segunda-feira, fevereiro 10, 2025

V DOMINGO DO TEMPO COMUM








Queridos irmãos e irmãs, o Evangelho de hoje nos coloca diante de um momento profundamente transformador na vida de Simão Pedro e de seus companheiros. Após uma noite inteira de trabalho infrutífero, um simples ato de confiança em Jesus muda completamente o curso da vida deles: "Deixaram tudo e o seguiram."

 

Essa cena às margens do lago de Genesaré não é apenas sobre uma pesca milagrosa. É uma imagem poderosa do chamado que Deus faz a cada um de nós, um convite a deixar para trás nossas seguranças e a confiar no desconhecido de Sua vontade. Vamos refletir sobre como esse encontro entre Jesus e Simão se aplica à nossa vida de fé.

 

“Avança para águas mais profundas”

Após uma noite de esforço inútil, Jesus pede a Simão que volte ao mar e lance as redes. É um pedido estranho, até mesmo inconveniente. Simão poderia ter recusado, pois ele sabia, como pescador experiente, que não fazia sentido tentar de novo. Mas ele responde com humildade: "Em atenção à tua palavra, vou lançar as redes."

 

Esse é o primeiro passo para a transformação: a confiança na palavra de Jesus, mesmo quando ela parece desafiadora ou incompreensível. Quantas vezes, na vida, também nos sentimos como Simão, cansados de tentar, de lutar sem ver resultados? Jesus nos convida a avançar para águas mais profundas, a sair da zona de conforto e confiar que, onde nossas forças falham, Sua graça pode operar milagres.

 

Esse convite às "águas mais profundas" não é apenas sobre tentar de novo, mas sobre um mergulho espiritual: sair da superfície da fé e ir ao encontro de um relacionamento mais profundo com Deus.

 

O Milagre: A Abundância de Deus

Quando Simão e seus companheiros lançam as redes, eles são surpreendidos pela quantidade imensa de peixes. O que parecia impossível se torna realidade. Esse milagre nos ensina que, quando confiamos na palavra de Deus, Ele não nos dá apenas o suficiente – Ele nos dá em abundância.

 

Mas o verdadeiro milagre aqui não é a pesca em si, e sim a mudança que ocorre no coração de Simão. Ao ver o poder de Jesus, ele não se exalta; pelo contrário, ele cai de joelhos e reconhece: "Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador."

 

Esse reconhecimento da própria fraqueza é o ponto de partida para a verdadeira conversão. Simão não se vê digno de estar diante de Jesus, mas é exatamente isso que o torna preparado para a missão. Deus não escolhe os perfeitos; Ele escolhe os humildes, os que reconhecem suas limitações e se abrem à Sua graça.

 

“Não tenhas medo! De hoje em diante, serás pescador de homens”

Jesus não rejeita Simão por ser um pecador. Pelo contrário, Ele o chama para algo maior: ser pescador de homens. Aqui está a essência da missão cristã. Assim como Simão foi chamado a lançar as redes para pescar peixes, agora ele é chamado a lançar as redes do Evangelho para trazer almas para Deus.

 

Esse chamado não é apenas para Simão, Tiago e João. É para todos nós. Cada um de nós, pelo batismo, foi chamado a ser missionário, a ser testemunha do amor de Deus no mundo. Mas, para isso, precisamos fazer como Simão: deixar nossas redes antigas na margem, deixar o medo, as desculpas e os apegos, e seguir a Jesus.

 

“Deixaram tudo e o seguiram”

Esse é o momento decisivo. Simão e seus companheiros não hesitam. Deixam tudo – suas barcas, suas redes, sua vida anterior – e seguem Jesus. Isso não significa que todos nós precisamos abandonar nossa vida material, mas sim que somos chamados a deixar tudo o que nos impede de seguir a Cristo de forma plena: nosso orgulho, nossos medos, nossas preocupações excessivas com o mundo.

 

O que estamos dispostos a deixar para seguir Jesus? Será que estamos presos às "redes" da segurança, do egoísmo ou da falta de fé? O chamado de Jesus é radical, mas não é pesado. Ele nos convida a deixar para trás o que é passageiro para abraçar o que é eterno.










quarta-feira, fevereiro 05, 2025

FESTA DE SÃO BRÁS







Hoje vivemos uma crise vocacional bem profunda. Além disso, até mesmo aqueles que discernem bem a vocação, têm empecilhos diversos para sua boa prática. Nesses tempos, alguns exemplos sobressaem, dentre eles São Brás. Médico exemplar, bispo exemplar, cristão exemplar… Apesar de muito antigo, ainda se destaca anacronicamente como um grande santo.

 

Iremos conversar um pouco sobre ele e entender também o porquê de sua alcunha mais famosa: o protetor dos males contra a garganta.

 

 

Quem foi São Brás?

 

São Brás nasceu na Armênia, no século III. Iniciou os estudos em medicina e filosofia. Após ficar diante de tantas misérias humanas, decidiu caminhar para o lado sacerdotal, se tornando bispo de Sebaste, onde exerceu seu ministério até o ano de sua morte, em 316.

 

Quando é o dia de São Brás?

 

A Igreja celebra o dia de São Brás em 3 de fevereiro, dia em que o milagre da garganta é recordado com um rito litúrgico interessante, durante o qual o sacerdote abençoa os fiéis com duas velas cruzadas diante da garganta.

 

 

Os principais episódios da vida de São Brás

 

Nascimento e educação

 

São Brás, cujo nome significa “aquele que é esforçado”, nasceu em Sebaste, na Armênia, no final do século III. Sua educação foi marcada por valores cristãos sólidos, influenciada pela devoção de seus pais. Desde jovem, ele demonstrou notável sabedoria e compaixão, motivos pelos quais se tornou médico.

 

Vocação e vida religiosa

 

Inspirado pela vida ascética e incomodado com as misérias humanas que via na prática médica, São Brás decidiu dedicar sua vida a Deus e a cuidar não só do corpo, mas da alma das pessoas. Dedicou-se à oração e ao estudo das Escrituras. Sua devoção levou-o a uma profunda compreensão da fé cristã, preparando-o para os desafios que viriam.

 

Nomeação como Bispo

 

A reputação de São Brás como líder espiritual cresceu e, após falecido o Bispo de Sebaste, foi nomeado como seu sucessor. Ele assumiu suas funções episcopais com zelo, trabalhando para fortalecer a comunidade cristã em meio às adversidades, além de, por sua fama de santidade, atrair milhares de pessoas que buscavam por curas e consolos.

 

Perseguição e prisão

 

Durante o reinado do imperador romano Licínio, uma intensa perseguição aos cristãos encabeçada por Agricolau, governador da Capadócia, eclodiu. São Brás, firme em sua fé, recusou-se a renunciar ao cristianismo. Sua recusa resultou em sua prisão.

 

Milagre

 

No caminho para a prisão, o santo se encontrou com uma mãe cujo filho estava engasgado com uma espinha de peixe. As orações fervorosas de São Brás foram atendidas, e o menino foi milagrosamente curado. Esse evento levou a uma veneração especial de São Brás como protetor da garganta.

 

Morte

 

Sempre lembramos que de todos os feitos extraordinários visíveis de um santo, sua fé inabalável será sempre a maior. E assim também foi com São Brás. Se recusou a venerar deuses pagãos, o que desencadeou seu martírio no ano de 316. Teve seu corpo flagelado e rasgado por ganchos para, enfim, ser decapitado.

 

Canonização e devoção

 

A devoção a São Brás cresceu rapidamente após sua morte, uma vez que já em vida o santo tinha fama de santidade. Sua canonização, que foi feita antes do processo formalizado, oficializou sua santidade, e ele se tornou um dos santos mais venerados na tradição cristã, sendo o padroeiro dos otorrinolaringologistas e o protetor da garganta.

 

 

São Brás, o protetor da garganta

 

Por toda sua história, a tradição católica deu a São Brás o título de protetor da garganta. Essa tradição é tão forte e difundida pelo mundo que até mesmo um rito especial foi desenvolvido. Isso é muito interessante porque estamos falando de um santo dos primeiros séculos.

 

Ou seja, conseguimos ver a penetrância de São Brás na cultura e na tradição. Inúmeras paróquias distantes geograficamente e temporalmente da origem do santo armênio ainda hoje realizam o rito litúrgico em honra a ele.

 

A tradicional bênção contra os males da garganta

 

Em 3 de fevereiro, dia da memória de São Brás, o sacerdote, munido de velas em forma de cruz, abençoa os fiéis contra os males da garganta. As mães têm por costume especial levarem as crianças, em clara alusão ao episódio miraculoso de sua vida.

 

Recomendamos a todos que busquem ir à Missa nesse dia numa paróquia que realiza a bênção. Além de ser um ato piedoso, é muito proveitoso ver costumes que perduram por vários séculos sendo preservados.

 

 

Oração a São Brás contra os males da garganta

 

Deixaremos aqui a oração mais famosa de intercessão a São Brás:

 

“Ó bem-aventurado São Brás, que recebeste de Deus o poder de proteger os homens contra as doenças da garganta e outros males, afastai de mim a doença que me aflige. Conservai a minha garganta sã e perfeita para que eu possa falar corretamente e assim proclamar e cantar os louvores de Deus.”

 


Fonte: Fonte : Minha Biblioteca Católica








terça-feira, fevereiro 04, 2025

FESTA DA APRESENTAÇÃO DO SENHOR











Não é raro, no meio de tantas vicissitudes que marcam este século em que nos tocou viver, que nos sintamos desorientados e à deriva, como se a história do mundo e dos homens nos escapasse das mãos e não soubessemos bem para onde devemos dirigir os nossos passos. Quem nos mostrará o terreno firme onde poderemos sentir-nos seguros? Quem nos guiará na viagem atribulada da história e da vida? Na Festa da “Apresentação do Senhor”, Jesus é-nos apresentado como “a salvação colocada ao alcance de todos os povos”, a “luz para se revelar às nações e a glória de Israel”, o messias com uma proposta de libertação para todos os homens. Que eco é que esta “apresentação” de Jesus encontra no nosso coração? Jesus é, de fato, a luz que ilumina as nossas vidas e que nos conduz nos caminhos do mundo? Ele é, para nós, o caminho certo e inquestionável para a salvação, para a vida verdadeira e plena? É nele que colocamos a nossa ânsia de libertação e de vida nova? Caminhamos atrás dele, certos de que o caminho que Ele propõe conduz à vida plena? Se tantos homens ignoram a "luz" libertadora que Jesus veio acender ou não se sentem interpelados pelo projeto de Jesus, a culpa não será, um pouco, do nosso imobilismo, da nossa instalação, do nosso "cinzentismo" na vivência da fé, da forma pouco entusiasta como damos testemunho?

Simeão e Ana, os dois anciãos que acolhem Jesus no Templo de Jerusalém, são pessoas atentas ao Deus libertador que vem ao seu encontro e que sabem ler os sinais de Deus naquele menino que chega. Não vivem centrados em futilidades, não “gastam o tempo” de vida que ainda têm em atividades inconsequentes, não aceitam viver instalados numa redoma  que os afasta do mundo e os dispensa de colaborar no projeto de Deus para o mundo e para os homens. Atentos à voz do Espírito, vivendo em diálogo contínuo com Deus, detectam a chegada de Deus e testemunham diante dos seus conterrâneos a presença salvadora e redentora de Deus no meio do seu Povo. São pessoas que cultivam a intimidade com Deus, que escutam Deus, que se esforçam por perceber as indicações de Deus e que são sinais vivos de Deus na vida daqueles que se cruzam com eles. Sabem que, enquanto caminharem na terra, são chamados a dar testemunho de Deus e do seu projeto salvador. Através deles a luz de Deus brilha no mundo e ilumina o mundo. É assim que nós vivemos também? Procuramos entender os sinais de Deus e sermos testemunhas ativas, no meio do mundo, de Deus e do seu projeto de salvação?

Quer Simeão, quer a profetiza Ana, são pessoas de bastante idade. Mas não vivem de recordações, voltados para o passado, chorando mágoas porque se sentem velhos e fragilizados. Têm memória das antigas promessas de Deus; mas vivem de olhos postos no presente, preocupados em ver como no “hoje” da história dos homens Deus concretiza as suas promessas de salvação; e, quando descobrem a presença de Deus, proclamam-na com alegria e entusiasmo. Os anciãos – quer pela sua maturidade, sabedoria e equilíbrio, quer pelo tempo de que normalmente dispõem – podem ser testemunhas privilegiadas dos valores de Deus, intérpretes dos sinais de Deus, profetas credíveis que obrigam o mundo a confrontar-se com os desafios de Deus. É preciso que não vivam voltados para o passado, refugiados numa realidade que aliena, transformados em “estátuas de sal”, mas que vivam de olhos postos no futuro, de espírito aberto e livre, pondo a sua sabedoria e experiência ao serviço da comunidade humana e cristã, ensinando os mais jovens a distinguir entre o que é eterno e importante e o que é passageiro e acessório. Aqueles de entre nós a quem Deus concede a graça de uma vida longa, é assim que vivem? Comunicam alegria, otimismo, fé, esperança num futuro onde Deus está presente?

Lucas apresenta-nos neste episódio evangélico uma família – a Sagrada Família – em que Deus é a referência fundamental. Por quatro vezes (vers. 22.23.24.27), Lucas refere, a propósito da família de Jesus, o cumprimento da Lei de Moisés, da Lei do Senhor ou da Palavra do Senhor. A família de Jesus, Maria e José é, portanto, uma família que escuta a Palavra de Deus e que constrói a sua existência ao ritmo da Palavra de Deus e dos desafios de Deus. Maria e José sabiam que uma família que escuta a Palavra de Deus e que procura responder aos desafios postos por essa Palavra é uma família com um projeto de vida com sentido; e sabiam que uma família que se deixa guiar pela Palavra de Deus é uma família que se constrói sobre a rocha firme dos valores eternos. Que importância é que Deus assume na vida das nossas famílias? Procuramos que cada membro das nossas famílias cresça numa progressiva sensibilidade à Palavra de Deus e aos desafios de Deus? Encontramos tempo para reunir a família à volta da Palavra de Deus e para partilhar, em família, a Palavra de Deus?

Quando numa família Deus “conta”, os valores de Deus passam a ser, para todos os membros daquela comunidade familiar, as marcas que definem o sentido da existência. O espaço familiar torna-se, então, a escola onde se aprende o amor, a solidariedade, a partilha, o serviço, o diálogo, o respeito, o cuidado, o perdão, a fraternidade universal, o cuidado da criação, a atenção aos mais frágeis, o sentido do compromisso, do sacrifício, da entrega e da doação… São esses valores – os valores de Deus – que procuramos cultivar na nossa comunidade familiar?

Segundo a Lei judaica, todo o primogênito  devia ser consagrado e dedicado ao Senhor. Também Jesus é apresentado no Templo e consagrado ao Senhor. Nas nossas famílias cristãs há normalmente uma legítima preocupação com o proporcionar a cada criança condições ótimas de vida, de educação, de acesso à instrução e aos cuidados essenciais… Haverá sempre uma preocupação semelhante no que diz respeito à formação para a fé e em proporcionar aos filhos uma verdadeira educação para a vida cristã e para os valores de Jesus Cristo? Os pais cristãos preocupam-se sempre em proporcionar aos seus filhos um exemplo de coerência com os compromissos assumidos no dia do Batismo? Preocupam-se em ser os primeiros catequistas dos próprios filhos, transmitindo-lhes os valores do Evangelho? Preocupam-se em acompanhar e em potenciar a formação e a caminhada catequética dos próprios filhos, em inseri-los numa comunidade de fé, em integrá-los na família de Jesus, em consagrá-los ao serviço de Deus?

Depois daqueles momentos gloriosos no Templo de Jerusalém, o plano salvador de Deus “escondeu-se” naquela pobre casa de família, na aldeia de Nazaré, onde viviam Maria, José e Jesus. O projeto salvador de Deus concretiza-se muitas vezes longe das luzes da ribalta, na simplicidade das nossas vidas, das nossas famílias, das nossas casas, das nossas aldeias e cidades. Estamos conscientes disso? Somos capazes de ler os sinais e perceber o acontecer da salvação de Deus na nossa vida simples de todos os dias?