sexta-feira, abril 26, 2024

JUBILEU 10 ANOS DA MORTE DO PADRE MARCOS ANTÔNIO









A morte faz parte de nossa realidade humana, por mais difícil que seja compreende-la. Muitas vezes não compreendemos que a experiência da eternidade e imortalidade está além desta experiência terrena. Ela transcende nossa existência e somente pela certeza da Ressureição poderemos vive-la.


Facilmente misturamos estas realidades e, quando morre um padre, parece que nos “assusta” ainda mais…. Talvez imaginemos que ele, por estar próximo do sagrado, servir e viver do sagrado,  possa ser imortal, mesmo nesta realidade temporal em que vivemos, pois esquecemos que ele é humano.


Diante dessa nossa compreensão e dilema, deveríamos pensar na perda que temos quando morre um padre. Talvez para nossa experiência humana seja mais um que partiu. Mas, para a experiência eclesial, é  um sacerdote a menos a consagrar a Eucaristia para centenas de pessoas, um instrumento a menos para oferecer conforto aos enfermos, um ombro a menos para manifestar a misericórdia por meio da reconciliação, um assistente a menos para ser sinal de bênção aos nossos matrimônios, um ministro a menos para oferecer a possibilidade de nos inserir em Cristo pelo batismo. Para o Padre, a morte deve ter pela fé, a certeza e a tranquilidade de conseguir, não por méritos próprios, mas do Cristo, a coroa da glória aos que combateram o bom combate, e foram capazes de guardar a fé como nos afirma São Paulo.


Quando o Padre morre, “começa a virar santo”! Vemos centenas de pessoas que parecem esquecer o quanto o criticavam, o quanto não o compreendiam, não o aceitavam, não respondiam aos seus apelos, nem aos apelos da construção do reino que é do Cristo. Ao  invés,  deveriam  ter confiado nele como parte daquela porção de povo chamada de paróquia.


Quando o padre morre, morrem com ele suas angustias, sofrimentos, solidões, incompreensões, dramas existenciais, pastorais, econômicos….. Neste sentido, muitas vezes o padre não apenas morre, mas como diz o ditado popular, “ele descansou”.


Quando o padre morre, descansa das cobranças que lhe tocam todos os dias. Cobrança da sociedade que exige que ele deixe, muitas vezes, de ser humano e seja um ser divino e perfeito, como os que o julgam não conseguem ser. Cobrança  de administrar uma paróquia, pagar as contas, funcionários, repasse de dinheiro para a cúria, motivar campanhas, fazer festa, cantar bingo, vender carnês, vender pastel, caldinho, pizza, feijoada etc.


Todas estas cobranças vão sufocando a vida do padre. Seja pelo vazio das casas paroquiais, seja porque seu povo recebeu, muitas vezes, respostas às cobranças feitas, mas não conseguiu, talvez por falta de sensibilidade, oferecer ao padre um retorno, não apenas econômico, mas de afeto, atenção e preocupação. Quantos leigos ligam para seus padres para saber se este está bem? Quantos leigos ao encontrar o padre procuram saber se ele está feliz? Quantos procuram saber se a sua saúde está em dia? Quantos bispos ligam para seus padres para reconhecer seu valor que vai além dos valores que ele tem que repassar para cúria?


Talvez a expressão popular seja real e atual quando um padre morre. É, ele descansou!


Que possamos antes deste dia, ter um gesto, mesmo que pequeno, de afeto e atenção aos nossos padres. No dia da missa de corpo presente, será tarde. Talvez até as palavras e mensagens sejam vazias , assim como algumas lágrimas do povo que nunca buscou valorizar, visitar, amar, cuidar e se preocupar com seu padre.


Não deixe para amar e valorizar seu pastor apenas quando o “padre morre”.


quinta-feira, abril 25, 2024

SÃO MARCOS











João Marcos era judeu, da cidade de Jerusalém. Era ainda menino quando os fatos da morte e ressurreição de Jesus aconteceram. Seu pai não é conhecido. Sua mãe, ao contrário, é citada no livro dos Atos dos Apóstolos 12, 12. Por causa da importância de seu filho, ela ficou conhecida como Maria, mãe de João Marcos e, também, Maria de Jerusalém. A Tradição diz que São Marcos foi batizado por São Pedro, de quem ele era discípulo.

Seu lar, uma igreja

São Marcos pertencia a uma das primeiras famílias cristãs da cidade de Jerusalém. Ele não chegou a ser discípulo de Jesus, mas conheceu o Mestre. Segundo a Tradição, foi em sua casa que Jesus celebrou a ceia Pascal e onde instituiu a Eucaristia. Foi também em sua casa que cerca de cento e vinte pessoas, contando com a Virgem Maria e os discípulos, receberam a efusão do Espírito Santo no dia de Pentecostes. Por isso, sua casa passou a ser conhecida como Cenáculo, que significa “local de reunião”. Pela casa mencionada no livro dos Atos, pode-se imaginar que sua família era bem situada economicamente. Ainda criança, Marcos viu seu lar ser transformado no ponto de encontro dos cristãos de Jerusalém. Ali, com efeito, passou a ser o local de reunião dos apóstolos e de todos os cristãos primitivos.


Discípulo de Pedro e Paulo

Mais tarde, quando jovem, Marcos tornou-se discípulo de Pedro e foi com ele para Roma. Lá, ainda jovem, começou a preparar seu escrito sobre a vida de Jesus, que viria a se tornar o Segundo Evangelho. Em Roma, Marcos também prestou serviços a são Paulo, quando este estava preso pela primeira vez. Seus préstimos foram de tão grande ajuda que, quando foi preso novamente, Paulo escreveu uma carta a Timóteo pedindo que este levasse seu precioso colaborador, Marcos, até Roma, para ajudá-lo na missão apostólica. 


O Evangelho de Marcos

O Evangelho escrito por São Marcos é mais curto que os demais (Mateus, Lucas e João). Porém, traz uma visão muito especial, aquela de quem acompanhou a paixão e os sofrimentos de Jesus quando era apenas um menino. A tônica do Evangelho de Marcos está em demonstrar a glória de Deus que nos foi revelada em Jesus e sua missão. Marcos escreveu atendendo ao pedido dos fiéis de Roma. Com efeito, ele tinha todo o conteúdo sobre a vida de Jesus, recebido diretamente de São Pedro. E, Pedro, além de aprovar o manuscrito, ordenou que sua leitura fosse feita em todas as igrejas. Assim começou a se espalhar o Evangelho segundo São Marcos. 


Sobrinho de Barnabé

Marcos tinha a fé cristã em seu DNA. Além de ser filho de Maria, que cedeu sua enorme casa para a Igreja nascente, era também sobrinho de São Barnabé, que foi grande companheiro de são Paulo em viagens missionárias pelo Oriente Médio e Europa. Por isso, ele certamente conheceu todos os apóstolos e todos os grandes evangelizadores da igreja primitiva.


Simbolizado pelo Leão

São Marcos é simbolizado por um leão e isso tem um motivo muito especial. É que ele começa seu Evangelho apresentando missão do profeta João Batista. João Batista, ficou conhecido como a "voz grita no deserto". Ora, nos tempos primitivos, o leão habitava os desertos e seus rugidos impunham temor e respeito. Por isso, São Marcos é representado pelo leão.


Missionário evangelizador

Levando seu manuscrito do Evangelho, São Marcos partiu em missão apostólica, depois da morte de São Pedro e de São Paulo. Segundo a Tradição, ele foi pregar na ilha de Chipre. Em seguida, foi para a Ásia Menor e, depois, ao Egito. Lá, pregou especialmente em Alexandria. Nesta cidade, ele fundou uma das igrejas que mais cresceram.


Morte

A Tradição nos conta que São Marcos foi martirizado numa festa de Páscoa, justamente quando celebrava o “partir do pão”, que era como os primeiros cristãos chamavam a celebração da santa missa. Anos depois, suas relíquias foram levadas para Veneza, por mercadores italianos. Hoje, elas estão guardadas na famosa Catedral de São Marcos, na mesma cidade. A partir do ano 828, Veneza assumiu São Marcos como padroeiro.


Oração a São Marcos

“Deus Eterno e Todo Poderoso, nós vos pedimos as bençãos e graças necessárias, para a nossa Salvação, pela intercessão poderosíssima do evangelista São Marcos. Tudo isto vos pedimos Pai Celeste, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, na Unidade do Espírito Santo. Amém. São Marcos, rogai por nós.”


terça-feira, abril 02, 2024

VIGÍLIA PASCAL





Entramos no mistério da Páscoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. A Páscoa é a celebração do amor de Deus por nós, é o amor de Deus encarnado que se manifesta na Paixão do Seu Filho. A Paixão de Jesus nos salva e nos resgata; e Jesus começa a Sua Páscoa celebrando a Eucaristia com os Seus discípulos. Ele mesmo se dá em alimento, Ele se torna o alimento. A Eucaristia é o próprio Senhor que se dá a nós. Aquilo que Jesus faz, Ele também ensina o que nós devemos fazer. Se Ele se deu a nós, também devemos nos dar uns aos outros.

 

A Eucaristia não é o mistério da introspecção, pelo contrário, a Eucaristia nos arranca de nós para nos levar aos outros, a Eucaristia nos faz penetrar no amor que Deus tem por nós, e nós Acendendo o fogo e o Círio Pascal, celebramos a luz.

Luz significa presença amorosa de Deus.

Luz significa a salvação, a morte para o pecado e para as trevas.

 

As palavras que iluminam esta noite santa são as do próprio ressuscitado: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida”. É a expressão da divindade de Cristo e a salvação que trazia à humanidade.

 

Jesus podia ter dito essas palavras nessa madrugada da Páscoa, ao sair da sepultura. Porque em sua ressurreição, o Senhor, quis compartilhar conosco tanto a divindade quanto a salvação, ou seja, a comunhão com Deus.

 

O Evangelho nos apresenta uma recomendação que deve ser dada as três Marias, de irem à Galiléia transmitir aos apóstolos o que viram. A famosa conclusão breve de Marcos parece, inicialmente, pouco apta para a pregação. Termina aparentemente de maneira pouco pascal, pelo silêncio das mulheres – por medo – a respeito do sepulcro vazio e a mensagem do anjo. Mas, quem sabe, para Marcos, Jerusalém é o lugar da incredulidade e a Galiléia o lugar da fé do pequeno rebanho? Ele entende que o anúncio da ressurreição não foi feito logo em Jerusalém, mas primeiro se devia reconstituir o rebanho na Galiléia, precedendo o Bom Pastor, que deve reunir o rebanho escatológico: Jesus Cristo ressuscitado. Agora já não somos mais ovelhas sem pastor. Somos ovelhas reunidas perante o grande e único pastor: o Redentor que ressuscitou para salvar nossos pecados.

 

Vivemos a Páscoa que significa passagem, que significa vida da graça em Deus.

 

Nesta noite santa celebramos a vitória da vida, da vida em abundância, que vem da vitória da graça sobre o pecado.

 

Páscoa bendita da libertação. Não uma libertação política, mas uma libertação escatológica.

 

Cristo, com a ressurreição, é o Senhor da História, como eleição gratuita de Deus. Por esta morte bendita e, ainda mais, pela sua ressurreição, todos nós, sem exceção, devemos dar testemunho de seu Evangelho diante do mundo. Devemos ser uma comunidade que testemunha e vive a Ressurreição.

 

Um costume da Igreja Antiga, como certa vez nos indicou o papa Bento XVI, deve ainda ser um sinal para nossos tempos. Relata-nos o Vigário de Cristo que, em priscas eras, era hábito o bispo ou sacerdote, após a homilia, conclamar os fiéis “Conversi ad Dominum”, ou seja, “Voltai-vos para o Senhor”. Nesse instante, todos se viravam para o Oriente, ou para a imagem do Cristo, numa expressão de retornarem ao Senhor. “Com efeito, em última análise era deste fato interior que se tratava: da ‘conversio’, de voltar a nossa alma para Jesus Cristo e, n’Ele, para o Deus vivo, para a luz verdadeira”, nos explica o Papa (Vigília Pascal de 2008).

 

Essa exortação que nos chama a conversão inspira-nos a outra, comum em nossas celebrações: “Sursum corda” – “Corações ao alto”. Devemos sempre buscar as coisas do alto, as coisas de Deus, com a sua graça, sob a inspiração do Espírito Santo. Ambas as exclamações nos inspiram a busca de reforma de vida, de um renascer, a partir dos méritos da paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, para vivermos a plenitude da Ressurreição.

 

Páscoa não é apenas um dia no calendário litúrgico, não é apenas uma celebração bonita, rica de simbolismos, mas uma constante renovação da vida, que nesta noite santa nos libertou do império do pecado que ameaça a dignidade dos homens.

 

Celebrando esta Páscoa do Senhor, cantamos antecipadamente a vitória de todos os que lutam pela vida, inclusive dando a sua própria vida em benefício da implantação do Reino de Deus neste mundo.

 

Que esta noite sacramento, sacramento de vida eterna, nos faça cada vez mais buscar enxergar no pobre e no excluído o rosto do Senhor Ressuscitado. Amém! aleluia!


















segunda-feira, abril 01, 2024

TRANSLADAÇÃO DO SANTÍSSIMO










“Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem.” (Lc. 23,34) Jesus, sempre nos revelou o perdão do Pai. Nos encontros com os pecadores revelou a misericórdia redentora de Deus. E na Cruz, Jesus mostrou que é possível viver a maior exigência da fé cristã: o perdão incondicional a todos. O perdão revela a dignidade e humanidade no coração de quem perdoou e sendo oferecida a quem feriu. Na vida cotidiana, quando nos decepcionarem, nos traírem, nos abandonarem, nos humilharem e caluniarem, contemplemos o Senhor dilacerado na Cruz, dizendo: “Pai, perdoai-lhes.”

 

“Hoje estarás comigo no paraíso” (Lc. 23,43). Jesus morre entre dois ladrões. Ali Ele é o único inocente e justo, todavia não assume o papel de condenador, mas oferece uma nova chance de salvação. Jesus revela uma promessa que muitos precisam ouvir, sobretudo aqueles que sofrem carregando pesadas cruzes injustas e vivem vidas devastadas pela dor, pela solidão, dúvida ou humilhação.

 

 “Mulher, eis o teu filho; filho, eis a tua mãe” (Jo. 19,26): O sim dado por Maria no momento da Encarnação repercute até à Cruz. Sua resposta a acompanhou durante toda a vida. Jesus, crucificado e desprovido de tudo, nos oferece um tesouro. Entrega-nos sua mãe para que seja presença cuidadora e consoladora.

 

“Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?” (Mt 27,46) Aqui contemplamos todo o aniquilamento do Senhor. É aquilo que São Paulo afirma: “aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo” (Fl. 2,8). Jesus sofreu todo o aniquilamento moral, psicológico, afetivo, físico, espiritual, pois Ele “foi castigado por nossos crimes e esmagado por nossas iniquidades.” (Is. 53,5).

 

“Tenho sede…” (Jo. 19,28) Jesus tinha sede de muitas coisas: Sede de fazer a vontade do Pai, de anunciar o Reino, de defender a vida, de servir, etc. Os santos afirmam que na Cruz, a sede que Jesus revela é na verdade a sede de Deus de salvar toda a humanidade. Hoje, muitos pelos quais ele derramou o seu sangue preciosíssimo, continuam vivendo no pecado, afastados do amor de Deus e da Igreja. Quantos nem sequer buscam à Missa aos domingos, não sabem o que é uma Confissão, não comungam, não rezam, enfim, vivem como se Deus não existisse?

 

“Tudo está consumado” (Jo. 19,30). Cristo proclama, com as poucas forças que lhe restam, para o universo que a dívida imposta pelo pecado está “paga”. Mesmo que aos olhos humanos sua morte pareça um fracasso total, na cruz tudo é pago e consumado. Nela, o Senhor mergulha nas trevas do sofrimento humano e ali revela a presença do Deus “compassivo e clemente e misericordioso” (Ex.34, 6-7 / Sl. 86, 15). Do alto da Cruz, Jesus manifesta a consciência que não viveu em vão. Sua vida frutuosa, consumada com amor, no amor e pelo amor, torna sua morte fecunda a ponto de fazer surgir vida em abundância.

 

“Pai, em tuas mãos entrego meu espírito” (Lc. 23,46) Só quem viveu intensamente a vida doada pode acolher a própria morte com paz, confiança, serenidade e abandono nos braços do Deus. Jesus morre como viveu: totalmente entregue na confiança ao Pai. Ele que foi as mãos do Pai atuando no mundo, agora entrega-se nos seus divinos braços. Jesus que viveu em divina comunhão com o Pai, no momento de intenso desespero, quando deveria abandonar a confiança por se sentir infinitamente desamparado, oferece todo seu Ser para ser acolhido por Deus Pai.

 

Estas palavras, proferidas por Jesus nos levam a fixar os olhos em sua Cruz. Lembrando que só podemos crer Nele se estivermos dispostos enxergar todos os seres humanos que sofrem por causa do pecado no mundo em todas as épocas.

 

O que contemplamos na Cruz? A expressão da plena compaixão e comunhão de Deus com os sofredores. Ela aponta para Aquele que foi plena e permanentemente fiel ao Pai e ao seu Reino. A partir da Cruz de Jesus, descobrimos o sentido da sua existência.