sábado, março 29, 2025

PEREGRINAÇÃO DOS PAROQUIANOS A PORTA SANTA DA CATEDRAL DE SÃO SEBASTIÃO







Hoje o Evangelho nos oferece um espelho. Nele, vemos dois homens subirem ao templo. Um fariseu. Um publicano. Ambos rezam. Ambos falam com Deus. Mas apenas um desce justificado. O outro não. A oração não é medida pelo volume da voz nem pela beleza das palavras. Ela é medida pela profundidade do coração.

Jesus dirige esta parábola a quem confia demais em si mesmo e despreza os outros. Ou seja, a quem transforma a fé em orgulho. O fariseu, de pé, faz um inventário de virtudes. Fala sobre si como se fosse um troféu. Ele jejua, paga o dízimo, não é ladrão nem adúltero. E ainda se compara: “Não sou como este cobrador de impostos”. Está diante de Deus, mas preso a si mesmo. Não reza, exibe-se. Não se abre, se exalta.

Já o publicano não levanta os olhos. Não tem currículo. Não tem argumentos. Apenas bate no peito e diz: “Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!”. É um homem despido de máscaras. Sua oração é feita de verdade. Não se compara com ninguém. Reconhece o abismo dentro de si e o oferece a Deus. E por isso, desce justificado. Porque Deus resiste aos orgulhosos, mas se inclina aos humildes.

“O publicano voltou para casa justificado; o outro não.” Essa frase é como uma lâmina. Ela corta a alma. Ela separa aparência e essência. Porque, ao fim, o que conta não é o quanto mostramos, mas o quanto deixamos Deus nos transformar. A salvação não é prêmio para os que se acham bons. É graça para os que se sabem necessitados.

Esse Evangelho nos pergunta: com qual dos dois nos parecemos? Quantas vezes, sem perceber, oramos como o fariseu? Falamos mais de nós do que com Deus? Julgamos os outros e nos comparamos? Buscamos reconhecimento até diante do Senhor? Quantas vezes, em vez de abrir o coração, vestimos a máscara da virtude?

Mas Deus não se impressiona com máscaras. Ele vê o coração. E se o coração é humilde, Ele entra. Se é sincero, Ele transforma. Porque Deus não rejeita um coração contrito. Ele não exige perfeição, mas verdade. Ele não espera santidade plena, mas abertura à graça.

Portanto, se hoje nos sentimos pobres, feridos, caídos… estejamos certos: é exatamente assim que devemos subir ao templo. É assim que a oração se torna encontro. É assim que Deus nos justifica. Pois a salvação começa quando paramos de justificar a nós mesmos e deixamos que Deus nos justifique.

O publicano voltou para casa justificado; o outro não. Que essa palavra se cumpra em nós. Que nossa oração não seja um discurso, mas um mergulho no amor misericordioso do Pai. E que, ao sairmos daqui, possamos dizer: Deus me ouviu. Deus me tocou. Deus me salvou.