conhecer melhor o Deus que habita no coração dos fiéis e seus dons maravilhosos.

 

Acolhimento do Papa

O papa Leão XIII viu nas cartas da Beata Helena Guerra uma palavra de Deus para a Igreja. Tanto que, alguns anos depois, a Pessoa do Espírito Santo foi vivamente celebrada, anunciada e estudada pela Igreja. Leão XIII escreveu três documentos convocando os católicos de todo o mundo a estudarem, refletirem e rezarem pedindo as luzes do Espírito Santo. O Papa foi tão tocado pelas cartas da Irmã Helena Guerra que deu à Congregação que ele fundara o nome de Obreiras do Espírito Santo.

 

Profeta rejeitada na própria casa

A mensagem inspirada da Beata helena Guerra foi acolhida pelo Papa como um dom de Deus para a Igreja. Na Comunidade de Luca, porém, a maioria das irmãs ficaram contra ela e suas ideias. Chegaram ao ponto de retirá-la da direção da Obra que ela fundara. Foi um tempo de sofrimento e humilhação. As poucas irmãs que lhe eram fiéis confortaram seu coração. E, com a ajuda do Espírito Santo, ela aceitou o sofrimento com espírito de humildade e amor, aquele amor que ela nunca deixou de oferecer a todos.

 

Morte ao vestir o hábito

Era um sábado santo, dia muito esperado pelas irmãs Obreiras do Espírito Santo porque, pela primeira vez, receberiam o hábito da Congregação recém fundada. E aconteceu que, logo depois de receber seu hábito, a Irmã helena Guerra entregou sua alma a Deus. Era o dia 11 de abril de 1914. Ela foi sepultada na Igreja de Santo Agostinho, na cidade de Luca.

 

Influência no concílio Vaticano II

Em 1959 ela foi proclamada Beata pelo papa João XXIII. E, inspirado pelos escritos da Beata helena Guerra, João XXIII convocou o Concílio Vaticano II, espalhando por todo o mundo a oração ao Espírito Santo, pedindo que Ele renovasse a Igreja com as maravilhas de Pentecostes.

 

Oração ao Espírito Santo composta pelo papa João XXIII

“Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado e renovareis a face da terra. Oremos: Ó Deus, que instruístes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito fazei que apreciemos retamente todas as coisas, segundo o mesmo espírito, e gozemos sempre da sua divina consolação. Por Cristo Senhor nosso, amém.”

 

Oração à Beata Helena Guerra

“Ó Deus, que destes à Beata Helena Guerra a graça de compreender a importância e a força do vosso Espírito Santo, dai também a nós a graça de experimentá-lo em nossas vidas, para que, como a Beata Helena, possamos dedicar nossas vidas ao amor verdadeiro por todos aqueles que mais necessitam. Amém. Beata Helena Guerra, rogai por nós.”



quinta-feira, maio 19, 2022

UM MUNDO FRAGMENTADO







UM MUNDO FRAGMENTADO

19 de maio de 2022

 

Paróquia São Conrado



Acabo de participar, em Sintra, Portugal, a convite, de um Congresso Internacional para Bispos, promovido pelo Acton Institute, instituição universitária voltada para estudos de economia e sociologia à luz da doutrina social da Igreja. O congresso deste ano intitulou-se “Igreja, sociedade e economia em um mundo fragmentado”.

Este congresso contou com Arcebispos e Bispos de 31 países: Austrália, Brasil, Gana, Nigéria, Haiti, Quênia, Chile, Djibouti, Uruguai, Venezuela, Zâmbia, Angola, Suriname. Bangladesh, Guatemala, Etiópia, Uganda, Colômbia, México, Lituânia, Nigéria, Reino Unido, Botswana, Equador, Bahamas, Moçambique, Lesoto, Argentina, Zimbábue, Paquistão e Letônia.

Esteve presente e palestrou o Cardeal George Pell, da Austrália, que, além de nos contar sobre a sua prisão de 14 meses, por ter sido caluniado, falou sobre “O futuro do catolicismo mundial”, analisando o pontificado de S. João Paulo II e do Papa Francisco.

Fizemos, como de praxe, uma peregrinação ao Santuário de Fátima, rezando pelas nossas dioceses e países, especialmente pela Rússia e a Ucrânia, pedindo a Nossa Senhora pela paz no mundo. A mensagem de Fátima é sempre atual.

Dentro do tema principal do congresso, analisou-se a situação da China, como desafio e enigma, foi apresentado um interessante filme sobre Hong Kong, tratou-se do impacto econômico do COVID-19 e suas consequências, discutiu-se sobre os desafios sociais na Era Digital e discorreu-se sobre como a corrupção influi na elaboração de leis e na política.

É muito interessante o encontro e a troca de ideias com Bispos representantes desses mais diversos países. Com os Bispos do Leste europeu, conversei sobre a atual guerra da Rússia e Ucrânia. Com os Bispos da África, tomei conhecimento sobre as dificuldades nesses países. É instrutivo conhecer, através deles, como está a situação da Etiópia, por exemplo, e como estão os nossos vizinhos Venezuela, Chile e Argentina. O olhar dos Bispos é altamente esclarecedor.

Falando de política, recordou-se o ensinamento católico sobre o Estado de Direito, citando São João Paulo II, que relembra Leão XIII: “... uma sã teoria do Estado é necessária para assegurar o desenvolvimento normal das atividades humanas... (Leão XIII) apresenta a organização da sociedade segundo três poderes – legislativo, executivo e judiciário, o que constituía, naquele tempo, uma novidade no ensinamento da Igreja. Tal ordenamento reflete uma visão realista da natureza social do homem, a qual exige uma legislação adequada para proteger a liberdade de todos. Para tal fim é preferível que cada poder seja equilibrado por outros poderes e outras esferas de competência que o mantenham no seu justo limite. Este é o princípio do ‘Estado de direito’, no qual é soberana a lei, e não a vontade arbitrária dos homens... A Igreja encara com simpatia o sistema da democracia, enquanto assegura a participação dos cidadãos nas opções políticas e garante aos governados a possibilidade quer de escolher e controlar os próprios governantes, quer de os substituir pacificamente, quando tal se torne oportuno” (C.A. 44-46).

 

Fonte: Dom Fernando Arêas Rifan


terça-feira, maio 17, 2022

V DOMINGO DA PÁSCOA





“Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros”. Que bela novidade! Como se fosse Jesus a inventar o amor! Os homens e as mulheres não esperaram que Jesus viesse para saber um pouco o sentido da palavra “amor” e do verbo “amar”! Aliás, o mandamento de “amar o seu próximo como a si mesmo” encontra-se já no Livro do Levítico. Então, como compreender esta “novidade”? O próprio Jesus dá-nos a chave: “Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros”. Só olhando Jesus saberemos como Ele nos amou. A sua própria vida é uma prática desta palavra. E isto vai para além daquilo que, humanamente, podemos fazer. Ele diz-nos para perdoar setenta vezes sete, isto é, sem colocar qualquer limite ao perdão. “Amai os vossos inimigos e rezai pelos vossos perseguidores”… “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem”… São João escreve que “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim”, isto é, até à plenitude do amor cuja Fonte é o seu Pai. Sim, a maneira de Jesus nos amar ultrapassa a nossa maneira de amar. Neste sentido, o amor que Ele nos convida a viver entre nós é mesmo novo! Mas há mais! Porque as exigências de um tal amor podem parecer desmedidas, fora do nosso alcance, e deixar-nos no desespero: nunca chegaremos aí! Ora, é preciso compreender bem o “como Eu vos amei”. Jesus não nos diz: “Eu amei-vos. Agora, desenrasca-vos, fazei esforço para Me imitar!” Ele diz-nos: “Como Eu, que vos amo e vos dou o amor infinito do Pai, deixai-vos amar, como uma criança que se deixa tomar nos braços da sua mãe e do seu pai. Vinde até Mim. Àquele que vem até Mim, não o abandonarei. Então, poderei derramar sobre vós a força do próprio Amor que é Deus. Assim, encontrareis a força para ir para além das capacidades humanas, podereis, dia após dia, aprender a amar-vos como Eu vos amo”. Sim, Senhor, quero ir para junto de Ti, porque tens as palavras da vida eterna!

sexta-feira, maio 13, 2022

FÁTIMA, ALTAR DO MUNDO





Estou em Portugal, a convite, em um Congresso de Bispos, durante o qual faremos uma peregrinação ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima, onde rezarei por todos os amigos.

A expressão “Fátima, altar do mundo”, generalizou-se desde a consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria, feita pelo Papa Pio XII em 31 de outubro de 1942, em plena segunda guerra mundial, atendendo a um pedido de Nossa Senhora feito em 1917.

Pio XII era chamado “o Papa de Fátima”, pois sua consagração episcopal foi exatamente no dia 13 de maio de 1917, data da primeira aparição de Nossa Senhora em Fátima.

Os Papas têm visitado o Santuário de Fátima: São Paulo VI, São João Paulo II, Bento XVI e o atual Papa Francisco. O Papa São João Paulo II ofereceu ao Santuário de Fátima a bala que quase o vitimou em 13 de maio de 1981, e que passaria a figurar na coroa da imagem que ali é venerada. E os Sumos Pontífices têm consagrado o mundo a Nossa Senhora de Fátima.

Portugal, além de nos ter trazido a fé cristã com os descobridores e os primeiros missionários, também trouxe ao Brasil a devoção a Nossa Senhora de Fátima. Nessa pequena cidade de Portugal, Maria apareceu a três pastorinhos, Lúcia, Jacinta e Francisco, no dia 13 de maio de 1917. Os milagres que acompanharam essa aparição foram testemunhados por milhares de pessoas e pelos jornais da época, até os anticlericais. De lá, essa devoção se espalhou e chegou ao Brasil. São sempre atuais e dignas de recordação as suas palavras e seu ensinamento. Aquelas três simples crianças foram os portadores do “recado” da Mãe de Deus para seus filhos.

O segredo da importância e da difusão de sua mensagem está exatamente na sua abrangência de praticamente todos os problemas da atualidade. “Fátima é no mundo a melhor expressão do Céu” (Mons. Luciano Guerra, reitor do Santuário de 1973 a 2008).

Ali, Nossa Senhora nos alerta contra o perigo do comunismo e seu esquecimento dos bens espirituais e eternos, erro que, conforme sua predição, vai cada vez mais se espalhando na sociedade moderna: o ateísmo prático, o secularismo. “A Rússia vai espalhar os seus erros pelo mundo”, advertiu ela. A Rússia tinha acabado de adotar o comunismo, aplicação prática da doutrina marxista, ateia e materialista. Mas, se o comunismo, como sistema econômico, fracassou, suas ideias continuam vivas na sociedade atual. E o comunismo é incompatível com o catolicismo. Falando que foi batizado como católico, Raul Castro, presidente de Cuba, quando recebido pelo Papa Francisco, confessou por que abandonou a Igreja: “Sou comunista e não se podia ser membro do Partido Comunista e ser católico” (O Globo 11/6/2015). Ele reconhecia o antagonismo. Foi lógico. Rezemos pela sua conversão e a de Cuba, para que, deixando o comunismo, volte à Igreja, como ele insinuou após sua entrevista com o Papa.

Fátima é o resumo, a recapitulação e a recordação do Evangelho para os tempos modernos. O Rosário, tão recomendado por Nossa Senhora, é a “Bíblia dos pobres” (São João XXIII). Sua mensagem é sempre atual. É a mãe que vem lembrar aos filhos o caminho do Céu.

 

Fonte: Dom Fernando Arêas Rifan


segunda-feira, maio 09, 2022

IV DOMINGO DA PÁSCOA






“Sou Eu!” Quem de nós não exclamou tantas vezes esta expressão? Nem é necessário dizer o nome… Hoje, diz Jesus: “Eu sou o Bom Pastor..:” Coloca-Se num registo de uma relação de intimidade para falar da sua ligação com os discípulos. Foi isso que Ele viveu com eles durante três anos. Tornaram-se seus amigos. Várias vezes, Jesus só precisou deste grito para Se fazer reconhecer: “Sou Eu!” Os discípulos não podiam enganar-se: esta voz era a sua, única no mundo. Não serve de nada dizer a um desconhecido: “Sou Eu!” Para entrar na intimidade de alguém, é preciso uma relação longa, um conviver”, uma familiaridade, no sentido pleno da palavra. Isso só se pode viver na duração, na fidelidade, na paciência. Com Jesus, é exatamente a mesma coisa. Não é o meu nervo auditivo que vibra à sua voz, mas a “audição do coração” que me torna atento quando a sua Palavra é proclamada em Igreja, quando leio e medito esta Palavra. É ela que vem fazer vibrar o meu ser profundo, que me toca o coração. Torno-me então, pouco a pouco, capaz de integrar na minha vida, na minha maneira de pensar e de agir, a sua maneira própria de falar e de agir. Pouco a pouco, a minha vida toma uma cor evangélica, a minha consciência afina-se, torno-me discípulo de Jesus, reconheço a sua presença na minha vida. Aí está um trabalho de longo alcance, de toda a vida. Então, pouco a pouco também, é um pouco d’Ele que traspassará através da minha vida para tocar os outros. Não está aí a vocação própria de todo o batizado: fazer-se eco da sua voz no coração do mundo?

Nossa vida se decide no cotidiano. De modo geral não são os momentos extraordinários e excepcionais que marcam mais a nossa vida. E muito mais essa vida comum de todos os dias, com as mesmas tarefas e obrigações, em contato com as mesmas pessoas, que vai configurando nosso perfil. No fundo somos o que somos na vida cotidiana.

Em geral, essa vida nada tem de excitante. Está cheia de repetição e rotina. Mas é nossa vida. Somos "seres cotidianos. A cotidianidade é um traço do ser humano. Somos, ao mesmo tempo, responsáveis e vítimas dessa vida aparentemente pequena de cada dia.

Nessa vida do normal e ordinário, podemos crescer como pessoas ou podemos desperdiçar nossa vida, não aproveitá-la. Nessa vida cresce nossa responsabilidade ou aumenta nossa negligência; cuidamos de nossa dignidade ou nos perdemos na mediocridade; inspira-nos e anima-nos o amor, ou agimos com indiferença; deixamo-nos arrastar pela superficialidade ou arraigamos nossa vida no essencial; nossa fé vai se dissolvendo ou vai se reafirmando nossa confiança em Deus.

A vida cotidiana não é algo que devemos suportar para depois viver não sei o quê. E nessa vida de cada dia que se decide nossa qualidade humana e cristã. É aí que se fortalece a autenticidade de nossas decisões; aí se purifica nosso amor às pessoas; aí se configura nossa maneira de pensar e de crer. O grande teólogo Karl Rahner chega 2 dizer que "para o homem interior e espiritual não há melhor mestre do que a vida cotidiana".

Segundo a teologia do quarto Evangelho, os seguidores de Jesus não caminham pela vida sós e desamparados. O Bom Pastor os acompanha e defende dia a dia. Eles são como "ovelhas que escutam sua voz e o seguem". Ele conhece cada uma delas e lhes dá vida eterna. É Cristo que ilumina, orienta e anima sua vida dia a dia até a vida eterna.

No dia a dia da vida cotidiana devemos buscar o Ressuscitado no amor, não na letra morta; na autenticidade, não nas aparências; na verdade, não nos tópicos; na criatividade, não na passividade e inércia; na luz, não na escuridão das segundas intenções; no silêncio interior, não na agitação superficial.









quarta-feira, maio 04, 2022

HONRA TEU PAI E TUA MÃE





O Dia das Mães, domingo próximo, apesar de ser um dia marcadamente comercial, não impede que nele expressemos nosso amor e gratidão à nossa genitora, e que reflitamos sobre o Quarto Mandamento da Lei de Deus: “Honra teu pai e tua mãe” (Ex. 20,12). Interessante que esse é o único mandamento que, no Antigo Testamento, traz consigo uma promessa: “a fim de que tenhas uma vida longa...” Quem cumprir esse mandamento será abençoado mesmo aqui nessa terra.

A Bíblia Sagrada, no livro dos Provérbios, está cheia de conselhos e ameaças sobre o amor aos pais: “O filho sábio ouve a doutrina do seu pai; o tolo, porém, não ouve a correção” (Pr 13,1). “O filho sábio alegra o seu pai; e o homem insensato despreza a sua mãe” (Pr 15,20). “Aquele que aflige o seu pai, e que faz fugir sua mãe, é infame e desgraçado” (Pr 19,26). “Ouve o teu pai, que te gerou, e não desprezes tua mãe, quando for velha” (Pr 23,22). “O olho que zomba do pai e falta o respeito para com sua mãe, os corvos que andam à borda das torrentes o arrancarão, e o devorarão as aves de rapina” (Pr 30,17).

E o livro do Eclesiástico ensina: “Como quem acumula tesouros, assim é aquele que honra sua mãe. O que honra seu pai encontrará alegria nos seus filhos, e será atendido no dia da sua oração. O que honra seu pai viverá uma vida larga; e consola sua mãe quem obedece a seu pai. O que teme o Senhor honra seus pais; e servirá, como a seus senhores, aos que o geraram. Honra teu pai por ações, por palavras e com toda a paciência, para que venha sobre ti a sua bênção, e esta bênção permaneça contigo até ao fim. A bênção do pai fortifica a casa dos filhos, e a maldição da mãe a destrói pelos alicerces” (Sr 3, 1-11).

Os filhos serão sempre filhos, como os pais sempre pais. Especialmente na velhice e na doença, quando se requer mais paciência, tolerância e compreensão. Assim a Palavra de Deus: “Filho, ampara a velhice de teu pai, e não o entristeças durante a sua vida. Se a inteligência lhe for faltando, suporta-o, e não o desprezes por teres mais vigor do que ele; porque a caridade exercida com teu pai, não ficará no esquecimento. Porque serás recompensado por teres suportado os defeitos de tua mãe... e no dia da tribulação Deus se lembrará de ti” (Sr 3, 14-17).

O próprio Jesus, Deus feito homem, nos deu o exemplo: apesar de superior a eles pela sua natureza divina, Jesus era submisso aos seus pais (Lc 2,51). Os deveres são mútuos, como adverte São Paulo: “Filhos, obedecei a vossos pais segundo o Senhor; porque isto é justo...” Em contrapartida, ele adverte seriamente aos pais: “Pais, não irriteis vossos filhos. Pelo contrário, criai-os na educação e doutrina do Senhor” (Ef 6, 1-4).

Portanto, os pais não devem provocar os seus filhos, mas trata-los com amor e carinho, pois são filhos de Deus a eles confiados. Quantos filhos são maus por causa dos pais, porque não receberam amor e carinho na família! Pais que não amam seus filhos são realmente desnaturados. E infelizmente eles existem! “Felizes os que andam na lei do Senhor!” (Salmo 118,1).

 

Fonte: Dom Fernando Arêas Rifan


segunda-feira, maio 02, 2022

III DOMINGO DA PÁSCOA




Esta pergunta que o Ressuscitado dirige a Pedro lembra a todos nós que nos dizemos crentes que a vitalidade da fé não é um assunto de compreensão intelectual, mas de amor a Jesus Cristo.

É o amor que permite a Pedro entrar numa relação viva com Cristo ressuscitado e

que também pode introduzir-nos no mistério cristão. Quem não ama, dificilmente pode "entender" algo sobre a fé cristã.

Não devemos esquecer que o amor brota em nós quando começamos a abrir-nos a outra pessoa, numa atitude de confiança e entrega que vai sempre além de razões, provas e demonstrações. De alguma maneira, amar é sempre "aventurar-se" no outro.

É o que acontece também na fé cristã. Eu tenho razões que me convidam a crer em Jesus Cristo. Mas, se o amo, não é em última análise pelos dados que me proporcionam os investigadores, nem pelas explicações que me oferecem os teólogos, mas porque Ele desperta em mim uma confiança radical em sua pessoa.

Mas não é só isto. Quando amamos realmente uma pessoa concreta, pensamos nela, queremos encontrá-la, escutá-la e sentir-nos perto dela. De alguma maneira, toda nossa vida fica inspirada e transformada por ela, por sua vida e seu mistério.

A fé cristà é "uma experiência de amor". Por isso, crer em Jesus Cristo é muito mais do que "aceitar verdades" sobre Ele. Cremos realmente quando experimentamos que Ele vai se convertendo no centro de nosso pensar, nosso querer e todo nosso viver.

Este amor a Jesus não reprime nem destrói nosso amor às pessoas. Ao contrário, é justamente esse amor que pode dar-lhe sua verdadeira profundidade, libertando-o da mediocridade e da mentira. Quando se vive em comunhão com Cristo, é mais fácil descobrir que isso que chamamos "amor", muitas vezes não é senão o "egoísmo sensato e calculista" de quem sabe comportar-se habilmente, sem nunca arriscar-se a amar com generosidade total.

A experiência do amor a Cristo pode dar-nos forças para amar inclusive sem esperar sempre algum ganho ou para renunciar - pelo menos alguma vez - a pequenas vantagens, para servir melhor a quem precisa de nós. Talvez algo realmente novo aconteceria em nossa vida. se fôssemos capazes de escutar com sinceridade a pergunta do Ressuscitado: "Tu me amas?"