segunda-feira, março 31, 2025

IV DOMINGO DA QUARESMA










1. Na parábola que a Igreja nos propõe para o 4º Domingo da Quaresma (ano C), Jesus não apresenta o nosso Deus como rei, senhor ou juiz, mas como um Pai incrivelmente bom e misericordioso. Respeita as decisões dos seus filhos. Aceita que um deles saia de casa, mas não o esquece. Espera a toda a hora o seu retorno. E quando volta, não está a recriminá-lo, a fazer-lhe perguntas: Porquê? Onde? Para quê? Não lhe impõe nenhum castigo. Nunca deixou de o amar. Agora há que fazer festa. Esquecer o seu passado. Limpar a sua sujeira . Entregar-lhe uma veste nova e um anel. Há que oferecer a todos um banquete de festa em sua honra pelo reencontro em família.

 

2. Deus é mesmo assim. Deixa que livremente façamos as nossas escolhas, por mais duras ou escravizantes que sejam, mas depois, com amor e solicitude, fica à espera que voltemos ao calor da casa que deixamos . Não para nos acusar ou julgar, mas para nos restituir a dignidade de filhos. O nosso Deus é assim: bom, clemente e misericordioso. É um Pai que abraça e acolhe sem apontar o dedo a ninguém. Quando é que o mundo O descobrirá deste jeito?

Se porventura, algum dia, nos desgarrarmos da família divina na qual, por amor, estamos inseridos, oxalá saibamos descobrir o rosto deste Pai extraordinário, sempre de braços abertos a acolher-nos e a fazer-nos festa.

 

3. Esta é uma história que se repete, porque é a história da humanidade inteira e de cada um de nós. Esbanjamos tanta coisa em liberdades mal interpretadas. Queremos a nossa autonomia. Não aceitamos que Deus entre nas nossas escolhas ou decisões. Penso que todos nós, sendo pecadores, temos necessidade de meditar sobre esta parábola. Por detrás da nossa exigência asfixiante de nos sentirmos livres de todas as pessoas e de todas as coisas, ao fim e ao cabo tornamo-nos escravos de nós mesmos, do nosso egoísmo, das nossas ideias, dos nossos projetos, donde não sabemos como sair, uma vez que o egoísmo é o caminho para a nossa própria destruição. Fomos criados para a comunhão. Fomos feitos para viver em família. Fora dela sentimo-nos infelizes.

A verdadeira perspetiva de felicidade, de vida e de alegria para um cristão é aquela que nos é proposta na carta de S. Paulo aos coríntios da Liturgia deste Domingo: “Irmãos: Se alguém está em Cristo, é uma nova criatura. As coisas antigas passaram; tudo foi renovado. Tudo isto vem de Deus, que por Cristo nos reconciliou consigo e nos confiou o ministério da reconciliação. (…) Nós vos pedimos, em nome de Cristo: deixai-vos reconciliar com Deus”.

 

 

 

4. Para quando esta reconciliação? Para quando o regresso à casa do amor misericordioso, onde nos espera o Pai no calor da sua Casa, desejoso de fazer festa e de dar um sentido novo à nossa vida?

É este o Deus de Jesus Cristo que como Igreja temos que descobrir. E é esse Deus que, como Igreja, temos de apresentar e testemunhar para que outros O descubram e amem. Um Deus de coração grande, que não exclui ninguém da sua casa, mas que acolhe os filhos perdidos e lhes oferece o seu perdão gratuito e incondicional. Nenhuma teologia, pregação ou catequese pode esquecer esta parábola.










sábado, março 29, 2025

PEREGRINAÇÃO DOS PAROQUIANOS A PORTA SANTA DA CATEDRAL DE SÃO SEBASTIÃO







Hoje o Evangelho nos oferece um espelho. Nele, vemos dois homens subirem ao templo. Um fariseu. Um publicano. Ambos rezam. Ambos falam com Deus. Mas apenas um desce justificado. O outro não. A oração não é medida pelo volume da voz nem pela beleza das palavras. Ela é medida pela profundidade do coração.

Jesus dirige esta parábola a quem confia demais em si mesmo e despreza os outros. Ou seja, a quem transforma a fé em orgulho. O fariseu, de pé, faz um inventário de virtudes. Fala sobre si como se fosse um troféu. Ele jejua, paga o dízimo, não é ladrão nem adúltero. E ainda se compara: “Não sou como este cobrador de impostos”. Está diante de Deus, mas preso a si mesmo. Não reza, exibe-se. Não se abre, se exalta.

Já o publicano não levanta os olhos. Não tem currículo. Não tem argumentos. Apenas bate no peito e diz: “Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!”. É um homem despido de máscaras. Sua oração é feita de verdade. Não se compara com ninguém. Reconhece o abismo dentro de si e o oferece a Deus. E por isso, desce justificado. Porque Deus resiste aos orgulhosos, mas se inclina aos humildes.

“O publicano voltou para casa justificado; o outro não.” Essa frase é como uma lâmina. Ela corta a alma. Ela separa aparência e essência. Porque, ao fim, o que conta não é o quanto mostramos, mas o quanto deixamos Deus nos transformar. A salvação não é prêmio para os que se acham bons. É graça para os que se sabem necessitados.

Esse Evangelho nos pergunta: com qual dos dois nos parecemos? Quantas vezes, sem perceber, oramos como o fariseu? Falamos mais de nós do que com Deus? Julgamos os outros e nos comparamos? Buscamos reconhecimento até diante do Senhor? Quantas vezes, em vez de abrir o coração, vestimos a máscara da virtude?

Mas Deus não se impressiona com máscaras. Ele vê o coração. E se o coração é humilde, Ele entra. Se é sincero, Ele transforma. Porque Deus não rejeita um coração contrito. Ele não exige perfeição, mas verdade. Ele não espera santidade plena, mas abertura à graça.

Portanto, se hoje nos sentimos pobres, feridos, caídos… estejamos certos: é exatamente assim que devemos subir ao templo. É assim que a oração se torna encontro. É assim que Deus nos justifica. Pois a salvação começa quando paramos de justificar a nós mesmos e deixamos que Deus nos justifique.

O publicano voltou para casa justificado; o outro não. Que essa palavra se cumpra em nós. Que nossa oração não seja um discurso, mas um mergulho no amor misericordioso do Pai. E que, ao sairmos daqui, possamos dizer: Deus me ouviu. Deus me tocou. Deus me salvou.





















quarta-feira, março 26, 2025

UM JUIZ INJUSTO











A justiça se define como equidade: “cuique suum”, a cada um o que é seu. É a virtude moral que consiste na vontade constante e firme de dar a cada o que lhe é devido. É quase sinônimo de isonomia, princípio geral do direito segundo o qual todos são iguais perante a lei, não devendo ser feita nenhuma distinção entre pessoas que se encontrem na mesma situação. Assim, da justiça decorre logicamente a imparcialidade. Juiz não pode ser parcial, nem estar sujeito a pressões de quem quer que seja a não ser da justiça. O que mais revolta as pessoas de bom senso é a parcialidade do juiz.

Nas paredes dos tribunais de justiça, costuma estar a imagem de Jesus crucificado, lembrando a todos a maior injustiça cometida contra um inocente por um juiz fraco, parcial, temeroso de perder o cargo, injusto e sujeito a pressões dos partidos dos inimigos de Cristo, mesmo diante da verdade por ele mesmo reconhecida da inocência do réu: Pôncio Pilatos, o governador Romano a quem foi apresentado Jesus inocente, acusado pelos seus inimigos. Nos tribunais, está lá o crucifixo para que nunca mais se repita tal injustiça.

“Em João 18, 34-35, fica claro que, com base nas informações que possuia, Pilatos nada tinha que pudesse incriminar Jesus e constituir um risco para a lei e a ordem. A acusação vinha do próprio povo de Jesus, das autoridades do templo” (Bento XVI no livro “Jesus de Nazaré II).

Quando Pilatos ouviu a ameaça de que ele poderia perder o seu cargo se não condenasse Jesus, que se proclamava rei, a preocupação com a sua carreira se revelou mais forte do que qualquer escrúpulo de consciência. Mas Pilatos ainda tentou alguns expedientes. Apresentou Jesus como um candidato à anistia da Páscoa, buscando libertá-lo. “Ao fazê-lo, ele se coloca em uma situação fatal. Qualquer pessoa apresentada como um candidato à anistia é em princípio já condenada”. Em seguida, Pilatos mandou flagelar Jesus, que ele proclamara inocente. Ele contava erradamente com a compaixão dos acusadores. Mas, no direito penal Romano, a flagelação era a punição que acompanhava a sentença de morte, que, por fim, ele pronunciou.

Embora tivesse declarado Jesus inocente – essa verdade ele sabia -, “a grande ‘Verdade’ de que Jesus tinha falado ficou inacessível a Pilatos. Ou seja, no final das contas, o conceito pragmático, a solução prática, prevaleceu, sendo, para ele, mais importante do que a verdade.

Quando Jesus afirmou diante dele que era rei e que veio ao mundo para dar testemunho da verdade, Pilatos lhe perguntou: “o que é a verdade?” E saiu, sem esperar a resposta. “Pilatos não estava sozinho em afastar esta pergunta como irrespondível e irrelevante para seus propósitos. Também hoje, em assunto político e na discussão dos fundamentos da lei, ela geralmente é experientada como perturbadora. Se o homem vive sem verdade, a vida fica sem sentido para ele. Finalmente ele se entrega a quem é o mais forte. ‘Redenção’, no pleno sentido da palavra, somente pode consistir em que a verdade se torne reconhecível. E ela se torna reconhecível quando Deus se torna reconhecível. Ela se torna reconhecível em Jesus Cristo”.


Fonte:  Dom Fernando Arêas Rifan


segunda-feira, março 24, 2025

III DOMINGO DE QUARESMA












O veemente apelo de Jesus à conversão tem um eco especial neste tempo de Quaresma. A “conversão” não se traduz no simples arrependimento pelas faltas cometidas, ou por uma penitência externa que acalme a nossa consciência culpada; mas implica uma mudança do sentido da nossa vida, de forma a que Deus volte a ser novamente a nossa referência, o princípio e o fundamento do nosso projeto. “Converter-se” é mudar o rumo da nossa vida e “voltar para trás” ao encontro de Deus; “converter-se” é deixar de correr atrás dos nossos interesses egoístas e abraçar o projeto que Deus tem para nós; “converter-se” é livrar-se dos preconceitos mesquinhos, dos julgamentos apressados, das leituras parciais, das condenações sem misericórdia, para passarmos a ver o mundo e os homens com o olhar bondoso de Deus; “converter-se” é abandonar a indiferença e o egoísmo cômodo para “ver” os homens e mulheres condenados a uma vida sem saída e para lhes dar a mão; “converter-se” é rever os valores sobre os quais construímos o nosso projeto de vida e prescindir daquilo que nos faz mal, que nos escraviza, que nos torna menos humanos. Neste tempo de Quaresma, estamos dispostos a fazer esta mudança na nossa vida? Quais são as dimensões, os aspetos, as questões a que daremos prioridade?

A parábola da figueira sugere que a conversão não é algo que possamos adiar indefinidamente. Deus é paciente e cheio de misericórdia; mas quer de nós respostas concretas e convincentes. Ele não admite que vivamos indecisos ou acomodados ao nosso bem-estar e que não tenhamos a coragem de assumir as opções que podem dar sentido à nossa existência. O tempo da nossa vida é limitado e corre sem nos darmos conta. Se formos adiando, uma e outra vez, as escolhas que se impõem, estaremos a frustrar o plano de Deus para nós e para o mundo e estaremos a passar ao lado da vida. Quanto mais depressa brotar em nós o “Homem novo”, mais depressa encontraremos a nossa realização plena.

Jesus é bastante claro: uma figueira que não produz frutos é uma árvore inútil, que não está a cumprir o seu papel. Não serve para nada. É óbvio que Jesus, através da imagem da figueira, está a falar de nós, a questionar-nos sobre a forma como nós correspondemos aos cuidados de Deus. Nós, que crescemos na “escola de Jesus” e que somos constantemente interpelados pelo Evangelho de Jesus, produzimos, na vida de todos os dias, os frutos saborosos que Deus espera? Os frutos que produzimos contribuem para tornar mais doce o mundo e a vida de todos aqueles que caminham ao nosso lado? O que podemos fazer para dar mais frutos?

Jesus rejeita categoricamente qualquer relação entre as desgraças que atingem algumas pessoas e um eventual castigo de Deus pelo pecado. Na verdade, considerar que Deus é uma espécie de comerciante, com a contabilidade organizada, que conhece os seus devedores e os castiga pelas suas dívidas, é dar brecha a uma grave deformação da imagem e da realidade de Deus. Temos de evitar associar Deus aos males que acontecem no mundo e na vida dos homens. O mal não vem de Deus, mas sim da nossa debilidade, do nosso pecado, da finitude e dos limites deste mundo que está, a cada instante, a construir-se. O que Deus faz é estar ao nosso lado a cada momento, a cuidar das nossas feridas, a apontar-nos o caminho que devemos percorrer para chegar à vida. Como vemos Deus? Consideramo-lo responsável pelas coisas que estragam a nossa vida e desfeiam o mundo?




















quinta-feira, março 20, 2025

SOLENIDADE DE SÃO JOSÉ E CRISMA








"Nos Evangelhos, são José aparece como um homem forte, corajoso, trabalhador, mas, no seu íntimo, sobressai uma grande ternura, que não é a virtude dos fracos, antes pelo contrário denota fortaleza de ânimo e capacidade de solicitude, de compaixão, de verdadeira abertura ao outro, de amor", disse o papa Francisco sobre são José ao iniciar seu pontificado em 2013.

 

A seguir, é apresentada uma lista com oito dados que poucos conhecem a respeito de são José:

 

1. Não há palavras suas nas Sagradas Escrituras

Ele protegeu a Imaculada Mãe de Deus e ajudou a cuidar do Senhor do Universo! Entretanto, não há nenhuma palavra dele nos Evangelhos. Muito pelo contrário, foi um silencioso e humilde servo de Deus que desempenhou seu papel cabalmente.

 

2. Foi muito pouco mencionado no Novo Testamento

São José é mencionado no evangelho de são Mateus, de são Lucas, uma vez em são João (alguém diz que Jesus é “o filho de José”) e apenas isso. Ele não é mencionado em Marcos ou no restante do Novo Testamento.

 

3. Sua saída da história dos Evangelhos não é explicada na Bíblia

É uma figura importante nos relatos do Nascimento do Senhor em são Mateus e são Lucas e mencionado nas passagens que relatam o momento em que Jesus se perdeu aos 12 anos e foi encontrado no templo. Mas este é o último momento que falam dele.

 

Maria aparece várias vezes durante o ministério de Jesus, mas José desapareceu, sem deixar rastro. Então, o que aconteceu? Várias tradições explicam esta diferença dizendo que José morreu aproximadamente quando Jesus tinha 20 anos.

 

4. Viúvo e idoso?

A Escritura não diz a idade de São José quando se casou com Maria ou sobre seu passado. Entretanto, por muito tempo foi representado como um homem de idade avançada, aparentemente baseado em um texto do chamado protoevangelho de são Tiago, um evangelho apócrifo que menciona que São José havia casado anteriormente, teve filhos desse casamento e ficou viúvo.

 

Segundo essa tradição, são José sabia que Maria tinha feito voto de virgindade e foi eleito para se casar com ela para protegê-la, de certo modo porque ele era idoso e não estaria interessado em formar uma nova família. Esta ideia foi contraposta ao longo da história por grandes santos, como santo Agostinho.

 

5. É venerado aproximadamente desde o século IX

Um dos primeiros títulos que utilizaram para honrá-lo foi “nutritor Domini”, que significa “guardião do Senhor”.

 

6. Tem duas celebrações

A solenidade de são José é no dia 19 de março e a festa de são José Operário (Dia Internacional do Trabalho) no dia 1º de maio. Também é celebrado na festa da Sagrada Família (30 de dezembro) e sem dúvida faz parte da história do Natal.

 

7. É padroeiro de várias coisas

É o padroeiro da Igreja Universal, da boa morte, das famílias, dos pais, das mulheres grávidas, dos viajantes, dos imigrantes, dos artesãos, dos engenheiros e trabalhadores. E também é padroeiro das Américas, Canadá, China, Croácia, México, Coreia, Áustria, Bélgica, Peru, Filipinas e Vietnã.

 

 

8. A ‘Josefologia’

Entre as subdisciplinas da teologia, são conhecidas a cristologia e mariologia. Mas, sabia que também existe a Josefologia?

 

São José foi uma figura de interesse teológico durante séculos. Entretanto, a partir do século XX algumas pessoas começaram a recolher opiniões da Igreja a respeito dele e o converteram em uma subdisciplina.

 

Na década de 1950, abriram três centros dedicados ao estudo de são José: na Espanha, na Itália e no Canadá.

 

Fonte : ACIDIGITAL















quarta-feira, março 19, 2025

II DOMINGO DA QUARESMA







II DOMINGO DA QUARESMA
16 de março de 2025

Paróquia São Conrado de Constança





Neste segundo domingo da Quaresma façamos, também nós, a experiência de subir com Jesus ao monte… Enquanto subimos, podemos conversar com Ele e, com toda a sinceridade, dizer-Lhe as nossas dúvidas e inquietações. Podemos dizer-Lhe que, por vezes, nos sentimos perdidos e desanimados diante da forma como o nosso mundo se constrói; podemos dizer-lhe que o caminho que Ele aponta é duro e exigente e que não sabemos se teremos a coragem de o percorrer até ao fim; podemos até dizer-lhe, talvez com alguma vergonha, que às vezes duvidamos dele e corremos atrás de outras apostas, mais cômodas, mais atraentes e menos arriscadas… E, depois de lhe dizermos isso tudo, deixemos que Jesus nos fale, nos explique o seu projeto, nos renove o seu desafio… E vamos, também, prestar atenção à voz de Deus que nos garante: “olhem que esse Jesus que Eu enviei ao vosso encontro é o meu Filho, o meu eleito, aquele a quem Eu entreguei o projeto de um mundo mais humano e mais fraterno… Confirmo a verdade do caminho que Ele vos propõe. Escutai-O, ide com Ele, acolhei as suas propostas e indicações, mesmo que tenhais de remar contra a maré. O caminho que Ele vos aponta pode passar pela cruz, mas conduz à Vida verdadeira, à ressurreição”.

Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-o”. É verdade: precisamos de escutar Jesus mais e melhor. Quando o “escutamos” – quer dizer, quando ouvimos o que Ele nos diz, quando acolhemos no coração as suas indicações e quando procuramos concretizá-las na vida – começamos a ver tudo com uma luz mais clara. Começamos a perceber qual é a maneira mais humana de enfrentar os problemas da vida e os males do nosso mundo; damos conta dos grandes erros que os seres humanos podem cometer e descobrimos as soluções que Deus nos aponta… Escutar Jesus pode curar-nos das nossas cegueiras seculares, dos preconceitos que nos impedem de acolher a novidade de Deus, dos medos que nos paralisam; escutar Jesus pode libertar-nos de desalentos e covardias, e abrir o nosso coração à esperança.

O tempo de Quaresma é um tempo favorável de conversão, de transformação, de renovação. Traz-nos um convite a questionarmos a nossa forma de encarar a vida, os valores que priorizamos, as opções que vamos fazendo, as nossas certezas e apostas, os nossos interesses e projetos… O que é que eu, pessoalmente, necessito de mudar, na minha forma de pensar e de agir, a fim de me tornar um discípulo coerente e comprometido, que segue Jesus no caminho do amor levado até às últimas consequências, até ao dom total de si próprio?









terça-feira, março 11, 2025

I DOMINGO DA QUARESMA







Queridos irmãos , o Evangelho de hoje nos leva ao deserto, onde Jesus enfrenta o diabo em um combate silencioso, mas decisivo. Quarenta dias de jejum. Quarenta dias de provação. Quarenta dias de confronto entre a luz e as trevas.

Mas não pensemos que essa luta foi apenas de Jesus. Essa é a luta de cada um de nós. Todos enfrentamos tentações diariamente. O maligno continua tentando nos afastar de Deus, usando as mesmas artimanhas que usou com Jesus: a fome, o poder e a glória.

A passagem nos ensina que a tentação é real, mas a vitória também é. E Jesus nos mostra o caminho para vencê-la: com a força do Espírito Santo e a fidelidade à Palavra de Deus.

A primeira tentação de Jesus é ligada à fome. Após quarenta dias sem comer, Seu corpo sente o peso do jejum. O diabo, sorrateiro, se aproveita disso e sugere: “Se és Filho de Deus, transforma esta pedra em pão.”

O que há de errado nisso? Afinal, Jesus poderia fazer esse milagre. Mas o diabo queria que Ele usasse Seu poder para satisfazer a si mesmo, para escapar da dor e da fraqueza humana.

Jesus responde com a Escritura: “Não só de pão vive o homem.” Aqui, Ele nos ensina que as necessidades do corpo nunca podem ser mais importantes do que as necessidades da alma.

Quantas vezes somos tentados a colocar as necessidades materiais acima da nossa fé? O diabo continua nos sugerindo: “Se você tivesse mais dinheiro, seria feliz. Se tivesse mais conforto, teria paz. Se pudesse saciar todos os seus desejos, estaria completo.” Mas isso é uma mentira. O que realmente nos sustenta é Deus. Sem Ele, podemos ter tudo e ainda nos sentirmos vazios.

Na segunda tentação, o diabo oferece a Jesus todos os reinos do mundo em troca de adoração. É a tentação do poder, da glória, da ambição.

Jesus, novamente, responde com a Escritura: “Adorarás o Senhor teu Deus, e só a Ele servirás.”

Essa é uma tentação muito presente em nossa sociedade. Quantas vezes nos curvamos diante do poder, da vaidade e do sucesso? Quantas vezes negociamos nossos valores para conseguir algo que desejamos? O diabo não precisa pedir que o adoremos diretamente. Ele apenas nos leva a trocar Deus pelo status, pela posição, pelo dinheiro.

Mas Jesus nos lembra: somente Deus merece nossa adoração. Tudo o que o mundo nos oferece é passageiro. O verdadeiro poder, a verdadeira glória, estão em servir a Deus.

A terceira tentação é sutil e perigosa. O diabo, desta vez, usa a própria Palavra de Deus para tentar Jesus. Ele cita as Escrituras! Ele sugere que Jesus se jogue do alto do Templo, pois os anjos O salvariam.

Aqui, o maligno quer que Jesus teste a Deus, que O obrigue a provar Seu poder. Mas Jesus responde: “Não tentarás o Senhor teu Deus.”

Isso nos ensina que fé não é colocar Deus à prova. Quantas vezes ouvimos ou até pensamos: “Se Deus me ama, Ele tem que fazer isso por mim.” Mas fé verdadeira não é exigir milagres. É confiar, mesmo quando os milagres não acontecem.

O Evangelho termina com essa frase intrigante. O diabo se afasta, mas não desiste. Ele volta no tempo oportuno.

Isso nos lembra que a tentação nunca desaparece completamente. Jesus venceu no deserto, mas enfrentaria a tentação novamente no Jardim das Oliveiras e na cruz.

Assim também acontece conosco. Vencemos uma tentação, mas logo surgem outras. Mas a boa notícia é que Jesus já nos mostrou o caminho para vencer:

Viver cheios do Espírito Santo. Antes de ser tentado, Jesus estava cheio do Espírito. Nós também precisamos buscar a presença de Deus, através da oração e dos sacramentos.

Conhecer e viver a Palavra de Deus. Em cada tentação, Jesus respondeu com as Escrituras. Se queremos resistir ao mal, precisamos alimentar nossa alma com a Palavra, para que, quando o diabo vier, saibamos como responder.

Manter nosso olhar fixo em Deus. O diabo sempre tentará nos seduzir com facilidades, com atalhos. Mas precisamos lembrar que o verdadeiro caminho é seguir Jesus, ainda que seja pelo deserto.

Queridos irmãos, todos nós passamos por desertos na vida. Momentos de fraqueza, de dúvida, de provação. Mas o deserto não é um lugar de derrota. É um lugar de crescimento, de fortalecimento.

Hoje, Jesus nos ensina que o diabo pode nos tentar, mas ele não tem poder sobre nós. Se estivermos enraizados em Deus, na oração e na Palavra, venceremos como Cristo venceu.

Que este tempo de Quaresma seja para nós um tempo de combate espiritual, mas também de renovação da fé. Que possamos sair fortalecidos, prontos para seguir Jesus até a cruz e, com Ele, ressuscitar para uma vida nova. Amém!








segunda-feira, março 10, 2025

CELEBRAÇÃO COMUNITÁRIA DA UNÇÃO DOS ENFERMOS








Unção dos enfermos

O que é a Unção dos Enfermos?

Unção dos Enfermos é um sacramento instituído por Jesus Cristo para conferir ao doente a força e o ânimo na sua debilidade, como também para alimentar a sua esperança e perdoar os pecados (Cf. Tg 5,14-15). Jesus mesmo se dizia médico, e não só da alma, mas também do corpo (Mc 2,17); médico do homem inteiro. Sempre teve grande compaixão pelos enfermos, até se identificar com eles: “Estive doente e me visitaste” (Mt 25,36).

 

Por sua Paixão e Morte na cruz, Cristo deu um novo sentido ao sofrimento, pois tomou sobre si todo o peso do mal (Is 53,4-6) e tirou o “pecado do mundo” (J 1,29). O sofrimento pode configurar-nos com Cristo e unir-nos à sua Paixão redentora. O Senhor enviou os seus discípulos para, entre outras coisas, curarem as enfermidades do povo (Mc 6,12-13;16,17-18; At 9,34;14,3). “Curai os enfermos” (Mt 10,8) – é a missão que a Igreja recebeu de Jesus Cristo e procura cumpri-la tanto pelos cuidados aos doentes quanto pela oração com que os acompanha. A Igreja crê na presença vivificante de Cristo que age especialmente através dos sacramentos. Entretanto, a Igreja Apostólica possui um rito próprio em favor dos doentes, atestado pelo São Tiago: “Alguém de vocês está doente? Mande chamar os presbíteros da Igreja para que rezem por ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor. A oração feita com fé salvará o doente: O Senhor o levantará, e se tiver pecados, será perdoado” (Tg 5,14-15).

 

Quebrar os preconceitos

Durante muito tempo, a Unção dos enfermos era considerada como um rito para os moribundos, que era chamado de “extrema” ou última unção. Ainda hoje, tem gente que demora de chamar o sacerdote com o sacramento da Unção dos Enfermos, pensando que esse é para a morte. Não é! Pelo contrário, é para a vida e conforto do enfermo. O sacramento da Unção tem por finalidade conferir uma graça especial ao cristão que está passando pelas dificuldades inerentes ao estado de enfermidade grave ou da velhice. Cada cristão, independente da idade, se precisar, pode pedir e receber esse sacramento.

 

Efeitos da Unção

A graça especial do sacramento da Unção dos Enfermos tem os seguintes efeitos:

 

1. A união do doente com a paixão de Cristo, para seu bem e o bem de toda Igreja;

2. O reconforto, a paz e a coragem para suportar dignamente o sofrimento da doença e da velhice;

3. O perdão dos pecados, se o doente não puder obtê-lo pelo sacramento da penitência (confissão);

4. O restabelecimento da saúde, se isso convier à salvação espiritual;

5. A preparação para a passagem à vida eterna.

É preciso formar uma nova e correta mentalidade, quanto à Unção dos Enfermos. Ela traz tantos benefícios, e são poucas pessoas que as recebem, por não conhecerem e não apreciarem a sua riqueza. A visita do sacerdote deve ser antecipada por uma preparação do enfermo (se for possível também para a confissão). A celebração deste sacramento deve ser acompanhada pelos familiares e também vizinhos, que em sintonia intercedem a Deus pelo doente. Se for possível, deve-se preparar uma mesa coberta com a toalha branca, acender uma vela e, se tiver em casa água benta, também colocá-la na mesa. Depois da celebração, todos podem ficar algum tempo rezando pelo doente.