Hoje
é o dia da morte. Da morte de Jesus mas também o dia em que entendemos como
Deus se faz tão próximo, mas tão próximo de nós, que quer morrer como nós
morremos.
A
cruz! Essa é a nossa. Os cravos nas mãos e nos pés são os nossos. Na cruz está
tudo o que somos: a nossa fraqueza, a nossa fragilidade, os nossos pecados, as
nossas más escolhas. Na cruz encerram-se todos os mistérios do coração humano.
A cruz é humana, dura, forte e difícil de transportar. Seguir Jesus implica não
só seguir a cruz mas, como Ele diz, carregá-la também.
Hoje,
ao olharmos a cruz, vemos nela todas estas dimensões da nossa vida: doenças,
mortes de entes queridos, tragédias do mundo. Deus quer estar ao nosso lado,
connosco em todas essas realidades. Por isso a cruz hoje não é um símbolo. É
uma verdade e uma realidade bem concreta. Se Deus, em Jesus, quis assumir toda
essa realidade humana, vemo-lo como o Homem. Ecce Homo, disse Pilatos. Aqui
está o homem não disfarçado com nada que oculte o seu sofrimento. Jesus
aparece-nos feio, sujo, rasgado, ferido, ensanguentado. Esta foi a realidade do
momento. Mas nessas feridas, nessa coroa, nesses cravos espetados violentamente
nas suas mãos e pés está todo o Amor. Por isso a cruz torna-se o sinal do amor
pleno. Ele quis aceitar e passar por ela. Duas traves que indicam todo o
caminho: o caminho de toda a terra, a largueza de todo o mundo e a elevação da
terra ao céu. Pela cruz estamos lançados ao mundo todo e do mundo ao céu, a
Deus.
Silêncio
diante da cruz. O adorno disfarça. O silêncio leva à contemplação, à adoração.
Adorar a cruz é adorar com gestos tão simples e nossos esse profundo mistério
da plenitude da entrega por amor.
Não
há realidade mais forte. Quando passamos por ela. Quando descemos da cruz
alguém nosso, amigo familiar, conhecido. Quando enxugamos as lágrimas a outro,
quando compreendemos as feridas no coração dos outros. Quando vivemos tudo isso
com verdade. Mas também quando nos vemos ali. Hoje a cruz é um reflexo do que
somos. E foi Deus que nos quis mostrar como somos.
Estamos
diante do amor total que se entrega no pão e no vinho do altar. Hoje a cruz é o
supremo altar, o trono do Deus-Amor. O lugar onde se revela a ânsia de Deus por
nós.
Toca-nos
a palavra ardente e ansiosa de Jesus: Tenho sede! Claro que tem sede. Cansado,
esgotado, fragilizado e desgastado até ao limite das suas forças. Claro que tem
sede. Mas não quis beber. Deram-lhe vinagre que ele recusou. O vinagre servia
para anestesiar a dor e o sofrimento. Não era um gesto, ou mais um gesto de mau
trato, servia para atordoar o condenado atingido por dor profunda. Mas ele
recusou. A sede Dele era outra: sede de nós. Pede-nos, uma última vez que nos
demos totalmente a Ele. Tem sede de cada um nós. Deseja que voltemos a ele.
E
quando diz ter sede, diz-nos que precisa de nós. Está de braços abertos a
abraçar-nos a todos. Eis a sede de Deus: quer abraçar-nos a todos.
Deus
despido na cruz para nos revestir com a veste da festa e da alegria.
Eis
a tua mãe. Que bom! Jesus deixou-nos a Mãe para que ao longo da história da
nossa vida esse abraço, através da Mãe possa acontecer. Quando não temos
coragem para abraçar a cruz, Maria está para nos abraçar a nós. Ela que firme e
forte esteve lá, decerto que se abraçou à cruz e nela e com ela todos nós.
Tudo
está consumado. Chegou a hora da vitória. O Amor vence. Tudo está consumado
para que tudo comece.
Acontece
hoje a nova criação na árvore da vida nova que é a cruz, acontece hoje o
caminho para a terra prometida, acontece hoje o dilúvio que lava os nossos
pecados, acontece hoje um silêncio único de Deus. Uma divina lágrima derramada
pelo Pai que não é indiferente, que está lá e cá, quando um filho Seu é
crucificado.
Não
olhemos só para a cruz, entremos nela, abracemo-la. Ela é nossa exprime todo o
amor.
Tenho
sede: que cada um de nós responda a este apelo de Jesus com um: estou aqui! Sou
teu. E a sede de Jesus é desfeita!