Hoje
o Evangelho nos oferece um espelho. Nele, vemos dois homens subirem ao templo.
Um fariseu. Um publicano. Ambos rezam. Ambos falam com Deus. Mas apenas um
desce justificado. O outro não. A oração não é medida pelo volume da voz nem
pela beleza das palavras. Ela é medida pela profundidade do coração.
Jesus
dirige esta parábola a quem confia demais em si mesmo e despreza os outros. Ou
seja, a quem transforma a fé em orgulho. O fariseu, de pé, faz um inventário de
virtudes. Fala sobre si como se fosse um troféu. Ele jejua, paga o dízimo, não
é ladrão nem adúltero. E ainda se compara: “Não sou como este cobrador de
impostos”. Está diante de Deus, mas preso a si mesmo. Não reza, exibe-se. Não
se abre, se exalta.
Já
o publicano não levanta os olhos. Não tem currículo. Não tem argumentos. Apenas
bate no peito e diz: “Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!”. É um
homem despido de máscaras. Sua oração é feita de verdade. Não se compara com
ninguém. Reconhece o abismo dentro de si e o oferece a Deus. E por isso, desce
justificado. Porque Deus resiste aos orgulhosos, mas se inclina aos humildes.
“O
publicano voltou para casa justificado; o outro não.” Essa frase é como uma
lâmina. Ela corta a alma. Ela separa aparência e essência. Porque, ao fim, o
que conta não é o quanto mostramos, mas o quanto deixamos Deus nos transformar.
A salvação não é prêmio para os que se acham bons. É graça para os que se sabem
necessitados.
Esse
Evangelho nos pergunta: com qual dos dois nos parecemos? Quantas vezes, sem
perceber, oramos como o fariseu? Falamos mais de nós do que com Deus? Julgamos
os outros e nos comparamos? Buscamos reconhecimento até diante do Senhor?
Quantas vezes, em vez de abrir o coração, vestimos a máscara da virtude?
Mas
Deus não se impressiona com máscaras. Ele vê o coração. E se o coração é
humilde, Ele entra. Se é sincero, Ele transforma. Porque Deus não rejeita um
coração contrito. Ele não exige perfeição, mas verdade. Ele não espera
santidade plena, mas abertura à graça.
Portanto,
se hoje nos sentimos pobres, feridos, caídos… estejamos certos: é exatamente
assim que devemos subir ao templo. É assim que a oração se torna encontro. É
assim que Deus nos justifica. Pois a salvação começa quando paramos de
justificar a nós mesmos e deixamos que Deus nos justifique.
O
publicano voltou para casa justificado; o outro não. Que essa palavra se cumpra
em nós. Que nossa oração não seja um discurso, mas um mergulho no amor
misericordioso do Pai. E que, ao sairmos daqui, possamos dizer: Deus me ouviu.
Deus me tocou. Deus me salvou.